segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Auto- retrato escrevendo um poema



Exemplo de concentração e diluição

Ter um é mais que ter muito.
Diógenes tinha apenas dois pertences,
uma mochila velha e dentro dela
um prato amarelo,
apenas um prato amarelo
com alguns trincos.
Dois pertences, mas de seu considerava
apenas o prato amarelo,
sua mochila era apenas o estojo.
Diógenes era sempre sujo
mas seu prato era limpo
mais que limpo,polido.
Juntou moedas,não bebeu
para comprar um polidor de prata
para seu prato de cerâmica.
(estranharam um mendigo
comprando um polidor de prata
num supermercado.)
Diógenes comia com as mãos
para não sujar
seu prato amarelo.
Seu prato amarelo era para ser admirado,
Diógenes queria apenas olhar
seu resplandecer.
esta era a única função do prato.
As vezes espelhava-se,
via-se refletido amarelado no prato.
Não era narcisismo
apenas gostava de assistir.
Via também árvores, ruas, caminhões
Tudo amarelado pelo seu prato,
depois embrulhava com cuidado
e maestria em muitos jornais.
Sabia que era frágil o seu prato,
ganhou num restaurante
a muito tempo.
-Dê com prato e tudo!
Ouviu alguém ordenar.
Sem saber o motivo
talvez destino,
talvez porque tinha algumas trincas
ou porque tinha milhares de pratos.
Todos portanto insignificantes.

poema e tela "Auto- retrato escrevendo um poema"de solivan

15 comentários:

  1. O significado supera os pertences, quando de pertencimento considera-se apenas o efêmero - pratos desfolhados na cor de ter-se.

    Parabéns confrade Solivan, pela sintaxe.

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  2. Obrigado Tere,senti sua falta,mas alegrou-me seu retorno, que bom que voltou ao meu Pergaminhos.
    Cara amiga e confrate.

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  3. é a carne do sol, imagem de Osiris, cor-luz
    mas tb é abismo..., como Yin/Yang, o redondo o quadrado...quem sabe Diogenes o tivesse transformado em espelho mágico, a refletir
    a grandeza e a fragilidade das coisas...
    O seu desenho e o seu poema, Solivan, transbordam, saltam dos limites

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  4. Oi Neuzza tive esta idéia quando li
    sobre um pai que tinha centenas de filhos,
    portanto se importava pouco quando um deles falecia.

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  5. rapaz...

    eu viajei...rsrs
    mas poesia é isso: quem lê vira co-autor

    bj, querido!

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  6. não Neuzza, você não viajou,a idéia surgio assim,mas o poema saio completamente diferente só mantendo o mote da diluição do ter.
    você sim me fez ver o poema de outro ângulo.

    beijo minha querida neuzza que eu gosto tanto.

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  7. Solivan,

    Obrigada pela visita! como o poema surgiu e como ele se manifesta em nós, assim é o nosso ofício: esse fazer e desfazer novos fios; gosto muito da foto do arame farpado porque é forte e frágil. Esse seu personagem tem um objeto de arte em mãos e esse objeto, como a música, a poesia alegram, encantam a vida. Espero que um dia eu também vá à África conhecer aquele Continente de onde vieram meus ancestrais. Beijos! Espero seus poemas sobre baobás e África. Rita

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  8. Rita nem precisa agradecer pela visita é um prazer ver seu blog,agora que sei quanto posta recebera minha visita constantemente.

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  9. Solivan, esse poema me deixou intrigada, vc disse que pensou num pai que perdeu seu filho, mas como tinha muitos não se importou! Vejo alguem que tão sem nada de material, apega-se a algo tão simples, tão sem significado pra muitos, mas tão importante pra ele. "Ter um , é mais que ter muito". Isso é muito real, na cena que vc apresenta. Nosso olhar é que dá significado as coisas.

    Seus versos , como sempre, instigando e suscitando emoções!

    beijo

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  10. Soli...Você enxerga as coisas através de um prisma que é só seu. A interpretação desse poema é uma faca de dois gumes. O seu mendigo pode ser um egoísta por não doar-se, mas também pode ser
    humilde por se satisfazer com tão pouco, que para ele é muito, já que vê tudo resplandecendo através do prato bem polido. ( esse é dos meus, tem mania de lustrar tudo...rss...).
    um abraço

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  11. Beatriz muitas vezes ter muito é tão insatisfatorio que tentamos preencher com ainda mais.Que bom que ler seu comentário, deixou de comentar apenas uma vez e eu já fiquei com saudades.

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  12. Solivan, não comentar, não significa que não te leio sempre! Que bom que sente saudade.

    Adorei seu auto-retrato, tbem cheia de significados, que dá até medo de comentar e errar!

    beijo

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  13. ha Mari como fui eu quem criei o personagem
    sei que ele não e egoísta e se alguém quisesse ver o prato dele ele sentiria orgulho de mostrar.bom deste que tomasse cuidado e lava-se as mãos.
    obrigado Mari por seus comentários.

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  14. O egoísmo ao qual me referi é o egoísmo de não doar-se Fig.: ex.: não sujar o prato, pq ele o idolatrava. Entendeu?
    E esqueci de comentar a imagem. Muito expressiva e discursiva. Eu gostaria de ter na minha parede...

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  15. Solivan,iluminação e obscuridade que estão em todos nós, não é? Gosto muito do seu autorretrato: ele tem uma boca fálica que é uma banana e que nos parece também uma boca triste, cansada. A lágrima que cai de um olho sugere nossos momentos de dificuldade, dor. Enquanto o outro olho quadrado também diz de um estado de contemplação talvez do todo; e contempla um momento (talvez coletivo) de pasmo diante do mundo. Gosto do vermelho nas mãos, no coração e a tarefa do artista da criação. Criar talvez seja essa dor também, o sofrimento com o que virá. Barba por fazer, teclas visíveis como mecanismo moderno de criação. Hoje olhei somente a tela. Parabéns! Beijos! Rita

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