segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Lembra Neuzza Pinheiro

Este poema para Neuzza Pinheiro que esta com seu seu livro novo"Pele e osso"




Lembra Neuzza, eu lembro como se fosse hoje
quando disse :

Olha Neuzza um Pinheiro carmim.

Olha Neuzza ,olha, no Pinheiro estão nascendo maças.

Olha Neuzza um Pinheiro com cheiro de mar e rosas.

Olha um Pinheiro florescendo como um ipê.

E foi assim a tarde inteira,
como que te alimentado
do que tinha de belo onde eu moro.

Neuzza, Neuzza,
como gosto de te mostrar coisas bonitas,
Sabe
teu nome tem um gosto de Paraná.

Lembra Neuzza, quando vimos
as cataratas brancas como os cabelos de minha avo
da ponte, dos rios e dos perfumes.

E então anoiteceu e você cantou,
respirávamos na mesma sala
mas quando exalava
o que saia do seu peito era canção.
Foi bom ouvir
seu peito moldar o ar
e fazer dele musica.
É bonito
quando algo simples transmuta-se em belo.

Ha Neuzza, lembro tanto de tua voz,
tenho certeza Neuzza,
que na noite que você foi gerada
teu pai bebeu vinho
e tua mãe comeu pêssegos aveludados e pombos no jantar,
por que é destas substancias
vinho,veludo e pomba
que é feita sua garganta canora.

foto e poema de Solivan

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Estranha cidade

Este é poema sem esperança,acho que poucos irão gostar da uma estranha mistura de rock
e regionalismo,acho que só um quedense pode entender, mesmo assim gosto dele e vai para meu livro,e um poema em homenagem a uma banda de heavy metal que nunca existiu ou só existiu em mim chamada falange é uma das dez cancões para uma banda que nunca existiu
Solivan

Estranha cidade 1987





Mãe, não vou a barbearia Dalila escalpelar meus
cabelos, nem suturar meu jeans ou fazer uma
reconstituição facial do crânio em minha camiseta,
chuto a mesa de centro, gane com o fêmur quebrado
bato a porta num estampido de tiro,as juritis voam

Crem no local do crime, o canibal é paranaense

Na rua os braços decepados dos ligustros
Céu ferido,o entardecer esta ensangüentado
E agoniza como um corvo apedrejado
Há em mim o grito silencioso, desesperado
Sonar de um animal em extinção no cio

Vodu em uma Barbie com espinho de taquaruçu

A vizinha reza na janela como em uma vitrine
Com seu terço feito de calmantes coloridos
É uma destas senhoras viciada em pílulas
Que pedem para seu marido parar de beber
Já me cuspiu Aves- Maria com hálito de tráira.

O vanerão dos afogados com a noiva do mirante

Passo por bares feitos com araucárias mortas
Salões de beleza e lojas rosnam quando passo.
No restaurante há pessoas desconhecidas bem
Vestidas, em carros estranhos, morreu alguém
Esta cidade só recebe visitantes em funerais

No Paraíso um novo anjo com asas de gralha azul

Cova recente no antigo cemitério dos polacos
Entre rosmeias carpideiras e túmulos cariados
Acendo meu baseado num fogo-fátuo e vou,
Com o spray cheio de sangue de um kaigangue
Atropelado fazer o ultimo grafite no colégio

Fabrica de bestas e mordaças sabor de piroqui


Foto e poemas de solivan

terça-feira, 11 de outubro de 2011


Dissecação da felicidade

Há felicidade
no crime com o processo envelhecido
como manuscritos do mar morto.

No soco daviniano num estacionamento.

Nos paleolíticas êxtases religiosas pentecostais
porque Deus nasceu numa gruta decorada
com euroques e cavalos.

Há felicidade
quando um sacerdote asteca reencarnado transplanta corações.

Na heresia
ao desrespeitar os dogmas da evolução num gozo
não reprodutivo em um banheiro público grafitado.

No regozijo ocidental
quando maças do Édem envenenadas com átomos
caíram sobre o Japão.

Há felicidade
na satisfação reconfortante
de beber rum pela manha
como Cronos engolindo seus filhos.

No comer um hambúrguer
quando a vaca hindu
e o trigo milenar passam sua vitalidade a um Office-boy.


Na agencia de automóveis
quando um visigodo web design
excitado pelo cheiro de cio dos carros novos
fatia o valor em sessenta pedaços salgados.


Há felicidade
em correr no parque com um Nike novo,
após roubar um cetro.

No trazer
do supermercado carne e cerveja para um churrasco
como canibais trazendo membros e cauim.

Na sonegadora fabrica de iogurtes
que se expandem como macedônios.

Há felicidade
no passear por babilônicos shoppings.

Nos ambientalistas hospedados no Hilton Hotel
como lideres comunista em seus palácios
que qualquer poder é aristocratizante.

No descobrir um novo agrotóxico para figos
cujos componentes químicos são à base de Lívia e Drusilla.

Há felicidade
no assistir corridas de formula um
e torcer pelas bigas vermelhas.

Em beber alquímicos coquetéis em bares.

No poder inquisitorial das editoras
de queimar livro com recusas
ao aprisioná-los em gavetas escuras como masmorras,
seguindo cegamente o Sumo Pontífice Mercado.


Há felicidade
no abortar
com segurança na luxuosa clinica de obstreticia Medeia.


No pedir demissão de um escritório contábil
e ir morar num quilombo.

No usar sapatos de couro italiano
elegante como nobres Maias em pele de jaguar.

Há felicidade
em achar salsichas de hot-dog feito dentro das leis islâmicas.
que Maomé como Cezar se manteve no poder após a morte,
já Stálin foi deposto messes depois de morrer.

No comprar um diamante na Tifany
sem lembrar dos negros cadavéricos como judeus no holocausto.

No vender ovelhas para o frigorífico,
por que matamos os lobos pelo mesmo motivo
que leões matam hienas.

Há felicidade
em comprar um filme pirata do Spider-mam,
tão fácil como comprar imitações
da estatua de Atena na Ágora.

No executivo da júpiter S.A.
com uma prostituta de luxo
vestindo couro de preto de vaca
como Europa.


Na estrela pop deificada como Nero
que cheira coca nos intervalos dos shows.
Mas cuidado, que o inferno
é seus desejos elevados ao máximo.

Poema e fotografia de Solivan

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

O interior do tempo


Conheci
o interior do tempo
a fabrica do tempo
e olhei as Tecelagem de rugas,
milhões de teares,
e sua boca, a terrível cratera dos esquecimentos
e sua fome abominável, interminável
onde caem as vidas, estatuas, os livros
as cidades,
onde caem quase tudo, quase tudo.
Só umas poucas coisas paradoxais são recusadas
como as guerras e o belo,
o belo, o realmente belo
é indigesto para a boca do tempo.
Vendo tanta destruição
minha alma cansada, prostrou-se
e murmurou-Estou diante do divino.
Mas ouvi Maldoror blasfemar
E gritar, um grito terrível
que saia de sua boca como sangue,
o ar do grito vinha de uma ulcera do seu estomago
não dos pulmões.
-Tempo, você é um Deus fraco!
só pode ir,
Porque não volta, retorne
se é tão poderoso?
refaça esta maçã mordida?
Isto não seria simples para um deus?
ou torne velho o menino desta imagem.
E o Tempo tentou e se contorceu
e vomitou ossos e pelos
devido ao extremo esforço
como uma coruja regurgita o rato.
Mas só conseguiu
apodrecer a maça,
envelhecer e rasgar
a imagem.
mas o menino retratado permaneceu belo.

As verdades ulceraram os ouvidos do Tempo
e Maldoror foi crucificado em suas próprias asas
E para se alimentar tinha que comer
suas próprias vísceras.


Poema e ilustração de Solivan