sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Decomposição

Que nunca venha o definitivo,
o definitivo não tem espermatozóides,
a decomposição sim e fértil,
e a degradação que se põe ao redor da semente,
não se aduba com diamantes.
Só a aversão prolífica,
celebro a cicuta parricida,
cobra sempre envenenou sua comida
e depois
o antagônico e o leite, o colostro
que protege as gerações da anemia e do tédio.
Nunca foi
as contrações, o parto
e nem o apogeu do novo que importa,
mas seu declínio,
é no apodrecimento que se entende o gênio
na dissecação.
A ruína de um período
é um rito de passagem,
só é perene aquele que sobrevive
a própia decadência.
O eterno precisa morrer ao menos uma vez,
para que possamos encostar o ouvido
no peito dos séculos
e ouvir o ritmo cardíaco dos ciclos.

De Solivan

4 comentários:

  1. Grande, Solivan! Em "Decomposição" mais uma vez a beleza do inesperado (o definitivo não tem espermatozóides), a exaltação do contra-senso criativo (o eterno precisa morrer ao menos uma vez), as imagens fortes (encostar o ouvido no peito dos séculos)... Parabéns!

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  2. Tua alma me encanta...
    Pássaro aprisionado
    com os olhos para a imensidão.
    Parabéns,Eliz.

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