terça-feira, 27 de março de 2012

Sobre a interessante reação das senhoras a um poema

O Poema que virou animação"As senhoras e a puta".




Batista entrou sem ser convidado
no sarau com chás, torradas e alguns maridos.
Terno amassado com cheiro de brechó,
camisa bege encardida.
Recusou o chá, procurou vinho
e como está acostumado a achar espaços
em ônibus lotados,
foi fácil subir ao palco.
Com a voz beirando o grito
iniciou o poema:
-A puta!
Soou como sirene com cárie.
Olhos voltaram-se, como girassóis raivosos
para a palavra, tão vermelha
que manchou de rubro a face das senhoras.
E o constrangimento se manteve
até o arremate de Batista:
-A puta, de Carlos Drummond de Andrade!
Alívio entre as senhoras, sorrisos, e mesmo aplausos.
É Batista, confirma-se a tese
que o maldito está no poeta
e não na poesia.
Tuas doces poesias são consideradas malditas
só porque não lava as mãos antes de fazê-las.

De Solivan

quarta-feira, 14 de março de 2012

Dicas culinárias

Prefira bisteca de anjos ou suas costeletas
às asas, ou retire a pele antes de preparar seu prato.
Se fizer estas partes juntas,
açafrão disfarça as diferenças da carne branca da asa
das vermelhas no resto do corpo.
Cabeça de anjo pode ser assada na tradicional ceia da virada do ano,
coma um pedaço do nariz, trará sorte.

Coloque algumas lagrimas de moça lendo romance
sobre o hambúrguer de fadas. Criadas em confinamento
sua carne é cheia de angústias,as gotas torna o hambúrguer mais tenro.
Experimente servir fadas desidratadas como petiscos,
prefira as defumadas ou com sabor de bacon.

Postas de sereias são mais saudáveis que ondinhas enlatadas.
Escolha sirenes com as guelras vermelhinhas,
os olhos devem estar brilhantes e os cabelos sedosos.
Se frescas dão bons grelhados e Sashimis,
e suas ovas são saborosas,
uma delicatesses de gosto refinado e ambíguo,
mas descarte a boca no geral infeccionada pelos anzóis.


Aproveite as entranhas,
rins e bife de fígado de unicórnio são nutritivos e baratos,
seu mocotó também pode ser usado em sopas.
Escolha estômago de serafim para sua dobradinha ou sarapatel,
mosto de seu sangue é um segredos das fabricas de maçarão instantâneo.
Partes genitais como testículos de gnomos e clitóris de princesas em pasta,
vão bem com croûton num couvert.



Esta disponível nos melhores mercados os novos vegetais
que estão sendo chamadas de frutas cartuns.
A variedade tem coração, amamenta, sangra, tem sentimentos, sente dor
é assim podemos abatê-las incentivando o consumo.
Praticas já vem em porções higienizadas e prontas
e são encontradas em vários sabores como picanha e T-bone.

De Solivan

segunda-feira, 5 de março de 2012

poemas para uma banda de heavy metal que nunca existiu

1. Crime e castigo

Eletrocutado por meus crimes
entro no inferno.

Cérbero rosna, late,
mostra as estalactites de sua boca.
Seu hálito é de cova coletiva.

O balseiro nos deixa em um ermo.
Vento quente como
sopro de dragão queima minha face.

O guia acorrenta a todos,
sou levado do com outros mortos
pelos círculos.
Porém minhas algemas
são diferentes.
Tem meus crimes cinzelados em ouro
e sangrentos rubis incrustados.
Parece com um bracelete.

Alguns cevados foram deixados
em celas solitárias e sentiam tanta gula,
que começaram a devorar os próprios braços.

Em um fosso com raivosos animais.
Leão e hiena num mesmo corpo,
lideravam uma estranha matilha
De cães mesclados com felinos.
Mostravam seus caninos quebrados,
porque quando faltava presas
atacavam os rochedos.
Eram tão furiosos porque detestavam
a metade de si mesmo.
Para estas bestas foram arremessados
os que desejavam serem santos,
mas foram devassos.
Uma mulher que teve vida cheia de luxúria
foi acorrentada,
e um estripador começou a copular em sua carne
com uma faca.
Foi obrigada a chupar uma serpente.
Ferrões de arraias penetravam em seus olhos.



Meu último acompanhante,
um maledicente, foi abandonado em árido deserto.
Abutres punham ovos em sua boca.

Fiquei apenas com meu guia,
temi pelo meu castigo,
era o que tinha feito os crimes mais horríveis.
Multidões de demônios vermelhos como sangue fresco
abriam-se como o mar para Moisés
em nossa passagem.
Fui levado até o trono de Satã,
ouvi sua voz enlameada
ordenando sua guarda imperial
a jogar fetos para a multidão esfomeada.

Beijo sua mão com cheiro do ânus
de um efebo que estava em seu colo.

O Imperador então me fala docemente.
- Nada temas meu protegido,
castigos são para pequenos pecadores,
matadores se tornam meus príncipes.
E como conhecia meus desejos,
pede para me trazerem uma lactente.
Como um vampiro sedento
mordo os seios intumescidos.
Sugo leite e sangue.
Peço vinho e sou atendido.

Poema de Solivan