A carne e a pedra
Era só o que fez, carne tive que procurar
pois não havia corpo só obra quando pensava
no Aleijadinho à Medusa inversa, ao olhar
para a pedra ela em homem se transformava.
A roxa meia mão esculpia de mão cheia
via profetas por dentro da ostra-pedra
sua idolatria não peca, pois, encandeia
e por alquimia o divino em nós engendra.
Quem o cerne vestiu de Cristo martirizado
na face prendeu toda a dor de quem foi cruz
diante do espelho sem braços e bêbado
fez com estátuas torsas metáforas-luz.
E corou o cerro pôs neste altar igreja
deu mão que não teve ao monte num alvo lume
lá a hóstia dada pela estátua alveja
o peito sudário e seu semblante imprime.
O retábulo move-se, a ornada ação
voa sacra e graciosa como sólida música
no céu com anjos crioulos a premonição
a nossa negra aparecida lúdica.
Onde caríatides sustentam o esplendor
com músculos fortes de Atlas, não de Sansão
fez o gesto eterno e santificou o escultor
a rocha do caminho seu mel, fel e pão.
No leitor tela do poeta quis pintar
com palavras, tinta da minha arte
barrocas visões e emoções a girar
como febris imagens dantes da morte.
De Solivan
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