segunda-feira, 25 de abril de 2011

Profecia



Na minha morte
milhões de pássaros vão cantar
por que milhões de pássaros cantam sempre.

Crianças nascerão,
por que crianças nascem todos os dias.
e como combinado também
muitos homens morrerão na mesma hora

que homens morrem a todo minuto.

flores se abrirão
por mais que aqui possa ser inverno

mas em algum lugar do mundo será primavera
e lá as flores se abrirão.

E rosas secarão em jardins e floriculturas
Porque há muito tempo que rosas secam nos jardins
e causam prejuízo nas floriculturas.

neste dia uma pomba fará seu primeiro voo
e nos cantos escuros e camas de toda a terra
haverá êxtases e fecundações
e terá em algum lugar chuva em outro sol
em metade do planeta será claro em outro escuro
como no ing-iang.

E posso profetizar
Que na exata hora da minha morte

alguns copos e pratos se quebrarão
para sempre
por que é corriqueiro que pratos quebrem.


Poema e ilustração de Solivan

terça-feira, 19 de abril de 2011


Anotações para a semana



Lembrar de usar o som de pombas voando
como percussão em uma musica.

Olhar a linha da vida de meu filho.

Aprender a fazer arco-íris domésticos
com a mangueira ao regar o jardim.

Estudar o vôo dos pássaros para um poema.

Entrar com um processo na justiça para tentar
mudar o nome do poeta Manuel de Barros
para Manuel de Cerâmica.

Investir numa
fabrica de caleidoscópios.

Comprar um prisma e um pavão.
e um cd com a musica Bachianas n 5
para aromatizar meu domingo pela manha.

Anotar o haicai
“ um velho feio
e frágil
como um filhote de pássaro.”

Poema e Ilustração
de Solivan

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Como certos pássaros


Minha alma
arrancou um pedaço de minha própria carne
e alimentou uma águia
para que pelo menos uma parte de mim seja livre.
Que parte de mim voe.
Que parte de mim saiba o que é ser águia.

E quer ser
Como certos pássaros quando se esquecem que são pássaros e se pensam vento.
Como certos pássaros se esquecem que são pássaros e vivem
como peixes.
Como certos pássaros se esquecem que são pássaros
e se deixam frutificar.
Como certos peixes quando se esquecem que são peixes
e se pensam oceano.

Poema e ilustração de Solivan

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Projeto Tijuca para a criação de parques municipais.





A imagem de Nossa senhora Aparecida que
foi despedaçada e reconstituída.


1. Legisladores biomas eram imperiais e a mata vigorosa
conseguia alimentar toda vida com frutos e relva, cevando
as presas, protegendo as águas. Ouviam-se as orgulhosas
canções dos acasalamentos e das fecundações, a mortes
regeneravam a vida com seus ciclos. O leite, elam da vitalidade
e crescimento, reconfortava e era farto. Ah como é sempre
bela imagem de filhotes sendo amamentados. E as sementes
pequeninas podiam amiúde fazer sua valente tentativa de crescer.


2.As leis vigentes deixam os biomas em pedaços, rasgados,
esparsos, Ilhados, e cada propriedade com seu restringido
retalho proibido de crescer. É envenenada ou decepada
cada árvore que tente crescer fora de sua pequena reserva.
Impede-se assim as tentativas renitentes da mata de
restaurar-se, de anexar, e sem unidade, tira-lhe a essência,
tira-lhe o fundamental. A diversidade é mutilada e a vida
fica acuada, confinada, desprotegida, condenada pelo crime
de tentar se alimentar. Da fauna sobram apenas os esquivos,
os furtivos, os pequeninos o que é tão é usual nas
extinções,em todos os extermínios que a vida sofreu.


3. Proponho que o produtor possa adquirir sua reserva
e nela produzir. Mas deve conter nos rituais do contrato
que esta mata seja imolada pelo Estado e sua carne vendida,
e este valor redobrado seja a semente levada com cuidado
como um filhote de pássaro para seu ninho a uma conta
bancaria chamada Tijuca, e quando este relicário estiver
cheio de oferendas a vida, se possa comprar terras. E o bioma
mutilado, possa ser agregado em um único parque, e que a
floresta seja recriada em cada município,se possível abraçado
a outro, por localização ou de braços dados.

Adendo1. Melhor ter um bioma reconstruído que nem um.


Poema e ilustração
de Solivan