segunda-feira, 2 de agosto de 2010

O Pai cinza e o Filho colorido



(Para Vinícius)

O homem cinza
de sombra ou rocha
leva
o menino vitral
que tem sua mão presa ao pai
como flor enraizada na pedra
a outra brinca no ar como pássaro liberto.
O indicador livre
aponta seu raio solar
para alegria
quer brincar dentro das cores
ou tingir a língua
com um picolé carmim.
O sorriso do menino
e uma flor de dente-de-leão
o pai sopra o
sorriso
o menino apaga-se.
O braço paternal
como um pincel
em falanges espalmadas
mancha com um tapa
de raiva vermelha
a alegria amarela no seu rosto do menino.
Mas seu coraçãozinho palpita como uma estrela
e pulsa
estrelinhas em cordames natalinos pelas veias
as luzinhas coloridas
reacendem renitentes.
O pai continua pedra ou sombra cabisbaixa
um gosto de culpa
incrusta
como pátina sobre sua língua.

Poema e ilustração de Solivan

4 comentários:

  1. isso sim é um amor tecido em fios elétricos
    de água-viva

    ResponderExcluir
  2. infância é querer ser luzinha, sorrizinho, picolé, coraçãozinho batendo forte, forte
    viva!

    ResponderExcluir
  3. Essa poesia é simplória Sollivan.
    Tome essa!!

    O pai, a mãe, o filho, a filha
    — Hans Arp, em O veleiro na floresta

    O pai se pendeu

    em lugar da pêndula.

    A mãe está muda.

    A filha está muda.

    O filho está mudo.

    Todos os três seguem

    O tiquetaque do pai.

    A mãe é de ar.

    O pai voa através da mãe.

    O filho é um dos corvos

    da praça de São Marcos de Veneza.

    A filha é um pombo-correio.

    A filha é doce.

    O pai come a filha.

    A mãe corta o pai em dois

    come-lhe uma metade

    e oferece a outra ao filho.

    O filho é uma vírgula.

    A filha não tem cauda nem cabeça.

    a mãe é um ovo galado.

    Da boca do pai

    pendem caudas de palavras.

    A filha é uma pá quebrada.

    O pai é pois forçado

    a lavrar a terra

    com sua longa língua.

    A mãe segue o exemplo de Cristóvão Colombo.

    Anda sobre suas mãos nuas

    e agarra com seus pés nus

    um ovo de ar após o outro.

    A filha remenda o desgaste de um eco.

    A mãe é um céu cinza

    em que se arrasta embaixo bem embaixo

    um pai de papel mata-borrão

    coberto de manchas de tinta.

    O filho é uma nuvem.

    Quando chora chove.

    A filha é uma lágrima imberbe.

    ResponderExcluir