sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Marinha, cavalo e Hamlet

Há três sabores de som
no quadro,
uma marinha cinza,
escolho uma concha
cheia de marulho
e sinto saudades do oceano.
Pego minha chave
parece com uma moeda.
(Nunca antes tinha achado a chave parecida com uma moeda).
Vejo na radica de minha porta
demônios, extraterrestres e sexo.
Tenho medo de minha porta.
Corro pelas escadarias
não quero ser encaixotado pelo elevador.
Sou perseguido por demônios, extraterrestres e sexo
até derrubar o general
e sair cavalgando sobre a estátua eqüestre da praça
cheia de pichação e cheiro de urina.
À beira-mar, o cavalo em bronze
ficou colorido, leve de papel machê.
Respirar a maresia era respirar cores
como um camaleão que respira gramado
e fica verde, respira céu e fica azul.
A cavalgada que era tambor
virou dança sem música na areia.
Após a multidão
um menino solitário me sorri.
Minha angústia rega
suas linhas de expressão, que logo viram
rugas e cresceram em seu rosto como heras,
fazendo dele um velho.
A transformação me vez lembrar de uma menina que vi
pescando anjos com orações.
Perguntei a ela.
-Pode ser qualquer oração?
-Não, só as impregnadas de poesia e um pouco de vinho.
- E os anjos estão no céu ou na terra?
- Os anjos moram nos reflexos.
Depois avisto
um hindu, que reza para
uma escultura de quatro braços.
Falo.
- Não Breton, você não
criou nada, o surrealismo.
nasceu com a religião!
Ao longe
abandonado ao sol
um cadáver na restinga quente.
Uma rosa nasceu de seu umbigo.
Primeiro achei poético, depois lógico
as fezes no intestino alimentavam
as raízes da rosa.
Desço e descanso.
Faço um castelo de areia, cimento e cal.
Vejo saltar um peixe dourado
escamas feitos de dobrões espanhóis.
Quando continuei
encontrei ainda
um pintor chinês que olhava o mar, e com os pincéis
escrevia um poema na tela.
Três deuses
Marte, ele usava brutalidade
para conseguir mel.
Vênus, ela usava mel
para fazer maldades.
E a deusa que dá odor ao mar
lavando sua vulva na água.
Também Hamlet, que erguia a leveza da morte,
era a vida nele que pesa como chumbo.
Concentração é uma venda,
a distração nos faz ver muito mais.
Finalmente fiquei só com o oceano.
Olho sonhador
queria ir morar na distância,
na casa que encontraria na distância
gramada com mar, canteiros com copos-de-leite.
Mas a distância é uma miragem
que se afasta um passo
a cada passo meu.
Retorno, sonhos longos
são tediosos.
Pareço uma flor, querendo
morder o rabo de seu perfume.



De Solivan

6 comentários:

  1. Solivan, Solivan, comoi eu amo ler o que vc escreve, é o supra, o sumo do delíricor
    de uma fruta ainda por vir
    esse deus de múltiplas faces, essa flor que vc é

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  2. Solivan, navi Sol
    se vc recebeu um e-mail "convite" absurdo como se eu o tivesse enviado, me avise, por favor.
    Algum louco detonou virus no meu hotmail
    e repassou para todo o meu mailing
    te gosto

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. "Concentração é uma venda,
    a distração nos faz ver muito mais."

    Sempre encontro engenharia de palavras espalhadas por todos os cantos, mas, quando sinto saudades da poesia, venho aqui passear minha distração.

    Abraços, Solivan!

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  5. Vou tomar cuidado Neuzza,recebi mas não abri, esta bem espalhado este virus,cretinos em açao.
    Mas meuzza saiba que é sempre muito bom saber sua opinião é sempre comovente.
    Seu amigo Solivan

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  6. Obrigado Carlos, pelo seu comentário,
    sabe que infelizmente nao vi o que o engenheiro da palavra disse,parece que ele retirou seu comentário,nem sabia que era possível fazer isto,pena.

    Um abraço

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