sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Heterônimos

C. Miguel de Couto e Alves
(Poeta romântico, bissexto, abolicionista que
não domina perfeitamente a arte de metrificar)

Páscoa

E o sol da liberdade em raios
fúlgidos.

África, no rico oriente pragas
todos primogênitos atingiram.
Até anjos, transpassaram adagas
e inocentes corações feriram.
Traga justiça para outras plagas.
Se num lado os mares se abriram
para multidões serem libertadas
Por que?! Por outro saem escravizadas?!

À frente de sangüíneo cafezal
no tronco, marca as costas, o chicote
risca, corta, que ideograma brutal.
Tentam retirar à custa de açoite
a liberdade, que é de força tal
é fígado de Prometeu, reverte
fica cada vez mais e mais forte
parece, se alimenta do corte.

Do cão, está muito distante o uivo,
mas é longe o palmares combativo.
Da tua fome faça um incentivo.
Cavalgue em tua fibra fugitivo.
Mata, proteja a fuga do cativo.
Noite, camufle logo o dia nocivo.
Árvores, frutifiquem quando passa.
Fonte molhe, seca sede o perpassa.

Mães apontem ao que bebe em seu peito,
a águia livre, deleite no céu aberto.
Fale do pássaro, diga a respeito
que preso cala, só canta liberto.
O seu filho entenderá o conceito
distinguirá o instituído do certo.
Com doce candura mostrará a luta
nada terá a prole de irresoluta.

Vergonha! enrubesça verde flâmula!
Gritem! nem que ao toque deste clarim
a arregimentação se mostre nula.
Heróis é a hora da glória enfim!
Gorjeiem poetas, a palavra é cânula
que leva bravura a alma e ao confim!
África! mostre, teu sangue tem leões
só fortes não morreram nos galeões!

Ou escutem! as asas da liberdade
creiam, são feitas de pena ou de faca.
Se espadas escrevem sua verdade
na dura lei que hoje, o negro ataca.
Por uma pluma! a vida na herdade
no negreiro e na nação onde atraca.
Por uma pluma! ser modificada.
O Moisés de uma raça libertada!

De Solivan

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