sábado, 26 de dezembro de 2009

Fragmentos do diário de Ariel

Caminho pela praia
com minhas calças brancas arregaçadas
e chinelos nas mãos
arregaçassem-se as mangas da camisa para trabalhar
e as calças para andar na praia.
Meu olhar coletor
junta conchas,
barcos de pescadores ancorados na areia
gaivotas e velhos casais passeando.
Bares à beira mar,
fechados e sendo abertos.
Minha sombra vai a minha frente,
desliza como um delfim
sobre a areia
abraça os barcos como uma pele
imprime-me neles
na cor deles,
é transpassada por águas
e espumas
que às vezes
chega a meus pés.
Invejo-a, quero também este mimetismo.
Algo no presente
os prédios novos, modernos
restaurantes
placas oferecendo frutos do mar
e crianças brincando
foi me trazendo o passado:
pai, mãe, minha infância, casas de veraneio
passeios, calçadas, ruas, conchas apanhadas,
viagens, shoppings
vitrines, livrarias, cinemas, casas de artesanato
e de artigos de praia, odor de bronzeador.
Sou um homem com ilustrações na alma
ando com ilustrações e passos vagarosos
um banco ao lado de uma árvore
convida-me a olhar a imensidão
sinto-me enorme, sou até aonde
minha visão alcança.
Olho um pássaro no alto, distante
no céu azul com nuvens brancas
e me pergunto
quem é mais livre neste instante
o pássaro lá no alto
com olhos fixos na terra
ou eu de olhos perdidos e livres no firmamento
e neste momento
em que a retina engole o oceano
o céu e a linha do horizonte,
ouço o mar
e o barulho do mar
lembra-me
o som do interior das conchas.

De Solivan

Um comentário:

  1. sou até onde minha visão alcança...

    belíssima frase poeta!

    Beatriz

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