sexta-feira, 31 de julho de 2009

Ilustraçoes do poema canções para Beatriz





De Solivan

Canções para Beatriz

I. Retorno

Esperei tanto
Ver-te chegar
Teu sorriso envolve meu coração
Em linho branco
Embebido em néctar e paz.

Venha que é verão
Deitemos sobre este
Lençol de frias camélias
Que estendi
Quando soube de sua volta.
Tenho pressa
De guardar meu sêmen
Em teu útero dourado e marfim
Cinzelado com relevos eróticos.

Enquanto esteve fora
Fiz perfumes com lembranças
De tua voz.
Cante um pouco
A doçura de tua voz adoçara nosso chá.
Enquanto acaricio teus cabelos.
Amor, mesmo Leda
Ou a virgem grávida,
As amantes dos Deuses te admiram.

Olhe esta flor de lótus
Que nasceu no meu peito
Foi semente deixada
Por teu primeiro beijo
Em meu coração.

Agora
Descansa de sua viajem
Embalada pela maré do meu peito.
Amanha
Juntos daremos
Ao mar sabor de hortelã
Estará vestida
Com este manto leve
O teci com vinho e mel.

Amor só não volte a partir.

De Solivam

Gênese

No inicio existia apenas Deus o escultor
e a palavra.
E foi a palavra
a massa que Deus usou para moldar o universo.

Dize Deus, luz
e o som da palavra luz
se corporificou, iluminou
e se fez sol.

Dize Deus, terra
e o som da palavra terra
se corporificou,
e se aconchegou perto do sol

Dize Deus, água
e a palavra água se transformou
em oceanos e nuvens, em rios
e nascentes.

Dize Deus, ar
e a palavra ar e envolveu e protegeu a terra
como uma pele e se preparou
para ser o mais farto e o mais precioso dos alimentos.

Dize Deus, vida
e a palavra vida
tomou inúmeras formas e se desenvolveu
e frutificou como uma arvore generosa.
E a vida
se aqueceu ao sol,
habitou a terra
bebeu e respirou.

Só então
pode Deus, o escultor
tocar na terra e na água
e deste barro fazer o homem,
e de mais linda costela a mulher.
Dize Deus, bendita e cheio de olor
seja para sempre esta mistura da qual
foi feito Adão.
A chuva será o sêmen
com a qual fecundarei o universo.

De Solivan

O deus Tigre

Lutamos por um Tigre que não existe
e nele afiamos as garras
e é ele que nos alimenta,
e nos conforta e nos da força.
Para o tigre erguemos templos
e damos em cerimônias o aroma dos incensos e conquistamos.
O Tigre que não existe esta dentro de nossas armas, na cimitarra, na flecha.
Em cada nuvem, em cada arvore, e no fruto e na semente.
esta o tigre que não existe,
como uma estatua ainda dentro da pedra.
E se abrirmos a nuvem, se abrirmos a arvore o fruto e a semente não veremos o tigre
assim como se abrirmos a pedra não veremos a escultura,
porque só o escultor vê a escultura,
o resto de nos apenas pedra partida.
Podemos sentir o tigre que não existe
e seu olho nos cuidando e sua voz dentro de nos
como medo que não existe, assim como existe uma montanha,
mas esta sempre no olhar do homem.
Nosso tigre é o mais verdadeiro Deus
por não existir, porque o existir é uma condição inferior.
do nada veio primeiro homem,
no nada veio à primeira estrela.
Existir e a cria da não existência,
existir e a condição inferior do criado.
Não existir é a posição do criador.
Como poderá queimar nossos inimigos nosso deus tigre
se ele corre pela eternidade sem ser,
com sua linda e aveludada pele listrada de noite negra e de luz amarela do dia.

De Solivan

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Céu


De Solivan

Composição marcial para coral

Como um amanhecer com canto
de pássaros
escuta-se.
Gritos carmins, enxames de dor.
Choros enfaixados com escombros.
Gemidos que pousam como borboletas monarcas
Ganidos
e o trilo dos decepados.
Bocas-templos clamam por Deus.
Pombas desesperadas saem das gargantas das mães.
Rosnados de vingança
Agulhas tatuando luto em um coração.
Feridos que vomitam panos ensangüentados.
Berro de uma alma saindo do corpo a fórceps.
Um chamado perfumado com esperança.
Pedidos de ajuda se dissolvem no céu como sangue no mar
e mortos cantam silencio.


De Solivan

Atentado com bomba de bambu

Em uma embaixada
uma sombra
plantou sob a grama
uma revolucionaria bomba de bambu.
Como mina,
um passo ou a chuva
causou sua detonação.
Saiu da terra sua primeira farpa
e logo em estilhaços lançou
suas folhas elegantes e dóceis.
Sem pressa cresceu,
durante décadas explodiu
calma e ternamente
seu fogo verde e fresco.
Na sua fumaça
gerações de
pombos chocaram seus ninhos.


De Solivan

Apontamentos sobre minha dislexia e daltonismo.

O daltonismo
amputou algumas cores
do meu olho.
Por isto
esta dor perante o arco íris.

A dislexia faz minha mão gaguejar erros quando escrevo.

A dor é colorida,
havia dor no quarto amarelo e nos ciprestes retorcidos de angustia.
Dor quando cinza é uma dor daltônica.

Livros me foram incompreensíveis e fascinastes,
os lia com imaginação mística que quem lê búzios.

Quando não consigo saber uma cor, cheiro,
sei o odor do vermelho e qual e o perfume do verde.

Não sei quando o flamboyant sangra flores,
nem onde esfaquear uma palavra com acento agudo.

De Solivan