sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Ikebana


De Solivan

Proustinianas brasileiras n 1 (fragmento)

Assistindo o jornal da manhã,penso como futilidades faladas por alguém com terno e gravata passa por algo sério e inteligente, raramente assisto ou leio jornal, há muita notícia irrelevante, como de uma professora que dançou nua em boate, índices econômicos descartáveis,a festa junina do presidente,um acidente de automóvel sem vítimas em São Paulo. Gosto de notícias que me ensinem algo durável ou que ao menos divirta, informações que poderei usar para sempre.Tirando a previsão do tempo, raramente uma notícia que morrerá em uma semana ou em um dia me interessa,é só ler um jornal velho para ver que a maioria das notícias políticas e econômicas terão menos valor que uma receita culinária, por isto mesmo, por separar o que é relevante, quando leio um jornal ou revista não me importa que sejam antigos, porquê sei retirar notícias ainda vivas. Quando trabalhava com meu pai,o que detestava por ter que fazer poemas e desenhos escondido ou sob seu olhar de desaprovação, mas gostava dos dias de chuva,dos dias de tempestade com lindos raios era melhor ainda, o movimento caia muito e era uma delícia ir nas pilhas de jornais velhos e achar notícias frescas principalmente nas páginas culturais.

De Solivan

O dia em que meu corpo

Tento
desfazer na gravata
o nó que está no peito.
Abro a janela
e meu olhar voa como um pássaro no céu azul
[com nuvens brancas.
Lembro
por associação
(lembrar é uma associação),
o dia que caminhei
mastigando folhas de laranjeira
e olhei os pássaros no céu azul
[com nuvens brancas.
Veio-me
um poema verde
com gosto de folha de laranjeira,
um poema
no qual ando descalço
(e então tiro os sapatos embaixo da escrivaninha).


De Solivan

Oração para São Francisco

a consolação

É uma guirlanda de pássaros tua aura
uma aura cantante
e a juta de tuas vestes voltou a florir.
O cervo veio beber tolerância
em tua mão
e o lobo mansidão.
Teu beijo na testa do bêbado
transformou o desejo de vinho em água,
porque tocas o coração de todos
com a mesma facilidade
de quem colhe uma maçã vermelha
entre as ramagens verdes da macieira.
E quando afagou o leproso
a voz de Deus falou-lhe no íntimo do peito:
“Apenas o consola, que esta é sua hora
que um dia fez-se novamente
presente, a morte a Lázaro
e o cego outra vez vê minha face
e o coxo que fiz andar, veio a mim envolto em linho”.
Então somente abraçou-lhe a ferida
e fê-lo descansar
sentiu o peso da cruz na cabeça agradecida
deitada sobre seu ombro
e chorou com seu irmão.

De Solivan

A odisséia ou o erro do pavão

O pavão
de olhinhos nervosos
irrequieto bípede
tirou dolorosamente
suas queridas penas
uma a uma
e colou
em folhas de papel sulfite.
Despiu-se de suas jóias
transgrediu o pudor
sentiu frio
ficou só
sua família não agüentou
a verdade nua.
Não satisfeito
regurgitou a pouca quirela
do jantar
e vendo o vômito convulso e amarelo
lembrou-se de Van Gogh
e chorou.
Colou sua bile no sulfite
e com as folhas e penas e vômitos
profissionalmente encadernados,
a pobre ave implume
saiu a procura de editor.
Seria mais fácil, pássaro
achar editor
se deixasse as penas no corpo
e levasse as folhas em branco
profissionalmente encadernadas
sempre
profissionalmente encadernadas.


De Solivan

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

balaústres




De solivan

Orvalhos

Se uma estante fosse uma nau
as velas seriam os livros.

Cuidado Midas ao cheirar coca no escritório,
o inferno é seus desejos elevados ao máximo.

Borboleta
com uma asa mordida
como uma maçã do Éden

Neuzza
Pinheiro com pássaros.

O profeta
recorda o futuro.

De Solivan

Quadros descrito para cegos

II. Van Gogh
Auto-retrato (1890)
65 x 54 m - Museu de Orsay, Paris

Van Gogh é tenso, severo, retorcido
tem o rosto moldado de dentro para fora
pela angústia que tenta conter.
Sua barba rude,
espessa, mal cuidada incomoda e coça.
Nas duas rugas paralelas
entre seus olhos,
está uma sombra
como um erro na verdade clara
na verdade sob o sol.
Uma sombra que não devia estar, mas está
como retalho rasgado da veste da morte,
um pedaço de penumbra, de insanidade
que se aloja entre seus olhos.
O fundo do auto-retrato, de espiralados tumultuados
desenham seu interior.
As pinceladas vibram perturbadas
que em diapasão, fazem nossos nervos
vibrarem na mesma nota perturbada.
Sua roupa se integra com este fundo
só há o pequeno branco de sua gola
um branco de pomba agonizando.
Na casaca um botão é pintado
outro só contorno displicente,
como quem de tão angustiado
de tanto cansaço,
não consegue abotoar
a roupa direito.


De Solivan

Música

É uma fotossíntese,
qualquer cantor
aspira ar e expira notas musicais.
Já o blues man emite sons feitos de barro.
Vi um cego tocar acordeom,
a música o sacudia como uma ventania ou maré.
E por falar em cego
a música materializa os sentimentos,
reconhecemos um sentimento dentro do peito
como um cego apalpa e reconhece um objeto.
Músicos precisam do silêncio,
do silêncio branco como linho
para esculpir sentimentos.
Pergunto-me:
quem nasceu antes a música ou o rouxinol?
Acho que a música pousou num galho e compôs
um rouxinol.
E a beleza
a beleza nada mais é que música
de objetos não sonoros.


De Solivan

Prefácio do encantador de serpentes

Os Poemas de Solivan Brugnara

A poesia de Solivan Brugnara é diferente, especial, magnífica. Mantras, orações, blues elípticos? Tudo a ler. Também aqui e acolá tangerinas, pinturas, raios fúlgidos, sementes, frases para chaveiros, venenos gozosos. Diz ele: “Buda descansou à sombra de uma árvore/A árvore morreu/Mas a sombra ainda está lá” Taí um fragmento-apresentativo da poética de Solivan Brugnara. Já pensou? Algo zen, close translúcido. “Sou poeta porque gosto de lamber folhas em branco/Lembra leite materno”...salpica ele. Página de rosto.

A poesia de Solivan Brugnara fala. Leva fé e bagagem. Como tudo é matéria prima para o fazer poético, os poemas dele dizem de uma ótica extremamente sensível. E ele pensa o mondo cane para redefini-lo sacro-sanscrito, finamente espiritual, em artes e criações purgando o verbo viver por um prisma humanista, contemplador, melhorado, claro. Essa é a dele. Poesia é tudo o que move. E o que verte sob o olhar do artista ourives da palavra fazendo o diferencial.

A poesia de Solivan Brugnara é o que abrange o humanus mais infinitalmente telúrico no macadame de si mesmo. Fios desencapados da poesia pura e cristalina, na rota de fuga (ai a espécie!) feito um perene tear de granizos. Sim, somos todos serpentes (seres-entes) encantados na sua confeitaria de açúcares díspares. Nuances, contradições, ambigüidades, toleimas. Ele dá uma releitura de um mundo pueril no aprisco de suas inteirezas. E o nosso mundaréu de uma selva de cimento armado perdidinho. Ele, feito um sábio, um monge, recupera o aproveitável, destila, ventila, dá-se. Há encantários também. Quase salmos.

A faca cega acordando, a mão trazendo o fotograma, a pincelada magna meio mantra, meio oração, meio moendas e engenhos d´almas. Foca sentidos. Coloca-nos frente a frente com véus indizíveis. Ficamos molóides quando o lemos. Voltamos para dentro de nós mesmos, e só nós sabemos o que é estar lá em revisitança. A sua fala interior, de uma maneira ou de outra, rebusca coisas que perdemos atrás de uma estrada de tijolos amarelos. Ele recupera andanças e paisagens, feito uma enorme roda-cotia de sabenças.

A poesia nesse diapasão, mesmo assim, ainda às vezes transgride, fragmenta matizes, adota ritmos, quebra-os, desmonta andaimes íntimos de paisagens perdidas nas paredes da memória. Meio Belchior, meio Gonzaguinha, meio Tom Jobim, ele dá seu testemunho bem chão que é a nossa cara. Na enxovia do poema, a aleivosia de fluxos recorrentes (do in/consciente?). Prosopopéias e rapapés. Sal e vinagre também. Talvez mundos e fungos, ícaros e ácaros. E logo desperta a consciência inevitável de nosso desencarrilhamento existencial. Estamos todos perdidos?

E o lado sentidor do poeta? A mão hábil, a olaria do ser, a sofrência e a perda. Rocambole de idéias. Cortes. Nódoas da vida, nichos dela, jazidas de construções epigramáticas. Para o poema, tudo é; vetor e orgânico, ralo e lirismo, organismo sensorial de entregas e resultantes diletas de. Criar é se afirmar como ser. A coletânea O Encantador de Serpentes mostra o poeta em fibra e lucidez, recodificando signos ficantes de um mundo insano. Pois não é que ele tem jeito próprio, peculiar, estilo e vertente. Vida louca? Olha o rock do Cazuza.

Um peregrino que sonda o calibre das palavras, os flancos delas, os cabimentos e os universos em movimentos. Compõe poemas. Edifica, transmuta, corrói quando soa feito um templo nas nuvens e deposita-se num mosaico de letramentos e livramentos. Arames da memória, pensares (talvez por falta de peças de reposição para o ser tão pouco humano nesses tempos tenebrosos), torpedos poéticos com tons de cítaras, harpas, tudo num embonitamento fora de série. Quando não irônico ao pé da letra.

Foi o que li/vi (senti) de muito gostosamente lê-lo nessas novas paragens. Todo poeta res/pira pelo círio ardente de suas próprias criações-colheitas, em livros-testemunhos. Os loucos herdarão a guelra, numa futura Atlântida pluridimensional entre pirâmides marinhas, oásis cósmicos, cavaleiros trovatores, campos de lavandas náuticas. O que virá do passado nos surpreender no quartzo-róseo do futuro? Poetas dão testemunhos de cismares enluados, radares edificantes, revisões e tabuleiros, incensos e recolhimentos, pois na versalhada do viver/crer/ser, quer no baratinado surgimento das idéias, quer entre cabides de pregos, sempre haverá a voz que canta no deserto, a voz que soa na montanha, a voz que edita no mosteiro, a voz que imprime em livro os cânticos dos verdes campos do Paraná.

Solivan Brugnara dá seu testemunho em alto estilo. Sensível e conferidor de resultados do verbo viver, mostra asas de resistências na sensibilidade aflorada, dentro de sua ótica madurada a depurar poemas muito além dos estúpidos que fermentam impropriedades. Ele sabe o que faz. Ele faz bem. Ele é do ramo. Árvore que viça poemas. E assim se enlivra, livrando-se do que cria muito bem feito um liquidificador do que capta e dilue em versos, dizendo mais coisas maravilhosas dessa vida do que nós mesmos captamos na correria da sobrevivência sacrificial. Afinal, o sol é grátis, a poesia é seqüela de labirintos, e escrever é dar um registro de luz. Solivan Brugnara pintou mais um livro.
-0-

Silas Correa Leite
e-mail: poesilas@terra.com.br
Site pessoal: www.itarare.com.br/silas.htm
Autor de Porta-Lapsos, Poemas






“Um pacote congelado cheio de asas/quantos vôos mortos”

Solivan Brugnara escreve como quem parece querer fazer pacotes congelados de palavras, esmagadas, amarfanhadas, constituindo miscelâneas cuja característica é fugir a um estilo único e agir como uma ventosa que suga todas as possibilidades de expressão, sempre ainda insuficientes, afinal o sentido da vida e, em última instância, da palavra, é inalcançável, ainda que se possa percorrer o caminho da sua busca.
Por isso vai de uma descrição bucólica de uma paisagem a uma cena com meninos simulando tiros com os dedos em direção a um avião – será que eles querem mesmo derrubar aquela ave? aquela paisagem, que dor é aquela, exposta nas cores, nos detalhes obsessivos?; vai de um poema que se derrama parecendo por um momento interminável em palavras – onde ele quer chegar? - a um poema visual que logo contradiz a simplicidade de forma/conteúdo típica desses poemas para se somar a outros recursos como se fosse um baralho de palhaço – aquele cujas cartas são interligadas para que o jogo não seja o que se espera, mas outro; vai do panfleto político transformado em máximas de uma frase a pautas musicais por ele mesmo compostas, assim como desenhos que transitam de uma aparência naif a uma crueza cortante que dialoga comVan Gogh, todas formas de representação de um mundo globalizado visto de um lugar rural, no interior do Brasil, típico como quase tudo neste país em que agricultura tem o mesmo sentido de cultura.
Mas ao olhar desse que escreve isso não fica barato, pois o mundo rural é descrito com crueza crítica, em pinceladas secas e ao qual se agregam sentidos estranhos que o tornam, por isso, peculiar: “(...) Quero-quero nos potreiros. / Cinqüenta alqueires gramados com soja/ E um pinheiro solitário no meio./ Cinqüenta alqueires de terra arranhada pelo arado/ E um pinheiro./ Oitenta alqueires de soja, cem alqueires,/ E um pinheiro (...)”.
E é na regularidade da paisagem e, por extensão, da descrição poética dela, que nos deparamos com o inusitado que quebra a expectativa e faz peculiar a poética, um centauro no meio da plantação: “Me cumprimenta do soja,/ Como alguém com mar na cintura,/ Lembra um centauro, é só meio-homem/ O resto plantação”.
Como a arte não escolhe lugar, está nos mais improváveis, como nesse homem “com mar na cintura”, o soja; como Miró encontrado numa joaninha pousada no indicador; ou na constatação paradoxal e agônica de que é impossível saber a hora numa relojoaria.
Assim, nesses poemas/pacotes de palavras congeladas, parecendo asas, esse que escreve parece lamentar o tempo todo “quantos vôos mortos” estão à vista, entregando ao leitor o estranhamento, função poética elementarmente máxima, que não deixa na mesma aquele que o lê.

Ademir Demarchi, escritor, editor da revista de poesia BABEL
revistababel@uol.com.br

sexta-feira, 6 de novembro de 2009


De Solivan

Rapsódia sobre a palavra(fragmento)

O som crocante da chuva é sua palavra.

O doce da cana é sua palavra
e o rum, sua ira.

O urro da onça é sua palavra.

O voo da borboleta é sua palavra.

A beleza do pavão é sua palavra.

As fotos de Cartier Bresson
é sua palavra,
e seu discurso.

O amargor benigno do boldo
é sua palavra.

Seu nome é sua palavra
mais íntima.
Seu nome é seu coração,
Sua mão
e o cabelo que cai.
Seu nome tem a mesma cicatriz que você tem
e é seu osso,
e o sexo escolhido.
Seu nome envelhece.
E a ferida no seu corpo
é uma ferida no seu nome.

Por isto a palavra Aleijadinho
é desmembrada
e sua vogais não tem dedos.


De Solivan

Hotéis

1. Porto Alegre

Segundo andar,
um bucolismo urbano
me acorda
sempre muito cedo
gosto de ver da janela
a manhã
escavar a noite, retirar as sete camadas atmosféricas
de escombros escuros
dos nossos ombros,
ver a claridade lavar, de cada canto, o negro.
Os prédios e ruas solitárias
surgem suaves frescos e orvalhados
o semáforo troca suas ordens de cores simbólicas
para ninguém.
Olho para os postes elétricos
numa procissão silenciosa
suas luzes a esta hora apenas aureolam
as lâmpadas
e não se estendem mais num luminoso retalho âmbar
sobre as calçadas.
Ouço do âmago de uma árvore
os pardais-teclas cantarem quando os dedos
[da manhã tocam neles.
Os sons dos pardais cintilam em meus ouvidos
em multidões de estrelinhas de prata agudas
sobrepostas em escamas cintilantes.
Na rua
há sempre dois ou três transeuntes
personagens que só aumentam a sensação de solidão
parecem bibelôs sem vida
desenhos de uma lição de perspectiva
apenas peças, objetos para nos dar parâmetros das
proporções.
Os edifícios parecem mais impregnados de vida do que
as pessoas.

Leio por algumas horas
e desço à sala do café
de camarote pela vidraça,
vejo que os mesmos prédios cinzas
receberam mãos de luz e calor
uma pintura que estragou
a serenidade dos edifícios e ruas
deixando-os quentes, com ângulos duros
agressivos e claustrofóbicos.
Agora há cardumes suados pelas calçadas
e manadas agressivas de carros
rosnam raivosos, leões de circo
impotentes ante a luzinha vermelha
do farol.
Distraio-me com os automóveis
param e seguem
no ritmo de uma pulsação.
Desço as calçadas
no fundo abafado
do canyon de prédios.
Ao meu lado
sinto as íris gastarem os ponteiros dos relógios
e os ternos negros puírem os corações
farpas, limalhas de alma ficam no tecido
por isso este odor azinhavre
este gosto de prata enegrecida
nos quentes ternos escuros.
Sou o único a olhar para o alto
há sempre uma pomba ou avião
cruzando um céu canalizado
entre edifícios
sou novamente um menino encantado
com sua pipa.

De Solivan

Heterônimos

C. Miguel de Couto e Alves
(Poeta romântico, bissexto, abolicionista que
não domina perfeitamente a arte de metrificar)

Páscoa

E o sol da liberdade em raios
fúlgidos.

África, no rico oriente pragas
todos primogênitos atingiram.
Até anjos, transpassaram adagas
e inocentes corações feriram.
Traga justiça para outras plagas.
Se num lado os mares se abriram
para multidões serem libertadas
Por que?! Por outro saem escravizadas?!

À frente de sangüíneo cafezal
no tronco, marca as costas, o chicote
risca, corta, que ideograma brutal.
Tentam retirar à custa de açoite
a liberdade, que é de força tal
é fígado de Prometeu, reverte
fica cada vez mais e mais forte
parece, se alimenta do corte.

Do cão, está muito distante o uivo,
mas é longe o palmares combativo.
Da tua fome faça um incentivo.
Cavalgue em tua fibra fugitivo.
Mata, proteja a fuga do cativo.
Noite, camufle logo o dia nocivo.
Árvores, frutifiquem quando passa.
Fonte molhe, seca sede o perpassa.

Mães apontem ao que bebe em seu peito,
a águia livre, deleite no céu aberto.
Fale do pássaro, diga a respeito
que preso cala, só canta liberto.
O seu filho entenderá o conceito
distinguirá o instituído do certo.
Com doce candura mostrará a luta
nada terá a prole de irresoluta.

Vergonha! enrubesça verde flâmula!
Gritem! nem que ao toque deste clarim
a arregimentação se mostre nula.
Heróis é a hora da glória enfim!
Gorjeiem poetas, a palavra é cânula
que leva bravura a alma e ao confim!
África! mostre, teu sangue tem leões
só fortes não morreram nos galeões!

Ou escutem! as asas da liberdade
creiam, são feitas de pena ou de faca.
Se espadas escrevem sua verdade
na dura lei que hoje, o negro ataca.
Por uma pluma! a vida na herdade
no negreiro e na nação onde atraca.
Por uma pluma! ser modificada.
O Moisés de uma raça libertada!

De Solivan

Frida

Frida com Diego.
Mulheres a invejam.
- Queria ter uma cicatriz assim
e pernas finas como a tua Frida.
- Frida! Teu sexo está
- Frida! Teu sexo está
manchado de tinta,
Diego esteve aqui?
-Sim, sim, e deixou-me um o poema de amor.
Como abelhas

Ai, amor
abelhas
sempre rondam
teu coração
Ai, defenda
tua doçura com ferrões.
Há beija-flores
apaixonados por tuas sobrancelhas.
Senta aqui perto
quero fazer tranças
em teu cabelo.
Brincar com
os dedos de tua mão.
Ai, amor, defenda
tua doçura com ferrões.



De Solivan