sexta-feira, 9 de abril de 2010

Pégaso

Escrevo com uma pena de tua asa Pégaso.

Quando te vi
pensei que era anjo
de algum cavalo morto.
Tinha a cor de uma nuvem branca
quando resplandece.
Num gesto intuitivo rompi meu colar
e você veio comer os rubis na palma de minha mão.

Coloquei minha armadura de
escamas azuis e montei.
Voamos sobre um campo de lírios,
cavalgamos sobre um lago
e sobre os Alpes.
aqueles caninos do mundo, porque você queria
sentir a neve dos cumes em seus cascos.
Depois mergulhou no céu
com giros alegres de delfim,
feliz como um peixe de volta ao mar.
Quando pousamos
senti no rosto vento resinoso e fresco
de uma floresta de pinheiros.

Circunvagávamos no céu,
quando sentiu um cheiro salgado de cio.
Relinchou
e seus cascos transformaram-se
em pés de cisne.
O oceano nos recebeu corcoveando
como fêmea furiosa.
Domado, ficou dócil como um lago,
e mergulhamos.
Galope no frescor abissal do fundo do mar.
Fui sultão das sereias, elas gostavam de acariciar
as escamas metálicas de minha armadura.

Nas savanas
aticei Pégaso como se fosse
meu falcão.
Ele abateu uma cegonha
em pleno vôo, caiu como um anjo rebelde,
baque de Ícaro.
E leoas serviram de almofadas
para meu descanso.

Entre dunas, ondas escaldantes de mar amarelo
em tendas Tuaregues.
Músicas, dançarinas, tâmaras
e carne de camelo na frincha dos dentes.

Os vinhedos floresciam no Mediterrâneo.
Uma rainha lasciva
acariciou suas crinas
sentiu de seu perfume selvagem
e pôs seu membro dentro do útero
sentiu seu quente gozo.
O rei gostou de ver sua rainha satisfeita e prenhe
do deus cavalo.
e a cobriu de tesouros.

Em pirâmides Astecas
vimos pulsantes corações infantis.
E me vestiram com um manto de canários vivos
feitos de um trançado de asas e caudas.

Refinado e orgulhoso como qualquer deus
só queria beber icebergs,
pastar caudas de pavão
e beija-flores com o estômago cheio de mel.
Voava entre bandos imensos de andorinhas
e as engolia em pleno vôo.
Todas cantavam ao serem mastigadas para melhorar
o gosto de sua carne.
Seus estridentes cantos eram especiarias picantes.
Também fui confundido com um deus.
Tornei-me petulante,
aceitei oferendas
e passei a acreditar que era divino,
fiz exigências arrogantes.
Quando necessitava de sal
lambia o suor
que porejava como orvalho
no corpo das dançarinas Árabes e Coptas.
Comia somente ostras com pérolas
e hímens em baixelas de prata.
Bebia só um magnífico e raro vinho judeu
feito por um nazareno chamado Jesus,
a pedido de sua mãe em um casamento.
Entediado,
distraia-me com refinadas brutalidades.
Certa vez,
encantado com os olhares maliciosos que recebi ao
entrar no harém de meu anfitrião,
exigi que cegassem as odaliscas
e enriquecessem o banquete
com um prato daquelas íris verdes
azuis e negras.

Então voltei para casa sem tesouros.


De Solivan

5 comentários:

  1. Deus...isso causa febre, medo e vontade de não retornar...

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  2. Neuzza,o retorno é dolorido,mas nosso canto
    espanta a dor.

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  3. Solivan, esse final é macabro! Quis mesmo chocar?

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  4. OI Eliane, poema trata de uma pessoa que não soube lidar com o poder,e perdeu tudo,
    foi abandonado,pelo mesno Pégaso que o deu a ele poder.Voltou para casa sem tesouros.
    Venha sempre,volte sempre.
    Solivan

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  5. Sábias são as pessoas que sabem lidar com o poder. Gostei da sua explicação Solivan.

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