sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Comics

para Arrigo Barnabé

1. São Paulo no sexto bilênio

Fumo, sujo a parede com
meu pé erguido como um pelicano.
vejo o sol quadrado
que hoje nos aquece,
uma estrela artificial menor
mas bem próximo da terra.
No horizonte os sete mega-edifícios
onde quase todos vivem.
E volto o olhar para meu bairro,
a calçada cheias de faunos, hermafroditas
homens-camaleões com cores
em constante mutação.
Depois que legalizaram a operação
os híbridos juntaram
a multidão de humanos
e alguns extraterrestres
em turismo sexual.
Nas esquina bonodos evoluídos
fazem michês.

Como alcançamos a felicidade
química todos estão sorrindo,
para experimentar a tristeza
é preciso tomar drogas ilícitas
ou sobre prescrição medica.
Com a alegria universal
a criminalidade aumentou
mas a maior produtividade
compensa o investimento estatal.


Na minha rua ha muitas
lojas velhas e empoeiradas,
Antiquários cheios
de arte primitiva
do período pentacontinental,
Computadores e nostálgicas
peças de tele- transportadores.
No numero1204
fazem tatuagens moveis e inserções,
vejo pela vitrine alguém
colocar asas de albatroz nas costas.
Na catedral restaurada
atores encenam celebrações para turistas,
os ritos foram recriados por antropólogos.
alguns artistas de rua
venden as mesmas coisas de sempre
estátuas de fogo e diamantes esculpidos,
nebulosas de fumaça e luz moldável,
filmes e quadros feitos
com materializadores de pensamentos.
Músicos tocando suas
névoas fluorescentes e sinestésicas

Ser o dono da única funerária
desta cidade com bilhões de habitantes
tem um certo charme antiquado,
quase ninguém mais morre.
Tenho alguns alaúdes,
mas as famílias preferem
que os corpos sejam colocados
no meu inspecionado viveiro de abutres,
é mais natural.
Como é raro aparecer um cliente,
passo meu dia limpando minhas
unhas com um clipes.
Não ganho muito
mas consigo ler muitos comics holográficos.

Minha namorada é assistente
da lojinha de capacitores da frente.
As máquinas de sua firma transformam
todos que querem em gênios.
Já foi uma grande indústria, mas hoje
com quase todos transformados,
se tornou um pequeno negocio de bairro.
Mesmo com a popularização do processo
não conseguimos a esperada igualdade mental,
como diz um ditado do primeiro bilênio
destes que perdemos o significado das palavras
mas não o significado do todo, que diz:
Em terra de Eistens , Stephen Hanking
é um idiota.

Também clono mortos
para aumentar minha renda,
a morte não é mais uma perda completa
é tradição fazer um clone do morto,
e transferir sua personalidade e lembranças.
Eu mesmo sou o décimo terceiro clone de Xartam.
Já estamos acostumados com inversões
Que a clonagem trás
Como o filho ter de criar
o pai clonado, o irmão mais novo
se transformar no mais velho
a mãe cuidar da filha envelhecida.
Clonam até a si mesmos,
um europeu causou escândalo
quando se casou com uma versão
feminina de si mesmo.

A imortalidade já foi conseguida
com a renovação celular
mas é privilégio dos poderosos,
Anestesiados eles brincam de guerras,
com armas de época,
velhas armas a laser ou espadas
so não e permitido desintegradores.
Se morrem são reconstruídos
e ressuscitados por médicos,
e vão tomar cerveja e rir.
Prefiro a versão mais clássica
da reencarnação pela clonagem.

É tarde, hora de fechar,
vou para meu cubículo habitacional
comer uma pasta de nutrientes,
vestir minha roupa especial
e entrar na minha mansão virtual,
hipotecada mas cheia de concubinas e pajens.
Esta ficando mais caro viver no mundo
virtual que no real.



de Solivan

4 comentários:

  1. solivan

    isso é o início do seu próximo livro?
    É um cenário agônico pósfim dos tempos,
    Solivan, Solivan
    eu te saúdo como o porta-voz dessas eras em que tudo já morreu e, ainda assim, a poesia permanece...

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  2. Acho que este poema vai para o meio do novo livro, Meuzza.
    E o arrigo ainda gosta de gibis?
    um abraço Neuzza

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  3. Felicidade química, genialidade comprada. Tomara que nunca tenhamos isso!!!
    Clonar e ressuscitar mortos, imortalidade!! Acho que teremos uma superpopulação!
    Solivan, adorei ler suas "previsões" futuristas.

    Um beijo e parabens
    Beatriz

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  4. Bem blade runner.
    O primeiro de fiçção cientifica
    que lí.


    Armando

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