terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

O Acidente automobilístico em cinco takes




1
Confere sua maquiagem no retrovisor,
tira um gota de sangue do rosto,
ajeita o cabelo negro, channel.
(Quer parecer bonita para o marido)

2

Olha seu marido morrer.
- Interessante.

3

Nota um corte no seu braço.
- Pouco fluxo menstrual.

4

Sai do carro,
a porta range como se estivesse com dor,mas abre.

5

Insight!
imagina-se num vestido sensual
feito com os estilhaços do para-brisa
colhe-os (da preferência pelos vermelhos)
Guarda na sua bolsa Versage
- Não preciso de muitos, será curto. Bem curto.


Ilustração e poema de Solivan

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Futebol


descem
os meninos morenos
pelas ruelas sinuosas
passam por bares
o cheiro de cerveja choca e urina
lembra o cheiro do pai.
Eles trazem
grandes e ingênuos sorrisos
asas brancas de alegria
a fazer o barulho de pombos a alçar vôo.
Vêm os meninos morenos
brincando de futebol
chutando as pedras
no meio do caminho
até a sangüínea flor
do semáforo
e a moeda, cabeça de prego
na palma da mão.

Ilustração e poema de Solivan

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Aleijadinho

A carne e a pedra

Era só o que fez, carne tive que procurar
pois não havia corpo só obra quando pensava
no Aleijadinho à Medusa inversa, ao olhar
para a pedra ela em homem se transformava.

A roxa meia mão esculpia de mão cheia
via profetas por dentro da ostra-pedra
sua idolatria não peca, pois, encandeia
e por alquimia o divino em nós engendra.

Quem o cerne vestiu de Cristo martirizado
na face prendeu toda a dor de quem foi cruz
diante do espelho sem braços e bêbado
fez com estátuas torsas metáforas-luz.

E corou o cerro pôs neste altar igreja
deu mão que não teve ao monte num alvo lume
lá a hóstia dada pela estátua alveja
o peito sudário e seu semblante imprime.

O retábulo move-se, a ornada ação
voa sacra e graciosa como sólida música
no céu com anjos crioulos a premonição
a nossa negra aparecida lúdica.

Onde caríatides sustentam o esplendor
com músculos fortes de Atlas, não de Sansão
fez o gesto eterno e santificou o escultor
a rocha do caminho seu mel, fel e pão.

No leitor tela do poeta quis pintar
com palavras, tinta da minha arte
barrocas visões e emoções a girar
como febris imagens dantes da morte.

De Solivan

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

a fabrica de lápis de cor(Fragmento do conto infantil a historia do inicio)



Alguns meninos me chamam para jogar futebol. Vou pegar minha bolha de sabão, grande e colorida, e vamos ao campinho que fica no potreiro da vaca holandesa. Só paramos de jogar para correr atrás de um avião que passa. Depois do jogo, enquanto descansamos conto para eles como é Curitiba.
Uma cidade com muitos prédios e gente passeando com leões nas calçadas. As praças e marquises estão cheias de pavões, azuis, verdes e brancos. Os carros paravam para uma luz vermelha doce como suco de groselha, chamada semáforo. Que muitas pessoas vivas se vestem com ternos e gravatas, igual dos mortos nos caixões. Conto sobre o mar que cuspia conchinhas na areia como nos dentes de leite, e por último, que conheci o dono de uma fábrica de lápis de cor, quando estava na praia.
Ele tinha ido recolher, com um barco de pescadores, a cor do mar para fazer lápis verdes e me convidou para conhecer a fábrica e mostrou-me como ela funciona. Disse que o azul pegam no céu de avião e o preto na noite com o mesmo avião. O branco é tirado do leite. Na fábrica eles têm cem vacas, só para tirar esta cor. Um dia eu e o dono da fábrica fomos viajar, buscar de caminhão, um arco íris que tinha aparecido em outra cidade.