No rio Iguaçu as asas das garças afagam o céu
como se tocasse uma música difícil, mas que soa suave.
Num trilo de colcheias com movimentos elegantes
traçam um voo linear, ornamentado apenas no alçar e no pouso.
Nas fazendas os urubus têm um bater de asas lento
como o trocar de páginas de um livro.
Sobrevoam em aspirais de breve e semi-breves
com asas que parecem à haste dos equilibristas,
apenas ajustando-se as correntes ascendentes.
Os urubus não voam, levitam no mais alto céu.
Na cidade a trajetória dos pardais é reta e objetiva,
de raras curvas a meia-altura, mas seu voo tem uma
linha ondulante com asas em ascendentes fusas
e leves mergulhos de pausas em mínimas.
Sinuosos como uma pedra jogada num lago,
mesmo no chão não andam, saltitam como
pequeninos cangurus emplumados com cores sóbrias.
Nas pastagens é de linha irregular o voo da tesourinha
suas asas tropeçam em dissonantes fusas, dessincronizados
dos movimentos da cauda longa,mas os movimentos que
parecem desequilibrados são passos graciosos de um
dançarino fingindo-se coto. As tesourinhas não habitam o sul,
moram no verão e retornam sempre que o Paraná se veste de sol.
Em Quedas, as andorinhas quando solitárias
voam em altas linhas mistas, asas em colcheias retas e
planam em tortas pausas semibreves.Passeiam acima
de outros pássaros que apenas cruzam o céu ocupados.
E quando em cardumes as andorinhas revoam leve,
num céu marinho, como um véu em uma dança.
Mas plantações de soja é entediado o voo dos Carcarás,
adejam em editadas linhas curvas de carniceiros com asas
em negligentes colcheias e preguiçosas pausas em semibreves.
Alimentados só alçam vôo em parábolas contrariadas e curtas
se perturbados. Ave esculpida para o céu, prefere acomodar
nas curvas de nível, são como água de um lago indolente
que não quer voar, que não quer ser nuvem.
Nos bairros as pombas Juritis cruzam em retas objetivas
e cinzas,sem passeios, suas asas martelam o céu
em fusas viris e continuas que parecem sôfregas
por que são pequenas mas compensadas por um forte peito.
As vezes desviarem de uma pedra imaginaria,
Porém tem no alçar o traçado e o pouso,
flecha pragmática que ao ser lançada já tem definido o alvo.
Nos capões os Anús-pretos em retilíneos voos coletivos
vão de uma arvore à próxima em alarido prateado.
Voam com asas em elos de fúnebres semicolcheias
e pairadas de colcheias em cruz .
Apanhadores de gafanhotos, quando pousam nas laranjeiras
mortas em lamúrias agudas trazem um agouro de corvos,
Talvez pela anoitecida cor que ambos tem.
Levam o mesmo estigma dos morcegos frutívoros.
A saracura nos matagais entre cipoal e espinhos flui,
baila no solo desenvolta até emaranhados esconderijos.
Só voa em desesperado arco rampante com asas
em atrofiadas fusas se perseguida em estradas vicinais
por carro ou cão, sua fuga então e sem dribles,
começa em corrida veloz para apos abrir-se em busca
de sustentação e alça-se até o colo da árvore mais próxima.
Nos jardins o beija-flor voa em inquietas linhas aquáticas,
semifusas tornam suas asas etéreas,transparentes
como nadadeiras, cinzelado com o mesmo
ouro-verde ou prata-azul dos peixes ornamentais,
nadam nos quintais nas profundezas claras
do céu, este oceano doce para pássaros.
Fotografia e poema de Solivan