segunda-feira, 25 de julho de 2011

A arte não tem mais para onde Ir...

O primeiro crítico de
arte diante das pinturas
rupestres de Lascaux.





Charge-esculpida de Solivan

quinta-feira, 21 de julho de 2011

“Legião, almas para todo gosto”
Exposição individual com 25 gravuras digitais, retratos de pessoas imaginárias.
visitação: de 18 de julho a 14 de outubro de 2011
local: Galeria João Werner, rua Piauí, nº 191, sala 71, 86010-420, Londrina, PR.
horário: das 14h às 20h, com monitoria.
a entrada é gratuita, embora eu aceite doações.
link: http://www.joaowerner.com.br/exposicoes-de-joao-werner/exposicao_legiao_gravuras_digitais.htm
contato João Werner: (43) 3344-2207, werner.joao@gmail.com

segunda-feira, 18 de julho de 2011

O balão que se transforma em circo

um pequeno pedaço de meu livro infantil
"A história do início"




Estava na janela quando vi chegar ao posto Hércules, um homem com roupa de leopardo, puxando com uma corda um comboio de um circo. Todos os carros, jaulas e caminhões estavam amarrados um ao outro, como vagões de um trem, porquê tinha acabado a gasolina de todos, e como ele era o mais forte, teve que trazer todos para abastecer.
Corri para o pátio e vi os leões e tigres saírem das jaulas. Os leões se espreguiçavam e diziam que estavam cansados da viagem. Um tigre me pediu onde ficava um açougue. Macacos, palhaços e anões desciam dos carros, e quando abriram as portas, voaram de dentro, pombas e saltavam coelhos. Um elefante indiano saiu de dentro de um fusca como contorcionista hindu de uma caixinha. No céu tinha uma trapezista que havia amarrado seu trapézio nos raios de sol e vinha sentada, e também um enorme balão colorido com faixa azul e amarelo.
O dono do circo me explicou que o balão iria para a cidade sul, perto da Plasticolar, lá já estava pronta uma armação onde o balão vai pousar e se transformar na tenda do circo. O palhaço Gargalhada pediu para eu ficar em cima da sombra dele. É como se a sombra fosse uma coberta, saiu me arrastando, imitando um motor de automóvel em alta velocidade, freadas, guinchos nas curvas fechadas, derrapagens. Parou pediu ao meu pai quanto custava para abastecer e mandou encher seu bolso furado. Começou procurar dinheiro, passarinhos saíram voando dele e pagou com dinheiro imaginário, mais três ingressos. Deu mais algumas voltas comigo, então parou, imitou um chofer abrindo a porta de um carro e se despediu. Todos voltaram para seus carros e jaulas e partiram. Fiquei acenando.
O resto da tarde esperei ansioso o espetáculo. Tomei banho mais cedo, comprei algumas balas e fui acampar dentro do carro. Quando chegasse a hora já queria estar pronto. Com os ingressos, que tinham um palhaço impresso, brinquei de baralho e fiz luta de um ingresso contra o outro. Olhei tanto, tanto, para meu relógio que ele ficou gasto e parou de funcionar. Quando escureceu, finalmente meus pais apareceram. Meu pai ligou o carro, torcendo a chave como fazia às vezes com minha orelha, e fomos.
Avistei de longe o circo envolvido em luzes coloridas como um pinheiro de natal. Meu coração batia como asas e inquieto queria escapar, chegar à frente e ficar voando sobre aquela montanha de listras amarelas e azuis, com as casas da cidade em sua volta. Quando cheguei perto fiquei com medo. Amarrei meus cinco dedos bem fortes na mão de minha mãe. Mas assim que atravessamos o portal, o meu medo floresceu a alegria. Ao lado do caminho de serragem parecida com a de Corpus Christi, haviam elefantes, tigres e o palhaço Gargalhada estavam vendendo algodão-doce feitos com juba de leão albino e açúcar. De um anão compro uma pipoca e bailarinas oferecem maçã do amor. Escalamos as arquibancadas. Experimento minha pipoca, parece isopor com sal.
A primeira atração foi o mágico, que ao entrar fez a gravata borboleta azul do apresentador sair voando. Logo iniciou um número chamado Evolução. Colocou três caixas, uma sobre a outra, e colocou chimpanzé dentro delas. Fez uns gestos mágicos e abriu a caixa de cima, apareceu o rosto de uma mulher. Abriu as outras duas e o corpo era do macaco. Fechou tudo novamente, abriu outra vez, desta vez a cabeça era do macaco o corpo da mulher e as pernas do macaco. Depois cobriu tudo com um manto de veludo vermelho, quando o retirou, saiu o chimpanzé vestido como bailarina se despedindo da platéia. Então entraram os palhaços Descarga e seu filho Bulica, mais sete anões em um Calhambeque que tinha no lugar de um dos pneus uma bóia de patinho. Desceram, contaram várias piadas, fizeram cambalhotas, caretas, tapas. Depois veio Luthar , o filho de dragão cuspindo fogo e engolindo espadas. Também veio o domador cavalgando um leão, um malabarista vestido de pirata que de repente tirou sua perna de pau e a fez girar com os outros pinos. Trapezistas com movimentos de golfinhos nadavam no ar. Motociclistas com suas motos, metade mariposas, metade vaga-lumes, giravam no globo da morte querendo apanhar a luz do seu próprio farol. Adormeci no meio deste sonho.
No domingo, soube que íamos mudar para outra cidade. Meu pai e minha mãe foram com o fusca joaninha. Eu peguei minha coleção de chaveiros e um carrinho e fui cavalgando no meu cinamomo até Quedas do Iguaçu, local de nossa nova casa.

Conto e ilustração de Solivan

terça-feira, 12 de julho de 2011

Estudo sobre o voo dos pássaros




No rio Iguaçu as asas das garças afagam o céu
como se tocasse uma música difícil, mas que soa suave.
Num trilo de colcheias com movimentos elegantes
traçam um voo linear, ornamentado apenas no alçar e no pouso.


Nas fazendas os urubus têm um bater de asas lento
como o trocar de páginas de um livro.
Sobrevoam em aspirais de breve e semi-breves
com asas que parecem à haste dos equilibristas,
apenas ajustando-se as correntes ascendentes.
Os urubus não voam, levitam no mais alto céu.


Na cidade a trajetória dos pardais é reta e objetiva,
de raras curvas a meia-altura, mas seu voo tem uma
linha ondulante com asas em ascendentes fusas
e leves mergulhos de pausas em mínimas.
Sinuosos como uma pedra jogada num lago,
mesmo no chão não andam, saltitam como
pequeninos cangurus emplumados com cores sóbrias.


Nas pastagens é de linha irregular o voo da tesourinha
suas asas tropeçam em dissonantes fusas, dessincronizados
dos movimentos da cauda longa,mas os movimentos que
parecem desequilibrados são passos graciosos de um
dançarino fingindo-se coto. As tesourinhas não habitam o sul,
moram no verão e retornam sempre que o Paraná se veste de sol.


Em Quedas, as andorinhas quando solitárias
voam em altas linhas mistas, asas em colcheias retas e
planam em tortas pausas semibreves.Passeiam acima
de outros pássaros que apenas cruzam o céu ocupados.
E quando em cardumes as andorinhas revoam leve,
num céu marinho, como um véu em uma dança.


Mas plantações de soja é entediado o voo dos Carcarás,
adejam em editadas linhas curvas de carniceiros com asas
em negligentes colcheias e preguiçosas pausas em semibreves.
Alimentados só alçam vôo em parábolas contrariadas e curtas
se perturbados. Ave esculpida para o céu, prefere acomodar
nas curvas de nível, são como água de um lago indolente
que não quer voar, que não quer ser nuvem.


Nos bairros as pombas Juritis cruzam em retas objetivas
e cinzas,sem passeios, suas asas martelam o céu
em fusas viris e continuas que parecem sôfregas
por que são pequenas mas compensadas por um forte peito.
As vezes desviarem de uma pedra imaginaria,
Porém tem no alçar o traçado e o pouso,
flecha pragmática que ao ser lançada já tem definido o alvo.


Nos capões os Anús-pretos em retilíneos voos coletivos
vão de uma arvore à próxima em alarido prateado.
Voam com asas em elos de fúnebres semicolcheias
e pairadas de colcheias em cruz .
Apanhadores de gafanhotos, quando pousam nas laranjeiras
mortas em lamúrias agudas trazem um agouro de corvos,
Talvez pela anoitecida cor que ambos tem.
Levam o mesmo estigma dos morcegos frutívoros.


A saracura nos matagais entre cipoal e espinhos flui,
baila no solo desenvolta até emaranhados esconderijos.
Só voa em desesperado arco rampante com asas
em atrofiadas fusas se perseguida em estradas vicinais
por carro ou cão, sua fuga então e sem dribles,
começa em corrida veloz para apos abrir-se em busca
de sustentação e alça-se até o colo da árvore mais próxima.


Nos jardins o beija-flor voa em inquietas linhas aquáticas,
semifusas tornam suas asas etéreas,transparentes
como nadadeiras, cinzelado com o mesmo
ouro-verde ou prata-azul dos peixes ornamentais,
nadam nos quintais nas profundezas claras
do céu, este oceano doce para pássaros.

Fotografia e poema de Solivan

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Motivos orientais




Caos urbano, porém parecia
com tai chi chuan
a informação do chinês.


Sol traz
ao lago calmo,
constelações de reflexos.


Preocupou-me um problema insolúvel
até o dia que ouvi
a o passear no jardim
um ancião
dizer cheio de felicidade a uma libélula:
“Ainda temos todo este verão de vida”.


Retrato falado
de um velho japonês

Seus olhos são baços e pequeninos
delicadamente colocados
sobre a renda das rugas.
Mas seu olhar tem uma imensidão que
lembra o mar.
O ar de oitenta anos de sorrisos
desgastaram seus dentes
como o vento, uma rocha.


Determinação
é uma intransigência maleável

Para atingir a perfeição,
precisamos de defeitos.

Verdades
absolutas
mentem.

Sobre a indignação

Notei que
soco na mesa
é sempre na silaba tônica.

Não gosto de decorar poemas,
Prefiro falar poemas com um livro na mão
o livro é meu instrumento musical.

O profeta
recorda o futuro.

Neuzza
Pinheiro
com pássaros

Sal que
adoça meu dia

Pombas
fazem ninhos
no semáforo.


O mais importante em um poema são as perguntas,
mesmo que o poema não tenha perguntas.

Ancião tremulo
frágil e feio.
Lembra um pássaro
recém-nascido.


De solivan