segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Jazz session



Jazz session


Minha alma
tem um revólver carregado
com seis peixes de prata
e toureia um Minotauro
e apanha pássaros com uma rede de pesca
e vê guardas ingleses treinando
para serem homens estátuas nas praças.

E imagina árvores que no lugar de folhas
tem lambaris
brilhando ao sol.
e o vento e o vento
minha alma gosta de viajar
agarrado nas crinas do vento
de hoje até ontemontem
e grita.
Um corte no indicador de um escritor é como corte na língua.

Minha alma vai indo fluindo
fluindoevindo

Visita à lua crescente,
abre a boca e se amamenta
de um raio solar.
e viu Deus
e ele espalitava os dentes.
viu
marcianos e eles comem apenas
folhas de eucalipto como coalas
e também quis
brincar de moldar
genes de leões.
Leões em miniatura,
leões negros,
leões camaleônicos,
leões bioluminescentes,
leões coloridos,
mega-leãos,
leões malhados,
leões poodle.

Minha alma é errante toca em tudo.

Entra nas cobras,
entoca-se no cerne das árvores,
nos rios,
em balaios kaikangues,
dentro
de uma andorinha em migração,
dentro de um abutre
e consegue comer como carniça com gosto.
Minha alma entra
numa orquídea e explode em flor.

Cavalga no centauro Gerridae
pelos sete mares.
No grifo Actias Luna
que voou em torno do sol
até morrer.

Minha alma viu
o caçador levar a anta abatida
nas costas até o shopping center,
estaquear, carnear e comer.


Minha alma sentiu
e gritou:
Beethoven, Beethoven!
como deve ter sido difícil
e pesado levar dentro
do peito a nona sinfonia,
deve ser como ter uma tempestade no peito
se debatendo dentro do útero,
chutando a barriga.
Que alivio quando finalmente nasceu.

Os olhos de minha alma.
Os olhos de minha alma.
Grudam nos livros,
tromba de pernilongo
sugando, sugando o sangue dos livros.
Mãos de carrapato grudam na capa dos livros e não querem mais soltar.
Hematófago,
o vampiro Desmundos lambe livros com sua anti-coagulante secreção,
suga, suga a essência dos livros,
seus eflúvios,
seu ectoplasma,
minha alma se alimenta dos livros
e passa para eles doenças sexualmente transmissíveis.


E os olhos de minha alma engolem
programas de televisão
revistas, viagens, seios,
e transformam tudo em poesia.

Minha alma tem sede de poder,
quer tudo o que é belo,
quer demarcar meu território com urina
em qualquer arvore bonita,
qualquer montanha elegante,
ou por de sol cor de rosa.

Minha alma sabe
de um boi que caçava galinhas.
Se uma galinha
passava perto dele
virava pasto.

E que o ditador Somoza
comprou uma estatua eqüestre de Mussolini,
em promoção depois da deposição do Duce.
retirou a cabeça de Mussolini da estátua
e colocou uma sua.
E acha que radiografia é pop
porque já olhou para radiografias
com garrafas de Coca-cola no reto,
com souvenir da torre Eiffel
e da torre de Dubai,
com casulos de cocaína,
com réplicas da Apolo 11,
e miniaturas de mísseis nucleares enfiados no intestino.

Minha alma sonha
que no Amazonas caçadores perseguem
onças e sucuris
com uma matilha de carrancas.

Minha alma inventa
um isqueiro com um dispositivo
que segure a chama e possa ser usado como vela.

E diz
que muitos problemas emocionais
acontecem quando se tenta domar
a emoção pela brutalidade
e pela obediência cega a razão.
Às vezes temos que levar a emoção para passear
alimenta-lá bem, dar carinho.
Se a emoção ficar presa,
se você bater nela
e a deixar com sede de sexo,
sua emoção vai morder sua mão,
e morder seu cérebro macio,
arranhar seu coração
como um gato angustiado o sofá.

Minha alma pensa
em jazz enquanto como gabirova,
pensa em jaz enquanto chupo cana
e também consegue pensar em assobio
enquanto chupa cama
e afirma que lavagem intestinal cura disenteria.

Minha alma,
minha alma,
encosta o ouvido num cabo de aço que segurava um poste
e toca a corda como quem toca um contrabaixo
e escuta um som que parece um lazer
dos filmes ficção científica.


Minha alma gosta
de andar pelas ruas tocando harpa nas grades das casas
prrrrrrprrrrprrrrrrrrr pla pla pla pla.

Cada grade tem uma música diferente.
E também de
lamber pedaços de madeira.
Quer saber que gosto tem as árvores e não só os frutos.
sabe que o pinheiro tem gosto de resina,
guabriuva é amarga,
que cedro e marfim lembram palmito.


E o cheiro da folha de figo
e parecido com o gosto da fruta.

E flor de mamão tem um refinado perfume
cheiro de fruta e de flor juntos.

E acha
que joaninhas verdes metálicas
ficariam ótimos como brincos.

De repente minha alma
que estava pensando em joaninhas,
cria sabores de refrigerantes,
refrigerante sabor de folha de bergamotas,
refrigerante de pitanga,
refrigerante de guabiroba e araçá,
refrigerante de cidreira,
refrigerante de pequi,
de caraguatá,




E vai para qualquer
descaminho,
com as pernas na terra,
mas braços
sempre tentando alçar vôo
sem conseguir.
Porém os olhos,
sempre,
os olhos,
gostam de seguir aviões.


Minha alma,
minha alma,
quer fazer
um teatro em preto e branco
ou um filme colorido
onde o cenário, as pessoas, o figurino.
tudo
tudo
é preto e branco.
E ver
uma baleia azul cruzar a cidade
voando e cantando,
lenta como um zepelim.

Minha alma me pergunta
será?
será?
Se conseguirmos por uma cabeça de um velho
no corpo de um jovem,
será que o corpo vai envelhecer?
ou a cabeça vai rejuvenescer?
ou ambos vão continuar distintos?

Minha alma quer fazer parques temáticos.

A cidade de Pedrok, dos Jetsons, do Asterix.
A cidade dos super-heróis da Marvel, da DC Comics.
com vilões e heróis lutando nas ruas.
Cidade dos gangsteres, com bares de jazz
e um escritor beat escrevendo sem parar,
tocando sua maquina de escrever
como se fosse um piano.
Cidades romanas, com hotéis e bordeis, e luta de gladiadores.
Uma cidade submersa imitando uma quadra de Nova Iorque,
onde só se pode entrar com submarinos ou trajes de mergulho.



Nada de partenogênese hoje.

A alma quieta,
quieta,
nada, nada.
Fumo um cigarro e nada, nada.
partenogênese me vem esta palavra,
procuro metáforas e nada, nada.
saio, vejo o Beto, pensei em fazer poesia sobre o Beto,
mas não da,
Porque o Beto viu disco voador, mas não foi abduzido,
e ainda tenho que ir ao banco.
O Beto
parece um desses imitadores de Jesus.
Nada, nada,
poema sobre o Beto não da,
Beto é um nome que não cai bem para um poema.
Um gole de água,
sem sede, nada, nada.
Penso em cavalos, ventos, brincos, no Beto.
Nada,
nada,
estou seco, sem alma,
a alma deve ter ido brincar em alguma chuva distante.
A mão batuca a mesa,
cavalgo com os dedos,
Vou ao banheiro,
Sento novamente,
sinto dores na nuca, coceiras.
Nada,
nada,
o pensamento esta imerso na escuridão.
Coço as costas, acaricio a fronte,
mais um gole de água, ginástica facial,
Vou pegar um outro cigarro,
parece insônia
debato-me,
e nada, nada como falta de sono
nada se idéias,
nada de tema
nada
penso em avião, no Beto, não no Beto não adianta não dá poema.
O telefone toca,
O subconsciente não está para
peixes bioluminescentes.
Esta tedioso,
o milagre da multiplicação dos peixes profundos
não acontece,
raiva,
soco na mesa, coceira, dores,
Nada disso acontece quando
quando consigo escrever.

Sem alma
sinto-me um ídolo de pedra
e ninguém devia ler
o que um ídolo de pedra escreve,
seria idolatria.
Olho meu sapatenis,
preciso comprar outro
o tempo passou hora do almoço,
outro dia, minha alma foi passear sem mim.
Vi meus e-mails,
Estou perdido,
cérebro sem pensamentos
é um celebro com cegueira, é tudo escuro.
Acendo um cigarro,
sinais de fumaça para minha alma me localizar,


nada de idéias,
nada,
nada,

A minha garrafa ou mar foi engolida por uma baleia.
Jonas, Jonas volte para tua caverna estomacal
e leia esta mensagem.

O telefone grita como gato esfaqueado,
bebe com fome
e quer ser atendido,
procura as glândulas mamarias de minha orelha.

Minha alma voltou,
minhaalma voltou,
estou fluindo e vindo.
Minha alma me leva,
alimenta-me de estrelas,
de flores com néctar.

E me conta
Que a criação sempre surge antes da realização
portanto a criação esta sempre um passo a frente do real.
A criação é o objetivo do real.
E que as fantasias sexuais que um casal tem quando fazem sexo
é uma evolução da masturbação.
E posições sexuais acrobáticas são para casais sem imaginação
é que seu melhor parceiro sexual
e aquele que você pode partilhar todas suas fantasias.

Minha alma assiste televisão
a lutas,
corridas,
feras,
panis et circus televisivos




Minha alma me diz enquanto vou comprar pão:

Não tenho medo de alturas,
temo é minha vontade de me jogar,
pareço estar sendo puxado por algo magnético,
sempre que fico perto de uma platibanda ou sacada.


Se temos o mesmo antecedente primata dos chipanzés
e os chipanzés têm apenas os pelos negros,
mas as peles deles não são apenas pretas,
pois há muitos chipanzés de pele branca,
então, teoricamente os primeiros homens africanos
também poderiam ser pretos e brancos e não só negros.

Minha alma pensa enquanto
olha as lajotas hexagonais,
lajotas quebradas por uma raiz de arvore,
cigarros mortos no caminho,
Minha alma se lembrou quando estava na praia
e fui a uma padaria.
Entra
e olho para os pães de queijo murcho como uma teta velha,
asgar de asco,
pede 10 pães franceses,
troco em chicletes Plets tutti-frutti,
e volta olhando as lajotas hexagonais.

Minha alma pensa

em um tiro no coração que explode como um vaso com rosas.

Minha alma gosta
de ver atrás dos quadros,
olhar a armação da tela,
as madeiras, os pregos,
gosta de ver as costas dos quadros.

Quer fazer um a exposição com telas viradas.
pintar telas viradas.
E diz,
Louvre
já cansei de ver a cara de Rembrandt,
virem à tela de costas,
coloquem a Monalisa em decúbito ventral.


O olho cheio de alma
chega antes.

O Hubble,
olho da humanidade,
chegou antes em Andrômeda.
O olho passeou por super novas.
O olho, já viu galáxias.
O olho pode ver o centro do sol sem se queimar.
O olho pode rondar sobre um buraco negro.
Que os outros sentidos
morram de inveja.

E por causa dos oceanos e da terra
o nosso planeta deve ter
gosto de uma lágrima
de lavrador.


Minha alma,
minha alma,
sonha
dar movimentos a fotografia
e parar filmes,
pintar estátuas,
esculpir quadros e músicas.
Sim, minha alma já experimentou muita coisa,
entalhou ventos e mares,
moldou um raio de sol,
um canto de canário
e um grito de dor,
nadou no aço
e pescou peixes fossilizados dentro de pedras.

E descobriu
que todas as estátuas de santos
que choram e sangram
foram feitos de madeira
retirada
dos instrumentos da inquisição.

Então
tirou um galho de uma coroa de espinhos
e fez
uma caneta
com a qual escrevo todos os poemas
que me dita.
Sou o escriba
de minha alma.


Com minha alma

cavalguei em um casal de libélulas azuis
enquanto acasalavam.

Cavalguei
em um garanhão
enquanto montava uma égua.

Minha alma me mostrou
leões caçando
atuns em um recife de corais.

Tubarão branco matando
uma zebra na savana africana.

Golfinhos se alimentam
bandos de estorninhos em evolução.

Com minha alma sonhei
que meus dedos se multiplicavam e viravam teclas
de marfim,
e vísceras cordas e ossos engrenagem,
e meu corpo o corpo do piano.
Que reencarnei como um piano,
desses que ficam no canto de uma sala
sem serem tocados.

Minha alma
é livre e afaga cães
e diz o que pensa.

Poetas discutem nomes
numa guerra inútil de conhecimentos.
A criatividade é a espada do poeta,
não o conhecimento,
o conhecimento é sua faca.
E
O artista louco ganhou respeito
desde Van Gogh, Artaud.
O poeta que não deciframos,
a tela que não compreendemos
deixa-nos ansioso,
em duvida,
todos ficam sem saber se o que vem
é loucura ou genialidade.
Mas o artista louco é muitas vezes só um louco,
não um gênio louco.
O louco
também pode ser apenas um idiota


Vento, vento, vento,
minha alma quer ir com o vento,
a seguro com o cordão umbilical.

e com um óculos escuro
entardece o meio dia.

Minha alma

flutuando
gosta de ler pelo escritório.
E grita:
Ler um poeta e incorporar sua alma.
Vejo Minas com as mesmas retinas de Carlos
e recife com a mesma exatidão de Cabral.

Canta Patativa, canta,
que depois que te li, teu sertão é também o meu.

Quero quando me ler,
que as guaxunbas,
as gabirobas,
as casas azuis,
que as pingas com cidreiras nas bodegas,
as pingas com milome
sejam minhas.
E quando
cavalgar numa pedra de avalanche,
cavalgar num tsunami,
lembrem de mim.


Minha alma
notou
aquele que só consegue ser ele mesmo
disfarçado e com nome falso.

E como está cansada
inveja até
cobra morta que parece descansar
enrodilhada
dentro de um vidro de formol.


Minha alma
delfim gosta
de brincar na chuva,
se lambuzar de água-doce,
ver a cidade incrustada
e as ruas espelhando céus.


Minha alma gosta
de nadar entre os arabescos dourados das músicas de Bach.

Entre os corais na primavera
e depois fumar uma nebulosa.

Minha alma
mesclou-se com o vento
e brincou com uma folha no outono.

Contorceu-se em redemoinhos
atravessando um cemitério abandonado.

Em viagem astral
minha alma,
minha alma,
já foi pintar desertos americanos,
os creosotes e cactus
e ao fundo a parte de traz dos de motéis,
e depósitos com pneus velhos,
lanchonetes, postos de gasolina.
Pintava ouvindo os automóveis passar
e bebia sua areia com gelo
e sobrevoou com abutres a procura
de carniça no asfalto quente.
Morou em trailers prateados
escrevendo poemas tristes,
esvaziou uísque e jogou
as garrafas com mensagens
ao céu.
Tinha a geladeira cheia de cascavéis e enlatados
dormia sobre um sofá rasgado em
frente a uma TV preto e branco,
ouvindo apenas os pulsares.
De madrugada discos voadores
perturbam seu sono.
Andava pela noite ouvindo
o coração e dissecando
cada pedra do Mojave
e voltava pela manhã apenas música.


Viagem astral,
viagem astral,
minha alma,
minha alma passa
por distritos industriais com cheiro de cinzeiros,
com imensas catedrais de aço
ligadas por tobogãs com feridas de ferrugem.
Motores e máquinas que parecem
tubulações intestinais,
é possível ler a sorte
em suas vísceras expostas.
Alguns corvos sentam
em seus galhos metálicos.
Há apenas algumas árvores empoeiradas
como artefatos em uma tumba.
Sirenes uivam, gemidos
e ranger de dentes,
o choro das engrenagens, caldeiras e seus guizos.
Containeres como legos nos pátios.
Abutres que comem ferro podre
rondam a putrefação bio mecânica.
Telas eletrificadas como
velhas meia-calças desfiadas,
como redes de pescas velhas e rasgadas.


Minha alma
continua,
minha alma não para.

Minha alma,
minha alma
joga uma pedra no ar
e a pedra se transformou em pomba
que continuou a voar
e fez ninho,acasalou,ensinou seus filhos a voar.
A pedra-pomba procurou frutas,
comeu milho nas praças
e restos de pipoca.
Minha pedra pousou nas platibandas
e num entardecer, caiu e morreu.
Sua carne e penas foram reaproveitadas
mas os ossinhos lindos ficaram em um canto da praça,
delicados em uma posição elegante de fossilizados,
Quem diria que uma pedra ia acabar assim,
porque geralmente uma pedra já nasce morta,
mas esta não, esta viveu e morreu.


Minha alma,
minha alma
procura os cantos,
olha cada canto da cidade
como quem procura,
um quadro bonito em uma galeria.

Minha alma
encantou-se com um pedacinho de mato
que cresceu sobre pedra brita
encostado em um muro velho de um estacionamento.
Cresceu silencioso, sem gritar flores,
certamente já gemeu algumas florzinhas
minúsculas em alguma primavera,
mas agora acho que não consegue mais florir.
Agora só tem algumas folhas envelhecidas,
empoeiradas
e alguns galhinhos ressequidos,
descarnados, ossinhos pretos e sem carne,
esqueletinhos secos de planta.
Nem insetos parecem se interessar por seus
galhinho.
Vejo formigas passarem displicentes.
Pode ate ter milhões de micróbios, mas
aparentemente não tem nada.
Tão lindo este cantinho de mato
enfeitado com embalagens de chicletes
e bitucas de cigarros.
Um lugarzinho belamente feio,
uma feiúra que causa comoção
de tão singela, feiúra que não pede atenção,
uma feiúra discreta,
que nem se percebe, escondida num canto,
tanto que o dono do estacionamento
nem a tira, nem a nota.
como certamente faria com uma feiúra vistosa.
Só minha alma perigosamente a notou
e as plantinhas pareceram amedrontadas
com os olhos de minha alma.
Este pedaçinho de mato
sempre esteve escondido dentro da discrição,
descrição era sua toca.
Parece que nunca tiveram
a atenção de um olhar,
por isto aterrorizo este pobre matinho
e ele se sente pela primeira vez
frente a frente com o perigo.
Tento o acalmar afagando suas folhas secas,
mas é melhor eu e minha alma irmos,
para não chamar a atenção do dono e sua enxada.


Minha alma
gosta de digressões.

A magia tem milênios e só muda de roupa e língua.
A magia sempre foi ligada a uma religião
e todas as religiões querem realizar prodígios
como prova de sua verdade.
Milagre é outro nome dado à magia.
Os magos modernos
pegam seu livro milenar
a Bíblia
e recitam seus encantamentos,
conclamam poderes superiores
e com gestos e palavras mágicas
chamados de oração
tentam curar doenças,
fazer paralíticos andar sobre as águas



A arte é uma invenção da religiosidade.
A arte esqueceu que nasceu como oferenda
para caçar mamutes.
Sim, sim sua origem é singela
e Michelangelo foi coveiro do Papa Julio II.

A arte faz
uma haste de ferro
florescer rosas vermelhas,
consegue fazer uma maçã
que não e uma maçã.


E o que é um poema?

O que é um poema?

A melhor definição de algo é sempre sua palavra,
fora a palavra toda a definição é incompleta.

Pode se dizer que um homem
é um bípede,
mas se alguém não anda
ele continua sendo humano.
Que são racionais
mas se alguém nasce sem cérebro
ele continua sendo humano,
Portanto bípede e racionais são em si conceitos falhos
que não servem para todos os humanos,
então a melhor definição para o que é homem
é a palavra homem.






Como a melhor definição para a poesia
é a palavra poesia.
E a melhor definição da uma árvore
é a palavra árvore,
e a melhor definição da palavra
pedra é a palavra pedra.

E uma pedra tem alma
e uma árvore também tem alma,
tudo tem alma,
porque, se olhássemos
as pedras
apenas como pedras
e as árvores
apenas como árvores
nos é que não teríamos alma.
Porque uma pedra
não olha a alma de outra pedra
nem uma árvore
olha para alma de outra árvore.
Apenas quem tem alma
consegue ver almas em coisas
inanimadas.

Minha alma,
Minha alma
curiosa,
curiosa
gosta de entrar em casas vazias.
Com jeito de arqueólogo,
de ladrão de tumbas,
entra nas casas a beira do asfalto
que vemos quando viajamos de carros.
Em casas que parecem casamatas.
Em casinhas azuis com portas abertas.
Minha alma
abre as geladeiras,
mexe em gavetas,
nos guarda-roupas, nos perfumes
vejo se usam xampu pra cabelos secos ou não.
Experimento todos os perfumes,
os sabores dos alimentos,
tomo os remédios,vejo as plantas,
leio as revistas e livros.

Minha alma
vai para a ilha de Utopia
e lá fazem sexo como bonobos
e em toda a praça tem
uma estatua da Liza Simpson.


Minha alma explica
o porquê do homossexualismo entre os animais:
É porque o sexo é feito para o prazer e não para procriar.
Se o sexo não fosse delicioso, faríamos sexo apenas para procriar
como um sacrifício para a continuidade da espécie.
O prazer é uma isca atraente demais para ser evitada e a evolução a usa, então o homossexualismo existe entre os animais
porque o sexo existe para ser prazer.
Comer também é um prazer e se um alimento
não tem nenhum valor nutritivo,
mas é muito saboroso como o sal,
será consumido com avidez.

Minha alma vai fluindo indo,
sem lenço ou documento,
leve, leve descompromissada e diz o que quer.
E minha alma quer uma máquina que retrate cheiros,
que ao achar uma flor, possa levar seu perfume para casa.
Uma máquina para que eu possa me perfumar
com o cheiro da maçã,
com o cheiro de uma
manhã orvalhada.
Minha alma
quer uma máquina que retrate o sabor.
Telescópios que nos permitam lamber estrelas,
sentir o gosto de uma nebulosa,
Quero saber que gosto tem os confins do universo,
telescópios que nos permitam lamber estrelas,
sentir como seria fumar uma nebulosa.
Quero que seja possível
procurar no google um sabor e um cheiro.



Minha alma me diz:

Não se preocupe quando o inferno estiver cheio
os demônios podem colonizar
o sol,
este inferno que nos aquece no inverno.

Minha alma fala
que dobras espaciais,
universos paralelos.
viagens no tempo
são besteiras.
Einstein foi o gênio
que atrai uma legião de seguidores estúpidos,

Como o podre Leonardo da Vinci
atraei ocultistas.
e Duchamp artistas idiotas,
Minha alma brinca
com fogo
e sopro de dragão não apaga velas.


Minha alma vai para onde quer,
vai para onde,
vai parar aonde?

Sentado em uma pedra com as mãos no queixo
pensa em pavões cor de rosa,
agulhas para suturar líquidos,
cigarros feitos com água de mar,

Minha alma gosta de fumar um cigarro,
quando chega a uma praia,a uma cidade,
gosta de soprar sua fumaça xamânica
em todo lugar bonito,
Gosta de passear
soltando pela boca a cada tragada
um ectoplasma
que me mescla
com as casas, rios,
une-me em ligação sensual com o todo.

Minha alma,
Minha alma
vendo uma imensidão
gritou do cume:

Eu sou tudo que minha visão alcança, sou enorme
sou ate aonde vai meu olhar.
Com meus olhos toco as nuvens e o céu,
com meus olhos sinto os pássaros,
com meus olhos apanho as frutas mais altas.
Sou uma redoma de olhar,
imenso,moldável,
em mim cabe uma parte de rua
com seus carros,
mas a massa de meu olhar para nos prédios.
Se num quarto,
acabo em suas paredes,
e em uma janela para a amplidão
sou até a linha do horizonte,
se vejo a noite vou até as estrelas.
A carne do meu olhar tem tato,
e sente os ventos.
A carne do meu olhar sente gosto,
com ele lambo a prateada lua,
A carne do meu olhar tem olfato
e cheira a primeira flor de
Andrômeda.
Meu olhar é tentáculo
vai ao longínquo,
e toca o fim visível do cosmos,
Meu olhar é língua de camaleão
e engole estrelas.
Por isto gosto de imensidões onde meu olhar cresce
e me estendo até o Máximo,
sem meu olhar me reduzo,
fico apenas do tamanho me meu tato,
do tamanho de meu gosto.
Só meu pensamento é ainda maior
que meu olhar
e vai ainda mais longe,
Meu pensamento é o olhar do meu olhar
e chega ate depois da linha do horizonte
e chega ao depois do Cosmos,
mas o pensamento
também tem seu final.

Minha alma
estava nas profundezas do oceano
assando um peixe bioluminescente,
olha para cima e vê um sol,
duas luas e um planeta anelado,
e grita:
Espero
que no próximo estado evolutivo
da humanidade os músculos
responsáveis pelas gargalhada se tornem mais fortes,
e os falos sejam mais sensíveis e as vulvas mais
receptivas.
Sim,sim e acredito no improvável,
porque se o aço levita,
se o aço flutua,
então posso ser ascendente, sempre ascendente,
pólen pronto para fecundar
e quero
um poema forte como uma oração,
um poema milagroso
que ao ser entoado faça
minha carne flutuar
quero cuspir tempestades,
inundar, irromper ,erupção
libertar sinfonias,






rasgar o peito e gritar mais forte ainda:
Voa meu coração com azas
está livre destas grades de ossos,
e gemer um gozo,
um êxtase eterno
que irá arrancar de mim
cachos de notas floridas perfumadas,
notas soltas com dente de leão ao ar.
Arrancar de mim
e rodar uma valsa do tornado
e vou
escrever na pele de meu amor uma ode a seu seio pequenino,
aranhando suas costas brancas uma ode a borboleta
pousada perto de seu ombro.
e na sua face um poema sobre seu olhar.

Minha alma.
minha alma
ouviu um grito de dor no paraíso.

Exegese de Eva

Eva, Eva
o Édem gritou de dor
quando você
Imolou o que mais amava,
Eva, Eva
Agora em sua boca ressaibos de carne crua.
Eva, Eva
seu cabelo foi a serpente
Eva Eva
sangra tua lagrima azul.
Eva,Eva
tua face; uma escultura bela
Foi remodelada pela angustia
Eva,Eva.
Trançados de espinhos envolvem o útero
Eva,Eva
tua pele é um sudário tecido de angustias e dor
Eva, Eva.
Com o coração mordido,
como uma gazela por um leão,
Eva, pobre Eva
tenta devolver
a maça a maça ferida.


Minha alma,
minha alma
é onívora
e come todos os estilos de poemas,
alimenta-se de todas as músicas.
Mas colhe solitária
os cabelos da estátua de Davi
que estavam no meu travesseiro
pela manhã.

Minha alma,
minha alma
marcou a ferro quente o vento
e a primavera
marcou a ferro a poesia.

Minha alma
arrancou um pedaço de minha própria carne
e alimentou uma águia
para que pelo menos uma parte de mim seja livre.
Que parte de mim voe.
Que parte de mim saiba o que e ser águia.

E quer ser
Como certos pássaros quando se esquecem que são pássaros
e se pensam vento.
Como certos pássaros se esquecem que são pássaros e vivem
como peixes.
Como certos pássaros se esquecem que são pássaros
e se deixam frutificar.
Como certos peixes quando se esquecem que são peixes
e se pensam oceano.

Minha alma diz:
Para rever a beleza de algo a tire do normal.
Se uma noite comum,
a mesma noite de sempre,
com as mesmas estrelas,
com a mesma lua,
apenas florescesse em pleno meio dia,
todos olhariam novamente para a noite
com encantamento.
O olhar novo sempre rompe o hímem
que nasce entre a beleza e o cotidiano.

Minha alma
é entranhada com minha carne,
minha alma perde cabelo,
se me corto a minha alma também levará a cicatriz.

Minha alma grita:
Serei o que me falta?
o que não sou,
serei o que almejo?
Serei eu, a parte que não sou?
Serei eu, as azas que não tenho?
Serei eu as barbatanas que me foram amputadas
ou as guelras que não tive?

Sou o que desejo ou o que sou?
O que desejo ou o que faço?
Será este sonho eu,
Ou sou o que possuo,
meus braços e minhas pernas e o que tenho como meu,
Serei eu?
Serei eu insatisfação
e falta ou o excesso?
Então me falto ou me sobro?
Será que sou o terceiro olho que não tenho?
Será que ser é uma essência alimentada
pelo que não existe,
enraizada no nada e quando este nada
vai se transformando aos poucos
em substância,
a essência morre,
porque a essência bebe seu néctar
nas inflorescências do nada.

Minha alma
não quer mais pensar.
Minha alma quer descansar,
voar no colo de
uma pomba sem cabeça.

Ilustração e poema de Solivan

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Sobre Quedas e digressões






Os Polacos ao chegar
fatiaram araucárias
construíram suas casas.
Católicos, martelavam com vigor
porque sabiam que neste lenho puro imaculado
não tinha as mãos de Jesus.
A araucária não tinha o pecado do cedro.
Neste tempo
as ruas de Quedas mudavam
de plumagens ao ano
no verão áspero pó vermelho
no inverno uma nupcial neblina.
Mas dos eslavos e capivaras e pinheirais
da comunidade mítica
desta primeira dentição de madeira
restam apenas
algumas casas apodrecidas.
Hoje as ruas são praticas e cinzas
e prédios matemáticos
feitos de cimento e cálculos.
porem em
suas calçadas de hexágonos sem mel
ainda aparecem índios
vendendo balaios.
E sua solidão,sua ruima,me lembra
que esta cidade quando vista de um alto
ainda parece
uma destas cidades perdidas na mata.
Não gosto do sabor insosso
das linhas retas.
Artificialidades não gosto de artificialidades.
Gosto de Gaudí
que fez o frio concreto cometer excessos
cometer luxurias.
Já a voluptuosidade de Niemayer
é uma voluptuosidade seca, estilizada,
voluptuosidade tem que ter exuberância.
Seus edifícios parecem esterilizados, sem germes.
Não confio em lugares que não tenha germes
lugares santos são cheios de germes
a beleza e sempre cheia de germes.
Porem artificialidade não e desumana
a artificialidade e algo racional
portanto mais humana que a exuberância.
A exuberância esta sim e algo mais animal
mais artística.
Os bares de Quedas
são os nascedouros das lendas
a cachaça com ervas e lascas de sassafrás
é um santo daime, um peiote.
O Orixá Mario de Andrade desce
como espírito santo
a linguagem entra em transe
peixes tornam-se monstruosos
e em quantidade milagrosas,
os tiros são mágicos
e matam uma onça mitológica
e o caçador é o cavalo da anta morta
no êxtase, na língua do sonhar.
E alguém imita um polaco
coro de risos.
Das livrarias
gosto da livraria de seu João
heroicamente agarrada ao passado
um carrapato agarrado ao ano de 1967.
Mesmo o jornal do dia
se comprado na livraria do seu João
já sai um jornal cinqüentenário
e muito mais sábio que mesmo jornal
comprado na outra esquina.
Já é um jornal
para ser guardado
uma relíquia
uma peça de antiquário.

Vila dias
E uma favela paranaense
uma favela branca, de europeus pobres
com um pouco do marrom terra dos caboclos.
Lá e em todo o oeste e sudoeste do Paraná
a cultura gaúcha
encontrou-se com a do caipira.
E quando culturas se encontram
espera-se choque, divisão ou amálgama.
Nas não houve embate
nem o gaúcho e o caboclo mesclaram-se culturalmente
somente desenvolveram uma coexistência única
O paranaense singularmente adotou como sua
duas culturas que continuam distintas e puras
dentro dele
em uma dualidade tão natural
que nem é percebida.
Nos velórios da Vila Dias
o caixão fica dentro das casas
sala aberta como templo.
Reverenciado pela curiosidade
o morto como um santo no oratório
decorado com coroas de alumínio
cuja as flores cheiram a tinta esmaltadas.
Conversas, chimarrão, rezas e choro
fermentam num bolo sonoro
salgado com suor.
Percebe-se em alguns
um certo sentimento de triunfo festivo
os vivos sentem-se vitoriosos
perante a morte.
No bar, musica embriagada
e a vizinha assiste à novela
porque na vila dias a morte é cotidiana
e a morte sem os dramas
das mortes dos semideuses da classe media.
A morte é comum, domestica
é parte da vida
não causa traumas.
Gosto de artemistificar a morte
compara-la a quintais abandonados.
Porque vejo
na briga de galo
entre a guaxuma e o picão
renitência do sempre renascer.
Da inútil na insistência de florir
sua flor feia e dissonante
sua flor desperfumada.
Sempre que vejo quintais abandonados
sinto vontade de ser novamente
o menino
que via revoada de formigas-rainhas vestidas
com azas núpcias,
que enluarava telhados,
encavernava porões,
para-dificava guarda chuvas,
cachoeirizava torneiras,
e savanizava quintais abandonados.
De o meu brincar sem nunca individualizar
sem nomear, sem especificar
todas as formigas eram formigas.
Assim nada morre
tudo continua, se um gafanhoto morre
não importava
os gafanhotos não morreram
outro igual nascia e o pedaço era reposto.
Meus soldados também eram renitentes
morriam e renasciam
como gaxumba.
Só a perca era uma espécie de morrer
e o achar ressurreição.
Outros quintais abandonados
Em outros lugares são só quintais abandonados
Quintais oníricos
São os quintais de Quedas
Quintais com guaxuma e picão que reencarnam.


Poemas e ilustração de Solivan

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Rapsódia sobre a palavra


O vento é a pedra
com a qual a língua esculpe a palavra.
E o leão o rugido.
E o rouxinol o canto.

O som crocante da chuva é sua palavra.

O doce da cana é sua palavra
e o rum sua ira.

O urro da onça é sua palavra.

O vôo da borboleta é sua palavra.

A beleza do pavão é sua palavra.

As fotos de Cartier Bresson
é sua palavra,
e seu discurso.

O amargor benigno do boldo
é sua palavra.

Seu nome é sua palavra
mais intima.
Seu nome é seu coração,
Sua mão
e o cabelo que cai.
Seu nome tem a mesma cicatriz que você tem
e é seu osso,
e o sexo escolhido.
Seu nome envelhece.
E a ferida no seu corpo
é uma ferida no seu nome.

Por isto a palavra Aleijadinho
é desmembrada
e sua vogais não tem dedos.
O silencio é uma palavra.
Toda a cor é uma palavra.
Números são palavras.
Cálculos se fazem com palavras.

A flora é a palavra da terra
e o tubarão uma palavra no vocabulário do oceano,
e o colorido recife de corais sua alegria.


Ilustração e poema de Solivan

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Futebol europeu




O brasileiro Noite
recebeu a bola no peito
dominou com acrobacias.
Correu.
Músculos magníficos
cobertos por uma pele cor do universo.
O pé regeu,
pastoreou a bola.
Samba, ginga de mestre-sala
entre miúras.
E chutou com telecinésia.
O que dividiu a multidão
em agonia e êxtase.


poema e ilustração de Solivan

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Carne celeste





Sinto algo de santificador no céu,
os pássaros e pipas
são batizados por algo sublime.

O metal do avião, o corpo do aviador
e dos passageiros,
quando molhado pelo azul
se tornam diferentes.

Há na pena,
no meteoro,
no satélite,
no alumínio esmagado de um acidente aéreo
algo de sagrado.

Mesmo o lixo
quando elevado pelo vento,
Sublima-se.
Como é lindo ver os papeis, as sacolas plásticas
Quando dançam sobre as cidades
num êxtase de cisnes.

Há em mim sempre
a vontade de apanhar granizos,
de guarda-los com cerimônias,
e de beber
a água benta da chuva.
De acariciar
balões,
e pára-quedas.

Sim, tenho
em na minha geladeira granizo,
e nas gavetas todas as passagens aéreas,
e qualquer pedaço de papel sujo, qualquer sacolas plásticas
que tenha visto dançar.
Em minha carteira esta uma semente,
destas emplumadas,
em uma manhã de domingo
olhei ela descer do céu calmamente, com graça,
e pousar tão próxima que a apanhei.

Guardo,
porque desconfio,
que como nos pregos
na lança e nos espinhos,
fica em tudo que voa um pouco do divino,
por terem todos também
transpassado o corpo de Deus.


Poema e ilustração Solivan

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Presos na liberdade(fragmento)

Fragmento do terceiro ato

GRÃO
-Será que isto é um sonho.

CRUZ
- Tenho fome.


GRÃO
-Pode ser um sonho mesmo assim,
ja sonhei que bebia água, bebia,e minha sede não cessava
acordei sedento.Se sonhamos é um sonho agarrado a realidade.

CRUZ
-A fome é o nada que se contorce e grita em mim
me lembra este vazio,
me sinto sem casulo,nu, no espaço, sem norte ou sul
céu ou chão,esquerda ou direita
um pombo cansado perdido em Andrômeda tentando
voltar para Terra
eu desejo tocar,desejo uma prisão,
me sinto soterrado no vácuo.
sou uma língua sadia proibida de falar,
um olho sadio obrigado a não abrir as pálpebras.
um devasso casto.
Paredes, preciso acariciar paredes
Nem meu olhar, meu olhar não consegue tocar em nada.

GRÃO
- Você tem a aliança, é algo para olhar.

CRUZ
- E você tem um nautillus (enquanto fala admira o brinco em sua mão )

GRÃO
- Perdi.

CRUZ
-Estou cansado de liberdade
dói ver tanta distancia
saber que estamos caminhando para o nada.
meus passo são tão pequenos
e meu olhar vai tão longe
meu olhos são batedores e me avisam do vazio
é difícil manter a esperança.
sabendo que só existe solidão no horizonte.

GRÃO
- Queria ter um cavalo, galopar.
CRUZ
- Eu queria ver uma miragem, mas não consigo.

GRÃO
-O azul é amargo, sinto ânsias se olhar o horizonte
então sonho,
Aqui fora não há nada, é tudo intangível, distante,
olho lembranças.

CRUZ
- A desolação já entrou em mim,
tenho por dentro a mesma paisagem.

De Solivan

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Uma descompostura em Diógenes




Útil, a arte não deve ser útil,
são os utensílios que deveriam ter inutilidades.
Que se faça em tudo que é útil,
belas inutilidades.
Um caixa eletrônico aonde o extrato venha dobrado em origamis em forma de peixe
e talheres com lente de aumento para examinarmos
com mais riqueza de detalhes como é belo o azeite
sobre a salada.
Que façam
estradas com aquelas descidas que causam inércia
e dão um friozinho na barriga
que as crianças gostam tanto .
E os navios cargueiros em formato de patinho de banheira,
ou contêineres em legos gigantes.
Tirem das prisões,
o minimalista reto e objetivo das grades,
que sejam substituídas por grades barrocas e exageradas,
grades cinzeladas, folheadas a ouro,
reproduzindo querubins com safiras nos olhos,
grades que elevem.

Porque o útil é uma mentira.
É uma mentira.
A utilidade das fábricas, é uma mentira,
e do aço da máquinas,
das precisas correntes, dos processos, da estrutura das linhas de produção,
é uma mentira a utilidade da automação.
Útil é a água, transformá-la em refrigerante, dar sabores, uma doce inutilidade.
Útil e a água, transformá-la em cerveja, dar-lhe o reconfortante álcool é uma inutilidade prazerosa.
São inúteis as grandes fábricas de tecidos,
o que move a indústria de roupas não é a utilidade,
mas a criativa moda.

E a utilidade das colheitadeiras,
também é uma mentira.
A utilidade das plantações, dos rebanhos,
a utilidade da soja é uma mentira, a utilidade do trigo é uma mentira.
Útil é o trigo, mas em donuts, em brioches e croissant,
são todos uma gostosa inutilidade.
É uma mentira a utilidade da medicina, uma mentira.
Mas com que coragem
enfrentam com suas insignificantes armas,
seus avanços postergadores, com suas máquinas
ineficazes, seus pequenos bisturis e analgésicos,
o inevitável.
Como é bonito
ver um corpo em uma oferenda inversa
e os ritos das operações,dos tratamentos,das quimioterapias,
tentando retirar o homem da morte.
É uma mentira a medicina,
mas como são destemidas,
como são renitentes e sábias
suas utópicas e caras tentativas heróicas de vencer o inevitável
sem nunca ter conseguido, uma só vitória.



É uma mentira a utilidade
das minas de aço, da extração do petróleo,do cobre, do ouro,
todos retirados para fazer mover a magnífica futilidade dos homens.
Sim, Sim.
É a inutilidade que move os trens, os caminhões,
os aviões,os navios
que abre novas rodovias,
e nos trazem e levam ao lixo,
os magníficos eletrodomésticos descartáveis,
os lindos sapatos fúteis,
os supermercados cheios de alimentos tão saborosos
com seus indispensáveis
e atávicos sais e calorias,
os computadores
com sua grande quantidade de espaço para a deliciosa pornografia,
sexo virtual e música,
As televisões e seus jogos de futebol e filmes violentos,
panis et circus virtuais,
notícias quase sempre irrelevantes e entediantes novelas.
E o concreto,
o concreto
que constrói as casas,os edifícios, os shoppings
todos valorizados se excessivos e luxuosos
e desvalorizados se essencial.
É Verdade,é verdade existe o útil
Mas o útil é sempre primitivo e rude,
existe ou existiu,
é seu pé e sua mão, seus instintos,
a fruta colhida,
a carne crua.

Já a inutilidade foi descoberta junto com fogo, com a primeira semente plantada
com as lanças.
nasceu junto com a inteligência ,
com a inteligência,
que é a única inutilidade da natureza
e evoluíram juntos
descobriram metais, impérios ,calendários
e foram à lua.
Sim, foram à lua, a mais obscena loucura,
a mais linda loucura da humanidade,
que magnífico excesso
bilhões e bilhões para nos trazerem uma dúzia de pedras.

E as religiões desde os primórdios tão desnecessárias e ricas,
com seus sempre poderosos sacerdotes,seus deuses e ritos surreais.
Oh! A inútil fé, obrigado ,muito obrigado
por decoraram cavernas e fazerem monólitos,
por construírem as ociosas pirâmides
e catedrais com vitrais.


Ah, o inútil, a quem devemos toda a civilização,
Todos os avanços,
dói,mas é
preciso desmascará-lo
quando pedante e pretensioso,
quando finge-se necessário,
e engana os crentes há tantos milênios.
e se auto-engana há tantos milênios,
que acredita-se imprescindível
e legisla,cria países e exércitos, veste togas e crenças
é cheia de funcionários,de parques industriais, de salas comerciais,
de ritos de poder
mostra-se arrogante
com a leveza delicada da arte,
que é puramente desnecessária,
quando é áspera com o sorriso,com as férias
e os jogos eletrônicos.

Mas o inútil, o verdadeiro inútil, como é poderoso,
é mais indispensável que o útil.
Sim.Sim. Mais imprescindível que o útil.

Diógenes!
Diógenes!
Diógenes!
Como estava enganado Diógenes!
Quando menosprezou o belo, o exuberante inútil
e se voltou para o tão primitivo necessário.
Devia ter acumulado inutilidades,
devia ter feito muitas inutilidades,
estátuas, por exemplo ou mesmo poemas.
Acharia com mais facilidades os
verdadeiros homens que com sua ineficaz lanterna.
Porque estátuas,
porque poemas,
são mais eficazes armas que lanternas.
Há em frente aos quadros, em frente aos livros
mais homens bons ,que na frente dos cofres
e agências bancárias.


Poema e foto inúteis de solivan

segunda-feira, 25 de julho de 2011

A arte não tem mais para onde Ir...

O primeiro crítico de
arte diante das pinturas
rupestres de Lascaux.





Charge-esculpida de Solivan

quinta-feira, 21 de julho de 2011

“Legião, almas para todo gosto”
Exposição individual com 25 gravuras digitais, retratos de pessoas imaginárias.
visitação: de 18 de julho a 14 de outubro de 2011
local: Galeria João Werner, rua Piauí, nº 191, sala 71, 86010-420, Londrina, PR.
horário: das 14h às 20h, com monitoria.
a entrada é gratuita, embora eu aceite doações.
link: http://www.joaowerner.com.br/exposicoes-de-joao-werner/exposicao_legiao_gravuras_digitais.htm
contato João Werner: (43) 3344-2207, werner.joao@gmail.com

segunda-feira, 18 de julho de 2011

O balão que se transforma em circo

um pequeno pedaço de meu livro infantil
"A história do início"




Estava na janela quando vi chegar ao posto Hércules, um homem com roupa de leopardo, puxando com uma corda um comboio de um circo. Todos os carros, jaulas e caminhões estavam amarrados um ao outro, como vagões de um trem, porquê tinha acabado a gasolina de todos, e como ele era o mais forte, teve que trazer todos para abastecer.
Corri para o pátio e vi os leões e tigres saírem das jaulas. Os leões se espreguiçavam e diziam que estavam cansados da viagem. Um tigre me pediu onde ficava um açougue. Macacos, palhaços e anões desciam dos carros, e quando abriram as portas, voaram de dentro, pombas e saltavam coelhos. Um elefante indiano saiu de dentro de um fusca como contorcionista hindu de uma caixinha. No céu tinha uma trapezista que havia amarrado seu trapézio nos raios de sol e vinha sentada, e também um enorme balão colorido com faixa azul e amarelo.
O dono do circo me explicou que o balão iria para a cidade sul, perto da Plasticolar, lá já estava pronta uma armação onde o balão vai pousar e se transformar na tenda do circo. O palhaço Gargalhada pediu para eu ficar em cima da sombra dele. É como se a sombra fosse uma coberta, saiu me arrastando, imitando um motor de automóvel em alta velocidade, freadas, guinchos nas curvas fechadas, derrapagens. Parou pediu ao meu pai quanto custava para abastecer e mandou encher seu bolso furado. Começou procurar dinheiro, passarinhos saíram voando dele e pagou com dinheiro imaginário, mais três ingressos. Deu mais algumas voltas comigo, então parou, imitou um chofer abrindo a porta de um carro e se despediu. Todos voltaram para seus carros e jaulas e partiram. Fiquei acenando.
O resto da tarde esperei ansioso o espetáculo. Tomei banho mais cedo, comprei algumas balas e fui acampar dentro do carro. Quando chegasse a hora já queria estar pronto. Com os ingressos, que tinham um palhaço impresso, brinquei de baralho e fiz luta de um ingresso contra o outro. Olhei tanto, tanto, para meu relógio que ele ficou gasto e parou de funcionar. Quando escureceu, finalmente meus pais apareceram. Meu pai ligou o carro, torcendo a chave como fazia às vezes com minha orelha, e fomos.
Avistei de longe o circo envolvido em luzes coloridas como um pinheiro de natal. Meu coração batia como asas e inquieto queria escapar, chegar à frente e ficar voando sobre aquela montanha de listras amarelas e azuis, com as casas da cidade em sua volta. Quando cheguei perto fiquei com medo. Amarrei meus cinco dedos bem fortes na mão de minha mãe. Mas assim que atravessamos o portal, o meu medo floresceu a alegria. Ao lado do caminho de serragem parecida com a de Corpus Christi, haviam elefantes, tigres e o palhaço Gargalhada estavam vendendo algodão-doce feitos com juba de leão albino e açúcar. De um anão compro uma pipoca e bailarinas oferecem maçã do amor. Escalamos as arquibancadas. Experimento minha pipoca, parece isopor com sal.
A primeira atração foi o mágico, que ao entrar fez a gravata borboleta azul do apresentador sair voando. Logo iniciou um número chamado Evolução. Colocou três caixas, uma sobre a outra, e colocou chimpanzé dentro delas. Fez uns gestos mágicos e abriu a caixa de cima, apareceu o rosto de uma mulher. Abriu as outras duas e o corpo era do macaco. Fechou tudo novamente, abriu outra vez, desta vez a cabeça era do macaco o corpo da mulher e as pernas do macaco. Depois cobriu tudo com um manto de veludo vermelho, quando o retirou, saiu o chimpanzé vestido como bailarina se despedindo da platéia. Então entraram os palhaços Descarga e seu filho Bulica, mais sete anões em um Calhambeque que tinha no lugar de um dos pneus uma bóia de patinho. Desceram, contaram várias piadas, fizeram cambalhotas, caretas, tapas. Depois veio Luthar , o filho de dragão cuspindo fogo e engolindo espadas. Também veio o domador cavalgando um leão, um malabarista vestido de pirata que de repente tirou sua perna de pau e a fez girar com os outros pinos. Trapezistas com movimentos de golfinhos nadavam no ar. Motociclistas com suas motos, metade mariposas, metade vaga-lumes, giravam no globo da morte querendo apanhar a luz do seu próprio farol. Adormeci no meio deste sonho.
No domingo, soube que íamos mudar para outra cidade. Meu pai e minha mãe foram com o fusca joaninha. Eu peguei minha coleção de chaveiros e um carrinho e fui cavalgando no meu cinamomo até Quedas do Iguaçu, local de nossa nova casa.

Conto e ilustração de Solivan

terça-feira, 12 de julho de 2011

Estudo sobre o voo dos pássaros




No rio Iguaçu as asas das garças afagam o céu
como se tocasse uma música difícil, mas que soa suave.
Num trilo de colcheias com movimentos elegantes
traçam um voo linear, ornamentado apenas no alçar e no pouso.


Nas fazendas os urubus têm um bater de asas lento
como o trocar de páginas de um livro.
Sobrevoam em aspirais de breve e semi-breves
com asas que parecem à haste dos equilibristas,
apenas ajustando-se as correntes ascendentes.
Os urubus não voam, levitam no mais alto céu.


Na cidade a trajetória dos pardais é reta e objetiva,
de raras curvas a meia-altura, mas seu voo tem uma
linha ondulante com asas em ascendentes fusas
e leves mergulhos de pausas em mínimas.
Sinuosos como uma pedra jogada num lago,
mesmo no chão não andam, saltitam como
pequeninos cangurus emplumados com cores sóbrias.


Nas pastagens é de linha irregular o voo da tesourinha
suas asas tropeçam em dissonantes fusas, dessincronizados
dos movimentos da cauda longa,mas os movimentos que
parecem desequilibrados são passos graciosos de um
dançarino fingindo-se coto. As tesourinhas não habitam o sul,
moram no verão e retornam sempre que o Paraná se veste de sol.


Em Quedas, as andorinhas quando solitárias
voam em altas linhas mistas, asas em colcheias retas e
planam em tortas pausas semibreves.Passeiam acima
de outros pássaros que apenas cruzam o céu ocupados.
E quando em cardumes as andorinhas revoam leve,
num céu marinho, como um véu em uma dança.


Mas plantações de soja é entediado o voo dos Carcarás,
adejam em editadas linhas curvas de carniceiros com asas
em negligentes colcheias e preguiçosas pausas em semibreves.
Alimentados só alçam vôo em parábolas contrariadas e curtas
se perturbados. Ave esculpida para o céu, prefere acomodar
nas curvas de nível, são como água de um lago indolente
que não quer voar, que não quer ser nuvem.


Nos bairros as pombas Juritis cruzam em retas objetivas
e cinzas,sem passeios, suas asas martelam o céu
em fusas viris e continuas que parecem sôfregas
por que são pequenas mas compensadas por um forte peito.
As vezes desviarem de uma pedra imaginaria,
Porém tem no alçar o traçado e o pouso,
flecha pragmática que ao ser lançada já tem definido o alvo.


Nos capões os Anús-pretos em retilíneos voos coletivos
vão de uma arvore à próxima em alarido prateado.
Voam com asas em elos de fúnebres semicolcheias
e pairadas de colcheias em cruz .
Apanhadores de gafanhotos, quando pousam nas laranjeiras
mortas em lamúrias agudas trazem um agouro de corvos,
Talvez pela anoitecida cor que ambos tem.
Levam o mesmo estigma dos morcegos frutívoros.


A saracura nos matagais entre cipoal e espinhos flui,
baila no solo desenvolta até emaranhados esconderijos.
Só voa em desesperado arco rampante com asas
em atrofiadas fusas se perseguida em estradas vicinais
por carro ou cão, sua fuga então e sem dribles,
começa em corrida veloz para apos abrir-se em busca
de sustentação e alça-se até o colo da árvore mais próxima.


Nos jardins o beija-flor voa em inquietas linhas aquáticas,
semifusas tornam suas asas etéreas,transparentes
como nadadeiras, cinzelado com o mesmo
ouro-verde ou prata-azul dos peixes ornamentais,
nadam nos quintais nas profundezas claras
do céu, este oceano doce para pássaros.

Fotografia e poema de Solivan

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Motivos orientais




Caos urbano, porém parecia
com tai chi chuan
a informação do chinês.


Sol traz
ao lago calmo,
constelações de reflexos.


Preocupou-me um problema insolúvel
até o dia que ouvi
a o passear no jardim
um ancião
dizer cheio de felicidade a uma libélula:
“Ainda temos todo este verão de vida”.


Retrato falado
de um velho japonês

Seus olhos são baços e pequeninos
delicadamente colocados
sobre a renda das rugas.
Mas seu olhar tem uma imensidão que
lembra o mar.
O ar de oitenta anos de sorrisos
desgastaram seus dentes
como o vento, uma rocha.


Determinação
é uma intransigência maleável

Para atingir a perfeição,
precisamos de defeitos.

Verdades
absolutas
mentem.

Sobre a indignação

Notei que
soco na mesa
é sempre na silaba tônica.

Não gosto de decorar poemas,
Prefiro falar poemas com um livro na mão
o livro é meu instrumento musical.

O profeta
recorda o futuro.

Neuzza
Pinheiro
com pássaros

Sal que
adoça meu dia

Pombas
fazem ninhos
no semáforo.


O mais importante em um poema são as perguntas,
mesmo que o poema não tenha perguntas.

Ancião tremulo
frágil e feio.
Lembra um pássaro
recém-nascido.


De solivan

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Cotidiano




Agora
As linhas de nossas vidas
Estão juntas nas mãos dadas,
E posso te dizer bom dia
Enquanto
Acaricio teu cabelo que me lembra
Tocar as águas de uma nascente.
Olho admirado
Você passar com gestos cheios de musica e dança
Nos pulsos
E nuca,
Seu perfume com odor de rubis e ametistas.
Nas tardes falo bobagens de poeta
Comparo o vôo das borboletas
Com folhas no outono
E digo
Que seu sorriso é lindo,
Para flor só falta haste.
E você ri.
Eu gosto tanto de cultivar teu sorriso
É minha gardênia.

Sei também quantos espinhos retirou de mim.


Lembra o dia que chequei
Triste, cansado e tão cheio de cicatrizes
E você me aconchegou sobre seu peito
Num sono tranqüilo.
Como após beber o primeiro leite,
Descansei do enorme esforço de renascer

Mas quero esquecer a dor,
Venha comigo
Colher tangerinas.


Poema e ilustração Solivan

segunda-feira, 20 de junho de 2011

No planeta dos macacos cegos ,surdos ou mudos




O chimpanzé Lúcidus
observa os outros macacos.
A macaca que olha uma vitrine com as mãos nos ouvidos,
as balconistas com mãos nos olhos,
transeuntes engravatados com as mãos nas bocas,
um pastor–camelô
pregando em uma esquina com as mãos do sexo,
vendendo indulgências e milagres.
Inveja a todos,
todos estão com suas mãos
escondendo um dos sentidos.
E olha para seus braços tristemente pensos.
É verdade que as vezes tem o cuidado,
se a situação é muito perigosa
de levar suas mãos para os olhos,
sente-se um covarde,
mas já foi agredido a cotoveladas.
Já é tarde, Lúcidus está angustiado e atrasado,
procura o sol entre os prédios,
está anoitecendo e a noite é perigosa..
Tinha que voltar para casa logo.
Entra no metrô e senta na única cadeira reservada
para pessoas sem deficiências,
sente o desconforto da multidão,a raiva velada
dos macacos cegos ,dos surdos, dos mudos.
Cobra-se, podia ter disfarçado posto as mãos na boca
e sentar em qualquer lugar.
Olha para baixo, para o chão metálico
e pensa que olhar o chão
não é igual a esconder os olhos sob as mãos,
pensa se devia encarar,ser arrogante.
Lúcidus é ator ,os outros atores da sua trupe,
apesar de também terem
as mãos escondendo os sentidos,
o aceitaram. As vezes acha que o tratam bem demais
desconfia,sente-se novamente só.
Seu personagem na peça é um banqueiro
que tem as mãos na orelha,
então Lúcidus faz o personagem com as mãos na orelha.
Acha estereotipado,
é típico de personagens políticos ou empresários
terem a mão na orelha,
já os clientes e eleitores geralmente são cegos.
Seria mais verdadeiro se o seu personagem
mudasse, tapasse os olhos e em outras ocasiões,a boca.
assim como são os verdadeiros bancários ,
os verdadeiros empresários e políticos,
mudam a posição das mãos quando convêm.
Bom ,não se pode esperar muito da peça,esperar texturas,
é um drama-cômico, contado no passado,
uma daquelas estórias
que no momento que acontece parece trágica,
mas depois de passado algum tempo, se tornam cômicas.
Se contada em uma festa é motivo de gargalhadas.
Desce perto de seu apartamento, faltam poucas quadras.
Passa por alguns adolescentes,
o que está com a mão na boca encara Lúcidus,
no dorso de sua mão esquerda está tatuado um lábio.
Lúcidus sente o perigo, desvia,vai para outro lado da rua
anda um pouco mais sem olhar para trás
e só depois verifica se não está sendo perseguido.
Alívio, não está.
Estes que desenham, tatuam transgressões,
podem serem os mais dogmáticos.
Lembra de sua prima cega, que maquia o dorso das mãos
com dois olhos, é na família a que menos o aceita,
“Chegou o braço frouxo,” é seu comprimento.
Agora é passar pela praça da igreja e está quase em casa.
A igreja é linda, no altar está uma
estátua do macaco de seis braços
que consegue esconder com eles todos os sentidos.
Foi feita por artista famoso de braços pensos,
alguns poucos de braços pensos venceram na vida.
Dobra a esquina, rua quase vazia, olha as costas de catedral,
depois do muro que cheira urina
está no seu bairro,
nele há muitos de um braço no olho e outro na boca
ou na orelha e outro no na boca.
Mestiços, com um dos seus braços
normalmente direcionados a boca.
Na boca, se bem apertada, basta uma das mãos.
São todos orgulhosos
de terem um e meio sentidos escondidos,
o que os deixa mais religiosos.
Consequi- Pensa Lúcidus,
ao ver seu prédio mofado.
No elevador, finalmente sente segurança,
o ar denso parece um reconfortante líquido amniótico,
suspira,relaxa, solta os ombros.
Entra no seu apartamento
-Boa noite mãe, assistindo Tv?
-Boa noite filho,como foi?
-Bem,bom público.-Mentiu
-Venha ver filho,venha ver.
Lúcidus detesta programas de auditório,
contrai a boca fisgado por um leve asco.
-Depois mãe.Vou tomar um banho.
- Não. Assista,está no final.
A mãe explica que é uma história linda
de um macaquinho que nascido sem um dos braços,
tinha que ficar com o olho esquerdo sempre exposto,
o coitadinho,sua mamãezinha quer receber uma
prótese do programa” O Sonho é real”.
Lúcidus senta, contrariado para não contrariar.
Mas o apresentador faz suspense e pede os comerciais.
Lúcidus pensa
-O apresentador tem mãos no ouvido,
só que tem mãos pensas como eu
cuidam de onde estão as mãos dos outros.
Debocha intimamente de si mesmo.
e aproveita o intervalo para sair.
- Vou tomar banho-Diz abandonando a sua mãe na sala.
Quando o programa retorna,
As câmaras mostram a apreensão no rosto
da mãe do macaquinho.
-Será que conseguiu? -Entoa o apresentador.
-Será!?faz uma pequena parada- Sim,sim, você conseguiu!
Conseguiu !conseguiu!Colocando toda a euforia
que conseguiu na voz.
Close,Mostram as lágrimas de alegria da mãe
e depois a platéia emocionada, as lindas bailarinas
fazendo caricaturais sinais de vitória.
O macaquinho coloca seu novo bracinho artificial, rindo,
ficou perfeito como se nunca tivesse perdido o braço.
Pelos, cor, unhas,simétricos, idênticos a um de verdade,
Elevou pela primeira vez
ambas as mão aos olhos,
finalmente cego, é abraçado pela mãe,
O apresentador pede ao macaquinho para
abrir bem os antebraços, retira-los da frente do sorriso.
A câmara mostra seu sorriso encantador,
Sua alegria contagia a todos,platéia e telespectadores.
Lúcidus estava no banho e ainda não sabia da vitória do macaquinho
mas estava torcendo para que o menino recebesse a prótese.


Poema-conto de Solivan

terça-feira, 7 de junho de 2011

Coyote chega ao número 22 - meus poemas uivam nesta edição


Coyote chega ao número 22



Inéditos de Italo Calvino e dossiê com o poeta e letrista Geraldo Carneiro são alguns destaques do número 22 da revista editada em Londrina (PR)




"Sinto falta de radicalidade. É preciso encarar a prática poética com mais seriedade, violência e humor. Sinto falta de grandes polemistas, como Mário Faustino. Figuras que sejam capazes de tumultuar a cena poética brasileira, no melhor sentido" — diz o poeta e letrista Geraldo Carneiro, em dossiê publicado no novo número da revista Coyote, que chega às livrarias do Brasil esta semana.


Outros destaques do número 22 são dois textos de Italo Calvino, publicados postumamente em Romanzi e Racconti (1993), inéditos no Brasil (em tradução de Eclair Almeida e Bruna Ferraz). Jerusa Pires Ferreira e Josias Abdalla Duarte introduzem e traduzem a poesia do galego Manuel Antonio (1900-1930), também inédito por aqui.

Editada em Londrina (PR), o novo número traz ainda um conto em forma de peça teatral de Veronica Stigger (RS), a poesia nonsense de Edward Lear (1812-1888, traduzida por Vinícius Alves), contos de Sandro Saraiva (SP) e Márcia Barbieri (SP), inéditos de Paulo Moreira (RJ), Wilmar Silva (MG), Ygor Raduy (Londrina) e poemas de Solivan Brugnara (PR), estes dois últimos, novos talentos da poesia paranaense. Traz também o ensaio fotográfico "Desejo Eremita", do amazonense Rodrigo Braga. A contracapa é assinada por Beto.

Em seu nono ano de existência, Coyote prossegue abrindo espaço para novos autores, resgatando e apresentando nomes importantes das letras e das artes, de épocas e lugares diferentes, instigando a reflexão e a criação literária.
A revista é patrocinada pelo PROMIC (Programa Municipal de Incentivo à Cultura) da cidade de Londrina, e editada pelos poetas Rodrigo Garcia Lopes, Marcos Losnak e Ademir Assunção.


COYOTE 22 // 52 páginas // R$ 5,00 (Londrina) e R$ 10,00 (outras cidades) Uma publicação da Kan Editora. Distribuição nacional Editora Iluminuras.

Vendas em livrarias de todo o país pela Editora Iluminuras – fone (11) 3031-6161. Pode também ser adquirida pela internet através do site: www.iluminuras.com.br

COYOTE EM LONDRINA. Banca Flamengo (Mercado Municipal Shangri-lá) E Revistaria Odisséia (Rua Jorge Casoni, 2242 - Centro)

PATROCÍNIO: PROMIC - PROGRAMA MUNICIPAL DE INCENTIVO A CULTURA – PREFEITURA MUNICIPAL DE LONDRINA - SECRETARIA MUNICIPAL DE CULTURA DE LONDRINA

Anotações para semana (revisado)

-A Lembrar de usar o som de pombas voando
como percussão em uma musica.

- Olhar a linha da vida de meu filho.

- Aprender a fazer arco-íris domésticos
com a mangueira ao regrar o jardim.

- Criar um abaixo-assinado para
mudar o nome do poeta Manuel de Barros
para Manuel de Cerâmica.

-Adquirir um método de piano imaginário
Para poder aprender musica no escritório.

-Comprar ração para o pavão.

-Mandar restaurar as fotos rasgadas na separação.

-Dobrar origamis com os extratos bancários
e notas fiscais.

-Pagar a prestação do telescópio.

-Baixar um screensavers de caleidoscópio em 3D

-Enviar meu currículo para um parque
de diversões itinerante.

-Mudar escrivaninha para perto da janela.

De Solivan