terça-feira, 22 de maio de 2012

O monomotor


O monomotor

Juntei-me
aos meninos
que corriam
atrás de um avião.
Atiravam nele com o indicador,
davam adeus,
apontavam
e torciam
para ele cair.
Um Atlas levava uma bola
de plástico.
Os de chinelos de dedo
iam à frente,
os de pé no chão
saltitavam logo atrás
nos pedregulhos.
Um último menininho
chorava e pedia para esperar.
Lembro que tinha uma pérola de ranho
no nariz.
E vimos o avião sumir.
Quase todos faziam
da mão uma aba,
quase todos pareciam
em posição de sentido
calados.
Todos admiravam aquele brilho distante
parecido ao encontrado num caco de vidro.
O menininho ainda chorava.
Voltamos
as bocas imitavam barulho de motores
e os braços asas.
Eu erguia meu braço o mais alto possível,
segurava uma cruz improvisada.
Estilização rude, só o esqueleto
porque o corpo que dava perfeição
ao aviãozinho de gravetos era de imaginação.

De Solivan

quarta-feira, 16 de maio de 2012

No shopping center



Abre-te Sésamo automático,
esta porta de translúcido vidro
para min, o Moisés de tuas águas sólidas.
Será que suas engrenagens,
suas roldanas esmaga-formigas, seus sensores
funcionam com passarinhos?
Ou a andorinha bate no vidro como
em qualquer outra vidraça
e morre na delícia de morrer em um voo
despreocupado.
Gosto de caminhar no shopping
este museu de roupas e calçados contemporâneos.
Meus olhos acham os decorativos deuses indianos.
Meus olhos flecham o calcanhar dos narguilés.
Meus olhos acariciam as meninas.
Meus olhos veem a noite pelas janelas
e navego
cruzando Andrômeda
cruzeiro transespacial.
Balanço do do marmmmMnsera quenoi esopsçao tem balndlço de marnm MnM barcobebbadoGIusgliuglurub lka voub jdhueueueucrzaudndo anfdromedasolto^ v ^ v ajdgi***#3m@r?/??< >
A labirintite passou
e ando agora com alma de Bosch,
por este estômago cheios de lojas
pronto para sugar todas, todas as vitaminas de meu cartão de crédito.
Experimento perfumes,
safiras líquidas, rubis aquoso, outro cor de urina.
Sou sexagésima sexta reencarnação de um alquimista
e sinto vontades
de misturar
o odor da manhã com fezes de beija-flor,
juntar os cheiros de uma vulvas em cio
e uma noite com óvnis.
Por tudo em frascos Mirós.
Ascendo em escadas rolantes
braços imitando um urubu.
Paro para ver
nas vitrines da loja de brinquedos
o super-homem,
o que pode
cavalgar em cometas
e se alimentar de vácuo,
o que pode tomar um sorvete feito de massa solar.
E Batmam, o frutívoro espalha pólen.
Barbies em esquifes rosas
e vídeos- games onde
as crianças podem


decapitar virtualmente
estripar virtualmente
lobos, anões e madrastas.
Nos cinemas
olho os cartazes
como quadros em exposição.
Multidão de livros na livraria.
E toda a multidão está cheia de cretinos e magos.
E toda a multidão tem economistas e astrólogos.
E em toda a multidão tem um poeta.
Meus livros não estão na livraria,
nem do Thadeu de estrelas no bigode,
nem do Thadeu dez-dedos
na mão esquerda quando toca violão.
Nem do Jairo,
o centauro que atravessa os oceanos a galope.
nem do Jairo
que abençoou as águas do rio Iguaçu
com poemas
e comeu pão com nanquim nas manhãs.
Seuss filhos da p*#+_0*&&}$$CORNOS
DO*@33##PKU$ilibinoshdnsG0Q3PIFU98WBICHA CAPINEWGIUB087 ESTA BURRIOIqeru,fne in tME IRRITAeeiirriHJGIDGIUtavao tomar IJVYU4746387¨*$%%&*($MNO CUlokhnfsçoiuoip90843l98w@%$t376
Compro hq do Homem-Aranha
e um livro do Schopenhauer.
Filósofos estão em promoção,
mais baratos que o gibi.
Pague um, leve dois.
Karl Marx em promoção,
o CAPITAL está em promoção.
Passo pela praça de má alimentação.
Barulho de atol das rocas.
Nos luminosos e placas em cores primárias
uma salsicha de fraque e cartola.
Um palhaços oferecendo hambúrgueres
e monge comida chinesa.
Sobre um cone o Everest granulado com confeitos
vende sorvetes.
Sou teletransportado por elevadores
de botões azuis fluorescentes.
3,2,1
Ejeção completada com sucesso.


De Solivan

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Crucificação de Vilela

Ano 33, dia 2

Crucificaram Vilela.
Crucificaram o poeta cínico
pobre e esnobe
de sorriso lascivo e abusado.
Crucificaram o poeta
pregaram-no em uma cruz
feita de garfo e faca.
Crucificaram o poeta
cheio de escárnio
e devassidão.
O poeta crucificado
pede frugalmente água
dão-lhe fel
suga o fel oferecido.
O derradeiro não
corta seu estômago
sangra uma mistura de
feijão, arroz e comprimidos para dormir.
Vilela inocentemente
nos dá ainda
a beleza de seu último milagre
faz sua coroa de espinhos
de roseiras florescer rosas vermelhas
e fala suas últimas e introspectivas
palavras
- Perdoa-me PAI,
mas eles sabem o que fazem.

Ano 33, dia 5

Vilela é editado no terceiro dia.


De Solivan