quarta-feira, 30 de outubro de 2024

Empresta um pouco de sal Adélia, a vida é mesmo assim, não a olhe tão de perto. pouco vento é incolor, mas muito é azul. Você que arria as panelas, arruma a casa, depois joga futebol no vídeo game. Você que já perdeu seu amor e os que beberam de seu leite foram embora, mas teve violão e nunca tocou, bicicleta e nunca andou, livros e nunca leu. Seu peixe era uma flor que nadava e o tempo passou, o peixe morreu, a água secou Acha que agora, por que suas mãos são tortas já não pode mais sorrir, se sorri com os lábios Adélia. Foi anteontem a última vez que sorriu, lembrou de quando pôs laranjas no ipê da praça para que seu neto pensasse que apanhava frutas no pé. Você já contou esta história mil vezes, você é engraçada Adélia. Deixe disso Adélia, viver é um precipício, os espertos assobiam durante a queda. Comeu a fruta agora lamba os dedos. Seu requeijão estragou, a pasta de dente acabou sua ruga cresceu, mas não chore Adélia compre uma fonte de água decorativa.

terça-feira, 25 de junho de 2013

Ira no templo III

Caros camaradas, não posso falar,
mas que droga fizemos com a magnífica idéia do socialismo?
que palhaçada é esta de ditaduras e estupidez ideológica, paredón e colocar intelectuais na geladeira dos gulags, khmer vermelho sangue e até comunismo monárquico na coréia.
Que bela troca fizemos sai burgueses entram militares e políticos no poder
sim, porque o proletariado continuou nas fábricas e trabalhando nos campos.
E nossos países caíram um a um aos pés tratados com creme dos capitalistas,
se bem que as monarquias também foram restauradas após a revolução francesa e depois todas caíram novamente em paz, ou viraram monarquias fantoches
também uma a uma sobre o peso das repúblicas.
Mas olha camarada,
Não posso falar, mas se tiver que escolher entre os americanos
e o Stálido do chicote russo e fico com os capitalistas e sua falsa liberdade,
que melhor uma falsa liberdade que nenhuma.
desculpe-me Karl
Mas quero paz não luta de classes, não quero armas
Não posso falar, mas quero um socialismo exuberante,
Porque não podemos ser comunista em qualquer país democrático?
Porque não criamos o socialismo dentro do capitalismo?
Vamos usar o capitalismo camarada,
Que acha companheiro de usarmos o capital e nossa mão de obra para firmas socialistas
eu quero shopping Center socialistas, Sex shop socialistas, hiper mercados socialistas, banco internacional socialista,
Quero coca-cola e Ford indústria socialista, e outro grupo comunista compre a Pepsi comunistas a Macdonald comunista s/a e a burquer king comunista
Quero iates proletários, proletários com caro de luxo e mansões
Quero proletários com Renuir na parede.
Vamos companheiros vencer o capital no seu próprio jogo de ganâncias.
Quero mundo livre, com desfiles de alta moda socialista e patricinhas socialistas
Quero fazer um muro para dividir os pobres capitalistas dos ricos socialistas
e depois por abaixo é deixar que os bárbaros da Europa ocidental entrem no
belo país dos Anarquistas bilionários, deixe que entrem nos Estados do Éden unidos, Na República de Utopia, na bela nação de Nirvana do sul.
Não posso falar, mas quero um comunismo de verdade vigoroso como o capitalismo.
Quero um mundo que deseje a anarquia como uma mulher deseja sapatos.
Não posso falar, mas que besteira é esta de ser contra a religião camarada,
deixa que sejam católicos, e vamos aceitar socialistas católicos, Umbanda socialista, budista socialista
que a religião morra como algo retrógado morre.
Companheiro, camarada
Não tenho raiva dos burgueses, alias quero que todos sejam milionários que nossos problemas sejam o tédio e a depressão de ter tudo,
que são estes os problemas que os ricos tem

Vamos sempre camarada para qualquer regime que nos leve mais perto da utopia
Mais perto do colo da utopia
e alguns poucos milênios passam logo camarada
e vamos viver na anarquia, aí sim seremos humanos camarada

Sim, com algumas leis,
talvez os dez mandamentos, é religioso eu sei, mas e daí? boa idéia é uma boa idéia.
Mas pensando bem é melhor só 4 mandamentos, vamos revogar a lei que diz para não desejar a mulher do próximo,a contra a castidade e as leis teológicas.

Ou só uma, vamos fazer uma novinha
Talvez esta camarada:
É proibido coibir a liberdade, a não ser que ela cause qualquer violência física intencional a outro homem ou ao seu patrimônio, sob pena de reclusão progressiva ou eterna em presídios mansões com banheiras de hidromassagem e visitas sexuais,e prisioneiros com direito a ir para Paris visitar o Louvre.

Não posso falar, mas na anarquia daqui a milênios
Não se pode proibir alguém de ser racista,
Não poderá o homem proibir outro homem de ser racista, porque o homem pode ser o que quiser, se bem que não existirão racistas.
Não poderá o homem proibir outro homem de seguir regras se este quiser
Se bem que não haverá regras.
Não poderá o homem proibir o outro homem de ser homofóbico,
Se bem que todos serão gays.
Que caçe baleias e pandas se o quiser sim porque vão existir milhares de pandas e baleias.

Sim, não posso dizer, mas na Anarquia será tudo liberado.
Se um homem quer ser virgem ou imoral que seja.
Se quiser servir ao Rei da Patagônia que siga
e quem não quiser, que não siga.
É irrevogável que na anarquia o homem possa ser até escravo se desejar
deste que possa deixar de ser o quando e a hora que quiser,
Porque não podemos ser livres proibindo.
Então vou poder falar a vontade e a verdade vai parar de doer.


Solivan

segunda-feira, 10 de junho de 2013

Ira no templo ll

Não posso falar da religiosa ciência,
nem dos atos litúrgicos das experiências
e de suas falsas promessas de vida e juventude eterna
ou de suas teorias apocalípticas
que prega dilúvios e o desaparecimento das águas ao mesmo tempo,
como um Moisés doido, já que a água é a mesma desde começo do mundo.
Não posso falar dos seus halal científicos cheios de jejuns e abstinências,
não posso falar das suas homilias a favor do sexo asséptico
apenas com as litúrgicas vestes para priapos.
Não posso falar que quero uma medicina
que liberte, que cure cirrose, que nos deixe comer sal à vontade.
Que quero uma medicina que me deixe comer doces, tomar cerveja o quanto eu quiser
Que me deixe livre, que cure a AIDS ou qualquer porcaria, ou qualquer doença venérea ouse tentar acabar com a festa.
Uma medicina que me deixe viver cheio de saúde e paz,
Uma medicina que me deixe abraçar meu irmão à vontade sem medo de gripe ou qualquer outra porcaria de contaminação.
Que pegue um coração doente e enceste em alguma lixeira com tabela de basquete e coloque outro novinho e saudável em seu lugar, sem tirar de outro homem.
Aí sim podemos chamar medicina, não esta medicina que por incompetência
enche-nos de culpa e remorsos como qualquer religião retrógada.

Tenho vontade de blasfemar
mas não posso falar
desta porcaria de ciência obvia, que só mostra pesquisas
que todos querem ouvir, que é covarde e politicamente correta
tenho vontade de perguntar: Caros senhores vocês
são cientistas ou cantores pop?

Não posso falar desta ciência
que tem resposta para tudo menos para o essencial.

Desta ciência que mente tanto, que peca tanto quanto
as franquias religiosas, islâmicos, católicos ou protestantes.
Olha não posso dizer, mas se Deus existisse,
o inferno estaria cheio de crentes, e o céu de ateus.
Ah meu doce Jesus, meu doce Buda, seus filhos não aprenderam nada, seus filhos continuam retrógados e estúpidos,
é sempre a liberdade e a verdade posta de lado a favor de uma falsa verdade,
e o pior em seu nome meu doce Jesus, meu doce Buda, meu doce Charles Darwin, meu doce Einstein.
Veja nos hospitais e templos
há apenas a procura pelas curas lucrativas
Enquanto esperançosos fiéis esperam como Lázaros as extremas unções das máquinas nas UTI`s, e os coxos que suas pernas renasçam como um rabo de lagartixa e os aleijados querem andar sobre as águas, os cegos verem mesmo raios ultra violetas e os surdos querem ouvir ate infra sons, mas quando?

Não posso falar da ciência e suas alfaias usadas para fabricar ganâncias e guerras,
nem que seus erros tão estúpidos quanto os da religião.
Não posso falar das eugenias, das bombas, das burras teorias cósmicas da física
como a de realidades clones,
já que um mundo com um só grão de pó fora do lugar já não seria
absolutamente igual ao outro.
Nada é absolutamente igual,
nem uma folha, nem um clone, nem um átono é absolutamente igual ao outro
porque o absolutamente igual é algo que não existe.
Mas os físicos nos falam como sacerdotes em vestes litúrgicas
deste cosmo tão inexistente como qualquer Deus
como se fosse um dogma que nos pobres fiéis
não temos como entender os desígnios do universo
e devemos ouvir sem questionar como um crente escuta tolices teológicas,
mas não posso falar, então me calo.A verdade dói.

Solivan


terça-feira, 28 de maio de 2013

Ira no templo






Não posso falar dos sujos Iberos, Gauleses e Bretões
cheios de varíola e cruzes contaminadas por suas porcas mãos
que colonizaram a idílica América cheia de paz,
um Éden com bons indígenas imperiais, com seus intestinos imperiais
e seus cus de jaguar imperiais
que carneavam outros índios em grandes templos
na sua cidade que se chamava Tenochtitlán
mas bem que poderiam se chamar Auschwitz.
Não posso falar
dos reis negros safados que escravizavam negros e
vendiam negros.
Não posso falar que os coitados dos Judeus
E do genocida Josué
que exterminou povos tanto quanto filhos das putas dos nazistas.
Não posso falar que Davi teve mais pecados que cornear Urias
e era tão racista quanto o bigodinho ridículo com suástica.
Não posso falar que nada mudou, como um Bill Clinton bíblico
Passou mais vergonha pública por uma chupada
que os Bush com suas guerras.
É, o desgraçado deste mundo não mudou nada,
mas é melhor ficar calado.
Não posso falar dos idiotas que acham sua raça superior ou oprimida.
Seja que porcaria for sua raça, você é um humano sua besta
e quer hegemonia.
É só olhar para a droga da história, idiotas caolhos,
para ver que a disputa está na vontade dos oprimidos de pegar o chicote
e dos filhos da puta dos opressores em não solta-lo.
Mas quando seus neandertais, vamos abandonar o maldito chicote
e não apenas mudá-lo lado.
Mas não posso falar que ninguém vai gostar,
não posso falar que vão me chamar de racista ou de
viadinho liberal, Então me calo,por que a verdade dói.

Solivan





quinta-feira, 25 de abril de 2013

Poema caolho


O caolho olha
o
Yin - yang

Igreja e jabuticaba

Guerra e monólito negro de Kubrik

Parque de diversões e mancha de dálmata

Avenida Pinheirais e Black Square de Malevich

Estrelas e retalho da capa de Darth Vader

Antiquários da Augusta e Obsidiana

Caribe e perola negra

Chiaroscuro

Solivan
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terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Dona Nelsa Rodrigues

Eu era empregadinha casa da Dona Tere, empregadinha mesmo, mocinha, O Soli era uma peste subia no foro fazia buraco para me ver tomando banho e ainda gritava:“Tó te vendo” se estava de saia deslizava no chão para ver minhas calcinhas e falava:“ Ta de azul” “Ta de vermelho” eu gritava:“Sai daí, que eu conto para tua mãe”, mas não contava, achava engraçado, gostava.Um dia ate deixei ele ficar em cima de mim, fingi que dormia.Moleque,quando comecei o Soli era um moleque, ao sair sua mão direita era sua amante e os seus soldadinhos tinham encontros com uma boneca Barbie sem uma perna, maneta e descabelada como uma prostituta barata.Só fui embora porque casei com o Adilsom, juntamos nossos acertos e algumas compotas que minha mãe nos deu de presente e fomos para São Paulo, o Adilson trabalhava de garçom e eu de diarista, alugamos numa quitinete, era minha casa de boneca, quente, cheia de pernilongo, com cheiro de frigideira por que o exaustor do restaurante abaixo que saia bem na nossa janela, mas era minha primeira casinha de boneca, gostava de arrumar tudo, por bibelô. Era feliz, sentia um pouco de solidão, a única pessoa que me cumprimentava pelo nome era o travesti que fazia ponto na entrada do prédio e também tinha saudades de minha mãe, a coitada morreu há pouco tempo de derrame, fui para o Paraná no velório, mas já era bem velha, enterro de velho se sente pouco, mesmo que seja a mãe. Amava o Adilsom, amava, acho que só nos separamos por causa das pamonhas, eu levantava cedinho só para fazer doces, queria agradar, com carinho, pamonha doce, passava horas envolta do fogão só para escutar dele “Gosto é de pamonha salgada” eu fazia tudo outra vez, com mais capricho ainda, fazia novamente a melhor pamonha doce que conseguia. Como eu queria que o Adilsom gostasse de pamonha doce, mas ele sempre repetia “Gosto é de pamonha salgada”. Logo o Adilsom não pedia mais pamonha salgada e nem experimentava as doces, nem um pedacinho. Das pamonhas passou para casa, contagiou o sexo que era quase infantil, brincadeira feliz de medico, de casinha, começou a ficar indecente por causa dos gibis do Carlos Zéfiro que o Adilson comprava, das pornochanchadas assistia no Cine Ritz, lembro muito bem quando chegou com cheiro de cachaça me agarrou e em cima de mim balbuciou “Assisti a dama da lotação,quer sair com outro,quer,eu deixo eu deixo” implorou:“Eu quero, eu quero ver” gostei, mas depois senti remorsos, nojo, jamais vou fazer isto, nunca,mas depois disso o Adilsom começou a me importunar,suplicar, desejava, pedia que eu levasse homem pra nossa casa, para nossa cama, queria me ver se entregando para outro,que saísse com outros, eu dissimulava, fazia promessas falsas, não queria ser devassa. Só trai o Adilsom quando não viu meu corte meu cabelo, trai, marido não nota corte de cabelo novo não merece fidelidade, não merece respeito, e depois estava sem ganhar um beijo, um carinho fazia tempo. Adilsom ficava emburrado porque queria me ver com outros e eu não queria, ai trai sim, mas fiz sozinha, bem escondido. Enganei o Adilsom com meu patrão e engravidei, engravidei. Com meu patrão conseguia ser vadia, que delicia, livre, vagabunda, com o coitado do Adilsom, ate tentei mas não conseguia,com ele queria ser a esposa, queria carinho, ser a Dona Nelsa, se meu marido quisesse meu amor eu não teria traído, não teria, mas ele desejava uma ordinária! Ai trai, para me vingar, trai por que queria ser fiel, eu o amava, queria só ele, não outros, então fiz o que o Adilsom mais desejava, mas sem ele saber, em segredo, lembro que gostava de roubar goiaba, era só pedir que o vizinho dava quantas goiabas quisesse, gostava de ver as meninas de vestidinhos subindo nas arvores mas eu preferia roubar que pedir, pedir é uma humilhação, uma esmola, roubar e mais digno.Gostei de trair, gostei ate da culpa, do remorso. Porque não era a mesma culpa que impedia, que proibia como a culpa que sentia quando fazia indecências com o Adilsom, a culpa, o remorso quando eu traia era diferente era uma culpa libertadora, me fazia gostar ainda mais, deixava tudo mais obsceno, gostava de enganar com sentimento de culpa, como gostava, me sentia culpada e tinha mais prazer por isto mesmo. Delicia chorar de culpa quando era possuída pelo amante, era bom falar: “Porque faz isto comigo? Eu sou casada, não devia, não devia’’chorava e gozava. Tive que seduzir meu patrão, me atraia, era um senhor respeitável, calvo, com barriga, vermelho de pressão alta e calvo parecia um uacari de óculos, era aposentado com problemas no coração e obedecia caninamente sua esposa, mesmo com a Dona Yena trabalhando fora, precisei me insinuar para conseguir o que queria, comecei a mostrar meus seios quando limpava a mesa de centro, derrubava café no chão só para limpar de quatro com a saia um pouco erguida, ate que um dia na cozinha, lavando a louça, senti ele ajoelhado atrás de mim me beijando, desesperado, choramingando, choramingando balbuciava :“ Deixa, deixa” levantei a saia e deixei, depois disso passeia dominar, mandava nele, fazia limpar a casa, mandava ele ficar bêbado e me esfregava bem na cara dele, ficava vendo meu óculos, mas sabia o limite, sabia e não queria perder meu escravo,que escravo é quem manda, eu cuidava para que tudo ficasse organizado, de lingerie, mas tudo bem arrumado para a Dona Yena não desconfiar de nada, nunca desconfiou.Levava o Patrão pra cama do casal e dizia:“ Imagine que sou a Dona Yena, quero que você pense que eu sou esposa” como eu gostava de sentir ele em cima de mim imaginando que estava com outra,com sua mulher.Com o Adilsom não, não queria, não conseguia,Adilsom já era pecador, eu queria era desvirtuar, meu patrão nunca tinha sentido o prazer de ser humilhado,cuspido, o prazer de apanhar,de ser possuído,nem eu de humilhar,de ser a mulher o macho e ele a mulherzinha. Máscara, talvez, meu problema seja as máscaras que uso,varias, uma para cada pessoas, criei minha máscara para o Adilsom ainda quando namorávamos, quando nos conhecemos, com o Adilsom, não conseguia ficar sem a máscara, me sentia desprotegida, mais que nua, descarnada, mostrando a caveira, com meu chefe também tinha uma máscara, mas era de devassa, só sabia ser isto com ele,uma puta.Um elogio usava um elogio como um molde de minhas máscaras, um elogio já bastava, um professor me disse que era boa em matemática pois foi o único ano que sempre tirei notas boas em matemática. Para minha mãe eu era a católica, mesmo com ela morta, no enterro puxei o rosário, rezei diante do caixão falava para os poucos parentes, nos pêsames: “Deus quis assim, recebeu o chamado de Jesus” depois do féretro nunca mais fui a uma missa no domingo, nem uma oração saiu de minha boca. Os Domingos eram iguais na Dona Tere, fazia maionese para acompanhar o churrasco do almoço e as onze tinha que tirar o Soli da frente dos desenhos animados para me ajudar a comprar as bebidas no deposito da Serramalte, era perto, um barracão de araucária grande, fresco e escuro meio apodrecido e tinha cheiro de cerveja,eu e o Soli torciamos muito para o time da Serramalte lembro da decisão contra a Giacomar, o jogo foi um desses acontecimentos épicos que a historia não conta, de heróis anônimos, que morrem sem odes, a Serramalte entrou com sua camisa azul como sangue de nobres, valentes, cheios de brio, foram acossados no primeiro tempo mas o goleiro Galo em pulos certeiro de onça em paca pegava todo os tiros que vinham contra sua meta, retrocederam,mas o retroceder dos valentes não é se render e sim um retesar, como o recuo do arco que impulsiona a flecha, no segundo tempo avançamos indomáveis, mas o adversário também era valoroso e forte, a batalha parecia destinada ao empate quando o Nego armador elegante recebeu uma bola xucra, domesticou no peito, olhou como um general e passou dócil obediente pro Pingo que repassou para o ponteiro Cafu, Cafu dominou, correu livre pelo flanco esquerdo e lançou, a esfera subiu suave,com movimentos de lua passou por cima dos zagueiros, o centroavante Sarna subiu e num bote de cascavel cabeceou venenoso na gaveta. A alegria explodiu como fogos em mil peitos, um estrondo de campeão, o Sarna correu para a torcida batendo no peito, no escudo, então os heróis se abraçavam, jubilo, a taça do municipal de 78 era nossa.
Ia assistir os jogos da Serramalte com o Adilsom, Adilsom, Adilsom,gosto de falar o nome dele,tem gosto,o nome dele tem gosto.Foi uma pena ter acabado como acabou. Eu, na cama com o Adilson desejava,queria muito um marido doce,não desejava ser safada, mulher tem que ser safada, homem com tesão é homem carinhoso,agora eu sei, Não adianta cobrar romance ,não espere nem cafuné de um homem que não te deseja,quer romance minha filha? Quer beijo na boca? Quer ser chamada de meu amor? Se faça desejada, de o proibido, faça sacanagem. Mas primeiro finja inocência. Fingir inocência é o inicio de todo um casamento feliz e depois caia no pecado, agora eu sei, mas é tarde, perdi meu amor ,perdi, disse muito não, logo tudo ficou tedioso, o Adilsom passou a fazer tudo em um silencio emburrado, padronizado, fazia só para provar que não queria mais. Mas eu sabia o que desejava era desdém de quem quer muito, de quem quer comprar, mas no por defeitos, no desdenhar, foi descobrindo que os defeitos eram mesmo defeitos, apanhei levei uma bofetada, quando falei no meio da transa com medo de o perder :“ Vamos fazer suruba” ele me respondeu com raiva: “Mentirosa”me bateu e saiu de cima de mim. Foi nossa ultima relação, falei só porque tive medo de perder, eu amava o Adilsom, mas não adiantava mais prometer, ele resistia à tentação obstinado, resistia, quando vi que ele desistiu, tentei mudar, não cumpria, mas prometia, não funcionou, nada mais funcionava, mesmo quando tentava fazer cara de prostituta para agradar era cara de Santa Maria Madalena,de Santa Maria do Egito. Tentei de tudo, pamonha salgada, carinho, beijo,ser infiel, nada resolvia, teve uma trégua quando engravidei, menti que era do Adilsom, mas engravidei do meu patrão, engravidei, porque quis, menti que tomava comprimido, lembro como foi disse: “Pensa que sou sua filha” e meu chefinho enlouqueceu, fez a única coisa que me negava, desobedecia, que era gozar dentro de mim, dava tudo que pedisse jóias, roupas mas não gozava, ate quando falei :“Pensa que sou sua filha” ai ele gozou,e gritou:“Desgraçada”e gozou,me encheu de esperma,que prazer, que prazer, o melhor orgasmo e engravidei. Era dele não do Adilsom tenho certeza, mas perdi com cinco meses, falei que ia tirar, não ia, enrolei, queria aquele filho, não ai tirar, mas o aborto foi espontâneo, o Adilson nunca desconfiou, nunca. Engravidar de outro fez bem para meu casamento, gostava de ir pra cama com meu marido embuchada de outro, gostava, gemia, mas perdi, logo me separei, meu amor foi embora não consegui mais segurar o Adilsom, tentei, chorei, implorei de joelhos, mas não consegui, viúva me senti uma viúva, triste, lembrava de quando começou a namorar, me comprava sorvete, passeava comigo,me beijava. Sabe outro motivo minha infidelidade, o Adilsom detestava meu chefe, tinha ciúmes, eu sentia atração por quem o Adilsom não gostava, trair com o inimigo é pior que trair com o melhor amigo. Quanto mais sacana a traição maior o prazer, sair com a sogra, irmão, inimigo, com o enteado o gozo é alucinante. O Adilsom não percebia, homem é cego, chifre nasce sobre os olhos, o Adilsom achava que eu era pudica, que não gostava de safadeza só porque não fazia com ele, coitado, depois que me separei,fui trabalhar em uma boate. Tinha raiva de amar o Adilsom, tinha raiva não dele, tinha raiva era de mim, por ter me apaixonado por ele, quando podia ter casado de véu e grinalda com um ricaço, então só para me mostrar que tinha errado, escolhido mal, que preferi um banana, um corno, era infiel. Casei virgem e era bonita, bonita e virgem pode escolher homem, escolher, casar com o Prefeito e o gerente de banco como padrinhos, flertei com um abonado era bonita e virgem, rico aceita fácil seu filho casar com moça pobre desde que seja bonita, já pai de menina de classe não aceita genro pobre, da encrenca. Edson, era o nome do filhinho do papai, fui burra, juntei os trapos com um garçom, seduzida por sorvete de lentilha, demorei a abrir as pernas, ficava só nos amassos, fazer isto deixa os homens presos, na palma de mão, fazendo tudo que podem para agradar, hímen tem poder, deixar eles apenas acariciam o paraíso hipnotiza, permitir só que lambam um pouquinho, que cheirem a maçã deixa os homens apaixonados, acho que tentei fazer isto com outros desejos do Adilsom, não entregar é uma maneira de prender, mas eu não sabia disso quando era moça, sabia era que tinha medo de perder minha virgindade, parecia que era atacada por uma faca, era como ter um assassino em cima, um sorriso parecia um rosnado, o Adilsom era bonito, depende do ângulo,mas quando tentava, para mim ficava feio,desfigurado,sentia uma angustia de soterrada, não queria, sozinha, eu conseguia, desejava, imaginava o Adilsom todinho dentro de mim. Quando eu casei já não era mais virgem, falei que era, mas não era, eu mesmo tirado com minha escova de cabelo, na lua de mel esperei ate o ultimo dia das regras dificultei um pouco e o noivo nem percebeu. Quando trabalhei na boate Sensual, depois que me separei, sempre lembrava quando morava com a Dona Tere, e que na casa dela tinha uns discos do Abba,do Village People, dançávamos na sala eu a Tere e o Jonh Travoltinha, e no natal fazíamos presépios, era bom apanhar no mato o musgo verde ,tosquiar arvores, puxar sua barba, o musgo parece mesmo uma graminha, ate hoje acho que natal tem cheiro de musgo,eu falei para o Soli:“ Quer saber se um papai Noel e de verdade ou mentira cheire a barba, barba de Papai Noel de verdade tem cheiro de musgo Solivan”.Iamos eu a dona Tere e o Soli, o soli então gostava muito,era como soltar um pássaro, corria de lá pra cá, cheirava tudo, subia nas arvores para pegar bromélinhas e cipozinhos,tudo que parecesse com uma miniatura, que fosse dentro da escala do presépio e por ultimo íamos pegar um pinheiro era sempre um araucária, o pinheiro araucária é feio quando pequenos, magrinho de galhos que parecem um tentáculo, as folhas acabam finas acabam como um espinho, mesmo com de enfeites de bolinhas,de algodão de pisca-pisca, ficava feio, mas aquele feio que a gente olha com compaixão, aquele feio tão feio que da vontade de fazer carinho.Íamos também lavar roupa no rio apesar de ter tudo em casa, o soli ficava correndo atrás das borboletas amarelas.Quando era menina, fugimos da escola para ir ao rio, uma vez deixei que os meninos ficassem em cima de mim, uma fila, deixei, mas eles contaram para todo o mundo, gozavam de mim, a professora ficou sabendo, minha mãe ficou sabendo, apanhei,tomei uma sova, nunca mais confiei em ninguém, aprendi, faço tudo, mas escolho bem, não saio com um canalha, mesmo que deseje, todo o canalha é um retrógado, faz parecer que toda a mulher, todo o homem que se entrega é uma idiota.Assim espalha repressão no bar, envergonha o prazer, o marido que escuta o canalha leva esta repressão para a mulher para filhas. Para mim a única imoralidade do sexo e escolher mal. Sair com um canalha é um retrocesso obsceno e amoral é traição, como um comuna contribuído com a direita, é insectofilia, é transar com barata, é emprestar dinheiro para caloteio gabola, o malandro pega seu dinheiro e ainda te difama. Sabe não trabalhei muito na boate, lugar gostoso de pecar é no céu, no céu, porque no inferno o pecado é comum é sem graça, mas aprendi, aprendi muito na boate. Eu sou bonita, sempre fui muito, bonita e gostosa, todos me olhavam, os pedreiros, os bêbados, os ricos, os velhos, sou loira e linda, mas na boate perdia a sedução que tinha na rua, num baile, não só eu, todas, todas aquelas mulheres deliciosas, fora, podiam escolher homem, na boate, naquela luz vermelha enfraqueciam eram as escolhidas. Todas aquelas meninas num bar tinham os machos de quatro, era só olhar que vinham fácil vinham rastejando, na boate todas as moças tinham que se oferecer, dar descontos, pague por um e coloque em três lugares. Mulher bonita que sabe usar a cabeça e o corpo de verdade não fica na zona, na zona se inverte os poderes,são os homens é que ficam seletivos, cheios de nove horas, reclamam, colocam defeito.Logo que compreendi isto sai, na minha primeira noite que fui a uma discoteca sentir senti minha atração voltar e os marmanjos queriam lamber o chão que eu pisava com seus sapatos vermelhos, homem é tudo igual ,tudo igual,era desejada novamente, sim, fora da boate eu poderia escolher novamente, logo achei um advogado,Dr. Gustavo foi só fazer cara de triste, por ter perdido meu marido, não transar por algumas noites, deixar que ele me ensinasse o que eu já sabia, menti muito para ele, que mentir é a verdade essencial a mais franca e sincera declaração do que queremos ser, ouça sua mentira, a siga, seja o que a mentira ordena, e o caminho mais claro para alguém saber o que quer da vida.E pronto casei e casei bem.casei com um advogado, rodávamos São Paulo, sabe primeira vez que vi São Paulo, foi de passagem, em uma excursão O Soli parecia um abduzido vendo do disco voador a metrópole de Jeová. Fomos para Aparecida do Norte, lembro da basílica, da Rainha Negra, das salas de milagres cheia de fotos, muletas e muitas pernas, cabeças e braços de cera decepadas. O Soli comprou um monóculo e roubou cartões postais e uma caneta em forma de espingarda das lojinhas de lembrancinhas, roubou que eu vi, entrou num museu e cobiçou as pedras preciosas, visitou um zôo caseiro, num terreno vago entre os prédios, com onça, jibóia e um urubu rei encaixotados. E no almoço, ficamos admirando da grande janela do restaurante, a passarela e a basílica, era a foto do cartão postal roubado, milagrosamente viva. Eu ainda gostava do Adilsom quando casei novamente, mas casei,entrei na faculdade de enfermagem, tive meus casos, o advogado também gostava de ser traído, todos os homens gostam, pelo menos os normais gostam de ver sua mulher com outro, gostam gemem de prazer, ao dar a santificada a esposa para outro.Fiquei uma década com o Advogado ele, tinha apartamento, carro e com ele conseguia ser puta e mulher, nunca contei de minhas traições nem que tinha trabalhado em boate, acabou, mas eu fiquei com um apartamento no bairro da liberdade e uma pensão, e ainda somos amigos, acabou porque perdi a juventude, tive uma vida boa com ele, advogado ganha bem ensinando como cometer crimes, sempre dentro da lei. Dr. Gustavo só teve dois problemas na vida, um é que era traumatizado, mas isto ele resolveu ainda moço, acontece que tinha o membro feio, muito feio, mas veja a vida como ela é, quando jovem só pensava em fazer uma operação plástica para deixar seu pênis mais apresentável, e se tivesse dinheiro teria feito, tinha vergonha de mostrar, muita, só fazia no escuro comentava antes“ Gosto só no escuro meu bem” dizia para as raras parceiras que conseguia porque não tinha grana para as mulheres de vida fácil, mesmo as mais baratas tinha que escolher entre sexo ou um prato feito.Conseguiu esconder seu defeito por muito tempo,mesmo de seus companheiros de pensão, mas um dia conquistou uma mulher casada, Cecília,isto que era mulher, cheia de curvas, no auge,no esplendor, uma daquelas exuberâncias que estão no máximo um pouco mais e seria exagerada,mas perfeição esta sempre perto do ridículo mesmo, e aquela maravilha de fêmea miraculosamente aceitou entrar na sua pobre pensão, porem na hora que Gustavo quis desligar a luz Cecilia foi incisiva:“Quero fazer é no claro ou é assim ou nada.ou é assim ou nada”. Era muita mulher para dispensar, Gustavo constrangido resolveu obedecer, tentou se esconder, mas não teve jeito Cecília viu,viu: “Pronto, agora ela vai embora,perdi” pensou Gustavo, mas Cecília não foi, ficou é cheia de piedade, fez carinhos inimagináveis e gostou, gostou tanto que contou para as amigas e todas começaram a procurar Gustavo, já na segunda mulher com quem saio começou a sentir orgulho do meu membro deformado como o Quasímodo, ate mostrou para ao amigos da pensão e nunca mais teve problemas para arranjar mulheres,elas é que brigavam para ver ao vivo como era aquele membro feio que dava dó.
O segundo problema que o advogado teve na vida é que bebia muito, reclamei, mas discutia sozinha e o bêbado sempre calado, só uma vez respondeu, me olhou dentro dos olhos e disse duro: “ Falsa,você é uma falsa, pare de se encher de pílulas que eu paro com meu uísque.” Começamos a beber juntos, enchi a cara por décadas, meu marido bebia apenas a noite, eu solitária naquele apartamento dos sonhos começava a beber vodka pela manhã, envelheci, perdi minha beleza.
Só consegui parar quando nos separamos, fiz tratamento, lembro quando andei pela cidade pela primeira vez sóbria, e vi as ruas claras, coloridas, pareciam novas, estava tão acostumada de ver tudo bêbeda, este era meu estado normal, que a sobriedade foi meu estado alterado, sentir a lucidez depois de tanto tempo foi uma viajem psicodélica, me senti tão feliz, tão bem, que me lembrou a primeira vez que cheirei pó. Era perto do natal, nunca mais soube da Dona Tere nem do Soli, recebi tristes noticias do Adilsom ouvi que tinha voltado para o Paraná e que a mulher dele tinha o enganado bem quando se recuperava de uma cirurgia no coração,a safada deixou ele na cama e foi em uma destas festas de escritório e beijou o chefe, ninguém tinha visto, beijo escondido, mas ela voltou e orgulhosa de seu feito e contou para as amigas, quanto o Adilsom soube pegou os fios elétricos da televisão, do ventilador, do ferro de passar, trançou uma corda e se enforcou. Faz uns anos comprei um vinil estranho na praça Dr. João Mendes era a marcha fúnebre de Chopin, mas em ritmo de valsa quando soube que o Adilsom tinha se enforcado coloquei o disco na vitrola e dancei sozinha na sala, ainda amava o Adilsom. Sempre amei.

terça-feira, 20 de novembro de 2012

O poeta e o milagre

Vilela sonhou realizar
uma operação que o transformasse
em hermafrodita,
multiplicou pães por mitose
andou sobre ovos
e ordenou.
Levanta-te e anda poesia
és das artes, a mais fácil de ressuscitar
porque as outras, as outras nem morreram ainda.



segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Livros sobre Hiroshima e Nagasaki

Quero livros
Que deixe quem ler bêbado,
que viciem
e sejam cheios de propagandas subliminares.
Quero livros vasodilatadores,
que causem priapismo,
e se picotar suas páginas dê para fazer um cigarro de maconha.
Quero livros que dividam o mundo.
Livros que sejam excomungados,
que matem Deus
e que Deus revide escrevendo seu terceiro livro.
Livros com sabor de carne
para serem devorados por leões.
Livros que entrem como fantasmas dentro dos computadores.
Livros sobre Hiroshima e Nagasaki.
Livros nasçam em pés da marula e macieira
e que os livros vermelhos floresçam nas papoulas.
Livros que tenham cheiro de cio e cartões de crédito.
Que façam as mulheres se masturbarem.
Livros venham em formato de falo
e vibrem e que suas letras façam as vezes de espermatozóides e fecundem úteros.
Livros que gritem, que se aumente o volume das letras,
até elas deixarem os olhos surdos.
Quero livros que alucinem quem se atrever a lamber suas páginas.
Que seja pego no antidoping pelas substâncias deixadas pela leitura no sangue.
Livros pretos que voem com urubus.
Livros que explodem quando abertos.
Quero livros cheios de veneno,
e só passar a ponta do dardo na capa, pegar a zarabatana
e sair para matar macacos na selva da Venezuela.
Livros que possam ser transplantados no lugar dos corações e rins, e que se coma suas letras amargas com arroz.

Solivan

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Ipê amarelo ou inveja

Ver
bandos migratórios de flores amarelas
pousarem em teus galhos na primavera.
Teus ramos sobrecarregados transbordarem,
angustia-me.
Ipê
dói tua beleza.
Tenho vontades mediúnicas
de possuir teu cerne,
descobrir
de onde nesse punhado de terra
retira esse teu seu amarelo ofuscante.
Irrita-me
não poder florir
na palma da mão
e antebraços
com um galho teu.

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Meus arames farpados de molho em um amaciante



Vou recolocar o mesmo som.
Virar do avesso um rosnado
e por meus arames farpados de molho em um amaciante.

Com esculturas diluentes na boca
mudar seu nome para maçã
e encaixar a eternidade dentro de um segundo,
então contemplar minha obra:
bela e frágil como o dedo mindinho de um bebê.

E pensar no maior volume que conseguir pensar
uma canção:
Nas vendas negras coloquei algumas estrelas,
nas mordaças um sabor de mirtilos,
E dancei com os ouvidos acariciados por sinfonias
e dancei
com ao meu corpo sensível como um falo
no cosmos tão feminino.

Solivan

terça-feira, 11 de setembro de 2012


Elogio a tua comida

Amor,
aconchego-me
no afrodisíaco
e quente odor da cozinha.
É bom vê-la
salpicar
um pouco de mar
de oliveiras e vinhedos
sobre a salada.

terça-feira, 4 de setembro de 2012

Aleijadinho
A carne e a pedra

Era só o que fez, carne tive que procurar
pois não havia corpo só obra quando pensava
no Aleijadinho à Medusa inversa, ao olhar
para a pedra ela em homem se transformava.

A roxa meia mão esculpia de mão cheia
via profetas por dentro da ostra-pedra
sua idolatria não peca, pois, encandeia
e por alquimia o divino em nós engendra.

Quem o cerne vestiu de Cristo martirizado
na face prendeu toda a dor de quem foi cruz
diante do espelho sem braços e bêbado
fez com estátuas torsas metáforas-luz.

E corou o cerro pôs neste altar igreja
deu mão que não teve ao monte num alvo lume
lá a hóstia dada pela estátua alveja
o peito sudário e seu semblante imprime.

O retábulo move-se, a ornada ação
voa sacra e graciosa como sólida música
no céu com anjos crioulos a premonição
a nossa negra aparecida lúdica.

Onde caríatides sustentam o esplendor
com músculos fortes de Atlas, não de Sansão
fez o gesto eterno e santificou o escultor
a rocha do caminho seu mel, fel e pão.

No leitor tela do poeta quis pintar
com palavras, tinta da minha arte
barrocas visões e emoções a girar
como febris imagens dantes da morte.



Poema de Solivan

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

O dia que aprendi a voar(um conto infantil)



O dia que aprendi a voar


Acho que é feito de varinha de condão o botão que liga a TV, porque quando giro o botão, num gesto mágico, aparecem desenhos de bichos que falam e andam como nas fábulas. Deito no sofá magrinho e ossudo da sala, para assistir um cavalo vestido de zorro que corre para salvar uma moça em uma diligência desgovernada, puxada por seis tartarugas, depois um gorila que vive em uma vitrine, e o episódio que o Fred Flintstones inventa um automóvel movido a peixe-elétrico.
Quando começa o jornal, me espreguiço e tenho a ideia de tirar o botão da TV e colocar em uma revista em quadrinhos. Tento ligar o gibi, mas não funciona, os desenhos não se mexem. Largo minha experiência no chão da sala e vou espiar a ovelha que se esconde do lobo na cozinha, ela parece uma nuvem, sempre escondida atrás do fogão de lenha.
Abro a janela e vejo a cidade de Dois Vizinhos. Moro em um apartamento em cima de um posto de gasolina. O meu pai é uma estátua de pedra e está no pátio atendendo um carro de corrida, o formula 1 do Emerson Fittipaldi que estacionou, pediu para abastecer, foi a para a borracharia calibrar os pneus e saiu ultrapassando todos os outros carros.
Sinto vontade de sair, desço contando os degraus 1,2,3,4,5,6,7,8,9,10,11,12,13,14. No quintal persigo uma fada com asas de borboleta 88, a sigo até quando ela foge para o bosque das sete árvores ao lado do prédio. Tenho medo de entrar, porque neste bosque se esconde um lobisomem com corpo de chipanzé e cara de cachorro louco. Corro com medo, só me sinto seguro quando subo no colo de meu pé de cinamomo, nele salto de um lado a outro, faço de um galho meu cavalo, dali vejo a maior das sete árvores do bosque, é seca e depenada, mas tão grande que pousam nela, além dos passarinhos, aviões e anjos da guarda.
A estibordo noto meu tio Gelfe, o caçador. Aparece furtivo como um coelho da Páscoa, rondando com sua espingarda um tesoureiro, passarinho que tem a cauda parecida com uma tesoura e estava no último galho do pinheiro. Meu tio se aproximou, fechou um olho para ver melhor, e fez sua espingarda dar um grito, o tesoureiro caiu como uma lágrima. Como não vi sair nada da espingarda, nem uma pedra como sai do estilingue, acho que foi o barulho que derrubou o passarinho, machucando o ouvidinho dele, que era muito pequeno para um barulhão daqueles. Desci do cinamomo e o apanhei do chão, ele não sabia mais voar, não sabia mais cantar, nem seu coração sabia bater. Soube que estava morto. Como esta tal de morte deixa as coisas burras!
Meu tio caçador disse que estava muito atrasado, e que eu podia pegar o passarinho, porque ele precisava ir atrás de um tubarão-branco que estava escondido naquele mato, para tirar da barriga dele com uma cesariana, os anões, índios e crianças que tinha comido lá na cidade Sul. Eu já tinha tentado muitas vezes pegar um passarinho com a mão, mas eles sempre fugiam quando eu chegava perto, era como tentar pegar uma música. Fico maravilhado por conseguir segurá-lo e descobrir como era seu olho, vistorio seu bico, abro e analiso suas asas, depois o coloco com cuidado no chão, e faço uns feitiços, digo três vezes: te benzo e te curo com rabo de burro, e faço o tesoureiro ressuscitar. Como ele fica muito agradecido me pede para fazer um pedido. Respondi que desejo apreender a voar. O passarinho me falou que seria fácil, porque já tinha ensinado isso a todos seus filhotinhos, e logo começou a me dar lições de como bater os braços, depois de algumas tentativas corremos pelo pátio, e antes de chegar à rua, consegui agarrar o vento com minhas mãos e levantei voo, fui subindo, subindo, sobrevoamos os telhados, passamos a praça, fomos até o fim da cidade, paramos para descansar em um fio elétrico. Assim que o céu começou a ficar colorido pelo entardecer, voltamos para casa voando. Entrei no apartamento pela janela do meu quarto.


Texto e ilustração de Solivan

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Buquê feito de flores de giletes e agulhas



A noiva tinha um
buquê feito de flores de giletes e agulhas,
e algema nas mãos,
ninguém quis apanhar, ninguém quis.
Hoje as flores de giletes e agulhas
estão em sua sala triste,na estante, ao lado da tv
dentro de um vaso quebrado.
Esta lá a muitos anos.



Solivan

segunda-feira, 13 de agosto de 2012


A desconstrução do boi

Matar
o martelo afaga a testa do boi
bem entre seu olhar negro e bondoso
cheio de estrelas brancas
e a faca procura um resto de vida
escondida
dentro do seu pescoço
e como um sopro frio
apaga as estrelas assustadas
no olho do boi.
O corte tem um gosto
oxidado e gelado da lâmina
língua abusada metálica dentro da carne.
Do talho
ubre de ordenhações rubras
saem abstrações brutais
de um coração se debatendo
caem vermelhos, brilhos, lampejos
sobre o alumínio
com digitais e moscas verdes.

Estremecimentos
o sangue abundante acomoda-se
aninha-se
transborda pastoso, calmo.
Morte
ainda sai um colar de rubis
no fim lágrimas de um olho vazado.

Estaquear
erguer no galho da cabriúva
a rês de cabeça para baixo
quatro cascos suspensos
pelas pulseiras rudes
de corda de sisal
estranha flutuação de alma



Corear
arrancar o branco
colorir num processo inverso
de retirar
deixá-lo rascunho
de boi a crueza de um esboço
vermelho, inconcluso
riscado de nervos brancos.
Pendurado
ante o matagal enrediço rasurado de inverno
a suave sombra dos ramos
parece arder sobre a cor carne-viva
como mão áspera sobre queimadura.

Decepar a cabeça
pô-la sobre a mesa
o sangue procura os veios das tábuas.
Um corte no abdômen
abre-se num fácil sorriso
e vomita intestino pardo e fedido.
Na bacia.
após o parto
o coração dorme
sobre as vísceras.
O boi morto ainda adula
seu odor de presa
deixa o ar quente e ensebado
e espalha felicidade
moscas varejeiras zunem
coroam os coágulos
como esmeraldas ávidas.
O rabo do cão sorri.
Um menino, pernas e braços finos
magro de barriga grande
olha o pai
com um sorriso atento,
dentro dele uma alegria inocente de oncinha.

Carnear
a faca apaga
os membros dianteiros
deixa no lugar a terra que se escondia
atrás deles.
Abre-se a espinha.
Os posteriores ficam balançando enforcados
após recortados,
retirados
restam dois cascos, dançarinos
de um boi invisível, desconstruído.


Poema e ilustração naif de solivan

segunda-feira, 30 de julho de 2012


O livro das inversões

Fel de abelhas, mel de cobras, perfumes sinfônicos e um lindo bale de estatuas, ovelhas com pele de lobos que enganam o lobo com pele de ovelha, desenhar poemas,escrever esculturas, cultivar laranjas com gosto de maças, abutres com plumagens de pavão, peixes com sabor de pássaros,pássaros com sabor de peixe,Saci caucasiano, urbano,Saci com prótese,Saci inglês e vídeos de antílope que caçando leopardos e de uma lagrima verteu a imagem de Nossa Senhora,jogo de xadrez sobre uma folha em branco, asas para nadar, barbatanas para voar, uísque para manter a sobriedade no caos e peiote e Santo Daime a lucidez,um pássaro que voa preso em sua gaiola,blusas de neve, cachecol de iceberg, dishdash tecido com fogo, andar sobre o atlântico, atravessar a rota 66 a nado, pênis femininos, vaginas masculinas e pomba da paz arrulha sua metralhadora de rajadas com trechos da quinta sinfonia na guerra justa, seus tiros extirpam tumores e apendicites, andar com as mãos,datilografar com os pés, receber dos credores, tenor mudo,diamante cariado e o cego, surdo, mudo, sem olfato e tato,que acordou hermafrodita e com os ouvido de Mozart, língua de Vatel, olho de Picasso, olfato de Grenouille e tato de Casanova, sal de cana, açúcar de salinas e no alagamento de Roma, Nero cantou capítulos sobre Noé e o dilúvio, mordaças para os olhos, vendas na boca,urubus que bebem néctar e colibris comendo carniça, será que é porque na terra em que foi escrito o livro das inversões as flores tem odor de cadáveres e a decomposição de néctar?cicuta nutritiva e legumes mortais e o Titanic flutuou e se partiu entre as nuvens e os passageiros caíram na mesosfera e morreram por causa do ar rarefeito, cosmonautas americanos, astronautas soviéticos e a pegada de Neil Armstrong nas fossas abissais, lindos tubarões e tigres voando nas correntes ascendentes, guepardos imóveis, pedras que se alimentam de outras pedras e entram no cio e o ataque nuclear que fez nascer instantaneamente em Hiroshima 100.0000 japoneses e mais 74.0000 em Nagasaki, que felicidade ver tantos japonesinhos recém-nascidos sendo amamentados, logo estarão sorrindo e engatinhando, aeroporto onde pousam e decolam navios e submarinos, aviões que navegam pelo indico,trechos da bíblia para serem usados como prova para a teoria da evolução e o Mar Vermelho que dividiu Moises em dois, já as águas andaram sobre Cristo e na peste ateu se torna cristão e cristão ateu,deserto do Amazonas, floresta do Saara, plantação de ervas daninhas, cadáveres sepultados a sete palmos acima da terra,tiranossauros que descobriram um raro fóssil humano de um belga com milhões de anos,exames de sangue feitos com telescópios, cosmos visto por um microscópio, avenida com luzes que emitem escuridão e lojas dos sapatos para usar de chapéu e chapéu para os pés,colher tangerinas em cedros, apanhar figos em pinheiros e as inversões do aço não que voa ou flutua, mas dele se fazem aviões e navios, corujas diurnas, girafa com síndrome Bull-Nixon,enterro decorado com motivos havaianos e um avião que sobrevoava os Andes com um time de rugby uruguaio caiu no jardim do Éden, todos foram encontrados acima do peso, reproduzindo-se e brincando com leões,para facilitar o resgate devido a resistência dos mesmos a abandonarem o local familiares obrigaram a todos os acidentados a comerem maçãs,petróleo branco, corvo branco, feijão branco e arroz e araras negras,suçuaranas pintadas e um jaguar pardo, lírio com trinados, canário perfumado, bonsai de sequóia, Europa negra e África branca, tuaregues em iglus, esquimós em caravanas pelo deserto, dromedário polar, travesseiro de pena de ouriços, Sphynx de pelos longos, Gnus solitarios e manadas de tigres, círculos quadrados, triangulo retangular ,pintores daltônicos, poetas disléxicos, barroco singelo, minimalismo rebuscado, odisséias de Basho, haicais de Homero, dias escuros e noites iluminadas, pólos tropicais,equador polar, planícies do Himalaia, pradaria dos Andes, pintor que olha o mar e escreve um poema na tela,plantar atuns, criar tulipas,Sashimis bem passados,calandra que só canta presa, milhões de óvulos fecundando um espermatozóide, céu cheio de peixes, oceanos com aves e portanto pescar cardumes de andorinhas que migram para passar o inverno no norte e ver bandos de sardinhas voando para o sul, alem da magnífica migração das asclépias que cruzam os Estados Unidos ate o México para encontrar as borboletas monarcas,cálculos com letras, escrever com números, prever o passado e recordar o futuro, um filhote criando uma ninhada de mães,ver as horas em termômetros, temperatura nos relógios e quatro paredes pregadas em um quadro, aumentar com subtração,diminuir com soma, dividir com multiplicação, multiplicar com divisão, perfumes feitos com espinhos de rosas, com as pétalas laminas, verão frio e primaveras sem açucenas, mergulhador pela via láctea e Índios Tlaxcalas em Auschwitz, judeus sacrificados em Teotihuacán e Davi que poucos anos após acertar com uma funda a cabeça de Toulouse-Lautrec partiu com seus aliados nazistas e trouxe duzentos prepúcios de filisteus para o rei Saul, harpias com bexiga natatória, Netuno no Olimpo,Zeus passeando em um recife de corais, latido de gato,jaguatirica com osso hióide alongado, espelho que reflete a sua direita,cachoeiras negra, mangueira de incêndio com alta vazão de gasolina, lança-chamas de bicarbonato, fogueira de extintores, dragão que expele água pelas ventas e uma fonte romana com estatua de um cuspidor de fogo, guizos em caninanas, cascavéis constritoras, carnavais tristes, funerais festivos, tíbia para os braços, o úmero da coxa, lâmpadas em volta de uma mariposa, Iara desafinada, posição de sentido em frente ao altar, genuflexão diante do general, prisma em preto e branco, hipotermia em Mercúrio, insolação em Plutão, sinônimos opostos, antônimos semelhantes, Lascaux com pinturas digitais e se teu olho direito peca fure o esquerdo, homens eternos, deuses mortais, Jeova com problemas cardíacos , anjos tuberculosos e digitar poemas no piano, e-book de papiro, escavar ate encontrar o céu azul ou a lua,equações esotéricas,cães traidores, caubóis que levam um rebanho de bagres para o Texas e nanadas de zebras com guelras que cruzam o atlântico, cachaça escocesa, banana islandesa, ressuscitar na sexta feira santa, morrer na páscoa e a masturbação é reprodutiva na fertilização in vitro, Maná e maçã do Éden em supermercados, ambrósia e néctar de diversas marcas nas gôndolas, tem fígado fresco de Prometeu todo o dia no açougue, Vinho de Jesus na sessão de bebidas e sal da mulher de Ló em promoção, sol de água,sol negro,sol congelado, sol minúsculo,sol prateado,sol noturno,sol em orbita,sol súdito,sol que nasce no oeste e se põe ao leste e gafanhotos mamíferos, leões anfíbios, sombras orgânicas, corpos etéreos, ilha de Baikal, aquário de rouxinóis,viveiro de betas, lambaris em postes de luz, bumerangue linear,órbita triangular, lua diurna,lua dourada,bramir para lua,galo cantando para lua cheia,lua quadrada, da lua pode se ver a terra na minguante,Rá deus lua e São Calígula, libelo para sinfonias,opera instrumental,cavalgada das sereias, Valquírias de Capri, Torre Eiffel no corcovado e Cristo redentor em Paris e o novo testamento escrito por Charles Darwin e o velho por São Nicolau Copernico das Orbes Celestes, útero masculino, braile para mudos, libra para cegos,escalar pradarias, perfume da ametistas, jóias de mirra, jazzida de coprólitos,tempestades com céu de brigadeiro, poente matinal, gelo liquido,vapor solido, lago gasoso e um pedestal colocado sobre a estatua, Anfião em Jericó, Josué em Tebas, Absalão e Dalila, Sansão e Tamar, septo ocular,ciranda de anciões, voar ate o centro da terra,tragédias com palhaços,comedias tristes, gol contra, tiro pela culatra,fogo amigo, mão inglesa, lagrima de alegria e islâmicos rezando em direção a Wall Street, miragens reais, nado sincronizado em incêndios e a superpopulação de monstros do lago Ness, General Gandhi, Monge Rommel, Krishna sambando,Anúbis tocando jazz, Miquerino sepultado em Teotihuacán e em Gizé ficam as pirâmides de Quéops, Quéfren e Montezuma, estrelas subterrâneas, caviar de vison, casaco de pele de esturjão,os braços da Venus de Milo, olho de siso, polidactilia dentaria, canino nas patas, garras na mandíbula, Little Boy sobre tróia, Fat Man sobre Cartago, assistir livros, ler televisão e um casal de cisnes que formam um esôfago com os pescoços, panda colorido,pingüim ártico,acender a luz para ler em braile e uma iluminura onde uma cruz leva Jesus nas costas e outra em que a faixa de pedestres anda sobre os Beatles,tucanos hibernando, “ Ata-me ama e mata” e “luz azul” são palíndromos onde o inverso tem o mesmo significado e Tamoios descobriram a Europa, fogo congelado,gelo fervendo,Aníbal atravessou a cordilheira dos Andes e San Martín os Alpes, perola na vesícula, bezoar de ostra, mugido de galo,Papa Saladino I, inquisidores hereges mataram bruxas santas e condenaram Joana d'Arc e Giordano Bruno a morrer num freezer, pigmeu com gigantismo pituitário, hóstias em sabores tutti frutti e hortelã, sentar na TV e assistir o sofá, escalpos hebreu, prepúcios apaches,Louvre Supermecados, Wall Mart Museum, para ir ou voltar, bicicleta,para pregar ou despregar, martelo,para iluminar ou escurecer, interruptor, para abrir ou fechar, chave,para cantar ou calar, boca, para ver ou ocultar, pálpebra, para soco ou carinho, mão, lobisomem siamês e o porco dos ovos de ouro, João reanima sete,cachinhos prateados,branca de neve e os sete gigantes, brinco para o anular, pescar cavalos, brindar derrotas, assoviar desenhos, observar aromas,ordenhar turmalinas,sambar um tango, mar doce, rios salgados e concha para escutar quasares e pulsares,Ofélia envenenada,Julieta afogada, Prometeu rola pedra, Sísifo sem fígado,Sansão grego,Hercules Judeu, Ahaverus sedentário e “O sussurro”de Munch,Anel de carvão, termoelétricas a diamantes,abatedouro de couve-flor,coelhos hidropônico e no olho por olho doe sua córnea, Laurel gordo e Oliver Hardy magro, Cacto aquático e as partituras de Niemeyer para Brasilia, piano-doce, flauta de cauda, galos voando entre as nuvens, Floresta urbana,soprano grave,sucuri anã, cantar pelo ouvido e a descoberta petróleo na exosfera, Evangelista Maomé, Alcorão escrito por São Paulo e kamikazes que jogavam seus destroyers sobre os aviões americanos, tigres herbívoro, hindu carnívoro, Spartacus dos Palmares , Zumbi gladiador,seiva O+ e se ouvir ao inverso o poema “litanias de satã” escutara a mensagens subliminar “eu amo Cristo”, polvo de Atacama, suco de alumínio,canino de vaca,chifre de anjo, Bar Mitzva de Hitler, Baco estóico,São Sebastião Crucificado, Abelha diabética, tubarão com pressão alta,Ciclope de dois olhos e Midas que transforma tudo que toca em ferrugem,varal de roupas em Atlântica, juba de tigre, viagens espaciais para ver navios naufragados, lã de serpentes, camaleões tosquiados e para escrever um bom poema raciocine com o coração e deixe as emoções para o cérebro.

Ilustração e poema de Solivan

quinta-feira, 28 de junho de 2012


A Casa Azul
da curandeira Iracema

Entre outras iguais
cercada por um colar de velhas ripas
quebradas, caídas, apodrecidas
com manchas brancas de calfino e fungos
qual uma velha dentição
com um jardim
miscelânea de flores, mato e lixo
bordados sobre um quintal de terra.
Ao fundo
de uma vereda
ladeada por tufos
de grama preta e pedras
vejo a casa azul.
Entro e o sol
estende seu calor preguiçoso
e amarelado pelo chão
e sobre ele
hortênsias, guinés e capim
estampam seus sombreados escuros
e o caminho
torna-se um tapete tigrado.
Enquanto ando
vejo a terra tecer azaléias
reger em acordes lácteos
e dourados esparsas margaridas
e o aroma da cidreira
tinge o peito de um verde suave e doce.
De um canto pedregoso
vem o amarelo ofuscante
de muitas rosméias, são quase lâmpadas
(são nessas flores que os pintassilgos
alimentam a cor de suas penas)
entre elas
alguns picões e guanxumas
sacos de supermercado, frascos de Q-boa.
Olho a buganvília
presa no pilar da varanda
caem sobre o beiral num arco celeste
cintilações violetas
sobre um mar de folhas verdes.
À frente da casa
velhas roseiras vermelhas e brancas
projetam suas belas sombras,
arabescos florais
na parede azul
sobre os veios
e nós de araucária.
Um pé de jasmim
plantado no centro de um pneu velho
chama-me pelo perfume, sensualmente
minha alma vai até ele
segue descalça
pelo solo quente
abraça-o nu
e beija, a língua escandalosamente
em sua flor branca.
Eu sigo reprimindo meu desejo
sento-me num banco de tábuas
na varanda.
Varanda que mantém a manhã
por todo dia, cativa em seu interior
guarda-a fresca e límpida
com um sabor térreo
como cacimba
faz com a água.
Presas na parede azul
samambaias profusas
caem em delicadas rendas pelo ar
feitas pelas mãos simples
das raízes a colher o verde da terra
para suas majestosas jubas
plantadas em coloquiais
galões de tinta
e latas de leite em pó enferrujadas.
Latas
que também dispõem-se como favelas ou cemitérios
ao chão, indisciplinadas e abundantes
com begônias, guinés, rabos-de-gato
e avencas.
Potes plásticos
com dedos-de-anjo e violetas
pousam em cima
de um baixo muro lateral
e ao seu lado
está uma bacia de alumínio
cheia de mandiocas recém colhidas
ressentindo a terra.
Pelo lado de fora, junto ao tanque de lavar roupa
num canteiro de tijolos
estão Espadas-de-São-Jorge
e arqueados amores-perfeitos,
no chão úmido e esverdeado pelo musgo
rabiscados pelos prateados passos
das lesmas.
No pátio estende-se
o colar de contas
o sorriso colorido
de um varal de roupas
até um abacateiro.
Da área, por entre as plantas
penduradas no teto e no muro
enxergo os canários-terra
presos em suas gaiolas
no tronco de um cinamomo florido
com odor de mel, mel de mirins.
Num estranho retorno
aos galhos que sempre foram dedos
de uma mão aberta,
os canários cantam na árvore
e a música
os tornam polidos e radiantes,
seus pequenos corpos
cintilam orgulhosos amarelos
seus sons douram meus ouvidos.
Fico nessa varanda
entre
o aroma pungente branco do jasmim
e o canto dos canários
as samambaias, o jardim
a sentir-me
dentro
da música da poesia
enquanto espero reverente
pelas bênçãos de Iracema.
Entro na casa azul
pela escura e enfumaçada cozinha,
perfurando a sombra
dedos de sol penetram pelas frestas da parede
dentro deles brinca a fumaça
sangue etéreo em circunvoluções.
O indicador
passa rente
às cascas espiraladas de laranja
que secam
em cima do fogão à lenha,
lançando sobre elas
asteriscos de luz.
O anelar
estilhaçado cai
sobre as garrafas que luziam
e faz nascer florzinhas de macela de luz
frágeis a tremeluzir
nos cascos
cheios de ervas, raízes,
óleo de capivara e babosa
em cima da prateleira.
Entre as garrafas
a imagem de São Jorge.
Passo pela sala
a parte mais clara da casa
com seu sofá de corvim vermelho-marmoreado
rasgado, a espuma dele aflora
rosas sujas e poeirentas.
Atrás do sofá um quadro de Noé
e pôster do Grêmio campeão gaúcho.
Na estante
antiga, escura, riscada
fora do prumo e de portinholas sempre
semi-abertas
bibelôs e fotos ginasiais
(com globo e livro abertos)
sobre crochês vermelhos,
violetas sem flores
em potes de margarina
ficam uma na frente
de cinco livros vermelhos
empoeirados
e outra, em cima
da velha televisão.
Ao seu lado
há num vaso cerâmico
decorado com flores esmaltadas
desbotadas rosas de plástico.
Do rádio
saía a voz grave de um programa
policial.
Distraio-me ao olhar
pela janela que dava aos fundos
da casa
via ramas secas de mandioca
e sobre elas
sabiás e pardais
frutos livres que vêm e vão.
Após eles
vestem toda a parte de trás do lote,
as folhas do chuchuzeiro
iguais vinhas
cobrem a cerca de arame com suas escamas verdes
e como um menino
brincando num quintal
sobe nas tábuas velhas de uma patente e
no pessegueiro.

Na moradia, não havia portas internas
passa-se por uma cortina,
de tecido grosso e encardido, com estampa de bosque
que cheira a incenso
impregnada de pó, igual a asas de uma mariposa.
Entro às cegas
pelo altar zinabreado
respiro
o ar pesado das orações,
sinto um odor resinoso
sabor de prata enegrecida
cheiro parecido com o das velhas igrejas.
Sento-me com veneração
em uma cadeira de palha trançada
e as rezas de Iracema
murmuram como um riacho
em minha alma
o delicado vento
que fazia suas mãos inchadas e morenas
ao fazer o sinal da cruz por dez vezes
passam pelo meu rosto.
Segura arruda
e um terço gasto feito de contas azuladas
(de sementes azuis colhidas na sexta-feira santa
à beira de um córrego
de um arbusto chamado Lágrimas de Nossa Senhora).
Escuto somente a mística de
suas palavras rasuradas, incompreensíveis,
enquanto seus dedos pousam
sobre minha cabeça,
sinto o calor suado das palmas brancas de suas mãos
morenas
na minha fronte.
A sensação lembra-me folhas de hortelã
porque o que penetra em minha têmpora
é um carinhoso frio verde.
Olho seu altar escuro
no centro, num antigo calendário amarelado
do Sagrado Coração de Jesus
em cima de uma mesa pequena
sobre uma toalha rendada
a imagem de Cosme e Damião
à frente balas, como oferenda
outra de Iemanjá, com o olhar altivo
manto azul-celeste
cheio de estrelas do mar.
Ao meio das imagens
no copo d’água
três ramos de samambaia, uma rosa
e um jasmim.
E saio
da casa azul,
da sua penumbra interna
nos meus olhos, na minha face
sinto o calor e a claridade branca
ofuscante do quintal.
O sol me acaricia.


De Solivan

terça-feira, 19 de junho de 2012

O cubo

Não sei se é real ou sou um prisioneiro vivendo numa ilusão,
mas me sinto confortável, apesar das luzes, de sua nitidez quase
ofuscante, ácida para as sombras. Gostaria de recolher um pouco
de enorme escuridão à minha volta para maquiar a velhice dos meus
braços, incomodam-me estas duas cobras velhas, rápidas e furtivas,
antebraços com sardas marrons, pele ressecada e puída.
Já meu rosto, escolhi não ver o monstro enrugado no espelho.
Queria ficar entocado na escuridão, quanto ao resto, já acostumei,
a solidão, diria até que me delicia, mas ao entrar neste cubo.
Vim pelo irreal
as nascentes da saliva secas.
O peito cheio de palavras mortas
como peixes apodrecidos no peito
seu odor besunta minha boca.
As mãos inquietas
tamborilavam a agonia.
A gema dentro do crânio
gorada.
A porta fechou com zunido
de samurai cortando
a manhã sedosa com sua espada.
Estava no estômago de um pássaro mítico
entre estrelas.
Após Plutão
refreado pela gravidade do sistema solar
senti o tênue rompimento do cordão umbilical.
Apreensivo
olhei a terra dando voltas descontraídas
mosca ingênua
em frente ao camaleão solar.
E Fiz uma oração azul.
Em nome do Pai do Filho e Espírito Santo




Em nome do Pai do Filho e Espírito Santo
Amém


Tive um breve êxtase, quando adquiri confiança em minhas asas, era o argonauta precursor, que colhera no fundo do universo a história perdida da humanidade, desde sua concepção, provar a teoria na qual é possível capturar as imagens do passado, pois se vemos o brilho de uma estrela que morreu há milhões de anos e portanto, vemos apenas seu passado que chega a terra, é provável, que se formos aos confins do Cosmo poderemos capturar todas as imagens do passado da terra, resgatar mamutes, batalhas, heróis crucificações, povos e trivialidades como um chinês rindo, preciso engolir tudo e voltar com a barriga cheia de imagens. Maravilhado com o Cosmo, passei pela primeira nebulosa. Bilhões de ouvidos esperavam beber minha descrição estudada, pasmo, não consegui moldar o ar dos meus pulmões, esculpir palavras claras, só balbuciei as interjeições disformes do deslumbramento. Mas logo o Cosmo ficou tedioso, nem olho mais esta besteira colossal. O que vejo, quase sempre não difere muito de olhar pela janela em uma noite estrelada. Estou enojado desta imensidão cheia de um interminável e inodoro veneno escuro chamado vácuo, que esteriliza a vida, o Cosmo inteiro é cianureto, fogo ou colisões, que procura e detetiza tudo o que é orgânico e o mineraliza.Vi o incontável, vi o interminável, e ele estava inundado de maldade, nele não havia um só lugar, um enclave, onde a vida pudesse ser cultivada, estamos sós. Inquieto à procura de um passatempo criei teorias.

Sobre a menor partícula da matéria e renovação
“O Big-bang expande, depois contrai a matéria
num ciclo eterno. É a pulsação do coração de Deus”.

- A matéria pode ser dividida infinitamente, há sempre partículas menores, formando uma maior e qualquer substância micro ou macro é complexa com inúmeras formas e
componentes, sejam elas um planeta ou uma partícula.
- Há sempre vácuo entre a matéria, mesmo as mais condensadas, por isso é possível encolher um corpo cada vez mais (de fora para dentro). Mas não é a matéria que encolhe e sim o espaço vácuo entre ela, por isso a densidade continua a existir.
- A matéria é elástica, quanto mais se retrai, mais irá se expandir e tomar espaços (de dentro para fora). A matéria mais comprimida é levada ao excesso de expansão e o excesso de expansão a transforma em matéria negra (tão pequena que atravessa o vácuo de outras), porém, a matéria expandida ou condensada exerce a mesma atração gravitacional.
- Buracos negros são agentes de renovação, levam a matéria para um estágio primordial. Seu empuxo atrai corpos, depois outros buracos negros até formar um macro buraco negro dominante, que comprime as galáxias e restitui a força que a expansão dilui, então explode e faz renascer o Cosmo.
- O Cosmo contém dois ou mais desses macros buracos negros, o Big-bang não foi
uma única explosão, estrelas mais velhas que o universo conhecido são oriundas de
uma explosão mais antiga, há troca de substâncias entre blocos cósmicos, assim não há
perda de matéria.

Então veio a irritação, nada mais conseguia fazer.
Eram galhos, heras desfolhadas, ressequidas pelo tédio
as artérias e veias que emaranhavam meus ossos.
Tatuei nas paredes, risquei na pele
Flechas
Palavrões Jogo da velha
Facas Desenhos obscenos
Coração rasurado, escolhi um canto de pássaro para decorar um silêncio
denso e irrespirável como gás, mas aquele canto de faíscas prateadas o explodiu, recebi um coice gasoso no peito, que quebrou as costelas, esmagou o coração de minha alma. Nunca senti tanta tristeza, agora amarro o silêncio com vozes da multidão, do trânsito, estes sons me fazem sentir bem, diminuem a solidão, adormeço ouvindo, nunca mais, nunca mais, uma só voz. Desejava ainda ser o herói que todos esperavam, mas não conseguia, a absurda falta de acontecimentos me impedia, meu orgulho estava oxidado corroído, e sem o suporte do orgulho a espinha não consegue deixar o corpo ereto. Passei a ser cínico e amargo, escarnecia a humanidade, aliás, nem somos humanos ainda, somos híbridos de instintos siamescos apenas atenuados, semi-selvagens, uma raça na puberdade, cheia de ereções, que precisa conquistar, derrotar, de júbilo não de paz, encha de paz e segurança a humanidade e os índices de suicídios aumentam. Como híbridos não temos a verdadeira liberdade do selvagem, que está na luta franca dos animais pelo poder, uma luta que longe de ser apenas a lei do mais forte, e também da velocidade, agilidade, fugas, de camuflagem e venenos, uma luta sofisticada como conspirações palacianas, uma liberdade bem mais elaborada e real, que não é tolhida por leis, dúbias, cheias de interpretações, um engodo que aprisiona lobos para que os leões possam engordar seus cordeiros. Se o natural é perfeito e busca seu equilíbrio, o que é tocado pelo monstro híbrido chamado homo sapiens, torna-se grosseiro, a árvore é perfeita, mas sua lenha tem algo de tosco, porque tocada por semi-selvagens, deixamos tudo que tocamos rude, inacabado, nada é conclusivo, sejam, leis, sistema político, filosofia, tecnologia, em tudo temos que evoluir, e se temos que evoluir, substituir, é porque não chegamos ao perfeito, talvez quando alcançar a condição de homens voltaremos ao perfeito, mas enquanto híbrido, não confio neste símiomem, em sua evolução convulsa, que cria sistemas achando culpados superficiais, sem levar em conta seu verdadeiro inimigo, os instintos, a vontade que temos de nos sobressair, a sede de poder, quando o socialismo acabou com o poder econômico, este foi rapidamente preenchido pelo ainda mais truculento poder político, os instintos infelizmente sempre acham seu lugar.
Passo o dia vendo o teto da nave, conheço as nuances, os tons no branco aparentemente uniforme, as manchas, nomeei territórios mais sombreados, dei nomes de mar aos luminosos, achei vulvas e fantasmas.
Cheio de pensamentos vívidos, curtos, ilógicos, percebi que todos, não só eu vivemos em
Cubos.
Cubos com sofás, cubos onde
cozinham, cubos escritórios,
cubos com janelas para o mar,
cubos com camas, cubos, cubos
saem de um cubo a outro cubo,
jantam em um cubo, comendo
em um círculo, então assistem
ao cubo da sala, também cubo.
Finalmente plácido, aceitei minha situação. Passei a cultivar brilhos polindo tudo, fico absorto nesta jardinagem, cada brilho é uma flor, mas ainda necessitava da companhia de algo vivo.
Se entrasse uma mosca

teria a contemplação dada ao vôo do condor.
Queria poder brincar com um
prisma, lambuzar meus dedos
de arco-íris.
E como desejo uma maçã verde
seu cheiro, morder sua carne
fechar outros sentidos
e ser só gosto.
Teria um êxtase sexual como receber
um jorro potente de esperma na boca.
Então finalmente a paz sem risos, sem prazer ou tristeza, uma preguiça constante. Não quero sair daqui, canto canções infantis e jingles, tentei recitar a odisséia, me deu asco como se mastigasse carne mumificada. Raramente levanto, se meu braço fica dormente penso minutos antes de trocar de posição, durmo muito, não me importo com nada, a terra e o Cosmo que vão para o nada que os criou. Vi uma prostituta sob a luz de um sol e peixes abissais respirarem vácuo. Brinco com os fios de cabelo na cama, não são mais negros, são lindos filamentos de prata. As máquinas começam a chupar a sopa das imagens do passado da terra, nada, nada me interessa, meu casulo é confortável, gosto de desenhar sons abstratos e coloridos, coisas da solidão. Quando me alimentava, escolhia as pílulas pela cor, como se estivesse escolhendo um sabor, com meus olhos, sentia o sabor ácido do amarelo, o sangüíneo do vermelho, o salgado marrom, o suave azul, o refrescante verde, mas agora não gosto de me alimentar, esqueço. Não quero sair deste cubo, nada me interessa, quero dormir, gosto de dormir, lá fora é frio e aqui dentro aconchegante, sono, só sinto sono. A vontade de voltar, está cada vez mais tênue, só a luz me incomoda.

De Solivan

quinta-feira, 14 de junho de 2012



Quando conheci uma estrela(trecho do conto infantil" A historia do inicio")


Os meninos giram de braços abertos. Eu também giro, giro, giro, ao parar vejo girar os rostos sorridentes e toda a cidade inteira atrás deles a rodar colorida. Quando vejo as nuvens brancas, no alto do furacão, também a rodopiar, grito que vou para a terra de Oz! Olha o saci no meio do redemoinho! Parávamos apenas para esperar tudo voltar ao normal, as casas se encaixarem no mesmo lugar que antes estavam, e voltávamos a girar e a brincar de ficar bêbado. Depois dos rodopios, fui mostrar no bosque das sete árvores o lugar onde tinha visto a transformação de um homem em lobisomem. Mostrei a árvore onde tinha ficado escondido, espiando. Contei que tinha visto chegar gente, e depois de se esfregar num pé de urtiga foi virando homem, lhomem, lobomem, lobiomem, lobisomem e saiu numa corrida parecida com de um chimpanzé sumindo no meio do samambaial. Depois que conto a história vamos embora, porque já está perto da hora do almoço e é perigoso ficar no bosque esta hora. O lobisomem pode estar com fome de crianças.
À tarde estava caçando moscas, depois de ter olhado um livro com a história de João Mata Sete, quando meus tios Luiza, Luci, Gelfe e Neufe chegaram para me levar conhecer uma estrela que tinha caído do céu. Vou dirigindo meu triciclo vermelho cor de morango, com meu tio servindo de motor, até chegarmos a casa verde-mar da minha avó Adele, que estava na varanda, vendo os golfinhos saltarem acompanhando os carros na rua em frente. Minha avó era uma italiana que virava Yemanjá, a rainha do mar nas quartas-feiras. Em seus longos cabelos anoitecidos tinha estrelas do mar e beija-flores que voavam em sua volta para pegar pólen e néctar no seu doce olhar azul. Segurava o incenso de um cigarro na mão, e sua fumaça azulada ondulava como cabelos de sereia levados pela maré. Abracei minha avó, e coloquei meu ouvido nela, porque se encostasse ao seu corpo dava para ouvir o barulho das ondas, como acontece nas conchas. Peço onde está a estrela cadente, e ela me responde que está no viveiro, presa junto com os passarinhos.
O viveiro fica nos fundos do lote, entro na sala sozinho, sou vigiado por uma foto de um tio falecido. Era um retrato em preto e branco, mas foi pintado, e agora a fotografia parece estar com maquiagem e usando batom.
Estava passando quando as estátuas dos santos meninos Cosme e Damião me pediram para ligar a TV em um desenho animado. Também parei na cozinha para ver uma chaleira fumegante, que brincava de trem maria-fumaça puxando uma fila de panelas. Sobre a mesa, pratos passeavam usando como remos duas colheres. Perto estavam açúcar e o sal, que são irmãos gêmeos para os meus olhos, mas tão diferentes para minha língua. Coloco minha cabeça dentro da cristaleira espelhada, para ver a imagem do meu rosto aparecer duzentas vezes, sempre diminuindo, até desaparecer no infinito. Só então abro a porta dos fundos e vou
até o viveiro de passarinhos do tio Gelfe. Vejo os canários, pintassilgos, sangue de boi, tão coloridos. Os passarinhos aproveitavam toda a cor da semente da qual se alimentam, como se a cor fosse uma vitamina. Sugam todo amarelo do milho, todo o vermelho do urucum, para pintar suas penas. Deve ser por isto que só cagam em preto e branco, o que deixava o chão do viveiro chuviscada, carijó parecendo uma TV fora do ar.
O tio Gelfe estava soltando um tucano porque comia os ovos dos outros passarinhos. Porém, o tucano não queria ser libertado, era feliz preso como um lobo vivendo entre ovelhas. Ele queria voltar para a gaiola, mas foi apedrejado, pareceu perdido no céu, debatendo-se desajeitado, parecia alguém se afogando, até ir finalmente embora em um voo triste como um náufrago nadando.
Peço pela estrela cadente, e meu tio Gelfe diz que está na loja de peças de meu avô. Então para vê-la, tenho que ir pelo parreiral, o sol passa pelas folhagens e desenha em meus braços uma pele de girafa. Está sem frutos, mas cheio de abelhas. Elas gostam de chupar uvas quando elas ainda são cachinhos de flores. Um bando destes tigrinhos de asas zunem brabos perto de mim. Corro até os fundos da loja de acessórios, galinhas comem, ciscam entre escapamentos e baterias velhas. Um motor ainda sangrando óleo mancha a terra, parece um coração de um robô gigante. Entro por trás da loja cheia de pó como uma tumba abandonada. Meu avô vende pedaços de carro. Tem olhos e intestinos de automóveis expostos, para-lamas balançam, como pernis em um açougue cheios de moscas entorno dele. O avião, que comecei fazer com caixas de papelão, está ainda no fundo das prateleiras.
Pergunto. Onde está a estrela cadente? Meu avô me aponta uma pedra em cima de uns papéis velhos amarelos e empoeirados. A pobre estrela cadente tinha morrido, perdeu sua cauda brilhante, está fria. Procuro ouvir seu coração, não bate mais. Acho lâmpada do teto mais parecida com uma estrela que aquela pedra. Prometo para a estrela, que quando meu avião ficar pronto vou levá-la para sua constelação, e sua mãe vai amamentá-la com bastante luz até ela voltar a brilhar.


Ilustração e texto de Solivan

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Despeito


Chega
de lamber livros sujos e insossos
nas bibliotecas municipais. Não bebo mais leite empoeirado
de tetas velhas.
Quis meu lugar
mas livrarias e medalha, medalha,medalha como Mutley.
Agora vou jogar para o primeiro cão que aparecer
o osso de Homero
que comprei de um camelo de relíquias. Eu e as pombas estamos
cagando para as estátuas das praças. Quero cuspir na cara de um
auto-retrato de Rembrandt.
E fazer salada
de ciprestes impressionistas roubados. Sair
com um bando selvagem,
e matar a flechadas o touro de bronze da Wall Street.
Repartir em postas, assar
e comer com vinho barato
em um beco sujo.
Não aguento mais ver nos museus a cara centenária, mumificada do novo em sua tumba. Hora de procurar por outra coisa menos rançosa.
Vou colocar
um dedo de uma estátua grega
dentro de lata de salsichas. E com o dinheiro da indenização
tomar cerveja, transar e assistir pica-pau
nas tarde quentes. E quando estiver entediado
dobrar origamis e aviõezinhos com folhas retiradas da divina comédia
e jogar pela janela do apartamento.
Impedirei que alimentem as obras de Botero
até elas virarem El Grego.
Não cederei meu lugar neste metro lotado. Nem que entre
uma Virgem Maria renascentista como o menino.
Paguei pelo ticket.
E num dia de bebedeira, por fogo inquisitorial em uma livraria de shopping e gritar para os comparsas.
Exagerem na gasolina que os livros são aguados. Ah, sentar bebendo vodka e
sentir o cheiro bom de livros de bruxas e magos queimando, queimando,
deliciosamente queimando.


De Solivan

terça-feira, 22 de maio de 2012

O monomotor


O monomotor

Juntei-me
aos meninos
que corriam
atrás de um avião.
Atiravam nele com o indicador,
davam adeus,
apontavam
e torciam
para ele cair.
Um Atlas levava uma bola
de plástico.
Os de chinelos de dedo
iam à frente,
os de pé no chão
saltitavam logo atrás
nos pedregulhos.
Um último menininho
chorava e pedia para esperar.
Lembro que tinha uma pérola de ranho
no nariz.
E vimos o avião sumir.
Quase todos faziam
da mão uma aba,
quase todos pareciam
em posição de sentido
calados.
Todos admiravam aquele brilho distante
parecido ao encontrado num caco de vidro.
O menininho ainda chorava.
Voltamos
as bocas imitavam barulho de motores
e os braços asas.
Eu erguia meu braço o mais alto possível,
segurava uma cruz improvisada.
Estilização rude, só o esqueleto
porque o corpo que dava perfeição
ao aviãozinho de gravetos era de imaginação.

De Solivan

quarta-feira, 16 de maio de 2012

No shopping center



Abre-te Sésamo automático,
esta porta de translúcido vidro
para min, o Moisés de tuas águas sólidas.
Será que suas engrenagens,
suas roldanas esmaga-formigas, seus sensores
funcionam com passarinhos?
Ou a andorinha bate no vidro como
em qualquer outra vidraça
e morre na delícia de morrer em um voo
despreocupado.
Gosto de caminhar no shopping
este museu de roupas e calçados contemporâneos.
Meus olhos acham os decorativos deuses indianos.
Meus olhos flecham o calcanhar dos narguilés.
Meus olhos acariciam as meninas.
Meus olhos veem a noite pelas janelas
e navego
cruzando Andrômeda
cruzeiro transespacial.
Balanço do do marmmmMnsera quenoi esopsçao tem balndlço de marnm MnM barcobebbadoGIusgliuglurub lka voub jdhueueueucrzaudndo anfdromedasolto^ v ^ v ajdgi***#3m@r?/??< >
A labirintite passou
e ando agora com alma de Bosch,
por este estômago cheios de lojas
pronto para sugar todas, todas as vitaminas de meu cartão de crédito.
Experimento perfumes,
safiras líquidas, rubis aquoso, outro cor de urina.
Sou sexagésima sexta reencarnação de um alquimista
e sinto vontades
de misturar
o odor da manhã com fezes de beija-flor,
juntar os cheiros de uma vulvas em cio
e uma noite com óvnis.
Por tudo em frascos Mirós.
Ascendo em escadas rolantes
braços imitando um urubu.
Paro para ver
nas vitrines da loja de brinquedos
o super-homem,
o que pode
cavalgar em cometas
e se alimentar de vácuo,
o que pode tomar um sorvete feito de massa solar.
E Batmam, o frutívoro espalha pólen.
Barbies em esquifes rosas
e vídeos- games onde
as crianças podem


decapitar virtualmente
estripar virtualmente
lobos, anões e madrastas.
Nos cinemas
olho os cartazes
como quadros em exposição.
Multidão de livros na livraria.
E toda a multidão está cheia de cretinos e magos.
E toda a multidão tem economistas e astrólogos.
E em toda a multidão tem um poeta.
Meus livros não estão na livraria,
nem do Thadeu de estrelas no bigode,
nem do Thadeu dez-dedos
na mão esquerda quando toca violão.
Nem do Jairo,
o centauro que atravessa os oceanos a galope.
nem do Jairo
que abençoou as águas do rio Iguaçu
com poemas
e comeu pão com nanquim nas manhãs.
Seuss filhos da p*#+_0*&&}$$CORNOS
DO*@33##PKU$ilibinoshdnsG0Q3PIFU98WBICHA CAPINEWGIUB087 ESTA BURRIOIqeru,fne in tME IRRITAeeiirriHJGIDGIUtavao tomar IJVYU4746387¨*$%%&*($MNO CUlokhnfsçoiuoip90843l98w@%$t376
Compro hq do Homem-Aranha
e um livro do Schopenhauer.
Filósofos estão em promoção,
mais baratos que o gibi.
Pague um, leve dois.
Karl Marx em promoção,
o CAPITAL está em promoção.
Passo pela praça de má alimentação.
Barulho de atol das rocas.
Nos luminosos e placas em cores primárias
uma salsicha de fraque e cartola.
Um palhaços oferecendo hambúrgueres
e monge comida chinesa.
Sobre um cone o Everest granulado com confeitos
vende sorvetes.
Sou teletransportado por elevadores
de botões azuis fluorescentes.
3,2,1
Ejeção completada com sucesso.


De Solivan