sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Neuzza Pinheiro



Neuzza Pinheiro e sua irmã Leidi
Visitaram Quedas do Iguaçu,
Conversamos sobre poemas e músicas,
Vimos pássaros e cachoeiras.
Foram dias felizes.


Rio Iguaçu
Teu caule passa aqui,
mas tua rosa flor branca
abre-se em Foz do Iguaçu

Foto e poema
De Solivan

Arenitos vermelhos

Quente
nestes arenitos imensos.
Para beber
apenas água de miragem.
Lembro dos ventos
frios como menta
do inverno.
Destas rochas
só evapora calor,
e para comer apenas
os peixes fossilizados
que apanhei.

De Solivan

O cubo(Fragmento)

(..)Passei a ser cínico e amargo, escarnecia a humanidade, aliás, nem somos humanos ainda, somos híbridos de instintos siamescos apenas atenuados, semi-selvagens, uma raça na puberdade, cheia de ereções, que precisa conquistar, derrotar, de júbilo não de paz, encha de paz e segurança a humanidade e os índices de suicídios aumentam. Como híbridos não temos a verdadeira liberdade do selvagem, que está na luta franca dos animais pelo poder, uma luta que longe de ser apenas a lei do mais forte, e também da velocidade, agilidade, fugas, de camuflagem e venenos, uma luta sofisticada como conspirações palacianas, uma liberdade bem mais elaborada e real, que não é tolhida por leis, dúbias, cheias de interpretações, um engodo que aprisiona lobos para que os leões possam engordar seus cordeiros. Se o natural é perfeito e busca seu equilíbrio, o que é tocado pelo monstro híbrido chamado homo sapiens, torna-se grosseiro, a árvore é perfeita, mas sua lenha tem algo de tosco, porque tocada por semi-selvagens, deixamos tudo que tocamos rude, inacabado, nada é conclusivo, sejam, leis, sistema político, filosofia, tecnologia, em tudo temos que evoluir, e se temos que evoluir, substituir, é porque não chegamos ao perfeito, talvez quando alcançar a condição de homens voltaremos ao perfeito, mas enquanto híbrido, não confio neste símiomem, em sua evolução convulsa, que cria sistemas achando culpados superficiais, sem levar em conta seu verdadeiro inimigo, os instintos, a vontade que temos de nos sobressair, a sede de poder, quando o socialismo acabou com o poder econômico, este foi rapidamente preenchido pelo ainda mais truculento poder político, os instintos infelizmente sempre acham seu lugar(...)

De Solivan

O velho e o tempo

para José Kurek

Eu olho meu relógio
(os práticos olham no relógio)
para saber as horas
outros o sol
ou a sombra.
Seu José não, seu José
entende-se com o tempo
mede o tempo
pela sua vontade
de beber cachaça.
A gente pergunta que horas são seu José?
Ele olha para dentro de si, mede sua vontade
dá um sorriso franco e amarelo
mexe seus poucos dentes soltos pensativamente
balança-os com a língua
e responde.
He, He, He
deizepouco
deizepouco

De Solivan

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Dante e Virgilio em uma conversa informal




De Solivan

Matadores de borboletas azuis

Não perdôo, não perdôo os soldados franceses
que colocaram suas línguas ferinas
nos canhões
e destruíram
a estátua eqüestre de Leonardo.
Argila mais bela desde Adão.
Destruíram
a escultura
que era das coisas mortas, a mais viva.
Porque não recolheram os fragmentos amorosamente
ate a invenção do superbonder?
Os críticos que jogam ausências são filhos e netos destes soldados.


Não perdôo os fascistas, não perdôo
com fuzis atiram dentes de leopardo em Lorca
e a multidão de poemas ainda em casulos
dentro dele
agora são mortalhas.
Matar um poeta é queimar livros antes da publicação.


Não perdôo, não perdôo o vândalo
que destroçou o rosto de Pasolini como um vaso vermelho.
Dentro deste canopo tinha tantos filmes e poemas viscerais
que foram quebrados antes da descoberta.


Não perdôo Maiakovski, não perdôo,
teu sangue tem cheiro de poemas mortos.
Você também assassinou um poeta
com seu suicídio.


De Solivan

Informe policial

Heroína

O soldado
que o retirou das ferragens
foi condecorado.
A mãe que irá cuidar do tetraplégico
pelo resto da vida, não.

De Solivan

Aleijadinho

A carne e a pedra

Era só o que fez, carne tive que procurar
pois não havia corpo só obra quando pensava
no Aleijadinho à Medusa inversa, ao olhar
para a pedra ela em homem se transformava.

A roxa meia mão esculpia de mão cheia
via profetas por dentro da ostra-pedra
sua idolatria não peca, pois, encandeia
e por alquimia o divino em nós engendra.

Quem o cerne vestiu de Cristo martirizado
na face prendeu toda a dor de quem foi cruz
diante do espelho sem braços e bêbado
fez com estátuas torsas metáforas-luz.

E corou o cerro pôs neste altar igreja
deu mão que não teve ao monte num alvo lume
lá a hóstia dada pela estátua alveja
o peito sudário e seu semblante imprime.

O retábulo move-se, a ornada ação
voa sacra e graciosa como sólida música
no céu com anjos crioulos a premonição
a nossa negra aparecida lúdica.

Onde caríatides sustentam o esplendor
com músculos fortes de Atlas, não de Sansão
fez o gesto eterno e santificou o escultor
a rocha do caminho seu mel, fel e pão.

No leitor tela do poeta quis pintar
com palavras, tinta da minha arte
barrocas visões e emoções a girar
como febris imagens dantes da morte.

De Solivan

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Banco da poesia

Meus poemas estão no Banco da Poesia
http://cdeassis.wordpress.com
com belas ilustraços de Cleto.
Espero sua visita.

Solivan

De solivan

Será este sonho eu?

Sou o que desejo ou o que sou?
O que desejo ou o que faço?
Será este sonho eu,
Ou sou o que possuo,
meus braços,minhas pernas e o que tenho como meu,
Serei eu?
Serei eu insatisfação
e falta ou o excesso?
Então me falto ou me sobro?
Será que sou o terceiro olho que não tenho?
Será que ser é uma essência alimentada
pelo que não existe,
enraizada no nada e quando este nada
vai se transformando aos poucos
em substância,
a essência morre,
porque a essência bebe seu néctar
nas inflorescências do nada.

De Solivan

Saravá paranaista(Fragmento)

Havia uma pepita no meio do caminho,
no meu caminho uma pepita havia,
minhas retinas estavam tão fatigadas que nem a via.

De Solivan

Motivos orientais

Preocupou-me um problema insolúvel
até o dia que ouvi
ao passear no jardim
um ancião
dizer cheio de felicidade a uma libélula:
“Ainda temos todo este verão de vida”.

Noite de primavera,
florescem
estrelas no céu.

Poço profundo,
salvo
pelas suas cordas vocais.

Sol traz
ao lago calmo,
constelações de reflexos.

Caos urbano, porém parecia
com tai chi chuan
a informação do chinês.

Com um grito grafitei
um hai-kai
no vento marinho.

O distraído
tem uma águia
dentro do olhar.

De Solivan

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010




De solivan

Espinhos

Poetas discutem nomes
numa guerra inútil de conhecimentos.
A criatividade é a espada do poeta,
não o conhecimento,
o conhecimento é sua faca.
E
O artista louco ganhou respeito
desde Van Gogh, Artaud.
O poeta que não deciframos,
a tela que não compreendemos
deixa-nos ansioso,
em dúvida,
todos ficam sem saber se o que vem
é loucura ou genialidade.
Mas o artista louco é muitas vezes só um louco,
não um gênio louco.
Um louco
também pode ser apenas um idiota



De solivan

Frases para chaveiros

1.Sinto-me ao piano
quando componho poemas
no teclado
do computador.

2.Sim, sou eu todo este não eu.


3.Meu coração é feito de pedra
da mesma pedra
de que são feitos
os santos que choram.
De Solivan

O quadro de Satoro

Já vem contido semanticamente nos genes da palavra Satoro,
sua cor o tipode seus olhos e o formato do rosto. E veste a trocável
descrição últimas tendências. Era manhã e tilintava um copo de suco de
laranja em sua mão, sua bem cuidada mão. Levou-o à boca e
ficou sentindo a borda fria do vidro tocando a ponta de seu nariz.

Sentia-se sonolento, preguiçoso, em descompasso com a mesa pomposa onde brilhavam cristais, cores, pães e frutas, dispostos com tal perfeição que mais pareciam arrumados e iluminados por um fotógrafo.
Satoro tinha uma ocidental displicência, que era mais teatral que real, porém sentia prazer na pele deste personagem e o vestia várias horas por dia.
Uma ereção distraída inflou durante seu tardio café da manhã e passou quase sem ser notada, se espreguiçou, depois estralou os ossos do pescoço como um boxeador. Com uma voz pastosa murmurou para si, na língua ainda um mau hálito agora sabor laranja.
- Preciso de temas para outra instalação, temas.
O suco tinha um sabor insosso apesar de perfeito, pela falta de um ingrediente em Satoro, não no suco, chamado sede. Ele preferia prestar atenção nos bambus atrás da enorme vidraça. Seus olhos como dedos acariciavam o verde gracioso dos bambus num preguiçoso exercício de relaxamento, como pés nus brincando na areia.
- Preciso trabalhar. Falou sua voz interna, mas depois dos olhos sentia-se vazio e a frase ecoou sem imagens numa escuridão cavernosa própria para hibernar.
A repulsa desenhou-se por um segundo no rosto de Satoro, porque ele lembrou de quando teve de trabalhar com seu pai (que mantinha um incomunicável e amarelo-canário Van Gogh prisioneiro) na abstrata função de filho. Do seu estilo metódico amargurado com cocaína. Foi em um dia claro, às 10:00 horas, que abriu os lábios, e de sua boca libertou uma revoada de pássaros-palavras pelo escritório do pai.
O copo de suco, foi o único objeto tocado daquela intrincada mesa. Satoro levantou-se, deu alguns passos e foi surpreendido pelo soco, pelo tiro de uma idéia, havia criado uma Madona com o menino. Sentiu-se cambalear, apesar de não tê-lo feito. Ainda desnorteado, entrou no seu ateliê enorme, que mais parecia uma funilaria, acendeu a solda do seu rústico pincel com ponta de fogo, mas não conseguiu trabalhar em suas instalações. Deitou em seu divã e começou a imaginar o quadro, seu pensamento pincelava, melhorando alguns detalhes, mudou um pouco a disposição do conjunto e retirou as auras. À tarde, a tela estava pronta. Satoro havia trabalhado como um pintor, a diferença é que tudo ocorreu dentro do seu crânio, pois ele nunca havia desenhado ou pintado.Tudo que fazia era de uma indisciplina férrea e obrigatória. Mas o quadro estava tão claro em sua mente, tão maduro, que chegou a pensar que conseguiria fazê-lo.
Esfregou seu mágico cartão de crédito, fez três pedidos e logo apareceram, telas, tintas e pincéis. Porém, logo no primeiro risco, o auto engano se desfez. Mas sua alma intransigente, paternal obrigou-o a terminar o quadro. Então pintou rápido, grosseiramente, com raiva, era uma criança, executando um castigo da pior forma possível. Quando terminou, rosnou:
- Siamesco, grosseiro, besuntado, feito por um orangotango!
Foi ao banheiro irritado, sujou o pênis de tinta, e sua baixa auto-estima narcisista o fez ver um auto-retrato dada refletido na água do vaso sanitário. Arrumou o cabelo num gesto automático.
Quando voltou esfaqueou e cremou cerimoniosamente a pintura, sem notar que havia nela qualidades. Seu pincel tinha as chicoteadas emotivas de um Van Gogh e suas figuras a singeleza primitiva de Chagal.
Angustiado, achou que seu talento não tinha braços, que seus desenhos eram tão trêmulos e caricaturais como um arremedo de passos de um aleijado. Sentiu-se tão impotente e sem talento para transferir a pintura que seus neurônios haviam feito dentro dele, que desistiu da tela.
No dia seguinte voltou a trabalhar na sua obra intitulada “Andaimes”e agendar viagens e exposições. Mas o quadro era a imagem que separava um pensamento do outro. Muitas vezes, flagrou-se perguntando obsessivamente como fazer, como fazer! E chacoalhava a canina cabeça encharcada com a imagem, na tentativa de livrar-se do pensamento fixo. Até que sem poder mais resistir, entregou-se ao perverso médico oriental, metódico e racional que havia dentro de si, e que suplantou seu artificial e displicente monstro bondoso ocidental.
Tinha agora a obrigação de encontrar uma solução. Passou uma semana sorumbático, inquieto e arqueado, os sons de seus passos mudaram sob o peso da obsessão plúmbea.
Satoro encontrou varias soluções milenares e contemporâneas, mas nenhuma que fosse completa, que resistisse ao interrogatório de sua autocrítica. Teve acessos de raiva, insônias, pesadelos coloridos com soluções distorcidas, enxaquecas. O quadro era uma irritante e magnífica ave dentro de sua cabeça, querendo nascer, mas o ovo de seu crânio era demasiado duro. E seu talento não se dilataria para um parto normal, mamífero entre seu indicador e polegar.
Quando as soluções começaram a ser repetitivas e irritantes, cobra mordendo o próprio rabo, resolveu buscar ajuda nos livros, e não só na razão. Após folhear e esfaquear nervosamente alguns com marca páginas, abriu um sobre o Renascimento. Ao ler que atribuíam o anjo da esquerda que figura em o “Batismo de Cristo” de Verrocchio, a Leonardo, emergiu a solução, a certeza , o salto de alegria. Ao comemorar gritou em inglês rasurado de japonês.
- Mas é claro, é isso mesmo, pagar um pintor, Satoro, um pintor, é isso mesmo!!! - Inquieto, tentou repassar, analisar a idéia com calma, mas o fez em meio à bagunça da euforia.
- Pagar um pintor, direi em vermelho e ele pintará vermelho, minha língua será meu pincel, pedirei um rosto suave e ele fará um rosto suave, isso, é isso, é isso! - Pensou em falar em japonês, mas dessa vez não se permitiu, o êxtase já havia passado.
- Uma heureca, uma heureca. - Disse, adjetivando a palavra e continuou.
- Só preciso achar alguém com talento, alguém que tenha a técnica que me falta. Nada de escuso muito pelo contrário, na mídia, na grande mídia, daqui em diante me dedicarei apenas a criar, outro fará o trabalho e trará para eu assinar.
Amigos das galerias, logo acharam os candidatos que Satoro precisava. Após ver cópias que cada um fez de pintores renascentistas, como quem examina um currículo, assinou um contrato com dois pintores. Porque gostou dos corpos que um pintava e outro, pela beleza radiante que conseguia dar às vestes.
Os três trabalharam por meses, no quadro, do desenho inicial e composição até a última pincelada. Satoro agia como uma caricatura de um diretor de cinema, nervoso, porém extasiado com a alegria de poder exprimir-se, sem permitir opiniões, ordenava: quero mais serenidade neste olhar, que seja mais Rafael, o menino não precisa ser obeso, o azul é mais vivo, põe mais vida neste azul.
Mas chorou abraçado com os pintores constrangidos, quando a tela ficou pronta. E assim que ficou só, contemplou o quatro extasiado. Olhou o fundo escuro como de Caravaggio, onde só aparecia um beiral de porta marrom, que emoldurava apenas penumbra, um beiral que nem termina, dilui-se no escuro. No chão de terra, serragem e alguns instrumentos de carpintaria lustros pelo manuseio, indicavam que aquele lugar era a carpintaria de José. Uma luz suave perolada de poeira, caia sobre Maria. Na sua face em “sfumato” de Leonardo, pairava uma preocupação terna.Vestia véus azuis, vivos azuis de Rafael sobre a roupa vermelha. Ela está em pé e olha para as suas nãos estendidas e iluminadas, para seus dedos soltos porém cuidadosos, como quem recolhe um frágil filhote de pássaro ferido. Suas mãos reverentes estão um tanto viradas, porque querem mostrar para um observador, algo muito sagrado, que seguram a mãozinha dolorida de seu filho. O menino está nu, quase de lado, seu rosto voltado para Maria, tem um olhar carinhoso que tenta preservar a mãe. Mas de esguelha, parece que vemos no lábio inferior um tremor de choro contido. Ele ergue seu braço e pousa sua mãozinha sobre o ninho dos dedos maternais, e mostra na ponta do dedo indicador um espinho.
No canto direito em preto o nome do quadro “premonição”, e a assinatura. Satoro lê seu nome como se fosse a coda de uma sinfonia. A sensação que tem ao admirar a sua obra era de quem escuta encantado, uma sinfonia. Sentia no ar os harpejos delicados e fluidos dos desenhos que saiam da tela. Podia até mesmo pegar cachos das notas musicais que se esfarelavam entre seus dedos com a sensação tátil de um pó dourado.
Sente também, uma trindade de tempos, porque o quadro não está preso a um presente estático. Há nele uma impressão, que alguns segundos antes, o menino havia chamado a mãe. O futuro é acorrentado pelo título, é incluso na composição. Quase que justaposto com o presente, um futuro tão imutável quanto o passado. Na delicadeza da cena mostrada, está o momento da cruenta crucificação, com cheiro do cordeiro morto, couraças lambuzadas de sangue, e soldados limpando as mãos avermelhadas nas vestes.
Satoro foi matéria em revistas de arte, participou de programas televisivos, falou sobre sua próxima criação: Leda, em que Zeus ao invés de cisne é um pavão. Causou polêmica, foi odiado por aquele tipo de ódio frívolo só encontrado em alta costura e na arte.
Era uma tarde de um domingo tedioso, quando pegou sua cabeça decepada na capa de uma revista semanal, e engoliu alguns elogios diluídos em ressalvas, mas como não estava acostumado com este tipo de embriaguez sentiu vontade de dirigir pela via rápida vazia e extravasar seu sentimento de poder.Tudo parecia estar imobilizado, só o leão de sua alegria andava inquieto, rondava as grades das costelas. O resto eram blocos enormes e compactos de prédios silenciosos, estrada e céu. De repente, tudo girou em rasuras abstratas, as cores vibraram ao som de uma semicolcheia de fá. O carro felino caiu em pé. Satoro não teve tempo de sentir medo, sentiu antes uma sensação de bem estar, os milionésimos de segundos pulsaram nítidos, perceptíveis. Mesmo a pancada na cabeça foi indolor quase prazerosa. Mas o sangue espirrou no pára-brisa trincado como que jogado por Pollock.
Satoro ficou desacordado sobre o puff branco do air-bag atrasado. No cd, um intérprete de Chopin, ainda datilografava no piano.
O acidente ocorreu quando o mundo ainda mastigava-lhe, sentia o sabor estranho de sua obra, ou melhor, da execução de sua obra. Rasgava-o com seus caninos, acariciava com a língua, e triturava com os molares.
Estaria tudo resolvido se Satoro estivesse morto. Mas ele não morreu, ficou em estado de coma, causando ânsias, porque não houve a resolução, a digestão da morte.
Não se pode esquecer ou glorificar Satoro. Tudo ficou num meio estado, onde nada se define.

De Solivan

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Menino brincando de voar




De Solivan

No shopping center

Jairando um jazz

Abre-te Sésamo automático,
esta porta de translúcido vidro
para min,o Moisés de tuas águas sólidas.
Será que suas engrenagens,
suas roldanas esmaga-formigas, seus sensores
funcionam com passarinhos?
Ou a andorinha bate no vidro como
em qualquer outra vidraça
e morre na delicia de morrer em um vôo
despreocupado.
Gosto de caminhar no shopping
este museu de roupas e calçados contemporâneos.
Meus olhos acham os decorativos deuses indianos.
Meus olhos flecham o calcanhar dos arquiles.
Meus olhos acariciam as meninas.
Meus olhos vêm a noite pelas janelas
e navego
cruzando Andrômeda
cruzeiro transespacial.
Balanço do do marmmmMnsera quenoi esopsçao tem balndlço de marnm MnM barcobebbadoGIusgliuglurub lka voub jdhueueueucrzaudndo anfdromedasolto^ v ^ v ajdgi***#3m@r?/??< >
A labirintite passou
e ando agora com alma de Bosch
por este estômago cheios de loja
pronto para sugar todas,todas as vitaminas de meu cartão de credito.
Experimento perfumes
safiras liquidas, rubis aquoso,outro cor de urina.
Sou sexagésima sexta reencarnação de um alquimista
e sinto vontades
de misturar o odor da manha,
com fezes de beija-flor,
vulvas em cio
e noite com ovnis.
Por tudo em frascos Mirós.
Ascendo em escadas rolantes
braços imitando um urubu.
Paro para ver
na vitrines da loja de brinquedos
o super-homem
o que pode
cavalgar em cometas
e se alimentar de vácuo,
o que pode tomar um sorvete feito de massa solar.
E Batmam o frutívoro espalha pólen.
Barbies em esquives rosas
e vídeos- games onde
as crianças podem
decapitar virtualmente
estrirpar virtualmente
lobos, anões e madrastas.
Nos cinemas
olho os cartazes
como quatros em exposição.
Multidão de livros na livraria.
E toda a multidão esta cheia de cretinos e magos
E toda a multidão tem economistas e astrólogos.
E em toda a multidão tem um poeta.
Meus livros não estão na livraria
Nem do Thadeu de estrelas no bigode
Nem do Thadeu dez-dedos
na mão esquerda quando toca violão.
Nem do Jairo
O centauro que atravessa os oceanos a galope.
Nem do Jairo
Que abençoou as águas do riu Iguaçu
com poemas
e comeu pão com nanquim nas manhas.
Seuss filhos da p*#+_0*&&}$$CORNOS
DO*@33##PKU$ilibinoshdnsG0Q3PIFU98WBICHA CAPINEWGIUB087
ESTA BURRIOIqeru,fne in tME IRRITAeeiirriHJGIDGIUtavao tomar IJVYU4746387¨*$%%&*($MNO CUlokhnfsçoiuoip90843l98w@%$t376
Compro hq do homem-aranha
e um livro do Schoenhauner.
Filosofos estão em promoção,
mais baratos que o gibi.
Paque um, leve dois.
Karl Marx em promoção
o capital em promoção.
Passo pela praça de má alimentação.
Barulho de atol das rocas.
Nos luminosos e placas em cores primarias
Uma salsicha de fraque e cartola.
Palhaços oferecendo hamburguês
e monge comida chinesa.
Sobre um cone o Evereste granulado com confeitos
vende sorvetes.
Sou tele-transportado por elevadores
de botões azuis fluorescentes.
3,2,1
Ejeção completada com sucesso.

Pensamentos dispersivos sobre minha reencarnação

Esta manhã quis que
meu rosto fosse
cega pedra de nascente
e sentisse a água fresca
temperada com musgos e folhas,
correr eterna sobre minha face.

E meu olhar distâncias
ou linha do horizonte
para ver o sol
estender sua luz limpa e quente sobre a terra,
como um lençol recém passado sobre
a cama.

Que de meus braços emplumados de folhas
e dedos transformados em galhos de árvores
pingassem tangerinas.

Libélula azul

Canto com um azul
da melopéia concreta
a libélula azul,
brilho azul,
reverberações azuis metálicas
de peixe azul prateado
azul, azul, azul
no seu exoesqueleto
as cintilações
têm um tilintar azul.
Luz azul

Luz azul

Passa num assobio azul
libélula azul,
cavalo de fada,
broche de safira no vento.
Libélula azul
que enfeita a boca do camaleão
na minha,
quando mastigo tuas sílabas
com um gosto
azul-amargo metálico de âmago,
deixa um persistente
hálito de libélula azul.

Logopéia azul
penso, logo não existo
que existir é coisa concreta
você apenas sente
libélula
e existe um pouco mais.
O osso não pensa, não sente
ele existe, mais que nós
dois juntos.

Libélula,
quando eu for ossos
passo a existir libélula,
quando minhas substâncias
mesclarem-se ao planeta
e moverem-se somente pelos dedos
das leis da física,
libélula
esses dedos musicais
são única parte que conhecemos
do corpo de Deus,
libélula.

Fanopéia,
e se meu indicador
fosse azul, seria sua fêmea,
libélula azul
e se as minhas cordas vocais fossem de cristal
e cantassem como pássaro,
uma única nota vibrante longa e aguda,
e a respiração tivesse
sonoridade de água corrente
pousaria no meu peito
sobre
o meu coração de pedra
coberto de musgos
pousaria nele, libélula?
Quero
porque toda a pedra em que pousa
vira adjetivo, libélula azul.