segunda-feira, 18 de julho de 2011

O balão que se transforma em circo

um pequeno pedaço de meu livro infantil
"A história do início"




Estava na janela quando vi chegar ao posto Hércules, um homem com roupa de leopardo, puxando com uma corda um comboio de um circo. Todos os carros, jaulas e caminhões estavam amarrados um ao outro, como vagões de um trem, porquê tinha acabado a gasolina de todos, e como ele era o mais forte, teve que trazer todos para abastecer.
Corri para o pátio e vi os leões e tigres saírem das jaulas. Os leões se espreguiçavam e diziam que estavam cansados da viagem. Um tigre me pediu onde ficava um açougue. Macacos, palhaços e anões desciam dos carros, e quando abriram as portas, voaram de dentro, pombas e saltavam coelhos. Um elefante indiano saiu de dentro de um fusca como contorcionista hindu de uma caixinha. No céu tinha uma trapezista que havia amarrado seu trapézio nos raios de sol e vinha sentada, e também um enorme balão colorido com faixa azul e amarelo.
O dono do circo me explicou que o balão iria para a cidade sul, perto da Plasticolar, lá já estava pronta uma armação onde o balão vai pousar e se transformar na tenda do circo. O palhaço Gargalhada pediu para eu ficar em cima da sombra dele. É como se a sombra fosse uma coberta, saiu me arrastando, imitando um motor de automóvel em alta velocidade, freadas, guinchos nas curvas fechadas, derrapagens. Parou pediu ao meu pai quanto custava para abastecer e mandou encher seu bolso furado. Começou procurar dinheiro, passarinhos saíram voando dele e pagou com dinheiro imaginário, mais três ingressos. Deu mais algumas voltas comigo, então parou, imitou um chofer abrindo a porta de um carro e se despediu. Todos voltaram para seus carros e jaulas e partiram. Fiquei acenando.
O resto da tarde esperei ansioso o espetáculo. Tomei banho mais cedo, comprei algumas balas e fui acampar dentro do carro. Quando chegasse a hora já queria estar pronto. Com os ingressos, que tinham um palhaço impresso, brinquei de baralho e fiz luta de um ingresso contra o outro. Olhei tanto, tanto, para meu relógio que ele ficou gasto e parou de funcionar. Quando escureceu, finalmente meus pais apareceram. Meu pai ligou o carro, torcendo a chave como fazia às vezes com minha orelha, e fomos.
Avistei de longe o circo envolvido em luzes coloridas como um pinheiro de natal. Meu coração batia como asas e inquieto queria escapar, chegar à frente e ficar voando sobre aquela montanha de listras amarelas e azuis, com as casas da cidade em sua volta. Quando cheguei perto fiquei com medo. Amarrei meus cinco dedos bem fortes na mão de minha mãe. Mas assim que atravessamos o portal, o meu medo floresceu a alegria. Ao lado do caminho de serragem parecida com a de Corpus Christi, haviam elefantes, tigres e o palhaço Gargalhada estavam vendendo algodão-doce feitos com juba de leão albino e açúcar. De um anão compro uma pipoca e bailarinas oferecem maçã do amor. Escalamos as arquibancadas. Experimento minha pipoca, parece isopor com sal.
A primeira atração foi o mágico, que ao entrar fez a gravata borboleta azul do apresentador sair voando. Logo iniciou um número chamado Evolução. Colocou três caixas, uma sobre a outra, e colocou chimpanzé dentro delas. Fez uns gestos mágicos e abriu a caixa de cima, apareceu o rosto de uma mulher. Abriu as outras duas e o corpo era do macaco. Fechou tudo novamente, abriu outra vez, desta vez a cabeça era do macaco o corpo da mulher e as pernas do macaco. Depois cobriu tudo com um manto de veludo vermelho, quando o retirou, saiu o chimpanzé vestido como bailarina se despedindo da platéia. Então entraram os palhaços Descarga e seu filho Bulica, mais sete anões em um Calhambeque que tinha no lugar de um dos pneus uma bóia de patinho. Desceram, contaram várias piadas, fizeram cambalhotas, caretas, tapas. Depois veio Luthar , o filho de dragão cuspindo fogo e engolindo espadas. Também veio o domador cavalgando um leão, um malabarista vestido de pirata que de repente tirou sua perna de pau e a fez girar com os outros pinos. Trapezistas com movimentos de golfinhos nadavam no ar. Motociclistas com suas motos, metade mariposas, metade vaga-lumes, giravam no globo da morte querendo apanhar a luz do seu próprio farol. Adormeci no meio deste sonho.
No domingo, soube que íamos mudar para outra cidade. Meu pai e minha mãe foram com o fusca joaninha. Eu peguei minha coleção de chaveiros e um carrinho e fui cavalgando no meu cinamomo até Quedas do Iguaçu, local de nossa nova casa.

Conto e ilustração de Solivan

8 comentários:

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  2. Obrigado Mari,mesmo hoje meus olhos gostam de ver
    os circos, estas montanhas coloridas,só falta terem neve em seus cumes.

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  3. Nossa Solivan, ao ler sua história fiquei lembrando da alegria que ficava quando o circo chegava na Penha, era tão raro, e ficava assim como vc, ansiosa para ver o espetáculo. Uma alegria marcante da minha infância!

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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  5. Eu não gosto com o que fazem com animais nos açougues.Nos circos e nos zoo, se bem cuidados eu gosto.

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  6. Oi Eliane,este foi,e claro que maravilhado pela fantasia,meu primeiro circo.

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  7. me lembrei do Carequinha, aquele palhaço que eu amava e que perguntava pra criançada "hoje tem marmelada?"
    etc.etc. Sempte tive vontade de ser palhaço, sair por aí fazendo rir. Bjaum, Solivan

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  8. têm sim senhor!!
    é bom cultivar sorrisos né Neuzza?

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