segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Rapsódia sobre a palavra


O vento é a pedra
com a qual a língua esculpe a palavra.
E o leão o rugido.
E o rouxinol o canto.

O som crocante da chuva é sua palavra.

O doce da cana é sua palavra
e o rum sua ira.

O urro da onça é sua palavra.

O vôo da borboleta é sua palavra.

A beleza do pavão é sua palavra.

As fotos de Cartier Bresson
é sua palavra,
e seu discurso.

O amargor benigno do boldo
é sua palavra.

Seu nome é sua palavra
mais intima.
Seu nome é seu coração,
Sua mão
e o cabelo que cai.
Seu nome tem a mesma cicatriz que você tem
e é seu osso,
e o sexo escolhido.
Seu nome envelhece.
E a ferida no seu corpo
é uma ferida no seu nome.

Por isto a palavra Aleijadinho
é desmembrada
e sua vogais não tem dedos.
O silencio é uma palavra.
Toda a cor é uma palavra.
Números são palavras.
Cálculos se fazem com palavras.

A flora é a palavra da terra
e o tubarão uma palavra no vocabulário do oceano,
e o colorido recife de corais sua alegria.


Ilustração e poema de Solivan

6 comentários:

  1. sim, as palavras nos rodeiam, SERceiam, enCantam, uma ciranda de palavras, ora cantiga para ninar ora o olho do furacão... mas sempre a palavra a matar nossa sede de afeto e poesia.

    Beijos, querido!

    Belíssimo poema! E imagem também bastante inusitada!

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  2. Oi, Poeta! Gosto da sua poesia. Há uma busca pelo cotidiano, pelo simples. Gosto de você e da sua avó e de Iemanjá. Beijos!

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  3. oi Lou,sempre as palavras a sua e a minha arma.

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  4. Ritinha,é bom ver sua foto,você voltou com seu charmoso chapéu.

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  5. a flora é a palavra da terra
    e o tubarão
    uma palavra no vocabulário do oceano

    Não vou me esquecer disso, Solivan
    neuzza

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  6. Oi soli vi o Matheus naquela foto, nao e ele? Tudo lindo seus poemas um beijo...NEILA

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