quarta-feira, 30 de outubro de 2024

Empresta um pouco de sal Adélia, a vida é mesmo assim, não a olhe tão de perto. pouco vento é incolor, mas muito é azul. Você que arria as panelas, arruma a casa, depois joga futebol no vídeo game. Você que já perdeu seu amor e os que beberam de seu leite foram embora, mas teve violão e nunca tocou, bicicleta e nunca andou, livros e nunca leu. Seu peixe era uma flor que nadava e o tempo passou, o peixe morreu, a água secou Acha que agora, por que suas mãos são tortas já não pode mais sorrir, se sorri com os lábios Adélia. Foi anteontem a última vez que sorriu, lembrou de quando pôs laranjas no ipê da praça para que seu neto pensasse que apanhava frutas no pé. Você já contou esta história mil vezes, você é engraçada Adélia. Deixe disso Adélia, viver é um precipício, os espertos assobiam durante a queda. Comeu a fruta agora lamba os dedos. Seu requeijão estragou, a pasta de dente acabou sua ruga cresceu, mas não chore Adélia compre uma fonte de água decorativa.