tag:blogger.com,1999:blog-49811351270706107052024-03-13T12:10:18.258-07:00Pergaminhosde uma ovelha negraSolivanhttp://www.blogger.com/profile/12560377145168072462noreply@blogger.comBlogger326125tag:blogger.com,1999:blog-4981135127070610705.post-36352796299569584732013-06-25T15:22:00.000-07:002013-06-26T10:36:02.766-07:00Ira no templo III Caros camaradas, não posso falar, <br />
mas que droga fizemos com a magnífica idéia do socialismo? <br />
que palhaçada é esta de ditaduras e estupidez ideológica, paredón e colocar intelectuais na geladeira dos gulags, khmer vermelho sangue e até comunismo monárquico na coréia. <br />
Que bela troca fizemos sai burgueses entram militares e políticos no poder<br />
sim, porque o proletariado continuou nas fábricas e trabalhando nos campos. <br />
E nossos países caíram um a um aos pés tratados com creme dos capitalistas,<br />
se bem que as monarquias também foram restauradas após a revolução francesa e depois todas caíram novamente em paz, ou viraram monarquias fantoches<br />
também uma a uma sobre o peso das repúblicas. <br />
Mas olha camarada, <br />
Não posso falar, mas se tiver que escolher entre os americanos <br />
e o Stálido do chicote russo e fico com os capitalistas e sua falsa liberdade,<br />
que melhor uma falsa liberdade que nenhuma.<br />
desculpe-me Karl <br />
Mas quero paz não luta de classes, não quero armas<br />
Não posso falar, mas quero um socialismo exuberante, <br />
Porque não podemos ser comunista em qualquer país democrático? <br />
Porque não criamos o socialismo dentro do capitalismo?<br />
Vamos usar o capitalismo camarada, <br />
Que acha companheiro de usarmos o capital e nossa mão de obra para firmas socialistas <br />
eu quero shopping Center socialistas, Sex shop socialistas, hiper mercados socialistas, banco internacional socialista,<br />
Quero coca-cola e Ford indústria socialista, e outro grupo comunista compre a Pepsi comunistas a Macdonald comunista s/a e a burquer king comunista<br />
Quero iates proletários, proletários com caro de luxo e mansões<br />
Quero proletários com Renuir na parede.<br />
Vamos companheiros vencer o capital no seu próprio jogo de ganâncias.<br />
Quero mundo livre, com desfiles de alta moda socialista e patricinhas socialistas<br />
Quero fazer um muro para dividir os pobres capitalistas dos ricos socialistas<br />
e depois por abaixo é deixar que os bárbaros da Europa ocidental entrem no <br />
belo país dos Anarquistas bilionários, deixe que entrem nos Estados do Éden unidos, Na República de Utopia, na bela nação de Nirvana do sul. <br />
Não posso falar, mas quero um comunismo de verdade vigoroso como o capitalismo. <br />
Quero um mundo que deseje a anarquia como uma mulher deseja sapatos. <br />
Não posso falar, mas que besteira é esta de ser contra a religião camarada,<br />
deixa que sejam católicos, e vamos aceitar socialistas católicos, Umbanda socialista, budista socialista <br />
que a religião morra como algo retrógado morre.<br />
Companheiro, camarada<br />
Não tenho raiva dos burgueses, alias quero que todos sejam milionários que nossos problemas sejam o tédio e a depressão de ter tudo,<br />
que são estes os problemas que os ricos tem <br />
<br />
Vamos sempre camarada para qualquer regime que nos leve mais perto da utopia<br />
Mais perto do colo da utopia <br />
e alguns poucos milênios passam logo camarada<br />
e vamos viver na anarquia, aí sim seremos humanos camarada <br />
<br />
Sim, com algumas leis,<br />
talvez os dez mandamentos, é religioso eu sei, mas e daí? boa idéia é uma boa idéia. <br />
Mas pensando bem é melhor só 4 mandamentos, vamos revogar a lei que diz para não desejar a mulher do próximo,a contra a castidade e as leis teológicas.<br />
<br />
Ou só uma, vamos fazer uma novinha <br />
Talvez esta camarada:<br />
É proibido coibir a liberdade, a não ser que ela cause qualquer violência física intencional a outro homem ou ao seu patrimônio, sob pena de reclusão progressiva ou eterna em presídios mansões com banheiras de hidromassagem e visitas sexuais,e prisioneiros com direito a ir para Paris visitar o Louvre.<br />
<br />
Não posso falar, mas na anarquia daqui a milênios<br />
Não se pode proibir alguém de ser racista,<br />
Não poderá o homem proibir outro homem de ser racista, porque o homem pode ser o que quiser, se bem que não existirão racistas.<br />
Não poderá o homem proibir outro homem de seguir regras se este quiser<br />
Se bem que não haverá regras.<br />
Não poderá o homem proibir o outro homem de ser homofóbico,<br />
Se bem que todos serão gays. <br />
Que caçe baleias e pandas se o quiser sim porque vão existir milhares de pandas e baleias. <br />
<br />
Sim, não posso dizer, mas na Anarquia será tudo liberado.<br />
Se um homem quer ser virgem ou imoral que seja.<br />
Se quiser servir ao Rei da Patagônia que siga<br />
e quem não quiser, que não siga.<br />
É irrevogável que na anarquia o homem possa ser até escravo se desejar<br />
deste que possa deixar de ser o quando e a hora que quiser,<br />
Porque não podemos ser livres proibindo.<br />
Então vou poder falar a vontade e a verdade vai parar de doer. <br />
<br />
<br />
Solivan<br />
Solivanhttp://www.blogger.com/profile/12560377145168072462noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4981135127070610705.post-21587306144919418212013-06-10T17:04:00.002-07:002013-06-11T02:59:35.242-07:00Ira no templo ll Não posso falar da religiosa ciência,<br />
nem dos atos litúrgicos das experiências <br />
e de suas falsas promessas de vida e juventude eterna<br />
ou de suas teorias apocalípticas <br />
que prega dilúvios e o desaparecimento das águas ao mesmo tempo, <br />
como um Moisés doido, já que a água é a mesma desde começo do mundo.<br />
Não posso falar dos seus halal científicos cheios de jejuns e abstinências, <br />
não posso falar das suas homilias a favor do sexo asséptico <br />
apenas com as litúrgicas vestes para priapos. <br />
Não posso falar que quero uma medicina <br />
que liberte, que cure cirrose, que nos deixe comer sal à vontade.<br />
Que quero uma medicina que me deixe comer doces, tomar cerveja o quanto eu quiser<br />
Que me deixe livre, que cure a AIDS ou qualquer porcaria, ou qualquer doença venérea ouse tentar acabar com a festa.<br />
Uma medicina que me deixe viver cheio de saúde e paz,<br />
Uma medicina que me deixe abraçar meu irmão à vontade sem medo de gripe ou qualquer outra porcaria de contaminação.<br />
Que pegue um coração doente e enceste em alguma lixeira com tabela de basquete e coloque outro novinho e saudável em seu lugar, sem tirar de outro homem. <br />
Aí sim podemos chamar medicina, não esta medicina que por incompetência<br />
enche-nos de culpa e remorsos como qualquer religião retrógada.<br />
<br />
Tenho vontade de blasfemar <br />
mas não posso falar<br />
desta porcaria de ciência obvia, que só mostra pesquisas<br />
que todos querem ouvir, que é covarde e politicamente correta<br />
tenho vontade de perguntar: Caros senhores vocês <br />
são cientistas ou cantores pop?<br />
<br />
Não posso falar desta ciência<br />
que tem resposta para tudo menos para o essencial. <br />
<br />
Desta ciência que mente tanto, que peca tanto quanto<br />
as franquias religiosas, islâmicos, católicos ou protestantes.<br />
Olha não posso dizer, mas se Deus existisse, <br />
o inferno estaria cheio de crentes, e o céu de ateus. <br />
Ah meu doce Jesus, meu doce Buda, seus filhos não aprenderam nada, seus filhos continuam retrógados e estúpidos,<br />
é sempre a liberdade e a verdade posta de lado a favor de uma falsa verdade,<br />
e o pior em seu nome meu doce Jesus, meu doce Buda, meu doce Charles Darwin, meu doce Einstein. <br />
Veja nos hospitais e templos<br />
há apenas a procura pelas curas lucrativas<br />
Enquanto esperançosos fiéis esperam como Lázaros as extremas unções das máquinas nas UTI`s, e os coxos que suas pernas renasçam como um rabo de lagartixa e os aleijados querem andar sobre as águas, os cegos verem mesmo raios ultra violetas e os surdos querem ouvir ate infra sons, mas quando? <br />
<br />
Não posso falar da ciência e suas alfaias usadas para fabricar ganâncias e guerras, <br />
nem que seus erros tão estúpidos quanto os da religião.<br />
Não posso falar das eugenias, das bombas, das burras teorias cósmicas da física<br />
como a de realidades clones,<br />
já que um mundo com um só grão de pó fora do lugar já não seria<br />
absolutamente igual ao outro.<br />
Nada é absolutamente igual, <br />
nem uma folha, nem um clone, nem um átono é absolutamente igual ao outro<br />
porque o absolutamente igual é algo que não existe.<br />
Mas os físicos nos falam como sacerdotes em vestes litúrgicas<br />
deste cosmo tão inexistente como qualquer Deus<br />
como se fosse um dogma que nos pobres fiéis <br />
não temos como entender os desígnios do universo<br />
e devemos ouvir sem questionar como um crente escuta tolices teológicas, <br />
mas não posso falar, então me calo.A verdade dói.<br />
<br />
Solivan<br />
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Solivanhttp://www.blogger.com/profile/12560377145168072462noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4981135127070610705.post-40951517111825648612013-05-28T07:23:00.004-07:002013-06-25T15:15:57.390-07:00Ira no templo<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhp2V6IlvCmvFWBzX_e5baoIHGNUz64YZAp9kT6iYekvgWx3GkUG8Z1AYANRxBvugyWJCld-BXlMOccDpi7aByXeBuGExj1jEFJTUXweTVGfkZHSsue_9OHwwTIIz_QOVz9AcVnIc35Pqw/s1600/1+(20).JPG" imageanchor="1" ><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhp2V6IlvCmvFWBzX_e5baoIHGNUz64YZAp9kT6iYekvgWx3GkUG8Z1AYANRxBvugyWJCld-BXlMOccDpi7aByXeBuGExj1jEFJTUXweTVGfkZHSsue_9OHwwTIIz_QOVz9AcVnIc35Pqw/s320/1+(20).JPG" /></a><br />
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<br />
Não posso falar dos sujos Iberos, Gauleses e Bretões <br />
cheios de varíola e cruzes contaminadas por suas porcas mãos<br />
que colonizaram a idílica América cheia de paz,<br />
um Éden com bons indígenas imperiais, com seus intestinos imperiais<br />
e seus cus de jaguar imperiais <br />
que carneavam outros índios em grandes templos<br />
na sua cidade que se chamava Tenochtitlán<br />
mas bem que poderiam se chamar Auschwitz.<br />
Não posso falar<br />
dos reis negros safados que escravizavam negros e <br />
vendiam negros.<br />
Não posso falar que os coitados dos Judeus<br />
E do genocida Josué <br />
que exterminou povos tanto quanto filhos das putas dos nazistas.<br />
Não posso falar que Davi teve mais pecados que cornear Urias <br />
e era tão racista quanto o bigodinho ridículo com suástica.<br />
Não posso falar que nada mudou, como um Bill Clinton bíblico <br />
Passou mais vergonha pública por uma chupada<br />
que os Bush com suas guerras. <br />
É, o desgraçado deste mundo não mudou nada,<br />
mas é melhor ficar calado.<br />
Não posso falar dos idiotas que acham sua raça superior ou oprimida. <br />
Seja que porcaria for sua raça, você é um humano sua besta<br />
e quer hegemonia.<br />
É só olhar para a droga da história, idiotas caolhos,<br />
para ver que a disputa está na vontade dos oprimidos de pegar o chicote <br />
e dos filhos da puta dos opressores em não solta-lo.<br />
Mas quando seus neandertais, vamos abandonar o maldito chicote<br />
e não apenas mudá-lo lado. <br />
Mas não posso falar que ninguém vai gostar,<br />
não posso falar que vão me chamar de racista ou de <br />
viadinho liberal, Então me calo,por que a verdade dói.<br />
<br />
Solivan<br />
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Solivanhttp://www.blogger.com/profile/12560377145168072462noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-4981135127070610705.post-77947082059306868242013-04-25T21:16:00.001-07:002013-05-28T07:06:21.053-07:00Poema caolho <br />
O caolho olha <br />
o<br />
Yin - yang<br />
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Igreja e jabuticaba<br />
<br />
Guerra e monólito negro de Kubrik <br />
<br />
Parque de diversões e mancha de dálmata<br />
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Avenida Pinheirais e Black Square de Malevich<br />
<br />
Estrelas e retalho da capa de Darth Vader<br />
<br />
Antiquários da Augusta e Obsidiana<br />
<br />
Caribe e perola negra<br />
<br />
Chiaroscuro<br />
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Solivan<br />
-<br />
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Solivanhttp://www.blogger.com/profile/12560377145168072462noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4981135127070610705.post-2039702620104064502012-12-11T16:12:00.002-08:002013-04-25T21:07:45.954-07:00 Dona Nelsa Rodrigues<br />
<br />
Eu era empregadinha casa da Dona Tere, empregadinha mesmo, mocinha, O Soli era uma peste subia no foro fazia buraco para me ver tomando banho e ainda gritava:“Tó te vendo” se estava de saia deslizava no chão para ver minhas calcinhas e falava:“ Ta de azul” “Ta de vermelho” eu gritava:“Sai daí, que eu conto para tua mãe”, mas não contava, achava engraçado, gostava.Um dia ate deixei ele ficar em cima de mim, fingi que dormia.Moleque,quando comecei o Soli era um moleque, ao sair sua mão direita era sua amante e os seus soldadinhos tinham encontros com uma boneca Barbie sem uma perna, maneta e descabelada como uma prostituta barata.Só fui embora porque casei com o Adilsom, juntamos nossos acertos e algumas compotas que minha mãe nos deu de presente e fomos para São Paulo, o Adilson trabalhava de garçom e eu de diarista, alugamos numa quitinete, era minha casa de boneca, quente, cheia de pernilongo, com cheiro de frigideira por que o exaustor do restaurante abaixo que saia bem na nossa janela, mas era minha primeira casinha de boneca, gostava de arrumar tudo, por bibelô. Era feliz, sentia um pouco de solidão, a única pessoa que me cumprimentava pelo nome era o travesti que fazia ponto na entrada do prédio e também tinha saudades de minha mãe, a coitada morreu há pouco tempo de derrame, fui para o Paraná no velório, mas já era bem velha, enterro de velho se sente pouco, mesmo que seja a mãe. Amava o Adilsom, amava, acho que só nos separamos por causa das pamonhas, eu levantava cedinho só para fazer doces, queria agradar, com carinho, pamonha doce, passava horas envolta do fogão só para escutar dele “Gosto é de pamonha salgada” eu fazia tudo outra vez, com mais capricho ainda, fazia novamente a melhor pamonha doce que conseguia. Como eu queria que o Adilsom gostasse de pamonha doce, mas ele sempre repetia “Gosto é de pamonha salgada”. Logo o Adilsom não pedia mais pamonha salgada e nem experimentava as doces, nem um pedacinho. Das pamonhas passou para casa, contagiou o sexo que era quase infantil, brincadeira feliz de medico, de casinha, começou a ficar indecente por causa dos gibis do Carlos Zéfiro que o Adilson comprava, das pornochanchadas assistia no Cine Ritz, lembro muito bem quando chegou com cheiro de cachaça me agarrou e em cima de mim balbuciou “Assisti a dama da lotação,quer sair com outro,quer,eu deixo eu deixo” implorou:“Eu quero, eu quero ver” gostei, mas depois senti remorsos, nojo, jamais vou fazer isto, nunca,mas depois disso o Adilsom começou a me importunar,suplicar, desejava, pedia que eu levasse homem pra nossa casa, para nossa cama, queria me ver se entregando para outro,que saísse com outros, eu dissimulava, fazia promessas falsas, não queria ser devassa. Só trai o Adilsom quando não viu meu corte meu cabelo, trai, marido não nota corte de cabelo novo não merece fidelidade, não merece respeito, e depois estava sem ganhar um beijo, um carinho fazia tempo. Adilsom ficava emburrado porque queria me ver com outros e eu não queria, ai trai sim, mas fiz sozinha, bem escondido. Enganei o Adilsom com meu patrão e engravidei, engravidei. Com meu patrão conseguia ser vadia, que delicia, livre, vagabunda, com o coitado do Adilsom, ate tentei mas não conseguia,com ele queria ser a esposa, queria carinho, ser a Dona Nelsa, se meu marido quisesse meu amor eu não teria traído, não teria, mas ele desejava uma ordinária! Ai trai, para me vingar, trai por que queria ser fiel, eu o amava, queria só ele, não outros, então fiz o que o Adilsom mais desejava, mas sem ele saber, em segredo, lembro que gostava de roubar goiaba, era só pedir que o vizinho dava quantas goiabas quisesse, gostava de ver as meninas de vestidinhos subindo nas arvores mas eu preferia roubar que pedir, pedir é uma humilhação, uma esmola, roubar e mais digno.Gostei de trair, gostei ate da culpa, do remorso. Porque não era a mesma culpa que impedia, que proibia como a culpa que sentia quando fazia indecências com o Adilsom, a culpa, o remorso quando eu traia era diferente era uma culpa libertadora, me fazia gostar ainda mais, deixava tudo mais obsceno, gostava de enganar com sentimento de culpa, como gostava, me sentia culpada e tinha mais prazer por isto mesmo. Delicia chorar de culpa quando era possuída pelo amante, era bom falar: “Porque faz isto comigo? Eu sou casada, não devia, não devia’’chorava e gozava. Tive que seduzir meu patrão, me atraia, era um senhor respeitável, calvo, com barriga, vermelho de pressão alta e calvo parecia um uacari de óculos, era aposentado com problemas no coração e obedecia caninamente sua esposa, mesmo com a Dona Yena trabalhando fora, precisei me insinuar para conseguir o que queria, comecei a mostrar meus seios quando limpava a mesa de centro, derrubava café no chão só para limpar de quatro com a saia um pouco erguida, ate que um dia na cozinha, lavando a louça, senti ele ajoelhado atrás de mim me beijando, desesperado, choramingando, choramingando balbuciava :“ Deixa, deixa” levantei a saia e deixei, depois disso passeia dominar, mandava nele, fazia limpar a casa, mandava ele ficar bêbado e me esfregava bem na cara dele, ficava vendo meu óculos, mas sabia o limite, sabia e não queria perder meu escravo,que escravo é quem manda, eu cuidava para que tudo ficasse organizado, de lingerie, mas tudo bem arrumado para a Dona Yena não desconfiar de nada, nunca desconfiou.Levava o Patrão pra cama do casal e dizia:“ Imagine que sou a Dona Yena, quero que você pense que eu sou esposa” como eu gostava de sentir ele em cima de mim imaginando que estava com outra,com sua mulher.Com o Adilsom não, não queria, não conseguia,Adilsom já era pecador, eu queria era desvirtuar, meu patrão nunca tinha sentido o prazer de ser humilhado,cuspido, o prazer de apanhar,de ser possuído,nem eu de humilhar,de ser a mulher o macho e ele a mulherzinha. Máscara, talvez, meu problema seja as máscaras que uso,varias, uma para cada pessoas, criei minha máscara para o Adilsom ainda quando namorávamos, quando nos conhecemos, com o Adilsom, não conseguia ficar sem a máscara, me sentia desprotegida, mais que nua, descarnada, mostrando a caveira, com meu chefe também tinha uma máscara, mas era de devassa, só sabia ser isto com ele,uma puta.Um elogio usava um elogio como um molde de minhas máscaras, um elogio já bastava, um professor me disse que era boa em matemática pois foi o único ano que sempre tirei notas boas em matemática. Para minha mãe eu era a católica, mesmo com ela morta, no enterro puxei o rosário, rezei diante do caixão falava para os poucos parentes, nos pêsames: “Deus quis assim, recebeu o chamado de Jesus” depois do féretro nunca mais fui a uma missa no domingo, nem uma oração saiu de minha boca. Os Domingos eram iguais na Dona Tere, fazia maionese para acompanhar o churrasco do almoço e as onze tinha que tirar o Soli da frente dos desenhos animados para me ajudar a comprar as bebidas no deposito da Serramalte, era perto, um barracão de araucária grande, fresco e escuro meio apodrecido e tinha cheiro de cerveja,eu e o Soli torciamos muito para o time da Serramalte lembro da decisão contra a Giacomar, o jogo foi um desses acontecimentos épicos que a historia não conta, de heróis anônimos, que morrem sem odes, a Serramalte entrou com sua camisa azul como sangue de nobres, valentes, cheios de brio, foram acossados no primeiro tempo mas o goleiro Galo em pulos certeiro de onça em paca pegava todo os tiros que vinham contra sua meta, retrocederam,mas o retroceder dos valentes não é se render e sim um retesar, como o recuo do arco que impulsiona a flecha, no segundo tempo avançamos indomáveis, mas o adversário também era valoroso e forte, a batalha parecia destinada ao empate quando o Nego armador elegante recebeu uma bola xucra, domesticou no peito, olhou como um general e passou dócil obediente pro Pingo que repassou para o ponteiro Cafu, Cafu dominou, correu livre pelo flanco esquerdo e lançou, a esfera subiu suave,com movimentos de lua passou por cima dos zagueiros, o centroavante Sarna subiu e num bote de cascavel cabeceou venenoso na gaveta. A alegria explodiu como fogos em mil peitos, um estrondo de campeão, o Sarna correu para a torcida batendo no peito, no escudo, então os heróis se abraçavam, jubilo, a taça do municipal de 78 era nossa.<br />
Ia assistir os jogos da Serramalte com o Adilsom, Adilsom, Adilsom,gosto de falar o nome dele,tem gosto,o nome dele tem gosto.Foi uma pena ter acabado como acabou. Eu, na cama com o Adilson desejava,queria muito um marido doce,não desejava ser safada, mulher tem que ser safada, homem com tesão é homem carinhoso,agora eu sei, Não adianta cobrar romance ,não espere nem cafuné de um homem que não te deseja,quer romance minha filha? Quer beijo na boca? Quer ser chamada de meu amor? Se faça desejada, de o proibido, faça sacanagem. Mas primeiro finja inocência. Fingir inocência é o inicio de todo um casamento feliz e depois caia no pecado, agora eu sei, mas é tarde, perdi meu amor ,perdi, disse muito não, logo tudo ficou tedioso, o Adilsom passou a fazer tudo em um silencio emburrado, padronizado, fazia só para provar que não queria mais. Mas eu sabia o que desejava era desdém de quem quer muito, de quem quer comprar, mas no por defeitos, no desdenhar, foi descobrindo que os defeitos eram mesmo defeitos, apanhei levei uma bofetada, quando falei no meio da transa com medo de o perder :“ Vamos fazer suruba” ele me respondeu com raiva: “Mentirosa”me bateu e saiu de cima de mim. Foi nossa ultima relação, falei só porque tive medo de perder, eu amava o Adilsom, mas não adiantava mais prometer, ele resistia à tentação obstinado, resistia, quando vi que ele desistiu, tentei mudar, não cumpria, mas prometia, não funcionou, nada mais funcionava, mesmo quando tentava fazer cara de prostituta para agradar era cara de Santa Maria Madalena,de Santa Maria do Egito. Tentei de tudo, pamonha salgada, carinho, beijo,ser infiel, nada resolvia, teve uma trégua quando engravidei, menti que era do Adilsom, mas engravidei do meu patrão, engravidei, porque quis, menti que tomava comprimido, lembro como foi disse: “Pensa que sou sua filha” e meu chefinho enlouqueceu, fez a única coisa que me negava, desobedecia, que era gozar dentro de mim, dava tudo que pedisse jóias, roupas mas não gozava, ate quando falei :“Pensa que sou sua filha” ai ele gozou,e gritou:“Desgraçada”e gozou,me encheu de esperma,que prazer, que prazer, o melhor orgasmo e engravidei. Era dele não do Adilsom tenho certeza, mas perdi com cinco meses, falei que ia tirar, não ia, enrolei, queria aquele filho, não ai tirar, mas o aborto foi espontâneo, o Adilson nunca desconfiou, nunca. Engravidar de outro fez bem para meu casamento, gostava de ir pra cama com meu marido embuchada de outro, gostava, gemia, mas perdi, logo me separei, meu amor foi embora não consegui mais segurar o Adilsom, tentei, chorei, implorei de joelhos, mas não consegui, viúva me senti uma viúva, triste, lembrava de quando começou a namorar, me comprava sorvete, passeava comigo,me beijava. Sabe outro motivo minha infidelidade, o Adilsom detestava meu chefe, tinha ciúmes, eu sentia atração por quem o Adilsom não gostava, trair com o inimigo é pior que trair com o melhor amigo. Quanto mais sacana a traição maior o prazer, sair com a sogra, irmão, inimigo, com o enteado o gozo é alucinante. O Adilsom não percebia, homem é cego, chifre nasce sobre os olhos, o Adilsom achava que eu era pudica, que não gostava de safadeza só porque não fazia com ele, coitado, depois que me separei,fui trabalhar em uma boate. Tinha raiva de amar o Adilsom, tinha raiva não dele, tinha raiva era de mim, por ter me apaixonado por ele, quando podia ter casado de véu e grinalda com um ricaço, então só para me mostrar que tinha errado, escolhido mal, que preferi um banana, um corno, era infiel. Casei virgem e era bonita, bonita e virgem pode escolher homem, escolher, casar com o Prefeito e o gerente de banco como padrinhos, flertei com um abonado era bonita e virgem, rico aceita fácil seu filho casar com moça pobre desde que seja bonita, já pai de menina de classe não aceita genro pobre, da encrenca. Edson, era o nome do filhinho do papai, fui burra, juntei os trapos com um garçom, seduzida por sorvete de lentilha, demorei a abrir as pernas, ficava só nos amassos, fazer isto deixa os homens presos, na palma de mão, fazendo tudo que podem para agradar, hímen tem poder, deixar eles apenas acariciam o paraíso hipnotiza, permitir só que lambam um pouquinho, que cheirem a maçã deixa os homens apaixonados, acho que tentei fazer isto com outros desejos do Adilsom, não entregar é uma maneira de prender, mas eu não sabia disso quando era moça, sabia era que tinha medo de perder minha virgindade, parecia que era atacada por uma faca, era como ter um assassino em cima, um sorriso parecia um rosnado, o Adilsom era bonito, depende do ângulo,mas quando tentava, para mim ficava feio,desfigurado,sentia uma angustia de soterrada, não queria, sozinha, eu conseguia, desejava, imaginava o Adilsom todinho dentro de mim. Quando eu casei já não era mais virgem, falei que era, mas não era, eu mesmo tirado com minha escova de cabelo, na lua de mel esperei ate o ultimo dia das regras dificultei um pouco e o noivo nem percebeu. Quando trabalhei na boate Sensual, depois que me separei, sempre lembrava quando morava com a Dona Tere, e que na casa dela tinha uns discos do Abba,do Village People, dançávamos na sala eu a Tere e o Jonh Travoltinha, e no natal fazíamos presépios, era bom apanhar no mato o musgo verde ,tosquiar arvores, puxar sua barba, o musgo parece mesmo uma graminha, ate hoje acho que natal tem cheiro de musgo,eu falei para o Soli:“ Quer saber se um papai Noel e de verdade ou mentira cheire a barba, barba de Papai Noel de verdade tem cheiro de musgo Solivan”.Iamos eu a dona Tere e o Soli, o soli então gostava muito,era como soltar um pássaro, corria de lá pra cá, cheirava tudo, subia nas arvores para pegar bromélinhas e cipozinhos,tudo que parecesse com uma miniatura, que fosse dentro da escala do presépio e por ultimo íamos pegar um pinheiro era sempre um araucária, o pinheiro araucária é feio quando pequenos, magrinho de galhos que parecem um tentáculo, as folhas acabam finas acabam como um espinho, mesmo com de enfeites de bolinhas,de algodão de pisca-pisca, ficava feio, mas aquele feio que a gente olha com compaixão, aquele feio tão feio que da vontade de fazer carinho.Íamos também lavar roupa no rio apesar de ter tudo em casa, o soli ficava correndo atrás das borboletas amarelas.Quando era menina, fugimos da escola para ir ao rio, uma vez deixei que os meninos ficassem em cima de mim, uma fila, deixei, mas eles contaram para todo o mundo, gozavam de mim, a professora ficou sabendo, minha mãe ficou sabendo, apanhei,tomei uma sova, nunca mais confiei em ninguém, aprendi, faço tudo, mas escolho bem, não saio com um canalha, mesmo que deseje, todo o canalha é um retrógado, faz parecer que toda a mulher, todo o homem que se entrega é uma idiota.Assim espalha repressão no bar, envergonha o prazer, o marido que escuta o canalha leva esta repressão para a mulher para filhas. Para mim a única imoralidade do sexo e escolher mal. Sair com um canalha é um retrocesso obsceno e amoral é traição, como um comuna contribuído com a direita, é insectofilia, é transar com barata, é emprestar dinheiro para caloteio gabola, o malandro pega seu dinheiro e ainda te difama. Sabe não trabalhei muito na boate, lugar gostoso de pecar é no céu, no céu, porque no inferno o pecado é comum é sem graça, mas aprendi, aprendi muito na boate. Eu sou bonita, sempre fui muito, bonita e gostosa, todos me olhavam, os pedreiros, os bêbados, os ricos, os velhos, sou loira e linda, mas na boate perdia a sedução que tinha na rua, num baile, não só eu, todas, todas aquelas mulheres deliciosas, fora, podiam escolher homem, na boate, naquela luz vermelha enfraqueciam eram as escolhidas. Todas aquelas meninas num bar tinham os machos de quatro, era só olhar que vinham fácil vinham rastejando, na boate todas as moças tinham que se oferecer, dar descontos, pague por um e coloque em três lugares. Mulher bonita que sabe usar a cabeça e o corpo de verdade não fica na zona, na zona se inverte os poderes,são os homens é que ficam seletivos, cheios de nove horas, reclamam, colocam defeito.Logo que compreendi isto sai, na minha primeira noite que fui a uma discoteca sentir senti minha atração voltar e os marmanjos queriam lamber o chão que eu pisava com seus sapatos vermelhos, homem é tudo igual ,tudo igual,era desejada novamente, sim, fora da boate eu poderia escolher novamente, logo achei um advogado,Dr. Gustavo foi só fazer cara de triste, por ter perdido meu marido, não transar por algumas noites, deixar que ele me ensinasse o que eu já sabia, menti muito para ele, que mentir é a verdade essencial a mais franca e sincera declaração do que queremos ser, ouça sua mentira, a siga, seja o que a mentira ordena, e o caminho mais claro para alguém saber o que quer da vida.E pronto casei e casei bem.casei com um advogado, rodávamos São Paulo, sabe primeira vez que vi São Paulo, foi de passagem, em uma excursão O Soli parecia um abduzido vendo do disco voador a metrópole de Jeová. Fomos para Aparecida do Norte, lembro da basílica, da Rainha Negra, das salas de milagres cheia de fotos, muletas e muitas pernas, cabeças e braços de cera decepadas. O Soli comprou um monóculo e roubou cartões postais e uma caneta em forma de espingarda das lojinhas de lembrancinhas, roubou que eu vi, entrou num museu e cobiçou as pedras preciosas, visitou um zôo caseiro, num terreno vago entre os prédios, com onça, jibóia e um urubu rei encaixotados. E no almoço, ficamos admirando da grande janela do restaurante, a passarela e a basílica, era a foto do cartão postal roubado, milagrosamente viva. Eu ainda gostava do Adilsom quando casei novamente, mas casei,entrei na faculdade de enfermagem, tive meus casos, o advogado também gostava de ser traído, todos os homens gostam, pelo menos os normais gostam de ver sua mulher com outro, gostam gemem de prazer, ao dar a santificada a esposa para outro.Fiquei uma década com o Advogado ele, tinha apartamento, carro e com ele conseguia ser puta e mulher, nunca contei de minhas traições nem que tinha trabalhado em boate, acabou, mas eu fiquei com um apartamento no bairro da liberdade e uma pensão, e ainda somos amigos, acabou porque perdi a juventude, tive uma vida boa com ele, advogado ganha bem ensinando como cometer crimes, sempre dentro da lei. Dr. Gustavo só teve dois problemas na vida, um é que era traumatizado, mas isto ele resolveu ainda moço, acontece que tinha o membro feio, muito feio, mas veja a vida como ela é, quando jovem só pensava em fazer uma operação plástica para deixar seu pênis mais apresentável, e se tivesse dinheiro teria feito, tinha vergonha de mostrar, muita, só fazia no escuro comentava antes“ Gosto só no escuro meu bem” dizia para as raras parceiras que conseguia porque não tinha grana para as mulheres de vida fácil, mesmo as mais baratas tinha que escolher entre sexo ou um prato feito.Conseguiu esconder seu defeito por muito tempo,mesmo de seus companheiros de pensão, mas um dia conquistou uma mulher casada, Cecília,isto que era mulher, cheia de curvas, no auge,no esplendor, uma daquelas exuberâncias que estão no máximo um pouco mais e seria exagerada,mas perfeição esta sempre perto do ridículo mesmo, e aquela maravilha de fêmea miraculosamente aceitou entrar na sua pobre pensão, porem na hora que Gustavo quis desligar a luz Cecilia foi incisiva:“Quero fazer é no claro ou é assim ou nada.ou é assim ou nada”. Era muita mulher para dispensar, Gustavo constrangido resolveu obedecer, tentou se esconder, mas não teve jeito Cecília viu,viu: “Pronto, agora ela vai embora,perdi” pensou Gustavo, mas Cecília não foi, ficou é cheia de piedade, fez carinhos inimagináveis e gostou, gostou tanto que contou para as amigas e todas começaram a procurar Gustavo, já na segunda mulher com quem saio começou a sentir orgulho do meu membro deformado como o Quasímodo, ate mostrou para ao amigos da pensão e nunca mais teve problemas para arranjar mulheres,elas é que brigavam para ver ao vivo como era aquele membro feio que dava dó.<br />
O segundo problema que o advogado teve na vida é que bebia muito, reclamei, mas discutia sozinha e o bêbado sempre calado, só uma vez respondeu, me olhou dentro dos olhos e disse duro: “ Falsa,você é uma falsa, pare de se encher de pílulas que eu paro com meu uísque.” Começamos a beber juntos, enchi a cara por décadas, meu marido bebia apenas a noite, eu solitária naquele apartamento dos sonhos começava a beber vodka pela manhã, envelheci, perdi minha beleza. <br />
Só consegui parar quando nos separamos, fiz tratamento, lembro quando andei pela cidade pela primeira vez sóbria, e vi as ruas claras, coloridas, pareciam novas, estava tão acostumada de ver tudo bêbeda, este era meu estado normal, que a sobriedade foi meu estado alterado, sentir a lucidez depois de tanto tempo foi uma viajem psicodélica, me senti tão feliz, tão bem, que me lembrou a primeira vez que cheirei pó. Era perto do natal, nunca mais soube da Dona Tere nem do Soli, recebi tristes noticias do Adilsom ouvi que tinha voltado para o Paraná e que a mulher dele tinha o enganado bem quando se recuperava de uma cirurgia no coração,a safada deixou ele na cama e foi em uma destas festas de escritório e beijou o chefe, ninguém tinha visto, beijo escondido, mas ela voltou e orgulhosa de seu feito e contou para as amigas, quanto o Adilsom soube pegou os fios elétricos da televisão, do ventilador, do ferro de passar, trançou uma corda e se enforcou. Faz uns anos comprei um vinil estranho na praça Dr. João Mendes era a marcha fúnebre de Chopin, mas em ritmo de valsa quando soube que o Adilsom tinha se enforcado coloquei o disco na vitrola e dancei sozinha na sala, ainda amava o Adilsom. Sempre amei.<br />
Solivanhttp://www.blogger.com/profile/12560377145168072462noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4981135127070610705.post-13332579783832595272012-11-20T13:54:00.001-08:002012-11-20T13:54:10.170-08:00O poeta e o milagre <br />
<br />
Vilela sonhou realizar<br />
uma operação que o transformasse<br />
em hermafrodita,<br />
multiplicou pães por mitose<br />
andou sobre ovos<br />
e ordenou.<br />
Levanta-te e anda poesia<br />
és das artes, a mais fácil de ressuscitar<br />
porque as outras, as outras nem morreram ainda.<br />
<br />
<br />
<br />
Solivanhttp://www.blogger.com/profile/12560377145168072462noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4981135127070610705.post-88384617208209316842012-10-29T12:23:00.002-07:002012-10-29T12:23:47.466-07:00 Livros sobre Hiroshima e Nagasaki <br />
<br />
Quero livros <br />
Que deixe quem ler bêbado,<br />
que viciem <br />
e sejam cheios de propagandas subliminares.<br />
Quero livros vasodilatadores, <br />
que causem priapismo, <br />
e se picotar suas páginas dê para fazer um cigarro de maconha.<br />
Quero livros que dividam o mundo.<br />
Livros que sejam excomungados,<br />
que matem Deus<br />
e que Deus revide escrevendo seu terceiro livro.<br />
Livros com sabor de carne<br />
para serem devorados por leões.<br />
Livros que entrem como fantasmas dentro dos computadores.<br />
Livros sobre Hiroshima e Nagasaki.<br />
Livros nasçam em pés da marula e macieira<br />
e que os livros vermelhos floresçam nas papoulas.<br />
Livros que tenham cheiro de cio e cartões de crédito.<br />
Que façam as mulheres se masturbarem. <br />
Livros venham em formato de falo<br />
e vibrem e que suas letras façam as vezes de espermatozóides e fecundem úteros.<br />
Livros que gritem, que se aumente o volume das letras,<br />
até elas deixarem os olhos surdos.<br />
Quero livros que alucinem quem se atrever a lamber suas páginas.<br />
Que seja pego no antidoping pelas substâncias deixadas pela leitura no sangue.<br />
Livros pretos que voem com urubus.<br />
Livros que explodem quando abertos.<br />
Quero livros cheios de veneno,<br />
e só passar a ponta do dardo na capa, pegar a zarabatana<br />
e sair para matar macacos na selva da Venezuela. <br />
Livros que possam ser transplantados no lugar dos corações e rins, e que se coma suas letras amargas com arroz.<br />
<br />
Solivan<br />
Solivanhttp://www.blogger.com/profile/12560377145168072462noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4981135127070610705.post-45720142976191960522012-10-23T11:10:00.001-07:002012-10-23T11:10:38.304-07:00Ipê amarelo ou inveja<br />
<br />
Ver<br />
bandos migratórios de flores amarelas <br />
pousarem em teus galhos na primavera.<br />
Teus ramos sobrecarregados transbordarem,<br />
angustia-me.<br />
Ipê<br />
dói tua beleza.<br />
Tenho vontades mediúnicas<br />
de possuir teu cerne,<br />
descobrir<br />
de onde nesse punhado de terra <br />
retira esse teu seu amarelo ofuscante.<br />
Irrita-me<br />
não poder florir<br />
na palma da mão<br />
e antebraços<br />
com um galho teu.<br />
Solivanhttp://www.blogger.com/profile/12560377145168072462noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4981135127070610705.post-70221352369330810352012-09-25T13:28:00.002-07:002012-09-25T13:28:27.068-07:00 Meus arames farpados de molho em um amaciante <br />
<br />
Vou recolocar o mesmo som.<br />
Virar do avesso um rosnado<br />
e por meus arames farpados de molho em um amaciante. <br />
<br />
Com esculturas diluentes na boca<br />
mudar seu nome para maçã<br />
e encaixar a eternidade dentro de um segundo, <br />
então contemplar minha obra: <br />
bela e frágil como o dedo mindinho de um bebê.<br />
<br />
E pensar no maior volume que conseguir pensar<br />
uma canção: <br />
Nas vendas negras coloquei algumas estrelas, <br />
nas mordaças um sabor de mirtilos,<br />
E dancei com os ouvidos acariciados por sinfonias<br />
e dancei <br />
com ao meu corpo sensível como um falo<br />
no cosmos tão feminino.<br />
<br />
SolivanSolivanhttp://www.blogger.com/profile/12560377145168072462noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4981135127070610705.post-58398442350715646552012-09-11T16:02:00.001-07:002012-09-11T16:02:56.882-07:00<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhJsaYEtJH5refgiVAoUMmLYrtZFQ964eFwKP_1uY6-8n3MsuO6WTxZYnwl_QFDRnIylG-jsNIt8dwgKCjngdQPWusQuHU7eY7iqeIl77vFlUd0S7oAqhJD8B0yn28PdATqQVB7HdWvvrs/s1600/flor+de+fog%25C3%25A3o+cartum.jpg" imageanchor="1" style="margin-left:1em; margin-right:1em"><img border="0" height="400" width="309" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhJsaYEtJH5refgiVAoUMmLYrtZFQ964eFwKP_1uY6-8n3MsuO6WTxZYnwl_QFDRnIylG-jsNIt8dwgKCjngdQPWusQuHU7eY7iqeIl77vFlUd0S7oAqhJD8B0yn28PdATqQVB7HdWvvrs/s400/flor+de+fog%25C3%25A3o+cartum.jpg" /></a></div><br />
Elogio a tua comida<br />
<br />
Amor,<br />
aconchego-me<br />
no afrodisíaco<br />
e quente odor da cozinha.<br />
É bom vê-la<br />
salpicar <br />
um pouco de mar<br />
de oliveiras e vinhedos<br />
sobre a salada.<br />
Solivanhttp://www.blogger.com/profile/12560377145168072462noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4981135127070610705.post-45324773204089025442012-09-04T14:19:00.002-07:002012-09-04T14:19:55.908-07:00 Aleijadinho<br />
A carne e a pedra<br />
<br />
Era só o que fez, carne tive que procurar <br />
pois não havia corpo só obra quando pensava<br />
no Aleijadinho à Medusa inversa, ao olhar<br />
para a pedra ela em homem se transformava.<br />
<br />
A roxa meia mão esculpia de mão cheia<br />
via profetas por dentro da ostra-pedra<br />
sua idolatria não peca, pois, encandeia<br />
e por alquimia o divino em nós engendra.<br />
<br />
Quem o cerne vestiu de Cristo martirizado<br />
na face prendeu toda a dor de quem foi cruz<br />
diante do espelho sem braços e bêbado<br />
fez com estátuas torsas metáforas-luz.<br />
<br />
E corou o cerro pôs neste altar igreja<br />
deu mão que não teve ao monte num alvo lume<br />
lá a hóstia dada pela estátua alveja<br />
o peito sudário e seu semblante imprime.<br />
<br />
O retábulo move-se, a ornada ação<br />
voa sacra e graciosa como sólida música<br />
no céu com anjos crioulos a premonição<br />
a nossa negra aparecida lúdica.<br />
<br />
Onde caríatides sustentam o esplendor<br />
com músculos fortes de Atlas, não de Sansão<br />
fez o gesto eterno e santificou o escultor<br />
a rocha do caminho seu mel, fel e pão.<br />
<br />
No leitor tela do poeta quis pintar<br />
com palavras, tinta da minha arte<br />
barrocas visões e emoções a girar<br />
como febris imagens dantes da morte.<br />
<br />
<br />
<br />
Poema de Solivan<br />
Solivanhttp://www.blogger.com/profile/12560377145168072462noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4981135127070610705.post-50984464976574459622012-08-30T13:34:00.004-07:002012-08-30T13:36:09.852-07:00O dia que aprendi a voar(um conto infantil)<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh16qV3G4t5NpZ5aKiFjNNlgCZ2JVf3DkI5KtDSl2kP45V5CevJ6KmirVtOfDB_eS4ryxPYWbGVHWuyVTwLfm-DoCLibAvNv5fTh5-Wf_7W9yIHPB8uczeGAKEtqwJNJj9UYbw-926muig/s1600/IMG_6312.JPG" imageanchor="1" style="margin-left:1em; margin-right:1em"><img border="0" height="344" width="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh16qV3G4t5NpZ5aKiFjNNlgCZ2JVf3DkI5KtDSl2kP45V5CevJ6KmirVtOfDB_eS4ryxPYWbGVHWuyVTwLfm-DoCLibAvNv5fTh5-Wf_7W9yIHPB8uczeGAKEtqwJNJj9UYbw-926muig/s400/IMG_6312.JPG" /></a></div><br />
<br />
O dia que aprendi a voar<br />
<br />
<br />
Acho que é feito de varinha de condão o botão que liga a TV, porque quando giro o botão, num gesto mágico, aparecem desenhos de bichos que falam e andam como nas fábulas. Deito no sofá magrinho e ossudo da sala, para assistir um cavalo vestido de zorro que corre para salvar uma moça em uma diligência desgovernada, puxada por seis tartarugas, depois um gorila que vive em uma vitrine, e o episódio que o Fred Flintstones inventa um automóvel movido a peixe-elétrico. <br />
Quando começa o jornal, me espreguiço e tenho a ideia de tirar o botão da TV e colocar em uma revista em quadrinhos. Tento ligar o gibi, mas não funciona, os desenhos não se mexem. Largo minha experiência no chão da sala e vou espiar a ovelha que se esconde do lobo na cozinha, ela parece uma nuvem, sempre escondida atrás do fogão de lenha. <br />
Abro a janela e vejo a cidade de Dois Vizinhos. Moro em um apartamento em cima de um posto de gasolina. O meu pai é uma estátua de pedra e está no pátio atendendo um carro de corrida, o formula 1 do Emerson Fittipaldi que estacionou, pediu para abastecer, foi a para a borracharia calibrar os pneus e saiu ultrapassando todos os outros carros.<br />
Sinto vontade de sair, desço contando os degraus 1,2,3,4,5,6,7,8,9,10,11,12,13,14. No quintal persigo uma fada com asas de borboleta 88, a sigo até quando ela foge para o bosque das sete árvores ao lado do prédio. Tenho medo de entrar, porque neste bosque se esconde um lobisomem com corpo de chipanzé e cara de cachorro louco. Corro com medo, só me sinto seguro quando subo no colo de meu pé de cinamomo, nele salto de um lado a outro, faço de um galho meu cavalo, dali vejo a maior das sete árvores do bosque, é seca e depenada, mas tão grande que pousam nela, além dos passarinhos, aviões e anjos da guarda. <br />
A estibordo noto meu tio Gelfe, o caçador. Aparece furtivo como um coelho da Páscoa, rondando com sua espingarda um tesoureiro, passarinho que tem a cauda parecida com uma tesoura e estava no último galho do pinheiro. Meu tio se aproximou, fechou um olho para ver melhor, e fez sua espingarda dar um grito, o tesoureiro caiu como uma lágrima. Como não vi sair nada da espingarda, nem uma pedra como sai do estilingue, acho que foi o barulho que derrubou o passarinho, machucando o ouvidinho dele, que era muito pequeno para um barulhão daqueles. Desci do cinamomo e o apanhei do chão, ele não sabia mais voar, não sabia mais cantar, nem seu coração sabia bater. Soube que estava morto. Como esta tal de morte deixa as coisas burras!<br />
Meu tio caçador disse que estava muito atrasado, e que eu podia pegar o passarinho, porque ele precisava ir atrás de um tubarão-branco que estava escondido naquele mato, para tirar da barriga dele com uma cesariana, os anões, índios e crianças que tinha comido lá na cidade Sul. Eu já tinha tentado muitas vezes pegar um passarinho com a mão, mas eles sempre fugiam quando eu chegava perto, era como tentar pegar uma música. Fico maravilhado por conseguir segurá-lo e descobrir como era seu olho, vistorio seu bico, abro e analiso suas asas, depois o coloco com cuidado no chão, e faço uns feitiços, digo três vezes: te benzo e te curo com rabo de burro, e faço o tesoureiro ressuscitar. Como ele fica muito agradecido me pede para fazer um pedido. Respondi que desejo apreender a voar. O passarinho me falou que seria fácil, porque já tinha ensinado isso a todos seus filhotinhos, e logo começou a me dar lições de como bater os braços, depois de algumas tentativas corremos pelo pátio, e antes de chegar à rua, consegui agarrar o vento com minhas mãos e levantei voo, fui subindo, subindo, sobrevoamos os telhados, passamos a praça, fomos até o fim da cidade, paramos para descansar em um fio elétrico. Assim que o céu começou a ficar colorido pelo entardecer, voltamos para casa voando. Entrei no apartamento pela janela do meu quarto.<br />
<br />
<br />
Texto e ilustração de Solivan<br />
Solivanhttp://www.blogger.com/profile/12560377145168072462noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4981135127070610705.post-25948532612879919082012-08-21T13:05:00.003-07:002012-08-21T13:05:39.452-07:00Buquê feito de flores de giletes e agulhas<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEisbDTrK4n0YYoK2ySzcCJInWQ5CD5NgkMEKKdOWzSXQ8i6xqee3-dmKp8ojGM2ip8JzBvBf56nF00dSt-Y6dr6S_YnPCjCHn5IKErIm5rpKiZYyhZSywJFOtnFoTwc9_rpramnfavOJbs/s1600/flor+de+gilete.jpg" imageanchor="1" style="margin-left:1em; margin-right:1em"><img border="0" height="400" width="267" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEisbDTrK4n0YYoK2ySzcCJInWQ5CD5NgkMEKKdOWzSXQ8i6xqee3-dmKp8ojGM2ip8JzBvBf56nF00dSt-Y6dr6S_YnPCjCHn5IKErIm5rpKiZYyhZSywJFOtnFoTwc9_rpramnfavOJbs/s400/flor+de+gilete.jpg" /></a></div><br />
<br />
A noiva tinha um<br />
buquê feito de flores de giletes e agulhas,<br />
e algema nas mãos,<br />
ninguém quis apanhar, ninguém quis.<br />
Hoje as flores de giletes e agulhas <br />
estão em sua sala triste,na estante, ao lado da tv<br />
dentro de um vaso quebrado.<br />
Esta lá a muitos anos.<br />
<br />
<br />
<br />
SolivanSolivanhttp://www.blogger.com/profile/12560377145168072462noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4981135127070610705.post-30745689222954542222012-08-13T14:37:00.004-07:002012-08-13T14:37:42.195-07:00<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiEINFc9nRQiSCEE_DywjJ2VV-NpLAPUI1B5mpYzcr6PxEu5MThJ-iehmHw_CGbB3HpqieDc_OL7faox-vTe4ddzLYZR1ZkZpwqUyveIHlTpth57Zu93Ps_0ZoXkjiToB8Hhcl3upVSVXo/s1600/ilustra%25C3%25A7oes+incoerencias+pagina7.jpg" imageanchor="1" style="margin-left:1em; margin-right:1em"><img border="0" height="400" width="270" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiEINFc9nRQiSCEE_DywjJ2VV-NpLAPUI1B5mpYzcr6PxEu5MThJ-iehmHw_CGbB3HpqieDc_OL7faox-vTe4ddzLYZR1ZkZpwqUyveIHlTpth57Zu93Ps_0ZoXkjiToB8Hhcl3upVSVXo/s400/ilustra%25C3%25A7oes+incoerencias+pagina7.jpg" /></a></div><br />
A desconstrução do boi<br />
<br />
Matar<br />
o martelo afaga a testa do boi<br />
bem entre seu olhar negro e bondoso<br />
cheio de estrelas brancas<br />
e a faca procura um resto de vida<br />
escondida<br />
dentro do seu pescoço<br />
e como um sopro frio<br />
apaga as estrelas assustadas<br />
no olho do boi.<br />
O corte tem um gosto<br />
oxidado e gelado da lâmina<br />
língua abusada metálica dentro da carne.<br />
Do talho <br />
ubre de ordenhações rubras<br />
saem abstrações brutais <br />
de um coração se debatendo<br />
caem vermelhos, brilhos, lampejos<br />
sobre o alumínio<br />
com digitais e moscas verdes. <br />
<br />
Estremecimentos<br />
o sangue abundante acomoda-se<br />
aninha-se <br />
transborda pastoso, calmo.<br />
Morte<br />
ainda sai um colar de rubis<br />
no fim lágrimas de um olho vazado.<br />
<br />
Estaquear<br />
erguer no galho da cabriúva <br />
a rês de cabeça para baixo<br />
quatro cascos suspensos<br />
pelas pulseiras rudes<br />
de corda de sisal<br />
estranha flutuação de alma<br />
<br />
<br />
<br />
Corear<br />
arrancar o branco<br />
colorir num processo inverso<br />
de retirar<br />
deixá-lo rascunho <br />
de boi a crueza de um esboço<br />
vermelho, inconcluso <br />
riscado de nervos brancos.<br />
Pendurado<br />
ante o matagal enrediço rasurado de inverno <br />
a suave sombra dos ramos<br />
parece arder sobre a cor carne-viva<br />
como mão áspera sobre queimadura.<br />
<br />
Decepar a cabeça<br />
pô-la sobre a mesa <br />
o sangue procura os veios das tábuas.<br />
Um corte no abdômen<br />
abre-se num fácil sorriso<br />
e vomita intestino pardo e fedido.<br />
Na bacia.<br />
após o parto<br />
o coração dorme<br />
sobre as vísceras.<br />
O boi morto ainda adula<br />
seu odor de presa <br />
deixa o ar quente e ensebado <br />
e espalha felicidade <br />
moscas varejeiras zunem<br />
coroam os coágulos<br />
como esmeraldas ávidas.<br />
O rabo do cão sorri.<br />
Um menino, pernas e braços finos<br />
magro de barriga grande<br />
olha o pai <br />
com um sorriso atento,<br />
dentro dele uma alegria inocente de oncinha.<br />
<br />
Carnear<br />
a faca apaga<br />
os membros dianteiros<br />
deixa no lugar a terra que se escondia<br />
atrás deles.<br />
Abre-se a espinha. <br />
Os posteriores ficam balançando enforcados<br />
após recortados,<br />
retirados<br />
restam dois cascos, dançarinos<br />
de um boi invisível, desconstruído.<br />
<br />
<br />
Poema e ilustração naif de solivan<br />
Solivanhttp://www.blogger.com/profile/12560377145168072462noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4981135127070610705.post-46959100650095284822012-07-30T06:18:00.001-07:002012-07-30T06:18:57.556-07:00<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhRt-6YPgnnMjiIjzYViBFkO6QZDq5N3gRlscSZysNDCdFTtC6y3eGc3lKFIshW0kDWXesm6vfvgRI5UF-Sb2q-2FYaYl8OifinsZOMXp1dW4VHC2uqSdiuaeJRugTsQtFjEo7_gw_jopQ/s1600/nada+me+impede+de+voar.jpg" imageanchor="1" style="margin-left:1em; margin-right:1em"><img border="0" height="400" width="309" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhRt-6YPgnnMjiIjzYViBFkO6QZDq5N3gRlscSZysNDCdFTtC6y3eGc3lKFIshW0kDWXesm6vfvgRI5UF-Sb2q-2FYaYl8OifinsZOMXp1dW4VHC2uqSdiuaeJRugTsQtFjEo7_gw_jopQ/s400/nada+me+impede+de+voar.jpg" /></a></div><br />
O livro das inversões<br />
<br />
Fel de abelhas, mel de cobras, perfumes sinfônicos e um lindo bale de estatuas, ovelhas com pele de lobos que enganam o lobo com pele de ovelha, desenhar poemas,escrever esculturas, cultivar laranjas com gosto de maças, abutres com plumagens de pavão, peixes com sabor de pássaros,pássaros com sabor de peixe,Saci caucasiano, urbano,Saci com prótese,Saci inglês e vídeos de antílope que caçando leopardos e de uma lagrima verteu a imagem de Nossa Senhora,jogo de xadrez sobre uma folha em branco, asas para nadar, barbatanas para voar, uísque para manter a sobriedade no caos e peiote e Santo Daime a lucidez,um pássaro que voa preso em sua gaiola,blusas de neve, cachecol de iceberg, dishdash tecido com fogo, andar sobre o atlântico, atravessar a rota 66 a nado, pênis femininos, vaginas masculinas e pomba da paz arrulha sua metralhadora de rajadas com trechos da quinta sinfonia na guerra justa, seus tiros extirpam tumores e apendicites, andar com as mãos,datilografar com os pés, receber dos credores, tenor mudo,diamante cariado e o cego, surdo, mudo, sem olfato e tato,que acordou hermafrodita e com os ouvido de Mozart, língua de Vatel, olho de Picasso, olfato de Grenouille e tato de Casanova, sal de cana, açúcar de salinas e no alagamento de Roma, Nero cantou capítulos sobre Noé e o dilúvio, mordaças para os olhos, vendas na boca,urubus que bebem néctar e colibris comendo carniça, será que é porque na terra em que foi escrito o livro das inversões as flores tem odor de cadáveres e a decomposição de néctar?cicuta nutritiva e legumes mortais e o Titanic flutuou e se partiu entre as nuvens e os passageiros caíram na mesosfera e morreram por causa do ar rarefeito, cosmonautas americanos, astronautas soviéticos e a pegada de Neil Armstrong nas fossas abissais, lindos tubarões e tigres voando nas correntes ascendentes, guepardos imóveis, pedras que se alimentam de outras pedras e entram no cio e o ataque nuclear que fez nascer instantaneamente em Hiroshima 100.0000 japoneses e mais 74.0000 em Nagasaki, que felicidade ver tantos japonesinhos recém-nascidos sendo amamentados, logo estarão sorrindo e engatinhando, aeroporto onde pousam e decolam navios e submarinos, aviões que navegam pelo indico,trechos da bíblia para serem usados como prova para a teoria da evolução e o Mar Vermelho que dividiu Moises em dois, já as águas andaram sobre Cristo e na peste ateu se torna cristão e cristão ateu,deserto do Amazonas, floresta do Saara, plantação de ervas daninhas, cadáveres sepultados a sete palmos acima da terra,tiranossauros que descobriram um raro fóssil humano de um belga com milhões de anos,exames de sangue feitos com telescópios, cosmos visto por um microscópio, avenida com luzes que emitem escuridão e lojas dos sapatos para usar de chapéu e chapéu para os pés,colher tangerinas em cedros, apanhar figos em pinheiros e as inversões do aço não que voa ou flutua, mas dele se fazem aviões e navios, corujas diurnas, girafa com síndrome Bull-Nixon,enterro decorado com motivos havaianos e um avião que sobrevoava os Andes com um time de rugby uruguaio caiu no jardim do Éden, todos foram encontrados acima do peso, reproduzindo-se e brincando com leões,para facilitar o resgate devido a resistência dos mesmos a abandonarem o local familiares obrigaram a todos os acidentados a comerem maçãs,petróleo branco, corvo branco, feijão branco e arroz e araras negras,suçuaranas pintadas e um jaguar pardo, lírio com trinados, canário perfumado, bonsai de sequóia, Europa negra e África branca, tuaregues em iglus, esquimós em caravanas pelo deserto, dromedário polar, travesseiro de pena de ouriços, Sphynx de pelos longos, Gnus solitarios e manadas de tigres, círculos quadrados, triangulo retangular ,pintores daltônicos, poetas disléxicos, barroco singelo, minimalismo rebuscado, odisséias de Basho, haicais de Homero, dias escuros e noites iluminadas, pólos tropicais,equador polar, planícies do Himalaia, pradaria dos Andes, pintor que olha o mar e escreve um poema na tela,plantar atuns, criar tulipas,Sashimis bem passados,calandra que só canta presa, milhões de óvulos fecundando um espermatozóide, céu cheio de peixes, oceanos com aves e portanto pescar cardumes de andorinhas que migram para passar o inverno no norte e ver bandos de sardinhas voando para o sul, alem da magnífica migração das asclépias que cruzam os Estados Unidos ate o México para encontrar as borboletas monarcas,cálculos com letras, escrever com números, prever o passado e recordar o futuro, um filhote criando uma ninhada de mães,ver as horas em termômetros, temperatura nos relógios e quatro paredes pregadas em um quadro, aumentar com subtração,diminuir com soma, dividir com multiplicação, multiplicar com divisão, perfumes feitos com espinhos de rosas, com as pétalas laminas, verão frio e primaveras sem açucenas, mergulhador pela via láctea e Índios Tlaxcalas em Auschwitz, judeus sacrificados em Teotihuacán e Davi que poucos anos após acertar com uma funda a cabeça de Toulouse-Lautrec partiu com seus aliados nazistas e trouxe duzentos prepúcios de filisteus para o rei Saul, harpias com bexiga natatória, Netuno no Olimpo,Zeus passeando em um recife de corais, latido de gato,jaguatirica com osso hióide alongado, espelho que reflete a sua direita,cachoeiras negra, mangueira de incêndio com alta vazão de gasolina, lança-chamas de bicarbonato, fogueira de extintores, dragão que expele água pelas ventas e uma fonte romana com estatua de um cuspidor de fogo, guizos em caninanas, cascavéis constritoras, carnavais tristes, funerais festivos, tíbia para os braços, o úmero da coxa, lâmpadas em volta de uma mariposa, Iara desafinada, posição de sentido em frente ao altar, genuflexão diante do general, prisma em preto e branco, hipotermia em Mercúrio, insolação em Plutão, sinônimos opostos, antônimos semelhantes, Lascaux com pinturas digitais e se teu olho direito peca fure o esquerdo, homens eternos, deuses mortais, Jeova com problemas cardíacos , anjos tuberculosos e digitar poemas no piano, e-book de papiro, escavar ate encontrar o céu azul ou a lua,equações esotéricas,cães traidores, caubóis que levam um rebanho de bagres para o Texas e nanadas de zebras com guelras que cruzam o atlântico, cachaça escocesa, banana islandesa, ressuscitar na sexta feira santa, morrer na páscoa e a masturbação é reprodutiva na fertilização in vitro, Maná e maçã do Éden em supermercados, ambrósia e néctar de diversas marcas nas gôndolas, tem fígado fresco de Prometeu todo o dia no açougue, Vinho de Jesus na sessão de bebidas e sal da mulher de Ló em promoção, sol de água,sol negro,sol congelado, sol minúsculo,sol prateado,sol noturno,sol em orbita,sol súdito,sol que nasce no oeste e se põe ao leste e gafanhotos mamíferos, leões anfíbios, sombras orgânicas, corpos etéreos, ilha de Baikal, aquário de rouxinóis,viveiro de betas, lambaris em postes de luz, bumerangue linear,órbita triangular, lua diurna,lua dourada,bramir para lua,galo cantando para lua cheia,lua quadrada, da lua pode se ver a terra na minguante,Rá deus lua e São Calígula, libelo para sinfonias,opera instrumental,cavalgada das sereias, Valquírias de Capri, Torre Eiffel no corcovado e Cristo redentor em Paris e o novo testamento escrito por Charles Darwin e o velho por São Nicolau Copernico das Orbes Celestes, útero masculino, braile para mudos, libra para cegos,escalar pradarias, perfume da ametistas, jóias de mirra, jazzida de coprólitos,tempestades com céu de brigadeiro, poente matinal, gelo liquido,vapor solido, lago gasoso e um pedestal colocado sobre a estatua, Anfião em Jericó, Josué em Tebas, Absalão e Dalila, Sansão e Tamar, septo ocular,ciranda de anciões, voar ate o centro da terra,tragédias com palhaços,comedias tristes, gol contra, tiro pela culatra,fogo amigo, mão inglesa, lagrima de alegria e islâmicos rezando em direção a Wall Street, miragens reais, nado sincronizado em incêndios e a superpopulação de monstros do lago Ness, General Gandhi, Monge Rommel, Krishna sambando,Anúbis tocando jazz, Miquerino sepultado em Teotihuacán e em Gizé ficam as pirâmides de Quéops, Quéfren e Montezuma, estrelas subterrâneas, caviar de vison, casaco de pele de esturjão,os braços da Venus de Milo, olho de siso, polidactilia dentaria, canino nas patas, garras na mandíbula, Little Boy sobre tróia, Fat Man sobre Cartago, assistir livros, ler televisão e um casal de cisnes que formam um esôfago com os pescoços, panda colorido,pingüim ártico,acender a luz para ler em braile e uma iluminura onde uma cruz leva Jesus nas costas e outra em que a faixa de pedestres anda sobre os Beatles,tucanos hibernando, “ Ata-me ama e mata” e “luz azul” são palíndromos onde o inverso tem o mesmo significado e Tamoios descobriram a Europa, fogo congelado,gelo fervendo,Aníbal atravessou a cordilheira dos Andes e San Martín os Alpes, perola na vesícula, bezoar de ostra, mugido de galo,Papa Saladino I, inquisidores hereges mataram bruxas santas e condenaram Joana d'Arc e Giordano Bruno a morrer num freezer, pigmeu com gigantismo pituitário, hóstias em sabores tutti frutti e hortelã, sentar na TV e assistir o sofá, escalpos hebreu, prepúcios apaches,Louvre Supermecados, Wall Mart Museum, para ir ou voltar, bicicleta,para pregar ou despregar, martelo,para iluminar ou escurecer, interruptor, para abrir ou fechar, chave,para cantar ou calar, boca, para ver ou ocultar, pálpebra, para soco ou carinho, mão, lobisomem siamês e o porco dos ovos de ouro, João reanima sete,cachinhos prateados,branca de neve e os sete gigantes, brinco para o anular, pescar cavalos, brindar derrotas, assoviar desenhos, observar aromas,ordenhar turmalinas,sambar um tango, mar doce, rios salgados e concha para escutar quasares e pulsares,Ofélia envenenada,Julieta afogada, Prometeu rola pedra, Sísifo sem fígado,Sansão grego,Hercules Judeu, Ahaverus sedentário e “O sussurro”de Munch,Anel de carvão, termoelétricas a diamantes,abatedouro de couve-flor,coelhos hidropônico e no olho por olho doe sua córnea, Laurel gordo e Oliver Hardy magro, Cacto aquático e as partituras de Niemeyer para Brasilia, piano-doce, flauta de cauda, galos voando entre as nuvens, Floresta urbana,soprano grave,sucuri anã, cantar pelo ouvido e a descoberta petróleo na exosfera, Evangelista Maomé, Alcorão escrito por São Paulo e kamikazes que jogavam seus destroyers sobre os aviões americanos, tigres herbívoro, hindu carnívoro, Spartacus dos Palmares , Zumbi gladiador,seiva O+ e se ouvir ao inverso o poema “litanias de satã” escutara a mensagens subliminar “eu amo Cristo”, polvo de Atacama, suco de alumínio,canino de vaca,chifre de anjo, Bar Mitzva de Hitler, Baco estóico,São Sebastião Crucificado, Abelha diabética, tubarão com pressão alta,Ciclope de dois olhos e Midas que transforma tudo que toca em ferrugem,varal de roupas em Atlântica, juba de tigre, viagens espaciais para ver navios naufragados, lã de serpentes, camaleões tosquiados e para escrever um bom poema raciocine com o coração e deixe as emoções para o cérebro. <br />
<br />
Ilustração e poema de Solivan<br />Solivanhttp://www.blogger.com/profile/12560377145168072462noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-4981135127070610705.post-17766626107650229982012-06-28T18:03:00.001-07:002012-06-28T18:03:22.170-07:00<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi4oIQtxhOmfOl644E0QSX7Ix79YvYK-lLqhf1PFCx749054IkpO-Zeh5ontiZXPrVeSZ9UUVtMZKBvi15iVKWNXty8e_Upc9e3f-oWsMWH5lmvGF9VZD_TztTpQWkAAVsx0O36xXHxBak/s1600/ilustra%25C3%25A7oes+incoerencias+pagina9.jpg" imageanchor="1" style="margin-left:1em; margin-right:1em"><img border="0" height="400" width="272" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi4oIQtxhOmfOl644E0QSX7Ix79YvYK-lLqhf1PFCx749054IkpO-Zeh5ontiZXPrVeSZ9UUVtMZKBvi15iVKWNXty8e_Upc9e3f-oWsMWH5lmvGF9VZD_TztTpQWkAAVsx0O36xXHxBak/s400/ilustra%25C3%25A7oes+incoerencias+pagina9.jpg" /></a></div><br />
A Casa Azul<br />
da curandeira Iracema<br />
<br />
Entre outras iguais<br />
cercada por um colar de velhas ripas<br />
quebradas, caídas, apodrecidas<br />
com manchas brancas de calfino e fungos<br />
qual uma velha dentição<br />
com um jardim<br />
miscelânea de flores, mato e lixo<br />
bordados sobre um quintal de terra.<br />
Ao fundo<br />
de uma vereda<br />
ladeada por tufos<br />
de grama preta e pedras<br />
vejo a casa azul. <br />
Entro e o sol<br />
estende seu calor preguiçoso<br />
e amarelado pelo chão<br />
e sobre ele<br />
hortênsias, guinés e capim<br />
estampam seus sombreados escuros<br />
e o caminho<br />
torna-se um tapete tigrado.<br />
Enquanto ando<br />
vejo a terra tecer azaléias<br />
reger em acordes lácteos<br />
e dourados esparsas margaridas<br />
e o aroma da cidreira<br />
tinge o peito de um verde suave e doce.<br />
De um canto pedregoso<br />
vem o amarelo ofuscante<br />
de muitas rosméias, são quase lâmpadas<br />
(são nessas flores que os pintassilgos<br />
alimentam a cor de suas penas)<br />
entre elas<br />
alguns picões e guanxumas<br />
sacos de supermercado, frascos de Q-boa.<br />
Olho a buganvília<br />
presa no pilar da varanda<br />
caem sobre o beiral num arco celeste<br />
cintilações violetas<br />
sobre um mar de folhas verdes.<br />
À frente da casa<br />
velhas roseiras vermelhas e brancas<br />
projetam suas belas sombras,<br />
arabescos florais<br />
na parede azul<br />
sobre os veios<br />
e nós de araucária.<br />
Um pé de jasmim<br />
plantado no centro de um pneu velho<br />
chama-me pelo perfume, sensualmente<br />
minha alma vai até ele<br />
segue descalça<br />
pelo solo quente<br />
abraça-o nu<br />
e beija, a língua escandalosamente<br />
em sua flor branca.<br />
Eu sigo reprimindo meu desejo<br />
sento-me num banco de tábuas<br />
na varanda.<br />
Varanda que mantém a manhã<br />
por todo dia, cativa em seu interior<br />
guarda-a fresca e límpida<br />
com um sabor térreo<br />
como cacimba <br />
faz com a água.<br />
Presas na parede azul<br />
samambaias profusas<br />
caem em delicadas rendas pelo ar<br />
feitas pelas mãos simples<br />
das raízes a colher o verde da terra<br />
para suas majestosas jubas<br />
plantadas em coloquiais<br />
galões de tinta<br />
e latas de leite em pó enferrujadas.<br />
Latas<br />
que também dispõem-se como favelas ou cemitérios<br />
ao chão, indisciplinadas e abundantes<br />
com begônias, guinés, rabos-de-gato<br />
e avencas.<br />
Potes plásticos<br />
com dedos-de-anjo e violetas<br />
pousam em cima<br />
de um baixo muro lateral<br />
e ao seu lado<br />
está uma bacia de alumínio<br />
cheia de mandiocas recém colhidas<br />
ressentindo a terra.<br />
Pelo lado de fora, junto ao tanque de lavar roupa<br />
num canteiro de tijolos <br />
estão Espadas-de-São-Jorge<br />
e arqueados amores-perfeitos,<br />
no chão úmido e esverdeado pelo musgo<br />
rabiscados pelos prateados passos<br />
das lesmas.<br />
No pátio estende-se<br />
o colar de contas<br />
o sorriso colorido<br />
de um varal de roupas<br />
até um abacateiro.<br />
Da área, por entre as plantas<br />
penduradas no teto e no muro <br />
enxergo os canários-terra<br />
presos em suas gaiolas<br />
no tronco de um cinamomo florido<br />
com odor de mel, mel de mirins.<br />
Num estranho retorno<br />
aos galhos que sempre foram dedos<br />
de uma mão aberta,<br />
os canários cantam na árvore<br />
e a música<br />
os tornam polidos e radiantes,<br />
seus pequenos corpos<br />
cintilam orgulhosos amarelos<br />
seus sons douram meus ouvidos.<br />
Fico nessa varanda <br />
entre <br />
o aroma pungente branco do jasmim<br />
e o canto dos canários<br />
as samambaias, o jardim <br />
a sentir-me<br />
dentro<br />
da música da poesia<br />
enquanto espero reverente<br />
pelas bênçãos de Iracema.<br />
Entro na casa azul<br />
pela escura e enfumaçada cozinha,<br />
perfurando a sombra <br />
dedos de sol penetram pelas frestas da parede<br />
dentro deles brinca a fumaça<br />
sangue etéreo em circunvoluções.<br />
O indicador<br />
passa rente<br />
às cascas espiraladas de laranja<br />
que secam<br />
em cima do fogão à lenha,<br />
lançando sobre elas<br />
asteriscos de luz.<br />
O anelar <br />
estilhaçado cai<br />
sobre as garrafas que luziam<br />
e faz nascer florzinhas de macela de luz<br />
frágeis a tremeluzir<br />
nos cascos<br />
cheios de ervas, raízes,<br />
óleo de capivara e babosa<br />
em cima da prateleira.<br />
Entre as garrafas <br />
a imagem de São Jorge.<br />
Passo pela sala<br />
a parte mais clara da casa<br />
com seu sofá de corvim vermelho-marmoreado<br />
rasgado, a espuma dele aflora<br />
rosas sujas e poeirentas.<br />
Atrás do sofá um quadro de Noé<br />
e pôster do Grêmio campeão gaúcho.<br />
Na estante<br />
antiga, escura, riscada <br />
fora do prumo e de portinholas sempre<br />
semi-abertas<br />
bibelôs e fotos ginasiais<br />
(com globo e livro abertos)<br />
sobre crochês vermelhos,<br />
violetas sem flores <br />
em potes de margarina<br />
ficam uma na frente<br />
de cinco livros vermelhos<br />
empoeirados<br />
e outra, em cima<br />
da velha televisão.<br />
Ao seu lado<br />
há num vaso cerâmico<br />
decorado com flores esmaltadas<br />
desbotadas rosas de plástico.<br />
Do rádio<br />
saía a voz grave de um programa<br />
policial.<br />
Distraio-me ao olhar<br />
pela janela que dava aos fundos <br />
da casa<br />
via ramas secas de mandioca<br />
e sobre elas<br />
sabiás e pardais<br />
frutos livres que vêm e vão.<br />
Após eles<br />
vestem toda a parte de trás do lote,<br />
as folhas do chuchuzeiro<br />
iguais vinhas<br />
cobrem a cerca de arame com suas escamas verdes<br />
e como um menino<br />
brincando num quintal<br />
sobe nas tábuas velhas de uma patente e<br />
no pessegueiro.<br />
<br />
Na moradia, não havia portas internas<br />
passa-se por uma cortina, <br />
de tecido grosso e encardido, com estampa de bosque<br />
que cheira a incenso <br />
impregnada de pó, igual a asas de uma mariposa.<br />
Entro às cegas<br />
pelo altar zinabreado<br />
respiro<br />
o ar pesado das orações,<br />
sinto um odor resinoso<br />
sabor de prata enegrecida<br />
cheiro parecido com o das velhas igrejas.<br />
Sento-me com veneração<br />
em uma cadeira de palha trançada<br />
e as rezas de Iracema <br />
murmuram como um riacho<br />
em minha alma<br />
o delicado vento<br />
que fazia suas mãos inchadas e morenas <br />
ao fazer o sinal da cruz por dez vezes<br />
passam pelo meu rosto.<br />
Segura arruda<br />
e um terço gasto feito de contas azuladas<br />
(de sementes azuis colhidas na sexta-feira santa<br />
à beira de um córrego <br />
de um arbusto chamado Lágrimas de Nossa Senhora).<br />
Escuto somente a mística de<br />
suas palavras rasuradas, incompreensíveis,<br />
enquanto seus dedos pousam<br />
sobre minha cabeça,<br />
sinto o calor suado das palmas brancas de suas mãos <br />
morenas<br />
na minha fronte. <br />
A sensação lembra-me folhas de hortelã<br />
porque o que penetra em minha têmpora<br />
é um carinhoso frio verde.<br />
Olho seu altar escuro<br />
no centro, num antigo calendário amarelado<br />
do Sagrado Coração de Jesus<br />
em cima de uma mesa pequena<br />
sobre uma toalha rendada<br />
a imagem de Cosme e Damião<br />
à frente balas, como oferenda<br />
outra de Iemanjá, com o olhar altivo<br />
manto azul-celeste<br />
cheio de estrelas do mar.<br />
Ao meio das imagens<br />
no copo d’água<br />
três ramos de samambaia, uma rosa<br />
e um jasmim.<br />
E saio <br />
da casa azul,<br />
da sua penumbra interna<br />
nos meus olhos, na minha face<br />
sinto o calor e a claridade branca<br />
ofuscante do quintal.<br />
O sol me acaricia.<br />
<br />
<br />
De Solivan<br />Solivanhttp://www.blogger.com/profile/12560377145168072462noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-4981135127070610705.post-90350842313211039792012-06-19T10:15:00.003-07:002012-06-19T10:15:55.081-07:00O cubo<br />
<br />
Não sei se é real ou sou um prisioneiro vivendo numa ilusão, <br />
mas me sinto confortável, apesar das luzes, de sua nitidez quase<br />
ofuscante, ácida para as sombras. Gostaria de recolher um pouco<br />
de enorme escuridão à minha volta para maquiar a velhice dos meus<br />
braços, incomodam-me estas duas cobras velhas, rápidas e furtivas, <br />
antebraços com sardas marrons, pele ressecada e puída.<br />
Já meu rosto, escolhi não ver o monstro enrugado no espelho.<br />
Queria ficar entocado na escuridão, quanto ao resto, já acostumei,<br />
a solidão, diria até que me delicia, mas ao entrar neste cubo.<br />
Vim pelo irreal<br />
as nascentes da saliva secas.<br />
O peito cheio de palavras mortas<br />
como peixes apodrecidos no peito<br />
seu odor besunta minha boca.<br />
As mãos inquietas<br />
tamborilavam a agonia.<br />
A gema dentro do crânio<br />
gorada.<br />
A porta fechou com zunido<br />
de samurai cortando<br />
a manhã sedosa com sua espada.<br />
Estava no estômago de um pássaro mítico<br />
entre estrelas.<br />
Após Plutão<br />
refreado pela gravidade do sistema solar<br />
senti o tênue rompimento do cordão umbilical.<br />
Apreensivo<br />
olhei a terra dando voltas descontraídas<br />
mosca ingênua<br />
em frente ao camaleão solar.<br />
E Fiz uma oração azul.<br />
Em nome do Pai do Filho e Espírito Santo<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
Em nome do Pai do Filho e Espírito Santo<br />
Amém<br />
<br />
<br />
Tive um breve êxtase, quando adquiri confiança em minhas asas, era o argonauta precursor, que colhera no fundo do universo a história perdida da humanidade, desde sua concepção, provar a teoria na qual é possível capturar as imagens do passado, pois se vemos o brilho de uma estrela que morreu há milhões de anos e portanto, vemos apenas seu passado que chega a terra, é provável, que se formos aos confins do Cosmo poderemos capturar todas as imagens do passado da terra, resgatar mamutes, batalhas, heróis crucificações, povos e trivialidades como um chinês rindo, preciso engolir tudo e voltar com a barriga cheia de imagens. Maravilhado com o Cosmo, passei pela primeira nebulosa. Bilhões de ouvidos esperavam beber minha descrição estudada, pasmo, não consegui moldar o ar dos meus pulmões, esculpir palavras claras, só balbuciei as interjeições disformes do deslumbramento. Mas logo o Cosmo ficou tedioso, nem olho mais esta besteira colossal. O que vejo, quase sempre não difere muito de olhar pela janela em uma noite estrelada. Estou enojado desta imensidão cheia de um interminável e inodoro veneno escuro chamado vácuo, que esteriliza a vida, o Cosmo inteiro é cianureto, fogo ou colisões, que procura e detetiza tudo o que é orgânico e o mineraliza.Vi o incontável, vi o interminável, e ele estava inundado de maldade, nele não havia um só lugar, um enclave, onde a vida pudesse ser cultivada, estamos sós. Inquieto à procura de um passatempo criei teorias.<br />
<br />
Sobre a menor partícula da matéria e renovação<br />
“O Big-bang expande, depois contrai a matéria <br />
num ciclo eterno. É a pulsação do coração de Deus”.<br />
<br />
- A matéria pode ser dividida infinitamente, há sempre partículas menores, formando uma maior e qualquer substância micro ou macro é complexa com inúmeras formas e<br />
componentes, sejam elas um planeta ou uma partícula. <br />
- Há sempre vácuo entre a matéria, mesmo as mais condensadas, por isso é possível encolher um corpo cada vez mais (de fora para dentro). Mas não é a matéria que encolhe e sim o espaço vácuo entre ela, por isso a densidade continua a existir.<br />
- A matéria é elástica, quanto mais se retrai, mais irá se expandir e tomar espaços (de dentro para fora). A matéria mais comprimida é levada ao excesso de expansão e o excesso de expansão a transforma em matéria negra (tão pequena que atravessa o vácuo de outras), porém, a matéria expandida ou condensada exerce a mesma atração gravitacional.<br />
- Buracos negros são agentes de renovação, levam a matéria para um estágio primordial. Seu empuxo atrai corpos, depois outros buracos negros até formar um macro buraco negro dominante, que comprime as galáxias e restitui a força que a expansão dilui, então explode e faz renascer o Cosmo.<br />
- O Cosmo contém dois ou mais desses macros buracos negros, o Big-bang não foi<br />
uma única explosão, estrelas mais velhas que o universo conhecido são oriundas de <br />
uma explosão mais antiga, há troca de substâncias entre blocos cósmicos, assim não há <br />
perda de matéria. <br />
<br />
Então veio a irritação, nada mais conseguia fazer.<br />
Eram galhos, heras desfolhadas, ressequidas pelo tédio<br />
as artérias e veias que emaranhavam meus ossos.<br />
Tatuei nas paredes, risquei na pele<br />
Flechas <br />
Palavrões Jogo da velha <br />
Facas Desenhos obscenos <br />
Coração rasurado, escolhi um canto de pássaro para decorar um silêncio<br />
denso e irrespirável como gás, mas aquele canto de faíscas prateadas o explodiu, recebi um coice gasoso no peito, que quebrou as costelas, esmagou o coração de minha alma. Nunca senti tanta tristeza, agora amarro o silêncio com vozes da multidão, do trânsito, estes sons me fazem sentir bem, diminuem a solidão, adormeço ouvindo, nunca mais, nunca mais, uma só voz. Desejava ainda ser o herói que todos esperavam, mas não conseguia, a absurda falta de acontecimentos me impedia, meu orgulho estava oxidado corroído, e sem o suporte do orgulho a espinha não consegue deixar o corpo ereto. Passei a ser cínico e amargo, escarnecia a humanidade, aliás, nem somos humanos ainda, somos híbridos de instintos siamescos apenas atenuados, semi-selvagens, uma raça na puberdade, cheia de ereções, que precisa conquistar, derrotar, de júbilo não de paz, encha de paz e segurança a humanidade e os índices de suicídios aumentam. Como híbridos não temos a verdadeira liberdade do selvagem, que está na luta franca dos animais pelo poder, uma luta que longe de ser apenas a lei do mais forte, e também da velocidade, agilidade, fugas, de camuflagem e venenos, uma luta sofisticada como conspirações palacianas, uma liberdade bem mais elaborada e real, que não é tolhida por leis, dúbias, cheias de interpretações, um engodo que aprisiona lobos para que os leões possam engordar seus cordeiros. Se o natural é perfeito e busca seu equilíbrio, o que é tocado pelo monstro híbrido chamado homo sapiens, torna-se grosseiro, a árvore é perfeita, mas sua lenha tem algo de tosco, porque tocada por semi-selvagens, deixamos tudo que tocamos rude, inacabado, nada é conclusivo, sejam, leis, sistema político, filosofia, tecnologia, em tudo temos que evoluir, e se temos que evoluir, substituir, é porque não chegamos ao perfeito, talvez quando alcançar a condição de homens voltaremos ao perfeito, mas enquanto híbrido, não confio neste símiomem, em sua evolução convulsa, que cria sistemas achando culpados superficiais, sem levar em conta seu verdadeiro inimigo, os instintos, a vontade que temos de nos sobressair, a sede de poder, quando o socialismo acabou com o poder econômico, este foi rapidamente preenchido pelo ainda mais truculento poder político, os instintos infelizmente sempre acham seu lugar.<br />
Passo o dia vendo o teto da nave, conheço as nuances, os tons no branco aparentemente uniforme, as manchas, nomeei territórios mais sombreados, dei nomes de mar aos luminosos, achei vulvas e fantasmas.<br />
Cheio de pensamentos vívidos, curtos, ilógicos, percebi que todos, não só eu vivemos em <br />
Cubos.<br />
Cubos com sofás, cubos onde <br />
cozinham, cubos escritórios,<br />
cubos com janelas para o mar,<br />
cubos com camas, cubos, cubos <br />
saem de um cubo a outro cubo,<br />
jantam em um cubo, comendo<br />
em um círculo, então assistem<br />
ao cubo da sala, também cubo. <br />
Finalmente plácido, aceitei minha situação. Passei a cultivar brilhos polindo tudo, fico absorto nesta jardinagem, cada brilho é uma flor, mas ainda necessitava da companhia de algo vivo. <br />
Se entrasse uma mosca<br />
<br />
teria a contemplação dada ao vôo do condor. <br />
Queria poder brincar com um<br />
prisma, lambuzar meus dedos<br />
de arco-íris.<br />
E como desejo uma maçã verde<br />
seu cheiro, morder sua carne<br />
fechar outros sentidos<br />
e ser só gosto.<br />
Teria um êxtase sexual como receber<br />
um jorro potente de esperma na boca.<br />
Então finalmente a paz sem risos, sem prazer ou tristeza, uma preguiça constante. Não quero sair daqui, canto canções infantis e jingles, tentei recitar a odisséia, me deu asco como se mastigasse carne mumificada. Raramente levanto, se meu braço fica dormente penso minutos antes de trocar de posição, durmo muito, não me importo com nada, a terra e o Cosmo que vão para o nada que os criou. Vi uma prostituta sob a luz de um sol e peixes abissais respirarem vácuo. Brinco com os fios de cabelo na cama, não são mais negros, são lindos filamentos de prata. As máquinas começam a chupar a sopa das imagens do passado da terra, nada, nada me interessa, meu casulo é confortável, gosto de desenhar sons abstratos e coloridos, coisas da solidão. Quando me alimentava, escolhia as pílulas pela cor, como se estivesse escolhendo um sabor, com meus olhos, sentia o sabor ácido do amarelo, o sangüíneo do vermelho, o salgado marrom, o suave azul, o refrescante verde, mas agora não gosto de me alimentar, esqueço. Não quero sair deste cubo, nada me interessa, quero dormir, gosto de dormir, lá fora é frio e aqui dentro aconchegante, sono, só sinto sono. A vontade de voltar, está cada vez mais tênue, só a luz me incomoda. <br />
<br />
De Solivan<br />Solivanhttp://www.blogger.com/profile/12560377145168072462noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4981135127070610705.post-5785533576002292652012-06-14T11:23:00.000-07:002012-06-14T11:23:34.650-07:00<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgMRu26Gg4j0CHk7PYxkA44ACNgZ3TGfMfFihP5RtV-1bzvYof5iINtoZcnRaUkr4oKTEaMNXGCrQUqno4XLNNynNpV26QEIn1ropM38Yx6pimJvJnfvFlN5CCSjIDHw6rmd9-T8gMfu9w/s1600/ilustra%25C3%25A7%25C3%25A3o3+c%25C3%25B3pia.jpg" imageanchor="1" style="margin-left:1em; margin-right:1em"><img border="0" height="400" width="234" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgMRu26Gg4j0CHk7PYxkA44ACNgZ3TGfMfFihP5RtV-1bzvYof5iINtoZcnRaUkr4oKTEaMNXGCrQUqno4XLNNynNpV26QEIn1ropM38Yx6pimJvJnfvFlN5CCSjIDHw6rmd9-T8gMfu9w/s400/ilustra%25C3%25A7%25C3%25A3o3+c%25C3%25B3pia.jpg" /></a><br />
<br />
Quando conheci uma estrela(trecho do conto infantil" A historia do inicio")<br />
<br />
<br />
Os meninos giram de braços abertos. Eu também giro, giro, giro, ao parar vejo girar os rostos sorridentes e toda a cidade inteira atrás deles a rodar colorida. Quando vejo as nuvens brancas, no alto do furacão, também a rodopiar, grito que vou para a terra de Oz! Olha o saci no meio do redemoinho! Parávamos apenas para esperar tudo voltar ao normal, as casas se encaixarem no mesmo lugar que antes estavam, e voltávamos a girar e a brincar de ficar bêbado. Depois dos rodopios, fui mostrar no bosque das sete árvores o lugar onde tinha visto a transformação de um homem em lobisomem. Mostrei a árvore onde tinha ficado escondido, espiando. Contei que tinha visto chegar gente, e depois de se esfregar num pé de urtiga foi virando homem, lhomem, lobomem, lobiomem, lobisomem e saiu numa corrida parecida com de um chimpanzé sumindo no meio do samambaial. Depois que conto a história vamos embora, porque já está perto da hora do almoço e é perigoso ficar no bosque esta hora. O lobisomem pode estar com fome de crianças. <br />
À tarde estava caçando moscas, depois de ter olhado um livro com a história de João Mata Sete, quando meus tios Luiza, Luci, Gelfe e Neufe chegaram para me levar conhecer uma estrela que tinha caído do céu. Vou dirigindo meu triciclo vermelho cor de morango, com meu tio servindo de motor, até chegarmos a casa verde-mar da minha avó Adele, que estava na varanda, vendo os golfinhos saltarem acompanhando os carros na rua em frente. Minha avó era uma italiana que virava Yemanjá, a rainha do mar nas quartas-feiras. Em seus longos cabelos anoitecidos tinha estrelas do mar e beija-flores que voavam em sua volta para pegar pólen e néctar no seu doce olhar azul. Segurava o incenso de um cigarro na mão, e sua fumaça azulada ondulava como cabelos de sereia levados pela maré. Abracei minha avó, e coloquei meu ouvido nela, porque se encostasse ao seu corpo dava para ouvir o barulho das ondas, como acontece nas conchas. Peço onde está a estrela cadente, e ela me responde que está no viveiro, presa junto com os passarinhos.<br />
O viveiro fica nos fundos do lote, entro na sala sozinho, sou vigiado por uma foto de um tio falecido. Era um retrato em preto e branco, mas foi pintado, e agora a fotografia parece estar com maquiagem e usando batom. <br />
Estava passando quando as estátuas dos santos meninos Cosme e Damião me pediram para ligar a TV em um desenho animado. Também parei na cozinha para ver uma chaleira fumegante, que brincava de trem maria-fumaça puxando uma fila de panelas. Sobre a mesa, pratos passeavam usando como remos duas colheres. Perto estavam açúcar e o sal, que são irmãos gêmeos para os meus olhos, mas tão diferentes para minha língua. Coloco minha cabeça dentro da cristaleira espelhada, para ver a imagem do meu rosto aparecer duzentas vezes, sempre diminuindo, até desaparecer no infinito. Só então abro a porta dos fundos e vou <br />
até o viveiro de passarinhos do tio Gelfe. Vejo os canários, pintassilgos, sangue de boi, tão coloridos. Os passarinhos aproveitavam toda a cor da semente da qual se alimentam, como se a cor fosse uma vitamina. Sugam todo amarelo do milho, todo o vermelho do urucum, para pintar suas penas. Deve ser por isto que só cagam em preto e branco, o que deixava o chão do viveiro chuviscada, carijó parecendo uma TV fora do ar.<br />
O tio Gelfe estava soltando um tucano porque comia os ovos dos outros passarinhos. Porém, o tucano não queria ser libertado, era feliz preso como um lobo vivendo entre ovelhas. Ele queria voltar para a gaiola, mas foi apedrejado, pareceu perdido no céu, debatendo-se desajeitado, parecia alguém se afogando, até ir finalmente embora em um voo triste como um náufrago nadando. <br />
Peço pela estrela cadente, e meu tio Gelfe diz que está na loja de peças de meu avô. Então para vê-la, tenho que ir pelo parreiral, o sol passa pelas folhagens e desenha em meus braços uma pele de girafa. Está sem frutos, mas cheio de abelhas. Elas gostam de chupar uvas quando elas ainda são cachinhos de flores. Um bando destes tigrinhos de asas zunem brabos perto de mim. Corro até os fundos da loja de acessórios, galinhas comem, ciscam entre escapamentos e baterias velhas. Um motor ainda sangrando óleo mancha a terra, parece um coração de um robô gigante. Entro por trás da loja cheia de pó como uma tumba abandonada. Meu avô vende pedaços de carro. Tem olhos e intestinos de automóveis expostos, para-lamas balançam, como pernis em um açougue cheios de moscas entorno dele. O avião, que comecei fazer com caixas de papelão, está ainda no fundo das prateleiras.<br />
Pergunto. Onde está a estrela cadente? Meu avô me aponta uma pedra em cima de uns papéis velhos amarelos e empoeirados. A pobre estrela cadente tinha morrido, perdeu sua cauda brilhante, está fria. Procuro ouvir seu coração, não bate mais. Acho lâmpada do teto mais parecida com uma estrela que aquela pedra. Prometo para a estrela, que quando meu avião ficar pronto vou levá-la para sua constelação, e sua mãe vai amamentá-la com bastante luz até ela voltar a brilhar.<br />
<br />
<br />
Ilustração e texto de Solivan <br />Solivanhttp://www.blogger.com/profile/12560377145168072462noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4981135127070610705.post-53374957405734617422012-06-01T14:19:00.002-07:002012-06-01T14:19:39.636-07:00Despeito <br />
<br />
<br />
Chega<br />
de lamber livros sujos e insossos <br />
nas bibliotecas municipais. Não bebo mais leite empoeirado <br />
de tetas velhas. <br />
Quis meu lugar <br />
mas livrarias e medalha, medalha,medalha como Mutley. <br />
Agora vou jogar para o primeiro cão que aparecer<br />
o osso de Homero <br />
que comprei de um camelo de relíquias. Eu e as pombas estamos<br />
cagando para as estátuas das praças. Quero cuspir na cara de um <br />
auto-retrato de Rembrandt.<br />
E fazer salada<br />
de ciprestes impressionistas roubados. Sair <br />
com um bando selvagem,<br />
e matar a flechadas o touro de bronze da Wall Street.<br />
Repartir em postas, assar<br />
e comer com vinho barato<br />
em um beco sujo. <br />
Não aguento mais ver nos museus a cara centenária, mumificada do novo em sua tumba. Hora de procurar por outra coisa menos rançosa. <br />
Vou colocar <br />
um dedo de uma estátua grega<br />
dentro de lata de salsichas. E com o dinheiro da indenização <br />
tomar cerveja, transar e assistir pica-pau<br />
nas tarde quentes. E quando estiver entediado <br />
dobrar origamis e aviõezinhos com folhas retiradas da divina comédia<br />
e jogar pela janela do apartamento.<br />
Impedirei que alimentem as obras de Botero <br />
até elas virarem El Grego. <br />
Não cederei meu lugar neste metro lotado. Nem que entre <br />
uma Virgem Maria renascentista como o menino. <br />
Paguei pelo ticket.<br />
E num dia de bebedeira, por fogo inquisitorial em uma livraria de shopping e gritar para os comparsas.<br />
Exagerem na gasolina que os livros são aguados. Ah, sentar bebendo vodka e <br />
sentir o cheiro bom de livros de bruxas e magos queimando, queimando,<br />
deliciosamente queimando.<br />
<br />
<br />
De Solivan<br />Solivanhttp://www.blogger.com/profile/12560377145168072462noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4981135127070610705.post-85887133265190502942012-05-22T10:25:00.002-07:002012-05-22T10:25:41.497-07:00O monomotor<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiJLUzdhcU6IlrGfL6t4hgjqH7_rx3egwKWUsuqusMMdboDJGdm1Tpuj-IzogS7lZ86EOPaU9MIq24fdtMw3ULVldvqo44QjOoj_umvwb56A2R2c15ZIx1xyYVnGDG9B3uCHIVVtXTS8Ys/s1600/o+monomotor.jpg" imageanchor="1" style="margin-left:1em; margin-right:1em"><img border="0" height="400" width="309" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiJLUzdhcU6IlrGfL6t4hgjqH7_rx3egwKWUsuqusMMdboDJGdm1Tpuj-IzogS7lZ86EOPaU9MIq24fdtMw3ULVldvqo44QjOoj_umvwb56A2R2c15ZIx1xyYVnGDG9B3uCHIVVtXTS8Ys/s400/o+monomotor.jpg" /></a></div><br />
O monomotor<br />
<br />
Juntei-me<br />
aos meninos <br />
que corriam <br />
atrás de um avião.<br />
Atiravam nele com o indicador,<br />
davam adeus,<br />
apontavam <br />
e torciam <br />
para ele cair.<br />
Um Atlas levava uma bola<br />
de plástico. <br />
Os de chinelos de dedo <br />
iam à frente,<br />
os de pé no chão<br />
saltitavam logo atrás<br />
nos pedregulhos.<br />
Um último menininho<br />
chorava e pedia para esperar. <br />
Lembro que tinha uma pérola de ranho<br />
no nariz.<br />
E vimos o avião sumir. <br />
Quase todos faziam<br />
da mão uma aba,<br />
quase todos pareciam <br />
em posição de sentido <br />
calados.<br />
Todos admiravam aquele brilho distante<br />
parecido ao encontrado num caco de vidro. <br />
O menininho ainda chorava.<br />
Voltamos<br />
as bocas imitavam barulho de motores<br />
e os braços asas.<br />
Eu erguia meu braço o mais alto possível,<br />
segurava uma cruz improvisada.<br />
Estilização rude, só o esqueleto <br />
porque o corpo que dava perfeição <br />
ao aviãozinho de gravetos era de imaginação. <br />
<br />
De Solivan<br />Solivanhttp://www.blogger.com/profile/12560377145168072462noreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-4981135127070610705.post-41595436424028385622012-05-16T12:05:00.000-07:002012-05-16T12:05:02.701-07:00No shopping center <br />
<br />
Abre-te Sésamo automático,<br />
esta porta de translúcido vidro<br />
para min, o Moisés de tuas águas sólidas.<br />
Será que suas engrenagens, <br />
suas roldanas esmaga-formigas, seus sensores<br />
funcionam com passarinhos?<br />
Ou a andorinha bate no vidro como <br />
em qualquer outra vidraça<br />
e morre na delícia de morrer em um voo <br />
despreocupado.<br />
Gosto de caminhar no shopping <br />
este museu de roupas e calçados contemporâneos. <br />
Meus olhos acham os decorativos deuses indianos.<br />
Meus olhos flecham o calcanhar dos narguilés. <br />
Meus olhos acariciam as meninas.<br />
Meus olhos veem a noite pelas janelas<br />
e navego <br />
cruzando Andrômeda<br />
cruzeiro transespacial.<br />
Balanço do do marmmmMnsera quenoi esopsçao tem balndlço de marnm MnM barcobebbadoGIu<a>sgliuglurub lka voub jdhueueueucrzaudndo anfdromedasolto^ v ^ v ajdgi***#3m@r?/??< ><br />
A labirintite passou<br />
e ando agora com alma de Bosch,<br />
por este estômago cheios de lojas<br />
pronto para sugar todas, todas as vitaminas de meu cartão de crédito. <br />
Experimento perfumes,<br />
safiras líquidas, rubis aquoso, outro cor de urina. <br />
Sou sexagésima sexta reencarnação de um alquimista <br />
e sinto vontades <br />
de misturar<br />
o odor da manhã com fezes de beija-flor,<br />
juntar os cheiros de uma vulvas em cio <br />
e uma noite com óvnis.<br />
Por tudo em frascos Mirós. <br />
Ascendo em escadas rolantes<br />
braços imitando um urubu. <br />
Paro para ver<br />
nas vitrines da loja de brinquedos<br />
o super-homem, <br />
o que pode <br />
cavalgar em cometas<br />
e se alimentar de vácuo, <br />
o que pode tomar um sorvete feito de massa solar.<br />
E Batmam, o frutívoro espalha pólen.<br />
Barbies em esquifes rosas<br />
e vídeos- games onde <br />
as crianças podem <br />
<br />
<br />
decapitar virtualmente <br />
estripar virtualmente<br />
lobos, anões e madrastas. <br />
Nos cinemas<br />
olho os cartazes<br />
como quadros em exposição.<br />
Multidão de livros na livraria.<br />
E toda a multidão está cheia de cretinos e magos.<br />
E toda a multidão tem economistas e astrólogos.<br />
E em toda a multidão tem um poeta.<br />
Meus livros não estão na livraria,<br />
nem do Thadeu de estrelas no bigode,<br />
nem do Thadeu dez-dedos <br />
na mão esquerda quando toca violão.<br />
Nem do Jairo,<br />
o centauro que atravessa os oceanos a galope.<br />
nem do Jairo <br />
que abençoou as águas do rio Iguaçu<br />
com poemas<br />
e comeu pão com nanquim nas manhãs.<br />
Seuss filhos da p*#+_0*&&}$$CORNOS<br />
DO*@33##PKU$ilibinoshdnsG0Q3PIFU98WBICHA CAPINEWGIUB087 ESTA BURRIOIqeru,fne in tME IRRITAeeiirriHJGIDGIUtavao tomar IJVYU4746387¨*$%%&*($MNO CUlokhnfsçoiuoip90843l98w@%$t376 <br />
Compro hq do Homem-Aranha <br />
e um livro do Schopenhauer.<br />
Filósofos estão em promoção,<br />
mais baratos que o gibi.<br />
Pague um, leve dois.<br />
Karl Marx em promoção,<br />
o CAPITAL está em promoção.<br />
Passo pela praça de má alimentação.<br />
Barulho de atol das rocas.<br />
Nos luminosos e placas em cores primárias<br />
uma salsicha de fraque e cartola.<br />
Um palhaços oferecendo hambúrgueres<br />
e monge comida chinesa.<br />
Sobre um cone o Everest granulado com confeitos<br />
vende sorvetes.<br />
Sou teletransportado por elevadores<br />
de botões azuis fluorescentes.<br />
3,2,1<br />
Ejeção completada com sucesso. <br />
<br />
<br />
De SolivanSolivanhttp://www.blogger.com/profile/12560377145168072462noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4981135127070610705.post-30843161626452959032012-05-02T11:55:00.001-07:002012-05-02T12:00:58.640-07:00Crucificação de VilelaAno 33, dia 2 <br />
<br />
Crucificaram Vilela.<br />
Crucificaram o poeta cínico<br />
pobre e esnobe<br />
de sorriso lascivo e abusado.<br />
Crucificaram o poeta<br />
pregaram-no em uma cruz<br />
feita de garfo e faca.<br />
Crucificaram o poeta<br />
cheio de escárnio <br />
e devassidão.<br />
O poeta crucificado<br />
pede frugalmente água <br />
dão-lhe fel<br />
suga o fel oferecido.<br />
O derradeiro não<br />
corta seu estômago<br />
sangra uma mistura de<br />
feijão, arroz e comprimidos para dormir.<br />
Vilela inocentemente<br />
nos dá ainda<br />
a beleza de seu último milagre<br />
faz sua coroa de espinhos<br />
de roseiras florescer rosas vermelhas<br />
e fala suas últimas e introspectivas <br />
palavras <br />
- Perdoa-me PAI,<br />
mas eles sabem o que fazem.<br />
<br />
Ano 33, dia 5<br />
<br />
Vilela é editado no terceiro dia.<br />
<br />
<br />
De SolivanSolivanhttp://www.blogger.com/profile/12560377145168072462noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-4981135127070610705.post-10846852706245440142012-04-17T16:47:00.000-07:002012-04-17T16:49:26.404-07:00Libélula azulCanto com um azul<br />da melopéia concreta<br /> a libélula azul,<br /> brilho azul,<br />reverberações azuis metálicas<br /> de peixe azul prateado<br /> azul, azul, azul<br />no seu exoesqueleto<br />as cintilações<br />têm um tilintar azul.<br /> Luz azul<br /><br /> Luz azul<br /><br />Passa num assobio azul<br /> libélula azul,<br /> cavalo de fada,<br />broche de safira no vento.<br />Libélula azul<br />que enfeita a boca do camaleão<br /> na minha,<br />quando mastigo tuas sílabas<br /> com um gosto<br />azul-amargo metálico de âmago,<br /> deixa um persistente<br />hálito de libélula azul.<br /><br />Logopéia azul<br />penso, logo não existo<br />que existir é coisa concreta <br /> você apenas sente<br /> libélula<br />e existe um pouco mais.<br /> O osso não pensa, não sente<br />ele existe, mais que nós<br /> dois juntos.<br /> <br />libélula,<br />quando eu for ossos<br /> passo a existir libélula,<br /> quando minhas substâncias<br /> mesclarem-se ao planeta<br />e moverem-se somente pelos dedos<br /> das leis da física,<br /> libélula<br />esses dedos musicais<br /> são única parte que conhecemos<br />do corpo de Deus, <br /> libélula. <br /><br />Fanopéia,<br />e se meu indicador<br />fosse azul, seria sua fêmea,<br /> libélula azul<br />e se as minhas cordas vocais fossem de cristal<br /> e cantassem como pássaro,<br />uma única nota vibrante longa e aguda,<br /> e a respiração tivesse<br />sonoridade de água corrente<br />pousaria no meu peito<br />sobre<br />o meu coração de pedra<br />coberto de musgos<br />pousaria nele, libélula?<br /> Quero<br /> porque toda a pedra em que pousa<br /> vira adjetivo, libélula azul.<br /><br />De SolivanSolivanhttp://www.blogger.com/profile/12560377145168072462noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-4981135127070610705.post-31129646488805110122012-04-10T05:55:00.000-07:002012-04-10T05:56:22.802-07:00AutopiedadeVinte três facas de prata em meu coração.<br /> Vinte três cantos de minha dor.<br /> E eram as três de la tarde. <br /> E eram as três da la tarde.<br /> Vinte três raios em meu coração. <br /> Vinte três vesses implorei pela morte<br /> de joelhos dobrados. <br /> E eram as três da la tarde.<br />Vinte três crisóis de magna em meu coração.<br />Vinte três cascavéis que me odiavam aninhadas em meu peito.<br />E Fui carregado pelos meus pés e mãos de bronze <br /> como as alças de um caixão. <br /> E manchei com gritos os ouvidos de meu irmão<br /> e eram três de la tarde.<br />Vinte três leões rubros mastigavam meu coração.<br />Vinte três piranhas nadavam dentro de mim.<br /> <br /> Madre minha, madrezita,<br /> vi teus olhos desolados como o céu azul<br /> sobre os ciprestes. <br /> Filho meu,<br /> vi teus olhos assustados e quis afagar teus cabelos,<br /> mas meus braços estavam mortos <br /> e eram as três de la tarde.<br /><br />Vinte três mil tocandiras em trançados de caranã envolverão meu coração. <br /> Vinte três enxames de vespas ferroaram minha carne.<br /> E bebi um cálice de morfina com água de miragem<br /> e eram três de la tarde. <br /><br />Porém uma garça branca pousou sobre meu peito<br /> e disse fica. <br /> E as sirenes ganiram,<br /> e mãos cuidaram de mim<br /> como pomba delicada cuida de seu ninho.<br /> Mas na gruta de mármore negro havia números nos olhos do jaguar<br />e meus sinais vitais gotejavam irritantes por toda a noite<br />e no meu braço agulhas frias<br />moldadas com caninos de vampiros<br />e na minha boca um gosto de alecrim e metal. <br /> Os mortos sentem em sua boca um gosto de alecrim e metal. <br /> Então levantei no terceiro dia<br />e vi o sol puro e uma banca de jornal,<br /> vi as moças bonitas<br /> e sorri,<br /> mesmo com passos de quem passeia<br /> em um campo minado jardinado com açucenas, <br /> e eram as três de la tarde.<br /><br />De SolivanSolivanhttp://www.blogger.com/profile/12560377145168072462noreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-4981135127070610705.post-45944130757550638782012-04-03T17:02:00.002-07:002012-04-04T08:17:58.518-07:00A reecarnação de Lorca-Poema 2Ultima milonga para Paloma<br /> <br /> Me vou,<br /> Muda seu sobrenome<br /> Paloma,<br /> Que me vou, <br /> Seva teu mate com outro.<br /> Vou Paloma, que só os egoístas perdoam <br /> Só os egoístas<br /> Querem o manacá que não é mais dele.<br /> <br /> Vou com três adagas no peito,<br /> mas vou,<br /> Buemo,melhor assim,<br /> Pelas chagas te tiro,<br /> Como fiz com uma bala chimanga<br /> Que a revolução deixou em minha carne.<br /> Conheço das feridas Paloma, já tive muitas,<br /> As feridas gritam pela parte do corpo não existe mais,<br /> Gritam pela parte que foi retirada pela faca.<br /> E em ferida de amor,<br /> Um gole de canha arde, mas ajuda a melhorar.<br /> <br /> Tentei mudar o que eram rosas, <br /> Mas as rosas não mudam nunca, Palomita.<br /> Mas eu posso mudar<br /> E ordenar minha boca<br /> A sentir amargo tudo que antes era mel.<br /> Me calo, vou cuspir minha língua, <br />Que o corpo apenas engole, mas a alma rumina<br />E só uma boca calada escuta a alma.<br /> Alem do mas, tudo que tenho a dizer é o rude relho de um fim, <br /> suavidades são cosas de um começo.<br />Não me olhes assim<br /> Com estes olhos cor de folha de macieira<br /> Que me vou galopar e o meio do mundo fica distante. <br /> Vou só ate o meio Paloma,<br /> Porque num passito alem do meio, já é retorno<br />E já chega de retornos<br />E já chega de palavras,<br /> Que isto não é uma payada <br /> Mas uma despedida.<br />Me vou,adeus Paloma.<br /><br /><br /> Missões 1968<br /><br /><br /><br /><br />De SolivanSolivanhttp://www.blogger.com/profile/12560377145168072462noreply@blogger.com6