sexta-feira, 27 de agosto de 2010


Lãminas
Proustinianas brasileiras


Acordo antes do celular despertar, me espreguiço, o prazer do sono está em suas fronteiras, no adormecer e no acordar.Abraço Aline, gosto de tocar em seu corpo, sentir seu calor rosa, sei que ela gosta de dormir mais um pequeno, mas gostoso sono,gosta de roubar para si a maciez deste pequeno tempo,se dá este luxo. O celular espera mais cinco minutos e avisa com mais alguns trinados.
-Bom dia - diz Aline.,
-Bom dia - respondo, nestas pequenas palavras matinais pode se sentir como está nosso relacionamento, as palavras são sempre as mesmas toda manhã, mas o sentimento que esculpe a expressão e põe música em seu tom é diferente, o bom dia pode soar doce, amargo, angustiado, sensual.
Dormi mal esta noite, fui e voltei da sala, rinite, insônia. Ligo a TV, a voz paternal do jornal vai me ajudar a dormir mais um pouco, quinze minutos vai me ajudar a escrever melhor. É bom sentir as cobertas quentes, é bom me contorcer. Como fazemos os mesmos gestos, os mesmos sons, para sensações antagônicas, temos gemidos similares de prazer e de dor, nos contorcemos de prazer ou de dor.
Ouço Aline chamar nossos filhos para ir para a escola, é preciso ser insistente, repetir como o celular, da cama escuto o barulho deles indo ao banheiro, e a procura arqueológica por meias e uniformes perdidos. Um dia vou sentir saudades destas manhãs, de ouvir as portas dos armários sendo abertas,das xícaras,as brigas pela partilha do chocolate quente, por mais justa que tenha sido a distribuição de Aline.Hoje nossa casa respira, vive, é colorida pelos desenhos animados, sons de vídeo- games, bonecas esquecidas pelo sala,copos quebrados e pelas reclamações constantes de Aline porquê as bolachas e chocolates duram pouco, quando a casa ficar silenciosa e sem filhos e os copos não mais se quebrarem, os chocolates durarem mais e meu violão ficar exatamente onde deixo, imóvel, morto, vou sentir uma saudade enorme, mas hoje me irrita, não consigo dormir. Leio algumas páginas, sobre física quântica em uma revista, sempre tive com a física uma relação pop, o que sei sobre a relatividade, quasar, matérias negras, assisti em algum documentário televisivo ou principalmente li em alguma revista, sempre gostei de matérias sobre o assunto simplificadas por jornalistas ou um físico didático, nunca comprei um livro de física, mesmo assim sou petulante, iconoclasta, fico irritado quando leio que a física quântica é desordenada, imprevisível, que as leis da física não atuam nas partículas subatômicas, acho que é uma questão de ponto de vista,olhamos como gigantes para estas partículas e como seres insignificantes para as dimensões do cosmos,e é este olhar o olhar do insignificante, do distante que dá lentidão aos processos extremamente rápidos do universo e nos permite estudá-los.Portanto,se pudéssemos diminuir nosso ponto de observação, e ponto de por sobre um núcleo de átomo como um asteca vendo estrelas,então poderíamos ver a escala atômica movendo-se calmamente e estudar sua previsibilidade, ou se pudéssemos filmar os processos e diminuir seus movimentos até deixá-los em câmera lenta íamos ver que as leis da física e da quântica não se diferenciaram,ou mínimo suas leis próprias poderiam ser desvendadas, porquê é sua velocidade não seus processos que nos desorientam.
Quando as crianças saem para escola e Aline para o trabalho, consigo dormir mais um pouco, acordo e fico assistindo o jornal da manhã,como futilidades faladas por alguém com terno e gravata passa por algo sério e inteligente, raramente assisto ou leio jornal, há muita notícia irrelevante como de uma professora que dançou nua em boate, índices econômicos descartáveis,a festa junina do presidente,um acidente de automóvel sem vitimas em São Paulo. Gosto de noticias que me ensinem algo durável ou que ao menos me divirta, informações que poderei usar para sempre.Tirando a previsão do tempo, raramente uma notícia que morrerá em uma semana ou em um dia me interessa,é só ler um jornal velho para ver que a maioria das notícias políticas e econômicas terão menos valor que uma receita culinária, por isto mesmo, por separar o que é relevante, quando leio um jornal ou revista não me importa que sejam antigos, porque sei retirar deles notícias ainda vivas, quando trabalhava com meu pai,o que detestava por ter que fazer poemas e desenhos escondido ou sob seu olhar de desaprovação, mas gostava dos dias de chuva,dos dias de tempestade com lindos raios era melhor ainda, o movimento caía muito e era uma delícia ir nas pilhas de jornais velhos e achar notícias frescas principalmente nas páginas culturais.
Escuto Arlete chegar, é ela quem domestica nossa casa, é a domadora que faz as cadeiras e sapatos voltarem ao lugar, tira as escamações de nossa pele das estantes e chão. Logo sinto a alma do café que Arlete está preparando pairar no quarto, após um banho cálido, desço as escadas, há muitas fotos na parede, como é bom ter uma máquina capaz de apanhar um momento delicado como um sorriso de meu filho, minha filha lavando louça, fazendo bolhas de sabão ou todos jogando banco imobiliário. Uma máquina fotográfica não machuca o tempo,o colhe sem incisões, sem o entalhar ou pintar, reproduz apenas com uma luz doce,tão suave, toca um segundo com tanta delicadeza e ternura que não o machuca,o deixa inteiro, como a mão de Gandhi segurando uma borboleta azul e nos permite emoldurar uma lembrança.
Tomo café na sala vendo os gols da rodada, subo novamente para escovar os dentes, me lembra espremer tinta óleo, branco de titânio, sempre me dá ânsia escovar os dentes, duas tossidas clássicas. Já inventei alguns sabores de pasta de dente, folha de laranjeira, de cidreira, camomila, acho que quase todos os sabores de chá combinam com sabores de pasta de dentes. Antes de sair procuro minha carteira, chave e celular, de tanto os perder, consigo os achar com mais facilidade, virei especialista, um detetive, sigo seqüências, primeiro interrogo pessoas, após procuro nos lugares mais óbvios, depois tento reconstituir a cena, só então perco tempo em uma varredura minuciosa. Pego apenas um cigarro e vou caminhando até o escritório, com vontade do primeiro cigarro me acariciando, de ler meus e-mails e de começar a escrever ,é isto que me faz levantar.
Nove horas e quinze chego ao hospital, sempre estou um pouco atrasado, o que me incomoda, mas já incorporei o atraso, justificável até 9:30 depois disto não consigo mais iniciar nada,me perco completamente, não sei mais o que fazer.Assim que entro no escritório chaveio a porta,não estou me aprisionando,pelo contrário, fecho o mundo do lado de fora do meu Éden, enclausurado me sinto livre,fico cheio de uma imensidão onde posso soltar meu pensamentos, a solidão é um pergaminho de ovelha negra onde escrevo, ligo o computador e num ritual abro alguns e-mails, acendo meu cigarro como um incenso que me trás pensamentos,então começo escrever. Inicio meu poema “veludo” só tenho esta idéia primordial, agora dependo do seu poder gravitacional para atrair palavras, começo escrever, jazz de imagens: Veludo/Aqueduto da suavidade/agulhas macias/pesada leveza/campo de trigo avermelhado. Minha espontaneidade é uma massa amorfa, é preciso destilar e definir o estilo,o estilo do o poema é importante para que a frase seja moldada, a minha frase não vem pronta, precisa de sal ou adoçar. Aqueduto da suavidade não é uma boa frase, nem uma é uma boa frase, talvez “agulhas macias”.Quero palavras iridescentes, macias “Pluma” é uma boa palavra,suave, porem muito leve,não resiste ao sopro,quero palavras agarradas ao texto,se alimentando dos restos de banquete e orgias de um veludo episcopal,este será o estilo:O tapa do dominador é de veludo/o tapa para dar prazer/invertendo o sentido da violência,/agulhas macias. Boas frases, com defeitos, mas boas, tem inversões, porém “tapa” tem que ser substituído “chicote” talvez, não “chicote” também não. Fecho os olhos, passo um longo tempo em espreita,escondido na escuridão, procurando o rumor de uma imagem,sentir seu cheiro,não faço nem um gesto brusco, espero que o telefone não grite, nem quero ouvir três jeb’s na porta. Nada, apenas o trivial me ronda, incomoda. Fico inquieto, preciso me alimentar com algumas frases por dia, ou me debato, fico ansioso como numa noite de insônia. Luto contra a vontade de sair, de olhar as correspondências, tento me concentrar, há yoga nesta silenciosa espera felina. O relógio me espinha com suas setas de zarabatanas envenenadas. Tenho apenas umas idéias para ilustrações, um quadro chamado fotografia e uma estátua de uma Eva desesperada tentando devolver a Deus a maçã mordida, dizendo “foi apenas uma mordida.” “Onça negra” é puro veludo, fluidez e dá brasilidade ao poema: O veludo descansa sobre a cama/ Onça negra após o cio. Soou o gongo, escrevi apenas joio, mas estou acostumado com estas derrotas cotidianas, renitente, amanhã recomeço. Desço as escadas lembrando quando estava em um café, após uma palestra discutindo com a Luna, uma poeta do que surge, é o poema que a encontra, e eu o poeta do procurar,do caçar o poema,da insistência. Mas tanto seu método mais orgânico quanto o meu rigoroso,de expediente, somos presos na insegurança do lidar diretamente com o criativo,minha procura por poemas não é a garantia de que os encontre,como aconteceu hoje e Luna pode não mais ser surpreendida por um poema ao abrir uma janela, porque toda a criação vem do inesperado,emerge, e sobre isto, o escritor seja ele disciplinado ou displicente,não tem controle. Porém acredito que quanto mais guardamos sensações e conhecimentos, maior a capacidade para encontrar conexões com o improvável e é exatamente o improvável que faz a arte se movimentar,e os museus criarem novas alas.
Tenho que ficar na recepção por uma hora para a recepcionista ir almoçar, os corredores estão vazios, escuto apenas um bebê chorar e pardais, pego um cafézinho e vou ver o sol, mas logo volto para a frente do computador para poder escrever meu poema alternativo, com cara de quem está fazendo relatórios, se ninguém aparecer para marcar consulta ou internamentos,se o Dario não vir, ele gosta de conversar comigo sobre guerras,mulheres e carros,e sabe que sempre estou aqui neste horário, torço para que não apareça, mas não completamente se ele aparecer vou ter uma desculpa para parar de escrever e estou cansado, sem alma,com os espinhos do poema veludo engasgados na garganta, amanhã quero revanche.
O Dario, ele já viu discos voadores, tem um olhar messiânico ,um pouco louco,suas pálpebras abertas lembram uma mandíbula de cobra engolindo os olhos e usa uma barba com veios de prata, é bíblica ,porém não lembra apóstolos ou Moisés ,mas Barrabás, nunca veste roupas novas,na verdade gosto de conversar com Dario, o problema é que ele surge em horas inapropriadas, hoje exemplarmente, não apareceu, adivinha quando o poema não me surge e ele não atrapalharia. Após mais uma hora de tentativas inúteis vou para casa almoçar e ir para o quarto ler algo suave antes de dormir um pouco, é uma delícia dormir depois do almoço, ressuscito bem. Ao voltar a tarde ao escritório também sempre leio, ao contrário de quando estou em meu quarto, para meu escritório reservo leituras que precisem de mais concentração, o livro me amamenta com seu leite denso,se televisão ou um filme é uma espécie de telepatia que nos injeta uma idéia pronta com imagens e sons, ler falta algo, um ingrediente que o escritor não consegue fazer pelo leitor, mas é justamente nesta falta que esta sua força, ler obriga ao leitor pensar e produzir imagens, ler é pensar, ninguém lê sem pensar, podemos ler um livro ser perceber nossos pensamentos, mas estamos sempre pensando, criando imagens,editando imagens,sentindo, porque ler é interação podemos tocar o que se lê,o pensamento tem cinco sentidos, a leitura molda brinca com estes cinco sentidos, o cérebro tem o poder de criar realidades, se tem algo mais próximo do real é o sonho e ler é um sonho moldado,escrever é esculpir um sonho moldá-lo com palavras, ao ler usamos a memória do táctil, do olfativo, ler tem o gosto e imagens.A leitura fixa melhor um conhecimento,porquê seja ele bom ou não, verdadeiro ou falso é apreendido com os cinco sentidos, porquê isto é intrínseco do ato de ler.
Bom, está na hora de utilizar ao máximo o pouco pragmatismo que tenho e organizar papéis,ver os caixas. Manter as contas do hospital em ordem, até as quatro quando novamente em casa faço um lanche,acho que aguento minha dupla jornada porquê me dou ilhas de descanso absoluto durante o dia, dormir após o almoço e ir para casa no meio da tarde e escolher uma fruta, cada dia pego uma diferente, uma bergamota, um caqui ou um pedaço carnal de melância, se maçã, sempre sinto vontade de destilar seu perfume,de ter seu perfume apartado de sua carne, e vou me aconchegar na sala. Sinto todo o dia o prazer de, chegar na sala,de ver o vaso reconhecível em cima da estante,as pequenas estatuetas dos guerreiros de Xiam e de um cavaleiro medieval, como alguém perdido que reencontra que acha a segurança de um ponto de referência, o que sinto é uma felicidade diluída de quem se perde diariamente e tem que encontrar diariamente o caminho de casa,de quem já está acostumado com a insegurança, mas mão perdeu o gosto deste reencontro diário do perdido com o que lhe é familiar. Mesmo uma perda corriqueira, como uma chave do carro desaparecida tem sempre o potencial de ser para sempre, e é sempre bom o primeiro toque com o que se tinha perdido, é quase um sabor sentido pelas mãos. Então finalmente depois de me achar, posso descansar, por uma hora, neste pequeno pedaço de eternidade, reviro rapidamente os canais da TV, atiro com arma a laser do controle remoto atrás de um documentário,de filmes ou de um divertido seriado antigo, acompanho cretenses, a vida de Picarbia, de Lorca, sou especialista em animais, sempre me comove poder de minha sala ver leões caçando, escolho um canal e hiberno por uma hora em frente ao fogo virtual da televisão. Aprendo nesta posição vegetativa de ostra criando pérolas. Televisão é minha distração, no fim da tarde bebo uísque em sua frente e nas madrugadas de insônia e rinite. A TV me faz parar de pensar, algo como descansar após um esforço, na frente da TV consigo dormir ,relaxo, porque não preciso produzir imagens, tudo é simplificado, um pensamento já pronto,resolvido e editado, o que é um alívio para mim que sempre lutei contra minha alma inquieta. Quase sempre adormeço na frente da televisão vendo suas guerras de ninar, ao som de metralhadoras,bombas e sirenes de algum filme. Eu também gosto de assistir um filme quando o domingo fica tedioso pela aproximação perigosa da segunda-feira, talvez resquício de ir ao cinema na infância, das matines de domingo à tarde, prazer que começa ir a uma locadora ou comprar um bom filme, é um passeio semanal,passo por vitrines,olho as meninas passeando e rindo, acaricio árvores,compro revistas, sei onde tem uma pitangueira que deixa alguns galhos passar por cima do mur. Da calçada ,se for o tempo de frutificar é possível colher pitangas com um sabor de roubo inocente,se não há frutos ,tiro algumas folhas para sentir o odor. Também posso passar perto das camélias e sentir seu cheiro de moça perfumada. Quando chego a locadora, escolho cuidadosamente um filme,vejo diretores, sinopses, por ter múltiplas escolhas posso ser exigente e pegar o melhor, o mais suculento e dispensar as que tenham um mínimo defeito, geralmente pego um filme do qual já tenha lido a respeito, saber com antecedência aumenta meu desejo de conhecer, de tocar, sentir. O descobridor dos manuscritos do Mar Morto, não deve ter ficado muito eufórico com sua descoberta até saber do que se tratava, porquê não tinha conhecimento do que havia achado. Já os ossos pequenos de Lucy, devem ter enchido o arqueólogo de alegria, porquê ele sabia que aqueles ossos fragmentados, áridos e espalhados como um vaso partido eram cheios de importâncias, de interesses, foi seu conhecimento prévio e profundo de coisas similares, que leu nestes pedacinhos aparentemente sem significado, um elo e entendeu sua significação,sabia, mesmo sendo algo que nunca tinha sido tocado, que estes ossos eram o primeiro esboço de um ser humano. Tais ossos, se encontrado por um leigo, seriam algo a ser ignorado ou no maximo serem destas coisas que nos damos ao trabalho varrer ou jogar no lixo.
Então quando finalmente deito no sofá como um romano pronto para se deliciar num banquete godt de ver e ouvir tambores da 20th Century Fox, como um sem-culote assistindo uma execução, o rugir da Metro, as quase vídeo- instalações dos inícios dos filmes, assistir os pensamentos editados e visíveis dos diretores, um filme para os atores é um teatro onde as interpretações podem ser repetidas até a perfeição. Vou at depois do final, leio os créditos e sua disposição de poema,quero saber quem compôs as musicas,quem escreveu o roteiro.Mas hoje não é domingo, preciso voltar ao trabalho, manter tudo organizado, o hospital é meu mecenas, minha editora, eu acho até que o edifício lembra um pouco a angulosa face de Lourenço Médice. Sob suas asas consigo horas cálidas de proteção e posso escrever e ler, retribuo sua gentileza pra comigo cuidando o melhor que posso da minha galinha dos ovos de bronze.Não me sinto castigado, apesar que querer, e muito, ser alimentado somente pela poesia, porquê sei que é histórico a jornada dupla que se submetem os poetas, mesmo os melhores não viviam de poesia. Drumond em sua repartição pública, Cabral , Vinicius e Dante diplomatas, Lemiski traduzindo. Para se viver de poesia é preciso ser vegetariano e viver de pastar as folhas de sua coroa de louros. A poesia sofre de uma distorção mercadológica, atingiu uma excelência generosa, quis dar brioches para todos, mas o povo quer pão, e a poesia foi destronada, está no calabouço, mas mandélica, não perdeu seu brio,sua convicção e conspira, nem que seja falando com as paredes,na esperança que estas tenham ouvidos.
Para vender poesia,é necessário distribuir nossos livros, estar nas livrarias em lugares vistosos. O que tenho visto são livros de poesia escondidos em cantos,em lugares que dão torcicolo, precisamos de gôndolas de ofertas, que pareçam uma bananeira,com o slogan "Poemas a preço de banana".
A noite volto para casa, arrastando a alma, precisando descascar, relaxar, esquecer contas e poemas.Tenho um lema de auto-ajuda, os problemas existem e devemos tentar resolve-los,mas preocupação é algo inútil, perde-se com ela um tempo que deve ser oferecido a paz.
Aline está tricotando na sala.
-Tive um dia péssimo, sem frases novas, contas.-Reclamo amargo
-O meu também foi cheio. - Ela responde
-E as crianças onde estão?Há recebi mais uma recusa da editora Hienas.
-Mesmo? O Duda está no computador, Marcelo no banho e a Luiza assistindo novela no quarto.
-Como as coisas estão complicadas, não e fácil, me equilibrar.
Aline apenas acente, fico querendo mais palavras dela.
-Tive uma idéia para uma ilustração, não sei se vou ter talento mas quero pintar um desses nus fotográficos em preto e branco e fazer o mais parecido possível com a foto, seu nome será uma inversão fotografia
e uma estátua de Eva desesperada tentando devolver a maçã já mordida para Deus.
-Parece uma boa idéia, qual poema?
-Não sei, se precisar invento um. Idéia não e nada se a execução não for boa.

Conto e fotografia de Solivan

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Dança



Fotografia de Solivan

Monalisa e hipopótamos(fragmento)

Quero olhar, olhar
Com telescópios e microscópios
Que tenho os olhos boquiabertos com o mundo

Ver
o universo
esta negra bonita de mais perto
e o big beng que ejaculou mundos pedras e sóis no seu útero
e pelo menos um foi fecundado.

Observar com carinho o ínfimo
Por que toda a vida tem
seu inicio no minúsculo.


Os perfumes,respirar os perfumes
do pão e do orvalho,
das ruas com cheiros de roupa nova,
das ruas com o cheiro aconchegante das cozinhas e frituras,
das lojas com o delicioso aroma das sandálias e sapatos.
Nos shoppings procuro
as livrarias
emanando o tentador aroma de livros novos,
entro nas perfumarias
para sentir as delicadas composições dos perfumistas
estas musicas feitas com das seivas e madeiras,
com flores, tangerinas e glândulas.
Experimento a dosagem orquestral
das graves gotas de cedro e o agudo dos cítricos
com suavidade de flauta das alfazemas,
toco os frascos que
me parecem recipientes alquímicos
estojos para alaúdes
essências envoltos em mantos e conchas de vidro.

Poema de Solivan

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Cavalgo sempre no amanhecer



Meu cavalo é veloz
acompanha a nascente
cavalgo sempre no amanhecer.


Ilustração e poema de Solivan

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Manhã


Fotografia de Solivan

Na rua d’ouro durante uma chuva

Chovia e ventava
o casacão preto dava um ar sorumbático
a Fernando Pessoa.
O vento pareceu levar
seu chapéu
mas era sua alma,
que se desprendera do corpo
e brincava na chuva
de chapéu
rodopiava nua, invisível
com saltos de ginasta.
O corpo
de casacão preto a seguia
com passos envergonhados
como um pai atrás de seu filho levado.

De Solivan

Eu vou ficar

Eu vou ficar
e me aninhar
comodamente no desconforto.
O frio há de me aquecer
a fome me alimentar.


De Solivan

Poesia alheia: Neuzza Pinheiro

Gatos...
sempre mantém
aquela postura de pluma
e lá se vão
uma a uma
pé ante pé
pétala
sobre pétala
como se pedra
fosse espuma.


De Neuzza Pinheiro

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

O Pai cinza e o Filho colorido



(Para Vinícius)

O homem cinza
de sombra ou rocha
leva
o menino vitral
que tem sua mão presa ao pai
como flor enraizada na pedra
a outra brinca no ar como pássaro liberto.
O indicador livre
aponta seu raio solar
para alegria
quer brincar dentro das cores
ou tingir a língua
com um picolé carmim.
O sorriso do menino
e uma flor de dente-de-leão
o pai sopra o
sorriso
o menino apaga-se.
O braço paternal
como um pincel
em falanges espalmadas
mancha com um tapa
de raiva vermelha
a alegria amarela no seu rosto do menino.
Mas seu coraçãozinho palpita como uma estrela
e pulsa
estrelinhas em cordames natalinos pelas veias
as luzinhas coloridas
reacendem renitentes.
O pai continua pedra ou sombra cabisbaixa
um gosto de culpa
incrusta
como pátina sobre sua língua.

Poema e ilustração de Solivan

Ponte da amizade

Ponte da amizade

O concreto da ponte flutua
tem algo de voar, de lento voar
algo que me deixa gasoso
ao andar sobre ela.
Porém parece só acontecer comigo,
os outros pedestres estão mais pedra.
Vejo engarrafamento, suor e contrabando,
mas a ponte se mantém tranqüila
com uma docilidade cetácea.
Embala os que mijam, roubam, buzinam e xingam
sobre suas costas.
Afago-a, emocionado com sua bondade.
É das coisas que conheço
a mais próxima da santidade.

De Solivan

Poesia alheia:Tininha

Poema escrito pela gata de minha filha, quando cruzou elegantemente sobre meu teclado.

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De Tininha