segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Quintais oníricos


Gosto de artemistificar a morte
Compara-la a quintais abandonados.
Porque vejo
na briga de galo
entre a guaxuma e o picão
renitência do sempre renascer.
Da inútil na insistência de florir
sua flor feia e dissonante
sua flor desperfumada.
Sempre que vejo quintais abandonados
sinto vontade de ser novamente
o menino
que via revoada de rainhas vestidas
Com azas núpciais
que enluarava telhados
engrutava porões
para-dificava guarda chuvas
cachoeirizava torneiras
e savanizava quintais abandonados.
De o meu brincar sem nunca individualizar
sem nomear, sem especificar
todas as formigas eram formigas.
Assim nada morre
tudo continua, se um gafanhoto morre
não importava
os gafanhotos não morreram
outro igual nascia e o pedaço era reposto.
Meus soldados também eram renitentes
morriam e renasciam
como gaxumba.
Só a perca era uma espécie de morrer
e o achar ressurreição.
Outros quintais abandonados
Em outros lugares são só quintais abandonados
Quintais oníricos
São os quintais de Quedas
Quintais com guaxuma e picão que reencarnam.

Ilustração e poema de
Solivan

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

O link da minha entrevista para o programa de Oscar Dambros
Perfil Literário, da Rádio Unesp FM,

http://aci.reitoria.unesp.br/radio/perfil_literario

entrevista 607.

Nossa casa





Esta e a nossa casa
Com minhas mãos
Colhi meteoros e ergui as paredes
E iluminei todos os cômodos
com estrelas,
Mas nosso quarto
com vênus.
Os movéis
São feitos de videiras
Que florecem e frutificam
Podemos
Numa tarde de domingo
Fazer vinho.

Apanhei as sombras mais frescas das arvores
Para colocar na varanda,
Com suaves raios do sol da manha
Transei a nossa rede
E agora podemos vamos ver juntos
Os peixes ormamentais
Que nadam entre as tulipas do jardim.
E a noite os pavões pousam
Num arco íris
Ao lado da lua.

Veja da janela
Podemos ver os ciprestes
Onde uma leoa fez seu ninho
E cuida de seus magníficos ovos.
No verão os leozinhos nasceram
Então podemos brincar com eles
no quintal.

De solivan

Déjà vu:Repostagens

A odisséia ou o erro do pavão

O pavão
de olhinhos nervosos
irrequieto bípede
tirou dolorosamente
suas queridas penas
uma a uma
e colou
em folhas de papel sulfite.
Despiu-se de suas jóias
transgrediu o pudor
sentiu frio
ficou só
sua família não agüentou
a verdade nua.
Não satisfeito
regurgitou a pouca quirela
do jantar
e vendo o vômito convulso e amarelo
lembrou-se de Van Gogh
e chorou.
Colou sua bile no sulfite
e com as folhas e penas e vômitos
profissionalmente encadernados,
a pobre ave implume
saiu a procura de editor.
Seria mais fácil, pássaro
achar editor
se deixasse as penas no corpo
e levasse as folhas em branco
profissionalmente encadernadas
sempre
profissionalmente encadernadas.


De Solivan

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Andy warhol revisado:16 Marilyn Monroe Morta



De Solivan

Dissecação da felicidade

Há felicidade
no passear por babilônicos shoppings.

Nos ambientalistas hospedados no Hiltom hotel
como lideres comunista em seus palácios
que qualquer poder é aristocratizante.

No vender ovelhas para o frigorífico,
por que matamos os lobos pelo mesmo motivo
que leões matam hienas.


Há felicidade
no abortar
com segurança na luxuosa clinica de obstreticia Medeia.


Há felicidade
no crime com o processo envelhecido
como manuscritos do mar morto.

No soco daviniano num estacionamento.

Nos paleolíticas êxtases religiosos,
porque Deus nasceu numa gruta decorada
com euroques e cavalos.

Na estrela pop deificada como Nero
que cheira coca nos intervalos dos shows.
Mas cuidado, que o inferno
é seus desejos elevados ao máximo.


De Solivan

déjà vu:Repostagens

Esta rua não devia se chamar Mario Quintana

Não gosto do sabor insosso
das linhas retas.
Um poeta não devia nomear
uma rua reta.
A rua Mario Quintana não devia ser reta,
devia ter joelhos,
dobrar esquinas,
passar por um barbeiro e livrarias,
por uma árvore centenária,
por um bar,
cruzar uma praça,
desorganizar o retilíneo das homenagens.
Uma rota de pássaros migratórios, sim
poderia se chamar Mario Quintana.
De Solivan

Interferência:Um poema de Sylvia Beirute

PEQUENO POEMA PARA A MORTE

que a palavra te redima do erro. que a palavra seja o erro.

luís quintais

primeiro: preparar a sombra. rumorejá-la. desflorá-la.
segundo: escolher o objecto. fixá-lo. intuí-lo. medi-lo.
terceiro: retirar o objecto lentamente. analisar a sombra.
quarto: estender o corpo populoso no solo, sobre a sombra.
quinto: imaginar o objecto excluído.
sexto: sentir o corpo adquirir a forma do objecto excluído.
sétimo: sentir a sombra percorrer a distância
entre o corpo e o objecto excluído como se tivesse
havido contemporaneidade entre os dois.
oitavo: analisar a sombra do ponto de vista dos relevos
adquiridos e danos residuais.
nono: excluir a sombra. {o terno é a antítese do eterno}
décimo: fechar o corpo.

Sylvia Beirute