terça-feira, 23 de agosto de 2011

Carne celeste





Sinto algo de santificador no céu,
os pássaros e pipas
são batizados por algo sublime.

O metal do avião, o corpo do aviador
e dos passageiros,
quando molhado pelo azul
se tornam diferentes.

Há na pena,
no meteoro,
no satélite,
no alumínio esmagado de um acidente aéreo
algo de sagrado.

Mesmo o lixo
quando elevado pelo vento,
Sublima-se.
Como é lindo ver os papeis, as sacolas plásticas
Quando dançam sobre as cidades
num êxtase de cisnes.

Há em mim sempre
a vontade de apanhar granizos,
de guarda-los com cerimônias,
e de beber
a água benta da chuva.
De acariciar
balões,
e pára-quedas.

Sim, tenho
em na minha geladeira granizo,
e nas gavetas todas as passagens aéreas,
e qualquer pedaço de papel sujo, qualquer sacolas plásticas
que tenha visto dançar.
Em minha carteira esta uma semente,
destas emplumadas,
em uma manhã de domingo
olhei ela descer do céu calmamente, com graça,
e pousar tão próxima que a apanhei.

Guardo,
porque desconfio,
que como nos pregos
na lança e nos espinhos,
fica em tudo que voa um pouco do divino,
por terem todos também
transpassado o corpo de Deus.


Poema e ilustração Solivan

9 comentários:

  1. nossssa!!! magnífico!

    nem tudo que voa é esplendor, mas se voa leva um pouco a dimensão do sagrado...amei!

    Beijos!!!

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  2. obrigado Lou,espero que não tenha matado a saudades dos meus poemas,e retorne e retorne.

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  3. Olá, adorei essa parte:
    Há em mim sempre
    a vontade de apanhar granizos,
    de guarda-los com cerimônias,
    e de beber
    a água benta da chuva.
    De acariciar
    balões,
    e pára-quedas.
    ...me reportou a coisas de infância, de sonhos quase impossíveis...
    Parabéns, vc continua ótimo!
    Grande abraço!
    Laridani

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  4. É... não adianta, vc se auto supera a cada poema. Impossível não esperar algo novo e diferente cada vez que te leio.
    bjs da amiga Anair weirich www.literaturacatarinense.com.be

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  5. oi lari,fazia tempo de não aparecia,lembra
    da nossa infância, crescemos ao lado um do outro,na mesma chuva.

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  6. obrigado Anair,como vai seu livro?
    e quando volta para jantar comigo?

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  7. que foto linda, Solivan
    emplumada, essa flor de dente-de-leão
    airosa como o poema

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  8. ha Neuzza, lembra quando
    te falei de sua alma e da semente emplumada.

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  9. rsrs
    a semente emplumada
    semente emplumada
    vontade às vezes de sentar prosear com gente como vc
    é raro gente como vc

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